domingo, 31 de outubro de 2010

O que há em comum entre Toy Story e The Shining?

A carpete que cobre o chão do Overlook Hotel no filme "The Shining" tornou-se numa imagem icónica e visualmente marcante desta obra de Kubrick. O padrão, as cores e o triciclo no qual Danny percorre os vazios corredores, figuram no imaginário de muitos espectadores.
O que não se esperaria é que um filme como "Toy Story" usasse, praticamente, o mesmo padrão de carpete (a diferença está nas cores utilizadas ) que "The Shining".
Ou terá sido mera coincidência?...
Entretanto, um leitor atento - Gonçalo Trindade - avisou-me que Lee Unkrich, realizador de Toy Story 3 (colaborou também nos dois anteriores) revelou publicamente que é um grande admirador da película de Kubrick. Esta citação visual é, por isso, uma espécie de homenagem ao realizador e ao respectivo filme. Mistério resolvido, portanto.


Discos que mudam uma vida - 123


Tom Waits - "Alice" (2002)

Pasolini e o corvo marxista

Vi o filme "Passarinhos e Passarões" (1966) de Pier Paolo Pasolini. Brilhante dissertação fantasista do cineasta italiano sobre a religião, a vida, a morte, a política, o sexo e a memória histórica. Um homem (o comediante Totó - na imagem) e o seu filho caminham por uma estrada deserta. A meio do caminho encontram um corvo que fala. É um intelectual de esquerda, um marxista. O trio faz uma longa viagem e o homem e o filho regressam ao passado onde São Francisco os manda evangelizar os pardais e os falcões. De volta ao presente, o trio continua a caminhada e o falcão reflecte sobre o idealismo. E quando a fome aperta, é o corvo que serve de repasto...
Pasolini filma esta surreal e divertida história com uma grande frescura e competência, num registo estilístico que raia a comédia burlesca mas com um forte cunho de sátira política e social (como quase sempre foi apanágio do realizador).
Em "Passarinhos e Passarões" a música desempenha um papel crucial (do grande Ennio Morricone) e isso constata-se logo nos minutos iniciais do filme: os créditos são apresentados a... cantar! Uma solução brilhante e original de Pasolini.
Ver:

sábado, 30 de outubro de 2010

Thanks Brasil!


Há muito tempo que não consultava o Feedjit deste blogue, ferramenta que monitoriza os acessos ao Homem Que Sabia Demasiado. E constatei nas estatísticas que, regularmente, 20 a 30% dos leitores e acessos provêm do Brasil (a esmagadora percentagem é, naturalmente, portuguesa).
Por isso, um obrigado especial aos leitores brasileiros.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Manson canta Elfman

Para quem não sabe, Marilyn Manson fez uma versão do tema "This is Halloween", que serve de abertura do filme "O Estranho Mundo de Jack" de Tim Burton. Sou tudo menos admirador da obra de Manson, mas acabo por reconhecer que o seu universo gótico e barroco se coaduna muito bem com o espírito do filme.
A versão é mesmo soberba. De resto, foi o próprio Danny Elfman (compositor original da banda sonora) quem propôs à Disney o nome de Manson para fazer a versão do tema. Claro que a Disney levou algum tempo a concordar com a ousada proposta. Mais propriamente... 5 anos (Elfman explica o processo aqui)!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Playtime #15

A solução: "O Tempo que Resta" (2006) de François Ozon
Quem descobriu: Nelson Magina Pereira

Scaruffi - O verdadeiro homem que sabe demasiado


Este homem chama-se Piero Scaruffi, tem 55 anos, é de origem italo-americana, formado em matemática pela Universidade de Turim, vive desde 1983 nos EUA, e trabalha na investigação da Inteligência Artificial e da informática.
Mas não é por estas vertentes que é mundialmente conhecido. Desde cedo que a sua paixão foi a música. Nos anos 70, quando era jovem, diz que era o especialista em música na escola. Os amigos perguntavam-lhe quais os cinco discos essenciais do jazz, quais os melhores do heavy-metal ou do rock progressivo. Piero Scaruffi respondia a tudo. De tal forma que foi elaborando listas atrás de listas temáticas, fazendo uma espécie de história da música do século XX. Começou a editar livros.
Um dos seus livros mais famosos é o “History of Jazz Music 1900 – 2000”, uma obra que aborda 100 anos de evolução e revoluções no jazz. Mas também lançou livros sobre a história do rock, da música erudita contemporânea ou da electrónica. Diz-se que é uma verdadeira enciclopédia e que mal tem tempo para respirar, tal a investigação, audição e leitura a que se dedica. Elaborou dezenas de listas dos melhores álbuns de todos os tempos e de quase todos o géneros (o seu preferido de sempre é “Trout Mask Replica" de Captain Beefheart).
Desde 1989 que Scaruffi resolveu colocar todo o seu saber acumulado na internet, publicando centenas de artigos e listas de discos desde 1955 até à actualidade, catalogadas por géneros musicais, por ano, década ou por instrumentos (o melhor cantor, guitarrista, baterista, teclista...). Para quem gosta de jazz, por exemplo, ou está a começar a gostar e precisa de referências discográficas, nada melhor do que consultar o seu site. Música clássica, idem. Rock progressivo, ibidem. O seu site contém centenas de referências a discos e edições, classificadas com um rigor quase científico e obsessivo.

Mas o seu site não aborda apenas música, mas dezenas de outros temas: cinema, literatura, filosofia, poesia, arte, ciência, política, viagens ou história. O que acarreta mais cronologias de acontecimentos culturais, críticas, biografias históricas, listagens exaustivas de acontecimentos, textos de reflexão, ensaios, etc.
Todos os conteúdos publicados são da exclusiva responsabilidade do próprio Scaruffi e não se pense que Scaruffi não faz actualizações. Quase todos os dias o site é actualizado com novos conteúdos e informações, num ritmo quase imparável. As suas preferências musicais são vastíssimas e diversificadas (e é atento às novidades estéticas, do heavy-metal à electrónica, do indie-folk à electrónica IDM).
O seu trabalho não é avesso a polémicas, e as classificações que atribui a discos clássicos nem sempre é alvo de consensos, uma vez que Scaruffi foge a sete pés do mainstream, favorecendo as manifestações estéticas mais alternativas. Outra prova de controvérsia prende-se com a sua página sobre os Beatles, na qual defende que a banda de Liverpool é a mais sobrevalorizada de todos os tempos: "The Beatles most certainly belong to the history of the 60s, but their musical merits are at best dubious."
O seu monumental site é, em termos de design, de um total mau gosto, mas é funcional e prático, e no fundo é isso que interessa.
"Last but not least" - o site é verdadeiramente internacional, visto que é traduzido em seis (!) línguas - do espanhol ao japonês. Um caso único na Internet, portanto.
Para entrar e descobrir o mundo de conhecimento de Piero Scaruffi, abrir aqui.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Darth Vader em leilão


Eu nunca fui fã da série Star Wars. Mas sei que há autênticos fanáticos capazes de coleccionar tudo o que seja possível sobre a saga intergaláctica. Por isso deve ser objecto de muita cobiça o próximo leilão da casa Christie's que vai leiloar o fato e a máscara de Darth Vader (o "lado temível da força negra"). O preço inicial de solicitação é que pode desencorajar os fãs menos abonados: 263 mil euros.
Assim, a partir de agora a pergunta é: alguém oferece mais?

Playtime #14

A solução: "The Circus" (1928) de Charlie Chaplin
Quem acertou: ninguém

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tarkovski por Brakhage


O realizador experimental Stan Brakhage elogiou um dia o cineasta russo Andrei Tarkovski pelos seus filmes a três níveis:

1) Por contar as lendas épicas das "tribos do mundo".
2) Manter a sua obra pessoal, alcançando a verdade por esse caminho.
3) Fazer um trabalho de sonho que ilumina as fronteiras do inconsciente.
Quando disse isto, Stan Brahkage tinha em mente o filme "O Espelho" (na imagem), que considerava um exemplo impressionante e dominador desta tripla premissa. Para Brakhage, esta obra de Tarkovski era, ao mesmo tempo, textura e aura, sensibilidade e confissão íntima, chamamento histórico e poema críptico.

E não é preciso dizer mais nada.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A criatividade esquecida de Antheil


(Imagens: George Antheil / Ezra Pound com George Antheil)
Pergunto-me muitas vezes porque é que o génio artístico de George Antheil (pronuncia-se "antil") não é reconhecido ou nem sequer surge, muitas das vezes, referenciado nos dicionários musicais como merecia.
George Antheil (1900 - 1959) foi um músico à frente do seu tempo. Nascido nos EUA, New Jersey, aprendeu muito cedo a tocar piano. Um dia teve um ímpeto expansionista e deixou os EUA com uns imberbes 22 anos, mudando-se para a Europa (Paris, Berlim, Viena...) onde conheceu Stravinsky, uma das suas principais referências. Começou a dar concertos de piano que ficaram famosos pela total inovação técnica de abordar o teclado: de forma percussiva e violenta, gerando amálgamas sonoras abruptas e harmonicamente dissonantes. Numa época em que ainda se respirava a música melódica dos impressionistas (Debussy, Ravel...), George Antheil quebrou regras e violentou os ouvidos mais sensíveis, de tal forma que alguns concertos acabavam em verdadeiros motins.
Vanguardista e revolucionário foram os primeiros epítetos atribuídos a Antheil.
Estávamos nos gloriosos e ricos anos 20 do século XX e o próprio pianista auto-proclamava-se, apropriadamente, "Bad Boy of Music". A sua irreverente visão criativa da música levou-o a experimentar inusitadas combinações de instrumentos que nunca tinham sido tentadas, inventar instrumentos (como os futuristas italianos) e a utilização, como fez também Edgar Varèse, de sons e ruídos urbanos - sirenes, buzinas, ruídos industriais, etc.
Com um espírito ávido de novas experiências artísticas e novos conhecimentos, foi amigo de artistas ilustres: James Joyce, Ezra Pound, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dali, Ernest Hemingway, Erik Satie, Igor Stravinsky, Fernand Léger... Ou seja, alguma da nata artística daqueles anos.
Uma das suas obras musicais mais conhecidas e celebradas é a música que compôs para o filme dadaísta "Ballet Mécanique" de 1924, realizado pelo pintor e cineasta Fernand Léger. "Ballet Mécanique" é um marco insuperável do cinema de vanguarda dos anos 20, uma proposta visual abstracta, usando técnicas mistas - fotografia, colagens de imagens, animação, imagem real, ângulos de câmara e montagem ritmada. A música de George Antheil é um portento de erupção rítmica e combinações tímbricas, numa massa sonora agreste e imprevisível (aqui se nota onde o pianista de free-jazz Cecil Taylor foi buscar inspiração) - um "ballet mecânico" com objectos e formas) como se poder ver e ouvir aqui:

Mais tarde, George Antheil regressa à América natal e envereda por uma carreira de compositor de bandas sonoras para filmes de Hollywood. Com o passar dos anos, a música de Antheil foi evoluindo para um estágio estético mais convencional, quase próximo no neo-clacissismo, deixando para trás os anos de rebeldia e ousadia formal.
Agora chamo a especial atenção para o que se segue: a recriação da peça musical "Ballet Mécanique" de George Antheil recriada por uma orquestra de instrumentos... robots. Trata-se do projecto norte-americano LEMUR - League of Electronic Musical Urban Robots . A apresentação deste concerto aconteceu na Nation Gallery of Art, Washington, em 2006. São 16 pianos a tocar simultaneamente com uma parafernália imensa de percussão e objectos sonoros pré-controlados.

Deveras impressionante.

Playtime #13


A solução: "Dogville" (2003) de Lars Von Trier
Quem descobriu: Álvaro Martins

domingo, 24 de outubro de 2010

Playtime #12


A solução: "Barton Fink" (1991) dos irmãos Coen
Quem descobriu: João L.

Grandes Filmes Frustrados - 10: James Cameron e "Spiderman"


A HISTÓRIA: Em 1991, Stan Lee (da Marvel) e James Cameron reuniram-se em Los Angeles para abordar a possibilidade do realizador levar a cabo a adaptação cinematográfica de "Spiderman". Cameron era já um realizador famoso, derivado dos filmes "Terminator" e "Aliens". Stan Lee achava que Cameron seria o melhor realizador para o projecto, afirmando que so ele conseguia captar a essência de "Spiderman".
O primeiro argumento escrito pelo realizador revelava um jovem Peter Parker a despertar para difícil puberdade, numa abordagem assaz kafkiana (segundo a opinião do próprio Cameron). Em 1995 parecia tudo encaminhado para a concretização do filme, mas as expectativas começaram a definhar com a luta da Sony, Carolco e MGM pelos direitos da BD e do filme.
CONCLUSÃO: O caso foi a tribunal, o qual só iria deliberar quatro anos depois em favor da Marvel e da Sony. James Cameron voltou a ser o candidato para se sentar na cadeira de realizador. No entanto, este disse que já tinha passado o tempo certo para levar a cabo o filme - estava a gozar a fama e o proveito do sucesso de "Titanic" feito dois anos antes e preparava-se já para trabalhar em "Avatar".
O argumento de James Cameron pode ser lido aqui, juntamente com dezenas de desenhos e esboços para o filme nunca realizado (que incluía uma cena de batalha nas Torres Gémeas).
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Nota: assim termina esta série "Grandes Filmes Frustrados". Os outros noves tópicos relacionados com esta série podem ser acedidos aqui e aqui.

Playtime #11


A solução: "Hapiness" (1998) de Todd Solondz
Quem descobriu: Fly

Don Vito Corleone em boneco


Nunca fui um apreciador dos "bonecos do cinema" (há uma designação própria para este coleccionismo mas não me recordo qual). A maior parte dos bonecos que existem à venda (como na Fnac) são de personagens de acção, de super-heróis e vilões. Por outro lado, são bonecos caros, pelo que só os coleccionadores mais endinheirados poderão reunir uma grande colecção destas pequenas "brincadeiras".
No entanto, deparei-me com esta imagem de Don Vito Corleone e pensei que gostaria de ter este boneco (não sei o preço mas não deve ser barata). Impressiona o realismo da figura.
E há até quem tenha feito um vídeo caseiro para mostrar a preciosidade no YouTube:

Playtime #10


A solução: "Mystic River" (2003) de Clint Eastwood
Quem descobriu: João Gonçalves, Álvaro Martins e Zé

Simpsons ao som de instrumentos de brinquedo

Tenho a certeza que Danny Elfman, compositor da banda sonora dos "The Simpsons", vai gostar muito desta versão com instrumentos de brincar do "MysteryGuitarMan":

sábado, 23 de outubro de 2010

Playtime #9


A solução: "Wild at Heart" (1990)
Quem descobriu: Zé

Lynch e os sonhos


"Adoro a lógica dos sonhos; gosto de como os sonhos funcionam. Mas raramente tirei ideias dos sonhos. Tenho mais ideias a partir de música ou só de passear. No entanto, em Veludo Azul estava mesmo numa luta com o guião. Escrevi quatro rascunhos diferentes. E tive alguns problemas perto do fim. Então, um dia, estava no escritório e pedi à secretária se me podia dar um pedaço de papel porque me tinha lembrado de repente de que tinha tido um sonho na noite anterior. E lá estava. Essa foi a única vez que um sonho interferiu na ideia de um filme".
David Lynch, in "Em Busca do Grande Peixe" (Estrela Polar, 2008)

Playtime #8


A solução: "A Vida dos Outros" (2006)
Quem descobriu: NunoB

Jack Torrance, um "rapaz risonho"?


No genial filme “The Shining” do genial Stanley Kubrick, a loucura apodera-se de Jack Torrance (Jack Nicholson) enquanto tenta arranjar inspiração para escrever o seu livro no isolado Overlook Hotel.
O estado mental de Torrance sofre alucinações progressivas e a espiral de violência psicológica adensa-se perigosamente junto do resto da família. Numa determinada sequência do filme, a mulher de Jack Torrance, Wendy (Shelley Duvall), descobre, horrorizada, que o marido tinha passado dias a redigir, obsessivamente, a mesma frase na máquina de escrever: “All Work and no Play Makes Jack a Dull Boy”. Jack Torrance escreveu dezenas de páginas com a mesma frase, apenas disposta na folha branca de formas diferentes, jogando com o efeito visual das palavras.
Começa nesta cena, aparentemente banal e inconsequente, a descida aos infernos encenada por Kubrick de forma absolutamente terrorífica.
Vem isto a propósito de um livro que comprei do jornalista Lauro António sobre três realizadores: David Griffith, Orson Welles e Stanley Kubrick.
A escrita de Lauro António é despojada de academismos eruditos e é conhecida pela sua fácil comunicação com o leitor. Mas isto não implica que haja desleixo em traduções aparentemente simples. É que, Lauro António revela, no seu livro, (capítulo dedicado a "The Shining"), que a frase "All Work and no Play Makes Jack a Dull Boy" significa "Trabalhar e Não Brincar Faz de Jack um Rapaz Risonho". A frase parece estar bem traduzida até... "Dull". Risonho?
Qualquer consulta a um dicionário comprova o significado da palavra "Dull": "aborrecido", "enfadonho", "entendiado", "amorfo"... Nunca se vislumbra qualquer semelhança remota com "risonho". Mais: que significado teria para Jack tornar-se num "rapaz risonho", no contexto dramático do filme?
Só se entendermos por "risonho" aquele sorriso maquiavélico e verdadeiramente medonho que Jack Nicholson produz ao longo do filme...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O medo


"Nada nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza de estarmos ameaçados. Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas acções e crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. Os nossos opositores, ou simplesmente os nossos vizinhos, deixam de estar ao nosso nível e transformam-se em inimigos.
Deixamos de ser agressores para nos convertermos em defensores. A inveja, a cobiça ou o ressentimento que nos movem ficam santificados, porque pensamos que agimos em defesa própria. O mal, a ameaça, está sempre no outro.
O primeiro passo para acreditar apaixonadamente é o medo. O medo de perdermos a nossa identidade, a nossa vida, a nossa condição ou as nossas crenças. O medo é a pólvora e o ódio o rastilho. O dogma, em última instância, é apenas um fósforo aceso."
Carlos Ruiz Zafón
in "O Jogo do Anjo"

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Máquina do tempo


Se existisse uma máquina do tempo na qual pudesse viajar e assistir/vivenciar os momentos que quisesse no campo estritamente musical, gostaria de:
- Assistir aos loucos anos 60 na Factory de Andy Warhol.
- Ver os longos concertos improvisados dos The Velvet Underground.
- Ver os primeiros concertos dos Sex Pistols e à explosão punk em Lodnres
- Assistir aos concertos dos Warsaw (posteriormente Joy Division) em Manchester .
- Ver a actuação de Jimi Hendrix no festival Woodstock.
- Assistir aos concertos de John Coltrane e Charlie Parker nos clubes de jazz fumarentos da downtown nova-iorquina.
- Presenciar uma sinfonia de guitarras de Glenn Branca nos anos 80.
- Assistir aos primeiros concertos de John Zorn e Elliott Sharp na Knitting Factory de Nova Iorque.
- Ver os Mão Morta, Pop Dell'Arte, Echo & The Bunnymen, Killing Joke e The Sound no mítico Rock Rendez-Vous.
- Assistir às performances místicas e excêntricas das orquestras de jazz de Sun Ra.
- Assistir à intensidade dos grandes momentos do free-jazz de Cecil Taylor, Ornette Coleman e Albert Ayler.
- Assistir ao primeiro "concerto" da peça 4'33'' de John Cage
- Assistir à estreia da obra "Bolero" de Ravel e "A Sagração da Primavera" de Stravinsky.
- Assistir aos primeiros concertos de música industrial dos Einsturzende Neubauten em Berlin no início dos anos 80.
- Assistir ao concerto dos U2 no "Live Aid" em 1985 (sobretudo pelo tema "Bad").
- Assistir à estreia da ópera "Einstein on the Beach" de Philip Glass (1976).
Etc, etc, etc... (podem continuar a lista)

Playtime #7


Solução: "Shortbus" (2006) de John Cameron Mitchell
Quem descobriu: Fábio Jesus

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Playtime #6


A solução: "Alphaville" (1965) de Jean-Luc Godard
Quem descobriu: Fábio jesus

Playtime #5


A solução: "Tsotsi" (2005) de Gavin Hood
Quem descobriu: Anónimo

Playtime #4


Solução: "After Hours" (1985) de Martin Scorsese
Quem descobriu: João Gonçalves

Cultura Humanista (ou a falta dela) nos jovens


Eduardo Prado Coelho, escritor, professor, cronista, ensaísta, pensador, polemista (que tanta falta faz a Portugal), morreu em Agosto de 2007. Um mês antes de falecer, escreveu uma crónica no Público em que abordava o conceito de "cultura jovem" na actualidade. Na altura recortei essa crónica e guardei-a algures. Redescobri-a agora, no meio de papéis perdidos, e resolvi publicar o texto (quase) na íntegra. Isto porque me parece que o teor da visão crítica sobre o tema de EPC é altamente pertinente e cada vez mais actual. Talvez falte dizer que concordo, grosso modo, com ele.
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"Culturas Jovens"

Primeiro ponto fundamental: a transmissão cultural de tipo vertical, das gerações mais velhas para as mais novas, que permitia a passagem daquilo a que chamamos a "cultura humanista" está a desaparecer. O que acontece hoje é que os pais se desinteressaram desse processo e incubiram a escola de se ocupar do problema da formação cultural dos jovens, o que deixa os professores numa posição particularmente desconfortável e delicada. Até porque a identidade das novas culturas jovens se faz, acima de tudo, através da relação entre os próprios jovens e o uso intensivo das novas tecnologias.
O que resulta daí? Que as culturas dos jovens se afirmam por um esquecimento ou mesmo uma rejeição da cultura de tipo humanista (em particular da leitura, da música clássica ou erudita) e por uma impregnação da cultura comercial apresentada como "cultura popular". A cultura humanista é considerada como algo de ultrapassado, de "burguês e aqueles jovens que ainda revelam interesse por estas matérias são objecto de troça ou de marginalização.
Os pais não procuram regular o acesso à cultura dos filhos. Dão-lhes total liberdade de escolha, dinheiro para comprarem aparelhagens, os pais só entram nos quartos dos filhos depois de baterem à porta respeitosamente, e não censurarem qualquer escolha. Os telefones, as inúmeras mensagens por telemóvel, mails, chats, fazem com que as relações entre os jovens prossigam em casa e que, portanto, a chapa cultural que essas relações vão impondo se prolongue no quarto e ao longo da noite.
Eduardo Prado Coelho
In Público, 10 Julho 2007