quinta-feira, 15 de abril de 2010

Uma geração perdida?

O sistema de ensino em Portugal afunda-se cada vez mais e, com ele, uma geração inteira. O facilitismo grassa, o nivelamento por baixo da exigência na aprendizagem idem, e há até quem diga (como um professor disse na revista Sábado de hoje) que a escola está toda baseada no erro: salas mal formatadas, turmas mal estruturadas, professores mal preparados, alunos desmotivados e conteúdos curriculares que não interessam nem ao menino Jesus. E o nível de competências da Língua Portuguesa e da Matemática afundam-se a olhos vistos para um pantanal cultural sem retorno. A sociedade deve reflectir, muito seriamente, que educação quer para os alunos de todos os níveis de ensino - do pré-escolar ao universitário. Não se trata apenas de uma questão de estatística de bom ou mau aproveitamento. É muito mais que isso: trata-se de hipotecar uma geração e o futuro do país. Apenas isso.
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21 comentários:

Flávio Gonçalves disse...

Falo por mim, que estou a acabar uma jornada de 12 anos de escolaridade: perdida não é suficiente para definir esta geração, apesar de existir excepção à regra, como sempre há. A educação em Portugal está em calamidade total, num vazio e tensão intransponíveis em palavras. Mais que urgente, é vital uma mudança. Uma viragem para a exigência, para a valorização dos conteúdos (nas mais diversas áreas e não só aquelas que constam no programa, rígido e inflexível), para a abolição de provas e processos burocráticos cuja pressão envolvida nos professores e alunos, originada a fim de haver números a serem apresentadas, tem impedido um desenvolvimento saudável da aprendizagem em Portugal. Não se dá valor à arte, nem à vida. A escola, como está agora, está num vazio que me tem preocupado cada vez mais, inserido na cultura pessimista em que estamos(e que este retrato é). Mas é a realidade, a mais pura de todas.

Joao Franco disse...

Andei em historia, akilo era um pantano curricular sem fim. Sai, nao tinha nada ver comigo1!!
Tive em Espanha a estudar guionismo, la pelo menos foi interessante. Voltei mas como é obvio cá é dificil arranjar emprego como guionista!
Voltei a interessar-me pela area da nutriçao, onde estou num curso de acpuntura e posso dizer que como em tudo em portugal temos de aturar Cadeiras sem terem nada a ver, disciplinas mal dadas, disciplinas para encher, e pouco tempo para o que ´+e importante!!

Vou por um link do teu texto no meu blog, porque axo k resume tudo o que de mal acontece na educaçao portuguesa.

Anónimo disse...

Boa noite,

Costumo participar neste blog, mas por várias razões opto por fazer neste comentário em anónimo.

Li hoje esse artigo no i e vi aquilo que ando a descobrir pela prática profissional. O problema não começou agora mas há uns 10-15 anos. Digo isto pelo seguinte: os professores entre os 25 e 25 anos de agora não tem lá muita qualidade comparados com os de antigamente...É frequente ver erros ortográficos por parte dos professores publicados na internet, sobretudo em redes sociais. É perdoável uma professora de português escrever "kerido", "koisa" ou "kualkuer"? Acho que não... Se antigamente qualquer doutor tinha de ter dignidade pública, então estes ensinadores deviam ter essa dignidade aqui. É como ver finalistas de medicina a orgulharem-se de "gandas bebedeiras".

O artigo do "I" destaca o problema da internet com a sua informação fragmentada, e é verdade. Destaco por isso aqui o "homem que sabia demasiado" pelo facto de fazer posts concisos, resumidos e de credibilidade. Blogs com muito texto é que dispersam as pessoas, ouçam bem: um blog não é um livro, e um livro é de facto a fonte da informação aprofundada.

um abraço

RM disse...

Boa noite,

Costumo participar neste blog, mas por várias razões opto por fazer neste comentário em anónimo.

Li hoje esse artigo no i e vi aquilo que ando a descobrir pela prática profissional. O problema não começou agora mas há uns 10-15 anos. Digo isto pelo seguinte: os professores entre os 25 e 25 anos de agora não tem lá muita qualidade comparados com os de antigamente...É frequente ver erros ortográficos por parte dos professores publicados na internet, sobretudo em redes sociais. É perdoável uma professora de português escrever "kerido", "koisa" ou "kualkuer"? Acho que não... Se antigamente qualquer doutor tinha de ter dignidade pública, então estes ensinadores deviam ter essa dignidade aqui. É como ver finalistas de medicina a orgulharem-se de "gandas bebedeiras".

O artigo do "I" destaca o problema da internet com a sua informação fragmentada, e é verdade. Destaco por isso aqui o "homem que sabia demasiado" pelo facto de fazer posts concisos, resumidos e de credibilidade. Blogs com muito texto é que dispersam as pessoas, ouçam bem: um blog não é um livro, e um livro é de facto a fonte da informação aprofundada.

um abraço

Unknown disse...

Nem mais a propósito, deixo o link de um post do blog "De Rerum Natura" (http://dererummundi.blogspot.com/2010/04/o-futuro-dos-livros-e-das-bibliotecas.html) sobre o futuro das bibliotecas. Neste caso, penso que valerá a pena ler o texto em causa, dadas as questões levantadas neste blog, sobre a geração perdida (?).
Será que é a sociedade que tem de reflectir sobre os Futuros (pessoas) que está a criar? Ou será uma questão individual, em que cada família deve(ria) pensar desde logo na educação que transmite aos seus filhos?
Hoje em dia a maioria das pessoas vive afastada, afastada no verdadeiro sentido da palavra. Vivem dentro de um mundo ilusório, suportado por redes (sociais). Redes que são mais virtuais, do que sociais.
É normal, que isto se reflicta nas escolas, no ensino. Mas nem tudo depende dos Governos. Os Governos não põe as PS3 em casa dos meninos, apesar de "oferecerem" Magalhães na pré-primária.
Mas é aqui que deve(riam) pais. Na moderação com que é feito o "divertimento", o "hobbie". O tempo que se passa a produzir inutilidade, em vez de produtividade.
Boa Continuação.

disse...

Olá Victor,

Correndo o risco de ser politicamente incorrecto (o que me dá o maior dos gozos)irei relatar parte da minha experiência no ramo (podre) da educação:

Para quem não sabe, frequentei o Instituto Superior Técnico durante os anos que me competia. Tive inenarráveis e excelentes mestres, assim como colegas, ambiente e experiências.

Desde há muito que para ingressar no IST é necessário obter, como condições mínimas, 12.0 valores de média no secundário e ainda 10.0 nas provas específicas (matemática e física/química).

Para que se conceba o descalabro e a desordem que grassa nesta deseducação, relato-vos o seguinte:

O Instituto Superior Técnico, com o apoio da Sociedade Portuguesa de Matemática, realizou no ínicio deste ano lectivo (2009/2010) uma prova de matemática a todos os alunos que lhe chegaram do secundário , para averiguar a sua preparação. Ao todo são cerca de 1500 almas novas que entram por aqueles portões, portanto, do ponto de vista científico, é estatisticamente relevante.

A última vez que uma tal prova fora realizada foi há 7 anos (2002/2003), nos mesmos moldes e com o mesmo objectivo.

Logo, há um distanciamento razoável...

Há 7 anos obtiveram positiva 80% dos alunos, e 2/3 tiveram mais de 15 valores na dita prova

Já na prova deste ano, alcançaram positiva 45% dos alunos, e só 10% (DEZ%!!!!) conseguiram mais de 13,3 valores.

E isto é no IST!!!Que continua a ser uma das Universidades de referência do rectângulo!Estamos a falar duma, quer se goste ou não, elite de pessoas.
Nem quero imaginar como seja nos institutos polimérdicos de Vergão Fundeiro (em Proença-a-Nova) ou nas escolas inferiores de educação de Alçaperna (Lousã)...

A crueza dos números não mente como os dados do ministério...

Estará isto relacionado com o facto de a Eslováquia (bastante mais pobre que a sua vizinha Checa) nos estar a ultrapassar em PIB por habitante?

Não me vou alongar mais, pois estaria aqui a escrever ao sabor das horas. Quando formos tomar um café, se o tema vier à baila, deixar-te-ei mais algumas opiniões.

Unknown disse...

Queria só acrescentar que eu sei do que falo por experi~encia própria e porque sou professor, lido com muitos alunos e professores dos mais variados níveis de ensino, e conheço a realidade do país. O nível de desmotivação geral, de ignorância, de referências culturais, de falta de princípios básicos de educação, de civismo e de regras, de conhecimentos básicos, e de sentido crítico é verdadeiramente alarmante. Nunca como nos últimos dois anos tantos professores me garantiram que vivemos o pior período desde o pós-25 de Abril na escola (de todos os níveis de ensino!). Se juntarmos estes terríveis ingredientes à falta de expectativas profissionais e sociais dos jovens, o futuro só pode ser negro e ultra-pessimista...
O artigo do i é só um pequeno sintoma e exmplo do mal que grassa à nossa volta.

F disse...

Pois, é uma tristeza.

Há quem explique isso com humor:

http://www.dailymotion.com/video/xb29uf_isabeau-de-r-l-ecole_fun

E este senhor anda a pensar e a trabalhar nisso há muito tempo:

http://blogscraps.blogspot.com/2009/04/dadiva-da-imaginacao-humana.html

E em Inglaterra já se vai fazendo alguma coisa:

http://blogscraps.blogspot.com/2009/09/aqui-e-aqui.html

E por cá o Prof José Pacheco tentou fazer alguma coisa e deixou o exemplo da Escola da Ponte, em Vila da Aves (Sto Tirso), mas acabou por ir trabalhar para o Brasil pois encontrou, por lá, mais interesse:

http://blogscraps.blogspot.com/2009/03/educar-para-responsabilidade.html

Liliana Sampaio disse...

Bom dia, Victor!

Sou visitante assídua deste espaço, embora raramente comente. Seja como for, seria impossível deixar passar este post sem comentar.

Sou professora. Há sete anos. Noto que muita coisa mudou nos últimos tempos e que, em nome de estatístocas que revelem um Portugal alfabetizado, tem-se enveredado por um caminho que nos levará certamente ao caos, se pensarmos que os meninos que estamos agora a educar são os que governarão o país no futuro.
Em primeiro lugar, a educação que os alunos trazem de casa é a principal causa para esta situação. Os pais são cada vez mais egoístas. Eu sou de um tempo em que os pais não ajudavam os filhos a estudar e só quem tinha muito dinheiro punha os filhos em explicações. Ainda assim, estudávamos, tínhamos boas notas e (pasme-se!) aprendíamos realmente. Actualmente, os meninos não fazem nada sem os papás, que, como não os querem aturar, os mandam a toda a pressa para centros de estudos. Assim, têm tempo para se dedicar às coisas de que realmente gostam: o carro, a roupa, a maquilhagem, etc. Em segundo lugar, a forma como se retirou grande parte da autoridade (não confundir com autoritarismo) ao professor ainda veio piorar mais a situação. A partir do momento em que os pais se acham com competência para questionar o modo como o professor lecciona, as coisas só podem ir mal. Da mesma forma que um professor não vai ao local de trabalho de um pedreiro dizer que ele está a picar mal a pedra, o contrário também não devia acontecer...
As turmas têm muitos alunos, mas já tinham no meu tempo. A diferença é que, há uns vinte anos atrás, tínhamos respeito pelo professor e receio que, em casa, nos dessem o devido castigo pelo mau comportamento na escola. Isso acontece hoje em dia? Claro que não!
As escolas são quase ATLs. Em lugar de prepararem os alunos para a vida e para a cidadania, tomam conta deles. O professor já não tem como principal função ensinar, mas sim educar, preencher papéis e preocupar-se em implementar nas suas aulas métodos de ensino que já há muito se verificaram inúteis noutros países...
As crianças já não brincam. Se uma delas subir a uma árvore e cair, vai logo de ambulância para o hospital, nem que tenha apenas um arranhão no joelho. É que pode ter algum problema interno ou ficar com trauma devido à queda... Eu não consigo contar as vezes em que esfolei joelhos e cotovelos e continuei a brincar, mesmo tendo de colocar terra na ferida para estancar o sangue!
Os adolescentes têm tudo o que querem, desde IPods até IPhones. Fazem viagens de finalistas no 9.º e no 12.º anos. Os pais não lhes dizem NÃO a nada e eles crescem com a mania de que conseguem tudo com a maior das facilidades. Depois chegam a um local de trabalho onde têm de respeitar um hierarquia e é vê-los a ser despedidos em menos de nada, porque não se adaptam e os pais, coitadinhos, lé tentam usar os bons contactos para ver se arranjam um lugar bom para o filhinho, daqueles em que basta passar o dia todo em frente a um computador a fingir que faz muito, quando, ne verdade, nada faz.
Entrámos de tal forma numa onde de proteccionismo para com as crianças, que elas tornaram-se arrogantes e tiranas. Um bom par de estalos (em casa e na escola) de vez em quando resolveria muita coisa...

Enfim, vou-me daqui que isto já se alongou demasiado.

P.S. Concordo com o sr "Anónimo" quanto aos erros ortográficos. Também me irritam. Que uma criança os escreva, é normal, porque está a aprender, mas um professor... É imperdoável.

P.P.S. Se escrevi com algum erro e/ou gralha, foi devido à pressa... :)

Unknown disse...

Sim, eu sei que é um dos piores cenários que se pinta nas escolas hoje em dia, desde a pré-primária até ao ensino superior.
Talvez o importante não seja mesmo discutir os níveis de culpa ou distribuí-los, porque uma vez mais os problemas vêm de trás, sempre.
Ou porque as crianças não crescem num ambiente onde a cultura, a informação, mesmo os livros, não são cultivados. Porque, ainda em muitos pontos do país existem pais a incentivar os filhos a desistirem da escola, porque na escola, dizem, não se aprende nada. Porque dentro das escolas, se fala mal, e falar mal, não é apenas uma questão de criticar, é mesmo desvalorizar, o papel do ensino/da escola.
Este será apenas um pequeno sintoma, de um grande problema, que diz mais respeito à sociedade, ao país em que vivemos do que às escolas em si.
É uma mentalidade.
Continua a ser preferível o "copianço" do que a aprendizagem individual. E não a experiência individual, e os percursos de vida. Tão bem apreciados nos ensinos de Reconhecimento e Validação de Competências.
Da minha parte, é apenas um pouco mais de cinzento numa tela por si, pouco animadora.
Passado tanto tempo a estudar, ou não, vejo as falhas, minhas e dos outros, durante o percurso de ensino.
Terminei a licenciatura, estou desempregada. Ainda não há tanto tempo como outros colegas, mas há tempo suficiente para me questionar sobre diversas coisas.
Infelizmente, existem casos bem piores do que professores a dar erros ortográficos......

Enfim.

Boa Continuação.

Flávio Gonçalves disse...

Eu concordo plenamente com andy* e plenamente com a Liliana (exceptuando o impulso das chapadas), mas, como aluno do ensino secundário, penso que devo intervir de novo e ressaltar dois aspectos.

Em primeiro lugar, penso que a atmosfera do cenário podre que se está a viver se respira em todo o canto da escola - ainda hoje, por exemplo, passei, com a minha turma, metade da minha aula de Psicologia a conversar com a professora sobre isso mesmo. A conclusão, que pareceu gravemente consensual, foi a de que algo de iminente se aproxima. Acho que concordarão, de igual forma, que a educação é a base de fundo de toda a sociedade - sendo assim, se esta se encontra num estado de total desastre, não devemos esperar que uma revolta, uma verdadeira revolta, de docentes e alunos contestando o corrente tipo de educação? Os docentes vivem em constante stress seja com a postura dos alunos ou com a pressão de um rígido e estúpido programa - os alunos vivem marginalizados, encontrando um sentido de vida no egoísmo, ultra-materialismo e consumismo que apenas promovem o vazio.

E, assim, remeto-me para o segundo ponto que quero sublinhar - todos estamos num comodismo e passividade que me perturbam, verdadeiramente. Os problemas que os professores contestaram nas ruas são demasiado secundários. E penso que nos escapa o verdadeiro motivo - o apelo a uma mudança, uma reforma implacável a nível de educação. Para que esse apelo seja, portanto, ouvido, há que reunir toda a comunidade escolar para lutar por isso. Para AGIR, meus caros! E o que estamos aqui a fazer é, sem dúvida, uma saudável troca de ideias - mas que se restam no plano do abstracto, do queixume mais elementar, da teoria! Do que estamos à espera? Que mais um aluno, ou professor, entre pela escola com uma pistola e mate tudo o que encontre à frente?! De que estamos à espera para mudar? O governo está lá - mas nós também somos cidadãos, e se algo está verdadeiramente mal, então é nosso DEVER fazer tudo no sentido de mudar.

Pensem nisto.

Ricardo disse...

Embora não concorde com a tonalidade negra e pessimista do post, acho a temática de grande relevância, e merece ser discutida frequentemente.

Fundamentalmente temos de analisar a "crise" do ensino, sob uma perspectiva histórica devidamente distanciada, sem sensasionalismos jornalísticos. Se os alunos antes do 25 de Abril eram tratados como rebanho, como merecedores de 50 reguadas (ver a importância da lavagem cerebral católica); depois da revolução caíu-se exactamente no extremo oposto, começou-se a tratar os alunos como flores.

Toda a escola precisa de ser repensada, não é só os alunos e os professores, deve-se questionar também a matéria que é leccionada, o porquê de ser leccionada (o ensino continua rígido e lidar com autores muito desactualizados); bem como o facto de o espaço escolar não ser muito propício à aprendizagem e ser mais ao vandalismo ou à apatia/robotização dos professores.

Ninguém está inocente no jogo da Educação - nem alunos, nem professores.

Unknown disse...

"Ninguém está inocente no jogo da educação - nem alunos nem professores". Pois não. Então o que dizer do Ministério da Educação!

Manel disse...

Acredito que a maioria das pessoas que aqui comentou saberá muito mais do assunto do que eu. Sou estudante do IST e o que posso afirmar, com toda a certeza, é que à minha volta vejo alunos com vontade de trabalhar, pessoas inteligentes, com ambições, com espírito de iniciativa, muitas mais do que aquelas que vão à escola passear os livros. Quem estuda no técnico não espera facilidades, tem que fazer pela vida. A grande maioria dos professores (pelo menos do meu curso, Eng. Mecânica) lecciona há mais de 20 anos e, dito pelos próprios, a exigência é para manter. É por isso que grandes empresas como a galp, edp, tap etc., fazem questão de contratar alunos do ist, como se sabe.

Tal como disse a Liliana, existem crianças e jovens com uma educação incompleta e má, mas não são sequer a maioria, dá a entender também, que os pais gostam menos dos filhos do que antigamente, que "não os querem aturar", parece-me um exagero. Apetece-me dizer coitados dos seus filhos. O meu irmão mais novo tem 10 anos e é da tal geração das consolas, tem a mais recente e uma data de jogos (é impressionante o nível de inglês que ele tem graças a eles), mas não é por isso que deixa de ir jogar à bola para a rua com os amigos, andar de bicicleta, e todas essas coisas que "antes" se faziam. Cumpre na escola com boas notas e estuda sozinho. Resta dizer que como ele há muitos mais.

Não quero com isto dizer que tudo está bem, longe disso. É óbvio que existem problemas graves a todos os níveis. A verdade é que quando é para dizer mal, está tudo pronto.

Anónimo disse...

.
Até parece que vocês estão falando do Brasil!
Mas tenho a impressão de que essa sabotagem no campo da educação é mundial.
"Impressão" óbvia e muito triste.
.
Ah, sim!
Perdoem meu português brasileiro.
Prometo melhorar...
rsrsrs
.

PortoMaravilha disse...

Talvez este texto ajude a melhor entender a situação . Foi um texto que publiquei no antigo blog geração rasca

Leiam no fim do texto o extracto do relatório da ocde sobre o ensino :

Nuno

Segue aqui :

Em todos os países europeus o Serviço Público de Educação é alvo de restrições orçamentais desde, pelo menos, uma quinzena de anos . Tais restrições tocam todos os postos de trabalho da instituição escolar pública ( cozinheiros, mestres de obras, bibliotecários, professores...).

A estas restrições acrescentam-se aspectos que se encadeiam numa lógica desconcertante.

Vejamos, esquematicamente :

1.O Saber não interessa !

Os alunos passam de ano sem terem o mínimo de conhecimentos necessários. Os diplomas são atribuidos não em função dum real saber, mas em função de percentagens vagas decididas por um “obscuro” cume hierarquico. O respeito destas percentagens serve para justificar o bom funcionamento da instituição.

2. As Condições de Trabalho não interessam !

O ritmo fisiológico dos alunos não é respeitado. Ignora-se o funcionamento psicológico dos estudantes. O escalonamento das férias com zonas escolares diferentes ( caso da França ) obedece aos interesses da indústria turística e das suas componentes.
O silêncio não existe. Estuda-se no alarido dos gritos do recreio, do corredor e, por vezes, da própria aula.

3. A Regra não interessa !

Os professores já não têm qualquer autoridade. Misturam-se alunos aplicados com delinquentes. Chama-se, recorrendo a eufemismos que adormecem a opinião, “incivilidade” às agressões diárias, esquecendo que estas revelam da deliquência. Os conselhos de disciplina vão desaparecendo. A violência instala-se. E quando um professor é vítima duma tentativa de assassinato ( França, Outubro 2008 ), a sua hierarquia nega qualquer responsabilidade.

4. O Professor não interessa !

A administração dá o exemplo. Viola as regras, recusando qualquer protecção estatutária daquele que é atacado no exercício das suas funções. Podem ,assim, circular vídeos na net, com toda a impunidade, que mostram uma professora no chão a ser pontapeada por dois ou três dos seus alunos . E, quando os professores se opõem a estas derivas, a administração tudo faz para calá-los. É que se são espancados é porque não recorrem à pedagogia adequada.

5. A estratégia da OCDE interessa !

( Continua )

PortoMaravilha disse...

5. A estratégia da OCDE interessa !

Podemos ser ingénuos, mas sabemos ler. O relatório da ocde de 1996 intitulado “La faisabilité politique de l’ajustement” é esclarecedor.

Como se sabe a palavra “ajustement” ( ajustamento, disposição) é uma espécie de dogma para todos os governos e entidades patronais. Esta palavra é um eufemismo que só os iniciados podem compreender. Ajustamento significa destruição. E, por sua vez, “fazebilidade política” ( “faisibilité politique”) significa prevenção de revoltas susceptíveis de verem o dia por causa dessa destruição.

O extracto da página 30 do relatório referido é eloquente. O relatório pode ser consultado na internet, em pdf, quer em versão Francesa quer em versão Inglesa : “ocde, cahier de politique économique nº 13, 1996 “

Passo a traduzir. Se nem sempre traduzir é fácil, penso que a tradução está fiel..

“... Se se diminui as despesas de funcionamento há que velar a não diminuir a quantidade de serviço, livre a que a qualidade baixe. Pode-se reduzir, por exemplo, os créditos para o funcionamento das escolas ou das universidades, mas seria perigoso de restringir o número de alunos ou de estudantes. As famílias reagirão violentamente a uma recusa de inscrição dos seus filhos, mas não a uma baixa gradual da qualidade do ensino e a escola pode, progressiva e pontualmente, obter uma contribuição das famílias ou suprimar tal ou tal actividade. Isto faz-se, passo a passo, numa escola , mas não na escola vizinha, de maneira a evitar um descontentamento geral da população. “

E , evidentemente, os responsáveis da ocde afirmam que o artigo é da responsabilidade do redactor, Christian Morrisson ( conselheiro da ocde ), e não da instuição-ocde.

Observação : Tomei conhecimento deste relatório da ocde, graças ao texto de Paul Villach , publicado no nº 584 da publicação “Respublica”.

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Este comentário foi removido pelo autor.
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disse...

Manel,

Não confundas dois aspectos: Potencial e Competências (ou capacidade).

Como tu dizes e bem, há quem queira saber mais, quem queira trabalhar, quem queira elevar-se acima da sopa média quotidiana e tributável… essas pessoas têm vontade de explorar o seu potencial para se tornarem (ainda) mais competentes ou capazes.

Remetendo-me ao IST, não tenho os valores de cor (nem me dei ao trabalho de os ir procurar) mas daquilo que me lembro, talvez 1/2 dos alunos desiste do curso (obviamente que os motivos são vários), 1/3 logo nos primeiros semestres; tudo é muito lindo até levar o primeiro chumbo a EO, PE, ou Termo. Tudo é ridiculamente lindo quando nos sentamos a estudar 2 dias antes do exame de cálculo I e julgamos do alto da “nossa” cátedra que aquilo ainda está ao nosso alcance como estava um mero exame de Matemática 12º.

Evidentemente, quando damos de caras na pauta com um 7, indignamo-nos! “O quê? Eu que tive 19,8 no exame de matemática??!!!” Vais a revisão de prova e levas uma tal tareia intelectual que não fazes mais do que ir para casa de rabinho entre as pernas, estudar arduamente para tirar 14 na 2ª chamada.

O que tem vindo a acontecer em Portugal, e já vai acontecendo no IST, sou testemunha disso porque fui várias vezes delegado e participei em várias reuniões de preparação de semestre, é que as fasquias são postas cada vez mais baixo.

Logo, as potencialidades dos alunos são também elas pouco desenvolvidas, precisamente no momento de desenvolvimento fisiológico durante o qual o desenvolvimento intelectual pode ser exponencial…

E claro… depois pululam por aí indivíduos motivados para aprender (mas sangue, suor e lágrimas não é com eles…prazos de entrega também não…estar sentado uma hora sossegado sem distracções muito menos), ainda com algum potencial (porém menor do que aquele que seria desejável, fruto do pouco exercício intelectual a que foram submetidos), e muitíssimo pouco capazes de enfrentar os desafios que a universidade bombardeia, demasiado inferiores àqueles que o mundo “lá fora” coloca…

Nunca como agora o cliché fez tanto sentido: (caloirinho choroso) “Esta semana tenho teste de cálculo, projecto de mecânica e relatório de sistemas distribuídos…” (veterano barbado, já visivelmente calvo e sadicamente risonho) “Bem-vindo ao IST…”

Não exigimos que os jovens se ultrapassem e ampliem o seu potencial (nem sequer que se mantenham em velocidade cruzeiro) e como efeito somos superados pelo Mundo inteiro…

Somos a nação dos eternos incapazes em auto-comiseração!

Anónimo disse...

Enquanto isso, aqui no Brasil...

Segundo o jornal O Estado de São Paulo:

"Governo corta R$ 1,28 bi da Educação.

O Ministério da Educação foi o mais afetado e terá R$ 1,28 bilhão a menos para gastar em 2010.
Com esse corte adicional, o orçamento da Educação perdeu R$ 2,34 bilhões em relação aos valores aprovados pelo Congresso."