sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Vasco que tudo julga saber


O Vasco Pulido Valente habituou-nos a ser um jornalista frontal, um historiador de créditos firmados, um comentador crítico que não tem medo de assumir as suas opiniões (assim como o Miguel Sousa Tavares). Eu gosto do Vasco como jornalista na imprensa escrita (mesmo quando discordo das suas ideias ultra-pessimistas sobre o país e os portugueses), porque no comentário televisivo é um desastre. É na escrita que ele se sente bem, sendo um dos colunistas que melhor escreve em língua portuguesa. Apesar da sobranceria habitual.
Na televisão, o Vasco não cumpre requisitos mínimos e não é nada eficiente, quer ao nível da comunicação (o estilo discursivo e como se expressa), quer ao nível da opinião espontânea. Ouvi-o hoje na televisão e, com a sua habitual arrogância intelectual (como o Miguel Sousa Tavares), expressou as suas opiniões muito mal fundamentadas sobre a actualidade política e social portuguesa. O pior foi quando se pronunciou sobre o mediático caso da menina Alexandra (que foi obrigada a ir para a Rússia com a mãe biológica, destruindo a relação emocional e afectiva que a ligou - durante 4 anos - aos pais adoptivos portugueses). Vasco Pulido Valente, como julga ser dono de toda a verdade e se acha capaz de comentar todos os assuntos existentes à face da terra (como Miguel Sousa Tavares), foi peremptório ao afirmar que o tribunal fez bem em dar a custódia da criança à mãe biológica. Para explicar a sua posição, enredou-se em justificações patetas e de clareza nula de ideias, acabando por dizer a maior patacoada que alguma vez ouvi vinda de um respeitado intelectual: "o tribunal só seguiu o único critério possível: o biológico." Fiquei boquiaberto. E então a forte componente psicológica, emocional e afectiva que ligava a criança - e que em última análise a estruturava como pessoa - aos pais adoptivos não devia ter pesado na decisão? Ao dizer isto, VPV renega a importância fulcral que a educação/aculturação desempenha na formação humana de uma criança, reduzindo esse papel a um único factor. E nem vale a pena invocar estudos psicológicos e sociológicos que provam isto mesmo. Custa-me a acreditar que VPV tenha dito o que disse sem pensar, sem sequer perceber a real dimensão do disparate proferido.
Depois, questionado sobre se leu determinada reportagem, o sábio do Vasco retorquiu, do alto da sua torre de marfim: "Eu leio tudo! Até as listas telefónicas!". Eu acho é que o Vasco precisava era de ler mais manuais de psicologia, de inteligência emocional e de pedopsiquiatria, para que percebesse que as relações humanas (neste caso, criança-adulto) se baseiam muito mais do que na simples ligação biológica.

4 comentários:

Álvaro Martins disse...

O Vasco precisava ser mais humilde e acima de tudo aprender um bocadinho sobre a escola da vida.
Mas de jornalistas néscios e afins está o mundo da comunicação social cheio. Até porque a comunicação social é a principal causa de tanta alienação, parolice e, digo mesmo, burrice no mundo.

Que se há-de fazer?!!...

Sérgio Currais disse...

O que este senhor precisa é menos whisky e mais água…

Rolando Almeida disse...

Não sei se as ideias de um homem mudam muito se as apresenta num artigo escrito ou numa peça de TV. O VPV é daquele tipo de opinion makers perfeitamente dispensável, um assalariado do estado pago com extras para dizer mal do estado. A minha esposa é que costuma chamá-lo, o sapo cocas dos marretas. E com alguma razão.

Unknown disse...

Por exigências digestivas não me permito a uma elevada exposição aos malefícios da TVI, pelo que não sabia desta intervenção-pérola do VPV.
Sem qualificar o "belo" raciocínio feito, digo apenas que ás vezes estes senhores gostam de ser polémicos e radicais. Só porque sim.

Há uns anos o MST disse naquele mesmo canal, sobre as manifestações anti-propinas, que os estudantes verdadeiramente carenciados eram os do privado. Porque tinham tido uma vida tão má que nem notas para entrar no ensino público conseguiram.

Eu também gosto de fazer afirmações parvas e arrogantes sem considerar mais nada do que o meu umbigo. Mas é por isso que tenho um blog em tom jocoso.