quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Woody Allen, "careta"?


Não sei o que deu no cantor brasileiro Caetano Veloso para desatar a criticar o cineasta Woody Allen, chamando-o de "careta", "reaccionário" e afirmando, sem se rir, que os seus filmes são "estreitos". Mais. Acusa Woody de ser "muito hetero, muito reverente com os amantes de ópera que vivem no Upper East Side, muito chegado a uma decoração creme por trás de roupa beje. Gay, maconha, rock, Bob Dylan, tudo isso é desprezado por ele".
"Muito chegado a uma decoração creme por trás de roupa beje"? O que quis dizer Caetano com esta afirmação? Será algum preciosismo linguístico brasileiro? Seja como for, creio que são comentários muito pouco acertados e injustos. É um absurdo apelidar Woody Allen de "reaccionário" só porque gosta de ópera, de Nova Iorque, é heterosexual e porque nos seus filmes não aparecem personagens gay a fumar droga ao som de Bob Dylan. Se assim fosse, Woody Allen já seria, aos olhos de Caetano Veloso, um realizador com uma visão menos "estreita" do cinema e bem mais modernaço. Não, pós-moderno.
Lido aqui.

12 comentários:

hg disse...

Oh Vitor, foi só uma opinião. Nem o Woody Allen é Deus, nem o Caetano Veloso o Saramago.

Jeannie Maria disse...

Se o Caetano ficasse mais "careta", não saia falando tanta bobagem por aí...

Diamond disse...

O melhor é dar desprezo, ignorar tão rudes palavras que ditas não são mais do que despropositadas.

Cump.

Anónimo disse...

exactamente, é só uma opinião, caramba. eu adoro o Woody e o Caetano não me diz nada, mas não percebo esta mania de agora as pessoas ficarem ofendidas como opiniões politicamente incorrectas.

Unknown disse...

Da parte que me toca, eu não fiquei ofendido com a opinião do Caetano. Nem a minha resposta à sua opinião é "ofensiva". Da mesma forma que o músico brasileiro tem direito à opinião, também as outras pessoas têm o direito a comentar essa mesma opinião. E foi o que fiz, de forma correcta e sem melindres.

gentil carioca disse...

Apesar de adorar Woody Allen, entendo perfeitamente o que Caetano quis dizer. E até concordo, de certa forma. De fato, Woody tem realizado filmes bem burguesinhos mesmo, tem sido pago para isso, até. O faz com garbo e talento, é verdade, mas está longe da irreverência e senso de humor encontrados em filmes mais antigos como O Dorminhoco e Zelig.
abçs de Copacabana

gentil carioca disse...

Desculpe-me Victor, é que esqueci-me de explicar: quando nós, brasileiros, falamos que as coisas estão "beje", queremos dizer que estão sem vida, descoloridas, sem graça.
É isso.
abç

Unknown disse...

Obrigado Gentil Carioca pela explicação sobre a expressão brasileira.

António Godinho Gil disse...

Deste um feliz exemplo daquilo que penso há muito. Existe um establishment politicamente correcto no mundo da cultura, com tiques hegemónicos, ele próprio uma caricatura daquilo que justamente critica. O Caetano Veloso ainda não descolou da euforia orgiástica dos anos 60. Ainda não percebeu que o mundo se tornou maior, mais complexo, mais diverso. Temos pena.

Luis Baptista disse...

Sim, todos temos direito a opinar e a ouvir os outros a opinar, isso é bom, para mim nõa me afecta, os filmes de Woody, vejo-s , a musica de Caetano, não me diz nada.

Álvaro Martins disse...

Gosto muito do cinema de Woody Allen e também da música de Caetano Veloso (especialmente os seus primeiros álbuns) mas aqui tenho de concordar contigo. O músico brasileiro (gay ou maricas ou pane***** como lhe quiserem chamar) sentiu-se na obrigação de críticar o cineasta americano, uma pessoa normal (hetero) porque faz filmes tendenciosamente heteros (com certeza que prefere filmes do Almodóvar). E, realmente, não vejo argumentos válidos nem fundamentados para chamar Woody de reaccionário. O que me parece é que, os gays ou frutinhas como dizem lá no Brasil, se tornaram mais racistas e preconceituosos que os heterosexuais.

gentil carioca disse...

Voltei e percebi o grande incômodo que as palavras "hetero" e "gay" parecem evocar aqui.
E tudo me remeteu à essa música abaixo, que recomendo aos que não conhecem, ou preferem não re-conhecer, nosso bom e velho falador (às vezes até demais) Caetano. Ele a compôs em homenagem a seu pai e a Mick Jagger que, gay ou hetero, não importa realmente, é tudo de bom.

O Homem Velho
(Caetano Veloso)

O homem velho deixa a vida e morte para trás
Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais

A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock'n'roll
As coisas migram e ele serve de farol

A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fulgaz
Do sexo das meninas

Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon
Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom

Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal