Durante muito tempo julguei que a Fnac era uma loja comercial imune à crise. Sempre que lá ia, estava cheia de clientes, fosse em que secção fosse. As filas para pagamento eram sempre consideráveis. Os funcionários acotovelavam-se para dar resposta a todas as solicitações. Por algum motivo difícil de explicar, a Fnac continuava a ter enorme sucesso comercial em Portugal, alheia à crise económica global que afecta todos os outros sectores do comércio.
Mas a verdade é que as últimas duas ou três vezes em que entrei numa Fnac, senti uma estranha sensação de incomodidade: não vi o frenesim habitual de clientes, não havia filas para efectuar pagamento, quase diria que eram mais os empregados do que os clientes ávidos de comprar. Algo inédito na minha experiência, de muitos anos, como cliente desta loja.
É uma análise totalmente empírica, como é óbvio, mas porventura pode acarretar qualquer coisa de verdade. É o que eu pressinto como mero consumidor que sou. Apesar do sólido projecto que esta loja cultural representa e da revolução que provocou nos hábitos culturais dos portugueses, a verdade é que a Fnac não é imune a críticas nem a conjunturas negativas. Dito de outro modo: é bem possível que a crise tenha também chegado, finalmente, à Fnac.
13 comentários:
Calha a todos. Por isso é que recentemente é só promoções e coisas do género.
Com tantas alternativas recorrentes, é natural que isto esteja a acontecer. A crise chega a todos os lados!!
Também depende do dia da visita à Fnac, se foi num dia de semana ou no FDS, por norma este último tem mais afluência.
Até.
Eu posso dizer que ia regularmente à Fnac e deixei de ir. Literalmente há meses que não vou lá. Neste caso não é porque a crise tenha chegado à Fnac, mas antes a mim.
Música, vão-me perdoar, mas não consigo comprar discos a mais de 15 euros e manter uma cara séria. Há muito tempo que não compro um disco a mais de 10 euros entre Amazon Marketplace e eBay. Livros refreei o ímpeto. Achei que ter cerca de 100 livros novos encostados na prateleira por ler já era estar a abusar. E filmes nem por isso tenho muito tempo e o que me resta é para absorver calmamente todas as épocas do West Wing.. que comprei ao preço da chuva na Amazon. :)
exacto
e quanto a livros, essas feiras do livro de ocasião que vão aparecendo pelas ruas dão para comprar bons livros, muito baratos
Enquanto não baixarem o IVA dos Cds, pirataria é o caminho para mim.
A crise chega a todo o lado menos aos Festivais de Verão e às discotecas. Os papás que se amanhem mas a malta nova não desarma…
É verdade que a conjuntura não é favorável, mas também é verdade que o mercado da pirataria afecta grandemente a venda e produção de bens culturais. Curiosamente estive há pouco tempo na Fnac e falei com um funcionário que me falou que as vendas de livros e discos baixa, mas as de televisões e telemóveis continua com boa saúde. Isto porque uma boa parte das pessoas gosta de ser culta, mas prefere gastar o dinheiro em telemóveis topo de gama, automóveis caros, roupas da marca do que gastá-lo num livro ou num filme já que esses pode piratear com uma ligação à internet. Este comportamento imbecil tem afectado largamente a indústria musical já que os criadores deixam pura e simplesmente de viver da música e tem de fazer como o autor deste blog, fazer música somente nos tempos livres. Isto no caso da música. Mas o mais delirante é que os defensores do gratuito e dos downloads, pensam que essa é a forma eficaz de combater o mundo capitalista. Mas esquecem-se que já vivemos algo muito parecido com as televisões generalistas. Vejam no que deu: tv à borla com conteúdos de merda apetrechados com intervalos infinitos de publicidade de carros e telemoveis caros que nós compramos em vez dos cds. Um telemóvel por 100€ é barato, mas um cd por 15€ é caro. Ora bolas.
Concordo que algumas opiniões aqui registadas: os preços dos cd's, livros e dvd's são exurbitantes... Estive em Amsterdão há cerca de um mês e a média de preços que encontrei foi a seguinte: cd's (€10); livros (€8) e dvd's (€7). Mas posso ter estado nos locais errados :)
Caro Filipe,
Não esteve certamente no lugar errado. Esteve num lugar onde as pessoas provavelmente valorizam mais comprar cds, livros e dvds. Isto é um ciclo: por um lado é claro que a indústria baixe o preço dos cds, mas para que tal aconteça as pessoas tem de comprar os cds. Quando compramos um cd estamos a pagar desde o artista e os direitos de propriedade, até ao homem que acarta as caixas dos cds, aos vendedores da fnac, etc.. tudo isso implica um custo e significa locais de trabalho, tão necessarios nos dias que correm.
A questão da venda dos CDs, ainda para mais num país como Portugal, é deveras complexa. Obedece a conjunturas económicas específicas, obedece a uma mentalidade cultural enraizada e ao facilitismo que a internet trouxe. É difícil perceber um jovem que investe 200 euros num telemóvel mas depois não "tem" dinheiro para comprar um CD ou um livro, por mais barato que seja. Como escrevi há tempos no meu blogue, a geração actual está hipnotizada com tecnologia e cultura digital, em detrimento do consumo de bens culturais. Como professor, Rolando, tens uma função importante nesta motivação geracional para a cultura.
http://www.guardian.co.uk/news/datablog/2009/jun/09/games-dvd-music-downloads-piracy
Aconselho-vos a lerem este artigo sobre o que o que está a acontecer na realidade.
Segundo este estudo, enquanto o mercado dos cd´s diminuiu muito, o dos jogos aumentou muito.
Quem compra jogos, não compra música.
Victor,
Tens completa razão. Como professor tenho responsabilidades acrescidas. Que pensaria um aluno meu se me visse com um telemóvel de 200€ ao mesmo tempo que afirmava que os livros são caros???
abraço
Quando falarem da crise na Fnac no telejornal, lembrem-se que o Homem Já Sabia Demasiado.
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