terça-feira, 9 de março de 2010

Uma voz (cínica) contra Bigelow


Afinal, quando se julgava que público e crítica estavam, mais ou menos, de acordo quanto à justiça da vitória do filme "The Hurt Locker" nos Óscares, eis que somos surpreendidos pelas declarações, feitas contra a maré, do realizador espanhol Fernando Trueba (na imagem, realizador de "Belle Epoque").
E o que diz Trueba ao jornal espanhol ABC? Simplesmente que acha a película de Katrhyn Bigelow "detestável, sinuosa, suja e de propaganda bélica onde os iraquianos não têm rosto". Reconhece na cineasta qualidades técnicas, mas acha que se deveria confinar a fazer filmes de acção em vez de "usar a dor das pessoas para fazer um filmezito de tiros".
Fiquei perplexo com estas declarações injustas, demagógicas, cínicas e retorcidas. Teremos visto o mesmo filme? Eu sempre considerei "Estado de Guerra" como um filme claramente anti-bélico, ainda que, evidentemente, se passe num cenário de guerra (como eram "Apocalypse Now" ou "Platoon"). Um "fimezito de tiros"? Dito por um analfabeto que só conhecesse filmes de Steven Seagal, ainda passava; agora esta frase proferida por um respeitado e premiado cineasta, só revela uma intencional visão redutora e sentimentos ressabiados.
Fernando Trueba tinha todo o direito de não gostar do filme de Bigelow. Mas, para fundamentar a sua posição crítica, deveria ter invocado argumentos bem mais consistentes, coerentes e lúcidos.

16 comentários:

Diogo C. disse...

Eu também o acho péssimo... aliás, o único filme que poderia merecer o Oscar de Melhor Filme era o Inglorious. A Bigelow podia ficar com a realização, embora não ache nada demais - hoje a câmara na mão como método de «realidade» íngreme tem já de ser revisto, há por aí um enorme filão.

Concordo perfeitamente com a opinião do Trueba, é um filme «moral» que deixa a ética lá no cantinho... e tanto esforço para fazer uma metáfora tão inocente e ignóbil como a «dor de crescer», lol...

Beep Beep disse...

O puto morto?

A família que recebe o Jeremy Renner?

O suicida no fim?

Este gajo passa-se!

Unknown disse...

Um filme "péssimo"? Se é já pastiche e cliché a câmara à mão, não sei o que dizer das sequências plagiadas (é mesmo a expressão) de Tarantino em Inglorious e das milhentas referências cinéfilas que, insistentemente, propaga nos seus (sobretudo últimos) filmes. Se fosse outro cineasta, era tido como abusivo e desinspirado, como é o Tarantino, é tido como um "autor" ao tomar estas opções.

O filme de Bigelow não se resume ao recurso da "câmara à mão" que, obviamente não sendo uma técnica inovadora, coloca um novo olhar perante a ideia de perigo, gerindo de forma superlativa o suspense e a acção. "Estado de Guerra" tem uma montagem espantosa, planos espantosos, que deveriam ser matéria de estudo em escolas de cinema, e utilza o som como metáfora do sofrimento e da morte (acertadíssimos Óscaras para montagem e mistura de som).

Um filme "moral"? Se gostei do filme foi, precisamente, por não ter vislumbrado pingo de "explicação moral" em todo a narrativa. Conta a acção quase como um documentário isento e distanciado. Nada. O protagonista quando está em casa com a família e depois opta por voltar ao cenário de guerra, não foi certamente por um imperativo moral. Bigelow não explica, não dá lições de moral e, ao contrário do que disse o Trueba, o facto de os iraquianos não terem "rosto" foi, de certeza, uma opção intencional e legítima da realizadora. O cerne do filme estava centrado no combate interior daqueles soldados, e aquilo podia passar-se no Iraque como noutro teatro de guerra qualquer.

LN disse...

Eu não disse que o Inglorious é o melhor filme do ano... há melhor mas, naqueles 10, é o único minimamente abrasivo e estimulante. Essa farpa contra o Tarantino é de uma desonestidade que nem comento.

Quanto aos aspectos técnicos, Victor, só te vi aí num devaneio poético que quase me fizeram lacrimejar e pensar seriamente em instituir uma disciplina (desde o ensino básico logo) chamada «Introdução ao Hurt Locker», e depois terias cadeiras ao longo da vida para explorar, já que o filme é uma mina de ouro cinematográfico. Um autêntico guião de como «espingardar», lol... abre os olhos, com respeito.

Quem é que falou de uma «explicação moral»? Eu li bem? Explicação moral? O que é uma explicação moral? Do que deve ser certo?
Engraçado como mordes a própria língua... primeiro não é um filme moral, não tem posição nenhuma, está num ermo, limita-se a retratar a acção, o dia-a-dia de uma equipa de desarmamento de bombas, e depois... dizes isto: «O cerne do filme estava centrado no combate interior daqueles soldados». Ora, do que é certo, do que é errado. Do remorso, da culpa, a vaidade ou o desprezo. Está lá tudo, menos a ética das coisas, é como servir-se de trapos (os iraquianos neste caso e toda uma cultura própria que não conhecemos) para sensibilizar caprichos (o motivo bélico). Pura merda.

Li bem? Acho que sim.

Sérgio Currais disse...

De uma deselegância atroz, as lamentáveis declarações de Fernando Trueba. Vai mas é para a p**a que te p***u seu ganda filho da p*** não percebes mas é um c*****o de cinema…

Unknown disse...

Não há volta mesmo a dar: desde que me lembro, nunca concordámos em nada no que se refere a coisas de cinema. Acaba por ser bom, o debate de ideias e de opiniões, estimula o contraditório.
Repara: ideias e opiniões.

Por isso escusavas de despejar tamanhas doses de cinismo e sobranceria intelectual como quem está a dar lições - do que quer que seja - a um pobre alienado que "morde a língua", "não abre os olhos" e emite opiniões que são interpretadas (talvez enviasadamente, é certo) como "pura merda".

E por aqui me fico.

PGA disse...

Ah!Ah!Ah!
Estas opiniões do Sr. LN são unicamente de deitar para o lixo, nada que se possa ter em consideração, absolutamente imaturas, para um Sr. como o tratei há pouco.
Um pouco de contenção nas palavras e justiça no que escreve, se faz favor.
Obrigada.

Raquel Setz disse...

Olha... não vi o filme, mas o discurso da Bigelow no Oscar foi lamentável. Agradecer aos militares e ainda dizer que "eles estão lá por nós". George Bush feelings...

Luís A. disse...

Duas palavras: é burro! é palhaço!

Luís A. disse...

Raquel, tu por acaso viste o filme em questão? É que a abordagem não é pró nem anti-bélica. É sim sobre aqueles soldados e a forma como o inferno da guerra os afecta....dai o thank you ao militares.

LN disse...

Victor, eu é que sou «sobranceiro» e tu é que aplaudes um filme onde qualquer coisa que mexa é tiro nele?

O Hurt Locker é mau. Muito mau - nem ao nível técnico se safa... é preciso conhecer o que faz além. Conheces Brillante Mendonza, cineasta emergente de uma cinematografia igualmente em crescimento, a filipina? Vê o Serbis, o Kinatay (que ganhou o prémio de melhor realizador em Cannes), depois podes falar do que é Misturar o som e ser genuíno com o termo «contemporâneo». É óbvio que eu não espero dos Oscars filmes do nível a que estou habituado, é como um Phillip Glass ou Osvaldo Golijov ir agora receber um prémio MTV, não faz muito sentido...

O Hurt Locker parece escrito por alguém que conclui a licenciatura com média de 11. Tens momentos em que te trata como se fosses um mormon, melodrama da pior espécie, e a única coisa de que me lembro em mais de 2 horas de filme é um grupo de militares flectidos ao - surpreendente - arqúetipo do «homem forte», machista. Depois há umas linhas de diálogo inócuas para metaforizar a coisa, depois de o filme ter começado logo mal com uma citação à Call of Duty - serve para efeitos de propaganda.

Katherine disse...

"Afinal, quando se julgava que público e crítica estavam, mais ou menos, de acordo quanto à justiça da vitória do filme "The Hurt Locker" nos Óscares"
Mesmo mais ao menos. Não só eu mas conheco várias pessoas que não estão de acordo. A estatueta devia ter ido para Tarantino e os seus basterds.

Michelle disse...

Estou totalmente de acordo com Trueba. Serei eu injusta, demagógica, cínica e retorcida? Serei analfabeta? Terei, por ventura, uma visão intencionalmente redutora e sentimentos ressabiados? Acho que não. Apenas não gostei do filme - achei-o oco, pretensioso e irritante. Entre Seagal e Locker, venha o diabo e escolha... Eu fico com os basterds, do genial Tarantino!

Rui Carvalho disse...

não lhe terá faltado mais ambição???

Luis Baptista disse...

O tema é fraco, o filme fraco e premiar a arte do cinema com um filme destes é mau sinal, enfim reflecte um pouco a farsa que é os oscares.

Luís A. disse...

O pedantismo arty-farty que práqui vai.