domingo, 17 de maio de 2009

Um labirinto de memórias







Num luxuoso e enorme hotel, um estranho quer convencer uma mulher casada para fugirem juntos. Porém, parece difícil ela lembrar-se que tiveram um caso (ou talvez não tiveram) no último ano em Marienbad. Este é o mote de um dos mais enigmáticos e fascinantes filmes de sempre: "L'Année Dernière à Marienbad" ("O Último Ano em Marienbad", 1961), filme do realizador francês Alain Resnais. Um filme que, mais do que qualquer outro, evoca uma inusitada energia os labirintos da consciência e da memória. O cineasta disse, a propósito deste filme: "fiz uma tentativa cria e primitiva para captar a complexidade do pensamento e os seus mecanismos."
Tudo é enigmático e barroco nesta obra de Resnais, desde as personagens ao ambiente criado, à voz off que narra acontecimentos em forma de poesia onírica, a realização em longos planos-sequência, a montagem elíptica, os hipnóticos movimentos de câmara, a narrativa cerebral. Visualmente, "O Último Ano em Marienbad" é um filme belo como poucos, feito de uma expressividade plástica depuradíssima. Para o sucesso artístico do filme muito contribuiu o texto e argumento de Alain Robbe-Grillet (um dos expoentes do chamado "Novo Romance" francês"), perfeito para a visão barroca de Alain Resnais. As personagens são todas anónimas, sem alma, e vítimas de um qualquer encantamento que povoa o palácio internacional onde toda a acção do filme se desenrola - uma espécie de cela dourada e labiríntica, afastada do mundo real, quase num universo paralelo de consciência. Um filme mítico e hipnótico, que se revê sempre com renovado prazer e surpresa.

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