terça-feira, 2 de março de 2010

Bigelow: realidade ou ficção?


"The Hurt Locker" ("Estado de Guerra") de Kathryn Bigelow arrisca-se a ganhar vários Óscares para os quais está nomeado. Porém, esse facto não isenta o filme de várias críticas por parte dos militares norte-americanos, que consideram pouco verosímil a acção dos especialistas em desarmar explosivos. Os militares com experiência real em cenários de guerra como o Iraque e o Afeganistão apontam erros básicos em determinadas cenas de combate e de desactivação de bombas.
Segundo Eric Gordon, um militar que esteve no Iraque numa equipa de desactivação de engenhos explosivos, referiu: "Vi o filme com outros companheiros e desatámos a rir o tempo todo!". Gordon fez uma especial menção à cena em que o actor Jeremy Renner, que interpreta o militar sem medo William James, desactiva um artefacto explosivo muito potente com a ajuda de umas pinças: "Tem tanto de verdade como um bombeiro entrar num edifício em chams e apagar o fogo com uma garrafa de água."
Concluindo, "The Hurt Locker" tem sido atacado como um filme irresponsável e pouco realista, mas não creio que esse motivo diminua a qualidade do filme. Em defesa da película de Bigelow, o argumentista Mark Boal (um jornalista com experiência no cenário de guerra iraquiano), veio afirmar que "nunca pretendemos fazer um documentário ultra-realista. Assumimos opções criativas à procura do efeito dramático, e essas opções foram responsáveis e conscientes."
Esta questão da veracidade ou não dos acontecimentos do filme levanta uma dúvida interessante: deverão ser os filmes o mais possível fiéis à realidade, mesmo colocando em risco a componente dramática e própria linguagem cinematográfica? Ou os realizadores e argumentistas podem ter liberdade criativa e artística para, sem escamotear a realidade básica dos fenómenos, construírem filmes dramaticamente consistentes recorrendo a elementos de ficção?
Eu opto, claramente, pela segunda visão.

7 comentários:

Anónimo disse...

Simplesmente perfeito!

Unknown disse...

O quê? O filme?

Pedro C. Reis disse...

Aos olhos de um leigo nessa matéria, o filme parece ser realista. E se assim é, acho que está bem feito.

F disse...

Por acaso eu não vi o filme como um filme de guerra, propriamente dito. É claro que é sobre a guerra e sobre a sempre implacabilidade da guerra. Desta vez o cenário é o Iraque. Está mais de acordo com o tempo em que estamos. Mas... a história que eu vejo aqui é a de um homem que, por razões que só ele saberá e que não serão relevantes para a história do filme, só consegue tirar algum sentido da vida se estiver constantemente sob a pressão da morte iminente. Um homem que, para funcionar, precisa de andar no fio da navalha. Viciado em adrenalina.
Acho que os filmes Deer Hunter e Appocalypse Now retratam melhor a guerra e a loucura que ela provoca em quem participa nela.

Luís A. disse...

eu tambem:)!

Rui Francisco Pereira disse...

Concordo também com a segunda opção. Aliás é essa uma das belezas do cinema: o escape à vida real.

Já o filme, não achei nada de especial.

Abraço

CP disse...

Acho que dizes tudo quando usas a expressão "escamotear".
"Ou os realizadores e argumentistas podem ter liberdade criativa e artística para, sem escamotear a realidade básica dos fenómenos, construírem filmes dramaticamente consistentes recorrendo a elementos de ficção? "
Também estou de acordo contigo. O problema e onde nos dividimos é o tu achares que este filme não escamoteia e eu achar que o faz justamente por não ter cuidado e atenção em detalhes que o tornariam mais realista e, novamente em desacordo contigo e contra o argumentista do filme, que em nada tornariam o filme menos dramático.
Tecnicamente é um filme bom, é interessante q.b. mas, sinceramente, não chega aos calcanhares de filmes como "A barreira invisível".