sábado, 16 de janeiro de 2010

As pequenas guerras segundo Haneke


Tem uma visão desesperada da Humanidade?

Não. Por vezes perguntam-se se todas os meus filmes falavam sempre do mesmo e eu disse que representavam a guerra quotidiana entre os seres humanos. A guerra entre o casal, entre amigos ou entre filhos e pais. Essas pequenas guerras do dia-a-dia podem levar a uma guerra maior. Não têm necessariamente uma consequência imediata, mas acredito firmemente que várias gerações que desenvolvem pequenas guerras desembocam, mais cedo ou mais tarde, numa guerra geral.

Como descreve o seu cinema? Terror? Thriller? Realista?

Tenho elementos de filmes de terror ou de Thriller (como em "Funny Games"), mas o meu estilo é, exactamente, realista. Eu sou um realista. Por isso não usei música em "O Laço Branco", porque na vida real não existe banda sonora de fundo - só há música quando um personagem ouve um CD ou alguém a cantar. Muita gente me pergunta porque é que me fascino com o lado obscuro dos seres humanos e a verdade é que não é assim. Quando tento ser realista, ao retratar os seres humanos encontro sempre esses elementos obscuros da natureza humana. A realidade tem um lado obscuro. Não tenho outro remédio que lidar com isso. Por isso quase todos os meus filmes têm violência e crueldade, mas não é algo que procuro deliberadamente.

Porque é que nunca fez comédias?

Pela mesma razão que não se pede a um sapateiro que faça um chapéu. No entanto, adoro as comédias inteligentes e desfruto muito com os filmes do Woody Allen. Não há muitas comédias boas na história do cinema.
_________________

4 comentários:

João Santos disse...

Adoro Haneke. Funny Games (o primeiro) marcou-me muito e tambem gostei muito da Pianista, Caché e Whitte Ribbon, o ultimo.
um cineasta sem paralelo no panorama actual.

Ps : so para dizer que foi muito gratificante ter um comment nos bons meninos e tb na estante do homem que sabia demasiado.obrigado.

Flávio Gonçalves disse...

Haneke é um cineasta excepcional. Não há dúvidas disso. Moderno e com uma linguagem crua e simples, filma o dia a dia com uma mestria igualável apenas a génios. Espero mesmo que o Laço Branco (vou vê-lo segunda-feira) valha a pena... estou com expectativas para que isso aconteça.
Obrigado por nos deixares parte da entrevista, e o link!

Abraço

Flávio Gonçalves disse...

PS: Diz-me uma coisa, sei-te tão fã de Tarkovski como me sei ignorante sobre a sua filmografia. Quero começar por conhecê-lo a fundo e gostaria de saber com qual obra deveria começar... o que te parece?

Unknown disse...

Flávio: para ver a obra de Tarkovski eu recomendaria começar pela simples ordem cronológica: "A Infância de Ivan" (1962), "Andrei Rubliov" (1966) e por aí fora, até à última obra do realizador russo: "Sacrifício" de 1986. Actualmente as sete longas-metragens de Tarkovski já se encontram editadas em DVD (Costa do Castelo) ou então arranjam-se por aí ;)
Aconselhava-te a ler os posts que escrevi sobre o cineasta, no marcador "Andrei Tarkovski".