terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A revolta de James Dean


Um clássico intemporal, "A Leste do Paraíso" (1955) de Elia Kazan, é um daqueles filmes míticos que marcaram várias gerações. Baseado no romance homónimo do escritor John Steinbeck, "A Leste do Paraíso" é o primeiro dos três grandes filmes que formam o legado cinematográfico de James Dean, o malogrado actor precocemente desaparecido num trágico acidente de viação.
James Dean, com apenas 24 anos, tornou-se rapidamente no ídolo de uma geração com a sua magnética personagem Cal, um jovem rebelde de Salinas Valley que disputa o afecto de um pai pouco atencioso (Raymond Massey) com o seu irmão Aron (Richard Davalos), o filho preferido. Ver hoje o filme de Elia Kazan é testemunhar que os conflitos entre pais e filhos e a consequente desintegração familiar não mudaram assim tanto após mais de 50 anos. James Dean, ele próprio dono de uma personalidade errante e emocionalmente instável, transportou para o filme essa ânsia de viver e de afirmação, confundindo a ficção com a realidade.
A esse propósito, veja-se uma das mais espantosas cenas de "A Leste do Paraíso" (a cena é extraordinária porque prova a intensidade interpretativa de um jovem actor no seu primeiro filme): tentando conquistar o amor do pai, Cal trabalhou para juntar dinheiro e presenteá-lo com o montante que este perdera num negócio. O pai, de forma arrogante e altiva, rejeita a dádiva. Conforme a rejeição do pai progride, os olhos de Cal começam nitidamente a brilhar, o seu tom de voz altera-se, gagueja, sente-se a profunda tristeza e revolta daquele momento. No fim, a cena termina de forma inesperada: no argumento estava escrito que o personagem de James Dean deveria resignar-se e sair de casa. James Dean improvisa e, imbuído totalmente nas emoções do seu personagem, encosta o pai à parede e abraça-o a chorar em total desespero. O actor Raymond Massey (pai) ficou surpreendido com a reacção de James Dean mas continuou a actuar, dizendo o que estava no guião ("Cal! Cal!").
O realizador Elia Kazan viria mais tarde dizer que, apesar de Dean se ter desviado do guião, acabou por incluir esta cena no filme por causa do intenso momento espontaneamente demonstrado pelo talento do jovem actor. Um momento que prova a genialidade de James Dean, um actor que, caso não tivesse vivido sempre no fio da navalha e desaparecido antes do tempo, poderia ter sido maior que um Marlon Brando ou um James Stewart.

2 comentários:

F disse...

uff! Incrível!

Cristiano Contreiras disse...

Filme surpreendente, o melhor de Dean, ainda que considerem o Juventude Transviada!