Há fortes possibilidades do realizador austríaco Michael Haneke ganhar a Palma de Ouro no festival de Cannes (até porque recebeu já o prémio da crítica). Se assim acontecer, algumas más línguas dirão que tal vitória se deve ao facto da presidente do júri ser Isabelle Hupert, actriz que trabalhou com o cineasta no filme "A Pianista". Mas a verdade é que tal hipotético prémio seria o reconhecimento de uma obra cinematográfica ímpar no contexto europeu, de um realizador que nunca fez concessões estéticas ou comerciais (ainda que tenha feito, de forma algo incompreensível, um remake americano desnecessário de "Funny Games").
Haneke é um verdadeiro autor, e os filmes que fez registam essa forte marca autoral, depurada ao longo dos anos, que brota de um artista que tem uma visão muito própria do mundo em que vivemos, revelando uma sensibilidade pragmática e (não raro) controversa. O seu cinema funda-se num pessimismo que chega a incomodar, numa crítica contundente ao sistema de valores da sociedade contemporânea. O realizador que se veste sempre de negro, em contraste com o branco luminoso dos cabelos e da barba, é um cineasta que confronta os medos e fobias actuais com a passividade do espectador, obrigando-o a reflectir sobre o sentido das relações humanas extremas ("A Pianista"), sobre os contornos totalitários da televisão, do vídeo e da violência no mundo moderno ("Benny's Video", "Funny Games", "O Tempo do Lobo", "Caché").
Agora com o novíssimo "A White Ribbon" (título inglês), filme concebido numa austera fotografia a preto e branco sobre as origens da violência autoritária no início do século XX, Michael Haneke prova que é capaz de renovar o seu olhar sobre as grandes questões sociais e políticas do nosso tempo, sem fragilizar (pelo contrário, enriquecendo) a sua abordagem artística e estética. A marca Haneke, portanto.
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Excertos do seu novo filme.
2 comentários:
Estou realmente muito curioso e ansioso para ver o filme.
E realmente é, a par do Abel Ferrara, um realizador muito pessimista, díria até que estes dois são os mais pessimistas do panorama cinematográfico actual.
Concordo com o Álvaro. Por acaso também gosto muito dos dois, mas gostava mesmo era ver o Von Trier a ganhar.
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