Numa altura em que o sucesso da saga "Twillight" se impõe nas salas de cinema, importa perguntar qual o melhor filme de vampiros jamais realizado. "Nosferatu" (1922) de Murnau, dirão muitos. Talvez. Ou talvez outra obra-prima muitas vezes esquecida: "Vampyr" (1932) de Carl Theodor Dreyer. Este filme foi realizado dez anos depois do clássico de Murnau e, apesar de manter algumas semelhanças com o filme alemão, são mais as diferenças que marcam a divisão das duas obras. O realizador dinamarquês já tinha realizado, em 1928, um espantoso retrato de Joana D'Arc, com o filme "A Paixão de Joana D'Arc", uma das obras-primas do cinema mudo europeu. Foi também o seu último filme mudo, dado que a indústria cinematográfica europeia se estava já a adaptar-se ao cinema sonoro.
E que filme é "Vampyr"? Um filme em que ocorre um estonteante embate entre os poderes da luz (os vivos) e os da sombra (os mortos-vampiros), ambos possuidores de grande força anímica. Um filme de uma força plástica única, que extravasa até as premissas do Expressionismo Alemão (em que se filia "Nosferatu"). Dreyer construiu a maior parte da atmosfera do filme filmando no amanhecer e no crepúsculo, para melhor captar as nuances da luz e da escuridão. O filme tem um ritmo lento, como se o realizador estivesse a filmar um baile fantasmagórico num salão onde o sonho e o pesadelo se encontram.
A história de "Vampyr" gravita em torno do jovem Alan Gray, especialista em demonologia, a quem o próprio filme chama de “um sonhador", para quem as fronteiras entre o real e o imaginário se tornaram obscuras. Numa estalagem campestre, Gray começa a presenciar estranhos acontecimentos. Descobre a presença de um vampiro que escraviza uma bela mulher que tenta libertá-la. O vampirismo não se manifesta com capas negras e dentes caninos afiados. O poder vampiresco em "Vampyr" é puramente espiritual, abstracto, surreal. E daí este filme de Dreyer ser muito mais metafísico e poético do que "Nosferatu", que advém de um horror mais físico e material. Com Dreyer o medo é induzido no espectador de forma subtil, com os jogos de luz e sombras, com o horror estampado nos rostos do pobre homem que até sonha com o seu próprio funeral.
Uma obra imortal e sempre fascinante que se pode encontrar numa magnífica edição DVD da editora Criterion.
Uma obra imortal e sempre fascinante que se pode encontrar numa magnífica edição DVD da editora Criterion.
5 comentários:
Quem se chateia se eu disser Let The Right One In?
So para dizer que este e um dos meus filmes preferidos. Filme intemporal de facto.
São dois títulos incontornáveis do género "vampiresco".
E, na minha opinião pessoal, arrisco-me a dizer que achei fabuloso o que Coppola fez em DRÁCULA DE BRAM STOKER, filmando num estilo quase expressionista recorrendo à tecnologia moderna.
Cumps. cinéfilos.
P.S.: Francisco, também considero LET THE RIGHT ONE IN uma lufada de ar fresco no género...
Claro que também gosto muito do Dracula do Coppola, vi-o duas vezes no cinema, assim como o Let The Right One in que representa uma original abordagem ao tema.
Para mim é este mesmo o melhor filmes de sempre sobre o tema do vampirismo.
Não é por acaso que o tenho no top das minhas pérolas.
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