segunda-feira, 3 de março de 2008

O sentido da vida


"O que fiz eu com a minha vida de forma a tê-la justificado verdadeiramente?"
Esta é a pergunta que assola o personagem Warren Schmidt, interpretado por um soberbo Jack Nicholson. E é feita num dos filmes mais inteligentes e comoventes dos últimos anos: "As Confissões de Schmidt" (2002), realizado pelo talentosíssimo Alexander Payne (que a seguir faria o premiado "Sideways").
Warren Schmidt é um sexagenário que atinge a reforma num estado de inequívoca ruptura psicológica. Funcionário de uma seguradora em Omaha, vê-se atirado para um buraco negro onde grassam a depressão e o desespero quando se apercebe que é facilmente substituível na empresa e que a sua vida conjugal é uma travessia no deserto. A partir do dia em que se reforma a sua vida toma um rumo avassalador: perde o interesse pelas actividades mais quotidianas, faz uma retrospecção da sua vida aparentemente inútil e a sua mulher (que diz que é uma "estranha"), morre subitamente. O seu isolamento permite-lhe olhar de outra forma para as contingências da vida. Os seus limites e exigências. Inadvertidamente, o sentido para a sua vida vai encontrá-lo na ajuda humanitária a uma criança pobre da Tanzânia. Warren Schmidt sabe que cedo vai morrer, mas esse pensamento é acompanhado por uma reflexão interior do que fez para morrer em paz: "Relatively soon, I will die. Maybe in 20 years, maybe tomorrow, it doesn't matter. Once I am dead and everyone who knew me dies too, it will be as though I never existed. What difference has my life made to anyone. None that I can think of. None at all."
"As Confissões de Schmidt" é uma comédia dramática, amarga e de teor existencialista, que nos provoca interrogações perenes sobre a fase final da vida, mas que acaba por transmitir uma certa mensagem de esperança. Nicholson é genial no homem desencantado, que olha para trás e repara que a sua vida se resume a quase nada. Tenta, por isso, valorizar o pouco que lhe resta: a vida da filha. Mas até nisso falha. O final do filme de Payne é dos mais tocantes que me recordo de ter visto nos últimos anos. Uma obra que deveria ser exibida em centros de dia e lares de idosos. Sem preconceitos.

Sem comentários: