Nada que não se estivesse já à espera: o novo filme do realizador dinamarquês Lars Von Trier, "Anticristo", gerou polémica na sua apresentação no festival de Cannes. Pelos relatos dos jornalistas, consta que se trata de um filme cruel, repugnante, sangrento e ultra-violento. Feito deliberadamente para chocar? Pernas perfuradas por brocas, auto-mutilação genital, ejaculações sangrentas, terror psicológico e violência impiedosa em tom explicitamente religioso, destas coisas é feito este novo filme de Trier.
Trier não foi de modéstias e disse que se considera o "melhor realizador do mundo". E que fez este filme para sair de uma profunda depressão, como terapia. Mas não respondeu a um jornalista que lhe perguntou se o seu filme de terror não era pensado, precisamente, para "deprimir o público". Ao que respondeu: "Eu não fiz este filme para os jornalistas ou para o público, fi-lo para mim, não tenho de pedir desculpas a ninguém nem preciso de o explicar". Este tipo de declarações egocêntricas e provocadoras são sempre boas estratégias de marketing. "Falem mal de mim, mas falem", parece ser a máxima do cineasta de "Dogville".
Mas nunca se sabe se este filme polémico de Lars Von Trier não possa arrebatar a Palma de Ouro - apesar de ter dividido profundamente a crítica. Basta lembrar que, como presidente do júri, está Isabelle Hupert, actriz que também gosta de propostas cinematográficas dilacerantes que proporcionam experiências-limite. No final do filme, Lars Von Trier faz uma dedicatória a Andrei Tarkovski, que considera um deus ("Tarkovski sim é um verdadeiro deus. A sua relação com o mundo era profundamente religiosa. Eu também me sinto assim". Disso não tenho dúvidas.
Na imagem, a actriz Charlotte Gainsbourg com Lars Von Trier.
6 comentários:
Pelo que li, a homenagem a Tarkovski foi a grande responsável pela "ida aos arames" do público em Cannes relativamente a este ANTICHRIST. E, tal como dizes, é marketing no seu melhor. Von Trier sabe muito bem que a polémica vende - e é necessário encontrar um distribuidor que venda o filme comercialmente...
Capitalismos à parte, está no meu Top 10 dos a não perder em 2009.
Cumps. cinéfilos.
Acho sempre um piadão aos realizadores que afirmam lá bem do alto do seu pedestal que não fizeram o filme para ninguém senão para eles próprios e blá blá que não precisam dizer nada acerca do filme. Certo! Estão no seu direito. Tanto de ter feito o filme, como de não dizer uma única palavra acerca do próprio.
Depois só não compreendo a presença em conferências de imprensa e entrevistas para promover esse mesmo filme (ou será só para o realizador se promover a ele próprio e ao seu ego?). Já para não ir mais longe e considerar mesmo que... se o filme é para ele, qual a necessidade de o mostrar?!
Enfim, até sou apologista que um artista deva criar a sua obra sem ter um público em mente. Essa coisa tão abstrata. Mas daí à arrogância de pessoas como o Von Trier vai uma enorme distância. Coitado!!
Nem mais. Tarkovsky é Deus. A Diztânia que o diga. Agora o Lars Von Trier também. Gostei das declarações porque me identifico com a atitude a 100%.
A genialidade nunca teve progenitor.
"Diztânia"?
A dedicatória ao Tarkovsky é uma responsabilidade. Não vou dizer nem mais uma palavra até ver o filme.
Claro que a dedicatória ao Tarkovski é uma responsabildiade e o Lars não deve ter feito optado por isto sem pensar no peso da intenção.
E acredito até que seja sincera. Mas pelos vistos os críticos acham que é "arrogância". Mas nada como esperar para ver e tirar as nossas próprias conclusões.
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