
Há várias sequências prodigiosas no filme "Control" de Anton Corbijn. Uma delas é no momento em que Ian Curtis inicia a sessão de hipnose com a ajuda do amigo e músico Bernard Summer. Curtis está sentado num sofá preto, e a câmara começa a circular à volta do cantor dos Joy Division. Pela profundidade emocional do momento, pelo preto e branco imaculado da fotografia, fez-me de imediato pensar numa sequência similar do filme "A Palavra" de Carl Dreyer (na foto): o personagem que se julga Cristo está sentado no meio da sala a falar com a sobrinha, e a há um movimento de câmara que gira em volta da sua figura, lentamente. Percebo porque é que alguns críticos referiram Dreyer como influência para certas imagens de "Control". Depois, o final do filme, com a câmara a subir pela chaminé crematória até se fixar no respectivo fumo negro, com a música "Atmosphere" em fundo, é um espantoso exercício de mise-en-scène. E um dos mais belos e comoventes finais de filme dos últimos anos (na sala de cinema onde assisti ao filme de Corbijn havia uma rapariga à minha frente a chorar copiosamente).