sábado, 29 de janeiro de 2011

The Young Gods: rock sem guitarras

A mítica banda de culto The Young Gods, inicia hoje uma mini-digressão por Portugal: hoje no Porto, Domingo e Segunda-feira em Lisboa, e Terça-feira na Guarda.

Em 1985, uma revolução musical teve lugar em Genebra, Suíça, perpetrada por um jovem admirador de Jim Morrison (Doors) e dos Swans. Esse jovem, Franz Treichler, foi o mentor de uma das mais visionárias bandas dos últimos 25 anos: The Young Gods. Da pacata Suíça surgia, assim, um vulcão de energia e de insurreição sonora, tão influente para uma geração de músicos e bandas de todo o mundo.
No início de carreira, essa rebelião sonora foi corporizada com o recurso a equipamento rudimentar: magnetofones, dois teclados e um sampler Akai básico. Foi o material suficiente para incendiar as primeiras actuações ao vivo dos The Young Gods, ainda detentores de uma sonoridade agreste e com as performances carismáticas do vocalista e líder (que cantava, com a mesma fluência, em três línguas diferentes: inglês, alemão e francês). A Inglaterra, país atento aos novos valores, reparou na originalidade do trio suíço (uma banda de guitarras sem… guitarras!), pelo que não tardou que a editora independente Wax Trax! editasse, em 1987, o primeiro álbum de originais da banda. A imprensa depressa rotulou os The Young Gods como pioneiros do rock industrial, uma classificação acertada, uma vez que recorriam a pesados riffs de guitarra samplados, voz cavernosa e ritmos marcantes.
O jornal inglês Melody Maker descrevia a música do grupo como sendo o “rock mais incendiário do momento, capaz de criar um novo horizonte musical”. E estava tudo dito. O primeiro álbum, “The Young Gods” foi, por isso, uma fulgurante estreia que lançou sólidas sementes para uma brilhante carreira de 25 anos.
Apenas dois anos depois, em 1989, os The Young Gods subiam a parada com a obra-prima “L’Eau Rouge”, lançado por uma editora mais respeitada, Play It Again Sam. Neste disco, o trio de Franz Treichler, depurou a sua música, com uma mistura cirúrgica de orquestrações clássicas com guitarras noisy e ritmos industriais. Foi a rampa de lançamento da banda, não só na Europa como, sobretudo nos EUA, país pelo qual começaram a fazer várias digressões de sucesso.
Duas bandas seminais do rock alternativo norte-americano, Ministry e Nine Inch Nails, assumiram desde a primeira hora, a influência directa da música dos Young Gods. Porém, nada fazia prever que, ao terceiro álbum, os The Young Gods voltassem a surpreender com um álbum tremendamente original. Em 1991 o grupo lançou o álbum “Play Kurt Weill”, extraordinário e sofisticado disco de versões do célebre compositor alemão Kurt Weill, que Al Comet (teclista do grupo) considerou o “pai de toda a música pop”.
As grandes canções de Weill, como “Alabama Song” (cantada em tempos por Jim Morrison), “September Song”, “Mackie Messer” ou “Speak Low”, foram magistralmente recriadas pela banda suíça, com arranjos superlativos que misturaram a fidelidade à tradição e a vontade de inovação estética. Apesar da sonoridade alternativa e fora dos domínios do mainstream, os The Young Gods estavam, cada vez mais, a afirmar-se junto de novos públicos.
O empurrão para tal foi conseguido com o disco “T.V. Sky” (1993), totalmente cantado em inglês e que continha alguns dos maiores êxitos da banda: “Gasoline Man”, “Skinflowers” e “T.V. Sky”. Os anos 90 seriam ainda relevantes para a carreira dos suíços, uma vez que o álbum “Only Heaven” (1995) seria marcante para a carreira do grupo.
Após um silêncio de cinco anos, os The Young Gods regressaram em força na primeira década de 2000, com uma sonoridade mais electrónica, ambiental e menos visceral: os álbuns “Second Nature” (2000), “Music for Artificial Clouds” (2004) e “XXY” (editado em 2005 para celebrar 20 anos de carreira) e “Super Ready/Fragmenté” (2007) constituíram discos que proporcionaram uma grande diversidade de fãs.
Em 2008, o trio de Franz Treichler, sempre conotado com a música digital e electrónica, explorou um registo nunca anteriormente abordado: o acústico. Partiram para uma digressão de sucesso (que passou por Portugal) totalmente acústica, apresentando as grandes canções que marcaram 25 anos de actividade intensa. Entretanto, no final de 2010, Os The Young Gods lançaram um novo álbum, intitulado “Everybody Knows”, que regista uma nova etapa na criatividade do grupo, conseguindo regenerar a sua sonoridade, mais electrónica, mais contida, mas sempre com indesmentível energia e rasgo criativo.
Portugal será, por estes dias, um palco privilegiado para a apresentação do novo álbum (assim como alguns grandes êxitos mais antigos). Um palco que, certamente, será um lugar de total celebração musical. E pegando numa expressão de um jornalista inglês proferida há muitos anos, o concerto desta banda mítica será um momento de puro e contagiante “Unforgettable Fire” (por sua vez, uma expressão extraída de uma música dos U2). E não se pode pedir mais nada, portanto.
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Texto de Victor Afonso
Publicado no BIS (Boletim do TMG) na edição relativa aos meses de Janeiro, Fevereiro e Março 2011.
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"Miles Away" - do novo álbum "Everybody knows"

3 comentários:

Spark disse...

Excelente post :) E uma grande banda. Segunda lá vou estar, mais uma vez, pk merecem.

PortoMaravilha disse...

Olá,

Gostei mesmo muito do texto !

Parabéns !

Canta lá, canta lá... J. Mor está tão esquecido como isso ?

Alabama : Uma memória transversal a muitas artes, né ?

Nuno

pedro polonio disse...

só uma actualização: eles já têm guitarras em palco... já acabou a fase da "melhor-banda-de-guitarras-do-mundo-sem-guitarra".
=:-|