quarta-feira, 17 de junho de 2009

Maradona e Robert De Niro


A determinada altura do documentário “Maradona by Kusturica”, o realizador pergunta ao astro do futebol qual o actor de cinema com o qual mais se identifica. A resposta foi pronta: Robert De Niro. Intuitivamente, Kusturica completa a resposta do jogador com: “De Niro de «O Touro Enraivecido». Só podia. Maradona explica porquê: ambos são lutadores, feitos da mesma fibra combativa e força natural, combatentes árduos mas com percursos de vida sinuosos. A única diferença é que Jack La Motta (interpretado por um notável De Niro) combatia num ringue de boxe, enquanto que o futebolista argentino combatia num campo relvado (e Maradona acabou por ser também um combatente pela própria vida, devido ao abuso de cocaína e álcool).
O filme de Kusturica, realizado entre 2005 e 2007 (e apresentado no Festival de Cannes 2008 e no Indie Lisboa), é um interessante documento sobre o génio do futebol mundial. Kusturica enobrece a lenda viva que é Maradona, explora a sua visão do mundo, da política, do seu apogeu e queda para a arte do futebol. Particularmente feliz e original é a música que acompanha as sequências dos golos de Maradona: “God Save the Queen” dos Sex Pistols. Esta opção vai ao encontro de um grito de revolta perante os sentimentos políticos de Maradona para com Bush e os líderes políticos ingleses. Um grito de revolta musical que tem ligações à guerra das Malvinas e teve a sua apoteose simbólica no célebre e imortal jogo entre as selecções da Argentina e da Inglaterra no Mundial do México '86 (o tal em que Maradona marcou dois golos míticos, um dos quais com a famosa “mão de Deus”).
E por falar em Deus, o documentário mostra a loucura colectiva que idolatra Maradona como um Deus (com a anedótica “Igreja Maradoniana”). Sempre que o jogador surge em Público - como no regresso, 15 anos depois, à cidade de Nápoles - onde Maradona teve o seu apogeu futebolístico - um impressionante fervor colectivo toma conta de tudo e de todos. O povo não se limita à simples saudação. Manifesta-se, de forma ruidosa e histérica, com cânticos de louvor incondicional ao ídolo. Maradona continua um fenómeno único, e neste documentário, a essência da sua força (e fraqueza) é captada superiormente pela câmara de Emir Kusturica.

1 comentário:

Ana Cristina Leonardo disse...

que nem a propósito do meu post sobre o jogador argentino. maradona é um ser humano de parte inteira, cristiano ronaldo nunca daria um filme...