sábado, 20 de março de 2010

A (necessária) vida embriagada

"Devemos andar sempre bêbados. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar. Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são: «São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com virtude, a teu gosto."
Charles Baudelaire - in "Spleen de Paris"

14 comentários:

F disse...

São quase da manhã. Vim até esta realidade virtual após ter dado mil e quinhentas voltas no vale dos lençóis sem conseguir atngir o objectivo a que me propus: dormir. Ainda com a cabeça a duzentos deparei com este post. Bendita Internet. Obrigada Víctor.

F disse...

... pelas gralhas no meu comentário anterior já se percebe que eu devia estar a dormir em vez de andar a vaguear pela net. E não estou embriagada! Acho que vou seguir o conselho de Baudelaire.

FQ disse...

Embriagante. Obrigado.

Flávio Gonçalves disse...

"O Spleen de Paris" é um livro maravilhoso de Baudelaire. Sem dúvida, é necessário viver embriagado - quase ninguém, na verdadeira acepção da palavra, o faz, contudo.

Manuela disse...

"é a única solução..." Excelente.

Rolando Almeida disse...

Bem, sempre bêbedos é realmente como mais andamos a maior parte do tempo, razão pela qual erramos mais do que acertamos :-)

Rolando Almeida disse...

Ah, e o Baudelaire que se vá lixar com as manias de "a verdadeira acepção da palavra" e as essencias todas que ele pensava que eram essencias. Até gosto de alguns livros dele, mas que se vá lixar na mesma com os tiques pretensiosos.
abraços

Unknown disse...

"tiques pretensiosos"?
Hummm, não me parece, Rolando.

PortoMaravilha disse...

Tem graça porque nunca pensei ler hoje um post sobre Baudelaire. O que sofri com as explicações de comentário por causa de este autor, quando tinha 16 ou 17 anos.

Eis o que na altura Baudelaire escrevia sobre Lisboa / passo a traduzir : Diz-se que é construida em marmore e que o povo que nela mora tem um tal ódio do vegetal que arranca todas as árvores. Eis uma paisagem para o teu gosto ( obras completas / cf : N'importe où hors du monde )

Regressando ao século XXI :

Victor : Está aí anunciado o filme " La rafle " , já está nos ecrãs ?

Nuno

Rolando Almeida disse...

Bem, eu disse "tiques pretensiosos" num tom um pouco provocatório e brincalhão é verdade, mas olha que a literatura está cheia de tiques pretensiosos. hehe

Rolando Almeida disse...

é claro que eu não sei se o Baudelaire é ou não pretensioso.

Flávio Gonçalves disse...

Pois eu acho a sua escrita limpa...

Filipa Júlio disse...

livro excepcional. boa escolha.

Um Alguém disse...

Depois da Biblia, Simplesmente, o maior livro que li na vida. Baudelaire Genio!