terça-feira, 30 de agosto de 2011

Tom Waits: a capa e o tema


Pena faltarem ainda dois meses para podermos ouvir o disco!
Por enquanto, só se pode ouvir ainda o tema-título do álbum, "Bad as Me", que conta com o grande guitarrista Marc Ribot. Tom no seu melhor, portanto.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Brando e Hepburn na casa de banho


Há dias jantei num restaurante espanhol.

Quando me dirigi à respectiva casa de banho reparei numa singular sinalética de divisão de sexos: uma fotografia de Marlon Brando na porta da casa de banho dos homens e uma fotografia de Audrey Hepburn na porta da casa de banho das mulheres.

Ou seja, uma solução de elementar bom gosto ao nível da diferença de género para uma casa de banho de tendência marcadamente cinéfila.

PS - Teria gostado mais de ver as fotos de e Richard Burton e Elizabeth Taylor.

"Violência física e visual"?


Como referi num post anterior, no último suplemento do jornal Público, o Ípsilon, fez-se uma exaustiva antevisão do que vai ser o panorama cultural dos próximos meses.
No contexto das actividades da dança e do teatro, o jornalista Tiago Bartolomeu Costa refere que "o coreógrafo Paulo Ribeiro apodera-se do universo de Tarkovski, pondo os bailarinos da Companhia Nacional de Bailado a experimentarem a violência física e visual do cineasta russo em 'mise-en-scène".
Depois de ler isto fiquei a pensar como é que alguém pode considerar o cinema poético e místico de Tarkovski como sendo "violento visual e fisicamente".
Das duas uma: ou o jornalista não sabe quem é Tarkovksi nem conhece a fundo o seu cinema, ou ele tem um conceito radicalmente diferente da expressão "violência física e visual" relativamente ao que eu tenho.
Nota: na imagem, o filme "O Espelho" (1975) de Andrei Tarkovski.

Estradasphere

Para quem não conheça os Estradasphere, talvez seja uma boa ajuda falar nos Mr. Bungle ou nos Secret Chiefs 3. Isto porque estes três projectos se inserem naquela lógica caleidoscópica de juntar, num mesmo caldeirão musical, múltiplas abordagens estilísticas que podem ir da música árabe ao rock mais extremo. O resultado, já se sabe, pode ter tanto de estimulante quanto de redundante. Tudo depende da forma como os músicos trabalham e misturam essas diferentes fontes sonoras, de molde a criar um todo artístico coerente.
Ora, os Estradasphere conseguem elevar essa estética simbiótica a um patamar realmente excitante para os nossos sentidos. Pegam em estilos como a música tradicional da Grécia, dos Balcãs, o surf rock, o funk, o death metal, a electrónica, o rock de garagem, o easy listening e, no final, misturam tudo com base num delirante imaginário que bebe tanto das extravagâncias de Frank Zappa como das alucinações criativas de Mike Patton. É por isso que o álbum “Quadropus” (2003) continua a ser um trabalho de absoluta referência, esteticamente demolidor e altamente surpreendente.
Para ouvidos especialmente inquietos:

domingo, 28 de agosto de 2011

A rentrée do cinema


No último suplemento Ípsilon do jornal Público foi publicado um destaque à chamada "rentrée" cultural que se avizinha (de Setembro a Dezembro deste ano).
De todas as dezenas de referências enumeradas ao nível de filmes, as que eu mais aguardo ansiosamente são:
- "O Hospício" - John Carpenter
- "Meia-Noite em Paris" - Woody Allen
- "Cave of Forgotten Dreams" - Werner Herzog
- "Sangue do Meu Sangue" - João Canijo
- "Restless" - Gus Van Sant
- "La Piel que Habito" - Pedro Almodóvar
- "Habemus Papam" - Nanni Moretti

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Reler Kerouac e esperar pelo filme


A editora Relógio D'Água acaba de publicar uma segunda versão do romance autobiográfico "Pela Estrada Fora" (1957) de Jack Kerouac - companheiro de William S. Burroughs e Allen Ginsberg no movimento da "Beat Generation".

Trata-se de uma segunda versão porque, segundo a própria editora, "esta versão nunca tinha sido antes publicada com o texto que surgiu na forma original de rolo dactilografado. Representa a primeira e mais genuína forma de expressão das ideias originais de Jack Kerouac, o momento em que a sua visão e voz narrativa se juntaram sob a forma de um impulso contínuo de energia criativa." Esta memorável obra da "Beat Generation" conta com nova tradução da escritora e ensaísta Margarida Vale de Gato e é já, quanto a mim, um dos acontecimentos literários do ano.

Entretanto, encontra-se em fase de pós-produção a adaptação cinematográfica do romance "Pela Estrada Fora": o filme tem realização do brasileiro Walter Salles e conta com Sam Riley (o Ian Curtis de "Control") no papel de Sal Paradise, Garrett Hedlund como Dean Moriarty e Kristen Stewart como Marylou - os protagonistas da incrível aventura que Kerouac escreveu ao som de muito jazz, drogas, viagens de carro, álcool e estadas em motéis decadentes. Convém dizer que a produção é de Francis Ford Coppola, que adquiriu os direitos da adaptação cinematográfica há mais de 30 anos.
Estreia em Dezembro deste ano.

Nota: "O Uivo" de Allen Ginsberg também em versão cinematográfica.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Kubik e "Movie Poster"

Festival "Escrita na Paisagem", Agosto 2011.
No projecto "Movie Poster", Kubik musicou 7 géneros cinematográficos com base nos posters como iconografia da sétima arte: filmes de Guerra, Comédia, Terror, Western, Cinema Negro (Noir), Cinema Mudo e Saul Bass (designer gráfico). Uma revisitação pela história do cinema com base numa criteriosa selecção de posters de cinema.

Excertos do primeiro concerto (no total de 4) na cidade de Évora, no dia 3 de Agosto de 2011, Largo da Igreja de S. Vicente. São dois minutos, em média, por cada género cinematográfico (para compreender o conceito geral):

domingo, 21 de agosto de 2011

A caveira de "O Silêncio dos Inocentes"


Há quem diga que o filme "O Silêncio dos Inocentes" (1991) de Jonathan Demme oculta uma mensagem subliminar (ou secreta) no próprio cartaz que se tornou tão famoso como a interpretação arrepiante de Anthony Hopkins.

Nas costas da borboleta que esconde a boca de Jodie Foster vislumbra-se uma caveira. E é uma caveira. Mas não é uma caveira qualquer. Se olharmos com atenção e fizermos zoom na imagem, constataremos que se trata de uma caveira... humana, concebida com mulheres nuas. Essa imagem, datada de 1939, é da autoria do pintor surrealista Salvador Dalí, que criou esta icónica caveira. O realizador Jonathan Demme deu autorização para a inclusão desta criação de Dalí no cartaz do filme, mas terão sido poucos que terão descortinado a verdadeira natureza desta imagem.

Estas sete mulheres da caveira na borboleta do poster do filme simbolizam, para alguns, as setes vítimas do assassino em série.



Foi a partir desta imagem da caveira "daliliana" que o filme de terror "The Descent" iria criar o respectivo poster (mas com apenas 6 mulheres e... vestidas):

sábado, 20 de agosto de 2011

O remake inútil, parte 2


No dia 30 de Julho escrevi neste post a inutilidade do remake do filme "Straw Dogs" de Sam Peckinpah. Agora, qual o meu espanto, quando leio a seguinte notícia:
"A Warner Bros quer lançar um remake do clássico western de 1969, «A Quadrilha Selvagem», que ficou conhecido pelas cenas de violência explícita, anuncia a revista «Variety». Os estúdios confirmaram esta quinta-feira o avanço do projecto e encontram-se em negociações com Tony Scott para que dirija o remake".
Ou seja, Hollywood resolveu apostar em força nos remakes dos clássicos de Sam Peckinpah! E logo com um dos melhores últimos western de culto de sempre, "A Quadrilha Selvagem" ("The Wild Bunch"), com o elenco de luxo que integrava actores de fibra tais como William Holden, Robert Ryan, Ernest Borgnine, Ben Johnson ou Warren Oates.
Se já era, para mim como cinéfilo, uma infâmia tocar numa obra como "Straw Dogs", mais infâmia é querer reconstruir o melhor western de Peckinpah e um dos mais emblemáticos do final da era dourada deste género cinematográfico.
Afinal de contas, qual a necessidade de recriar um filme que é uma obra-prima do género - à semelhança do que acontece no caso de "Straw Dogs"? Qual a razão da repentina obsessão dos produtores de Hollywood num cineasta que em tempos foi maldito e mal-amado pelos grandes estúdios como Peckinpah?
Pior ainda: a fazer-se o dito remake, como é possível entregar a enorme responsabilidade a um realizador tarefeiro e previsível como Tony Scott (se ainda fosse o Ridley Scott...)?
Já agora: qual o próximo remake dos filmes de Sam Peckinpah que os estúdios norte-americnaos vão anunciar ao mundo? "Cross of Iron"? "The Ballad of Cable Hogue"? "Bring me The Head of Alfredo Garcia"?
Enfim...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

domingo, 14 de agosto de 2011

Música clássica e pop: o diálogo


O livro de Alex Ross (na imagem) "O Resto é Ruído", já comentado neste post, é um manancial fascinante de informação histórica sobre a evolução da música entre 1900 e 2000: um intenso século de fervilhantes revoluções estéticas que se manifestaram em múltiplas e ricas formas de expressão musical. E como o autor refere no Epílogo desta magnífica obra, uma conclusão a tirar deste século musical é a de que os "extremos tocam-se", referindo-se mais especificamente, à ideia geralmente errónea que a música clássica e a música pop são duas linguagens que não devem ou podem encontrar-se. Nada mais falso.

A propósito desta matéria, escreve Alex Ross: "No início do século XXI, o impulso de colocar em oposição a música clássica e a cultura pop já não faz sentido racional ou emocional. Os jovens compositores cresceram com a música pop nos ouvidos e utilizam-na conforme a ocasião o exige ou não. Estão à procura do meio-termo entre a vida da mente e o ruído da rua. Do mesmo modo, algumas das reacções enérgicas à música clássica do século XX e à música contemporânea vieram da arena do pop, vagamente definida. As melodias microtonias dos Sonic Youth, os projectos harmónicos opulentos dos Radiohead, as assinaturas fracturadas e as marcações de tempo com variações rápidas do rock matemático e da música de dança inteligente, os arranjos orquestrais lamentosos que sustentam as canções de Sufjan Stevens e de Joanna Newsom, tudo serve para manter o já longo diálogo entre as tradições clássica e popular."

Nem mais.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ritmo às imagens

O videoclip que está em baixo é um clássico absoluto que representou um marco na criação audiovisual contemporânea.
Tem por título "Ohi Ho Bang Bang", foi filmado pelo video-artista Akiko Hada com música do alemão Holger Hiller. Estávamos em 1988 e eu lembro-me de ter gravado em VHS este vídeo num mítico programa de televisão espanhola (TVE2) dedicado às correntes artísticas de vanguarda - "Metropolis".
Quando vi este vídeo pela primeira vez fiquei de queixo caído: pela originalidade, pela invenção musical e pela meticulosa montagem e sincronia entre imagem e som. Em 1988 ainda vinha longe a era da tecnologia digital, pelo que tudo foi filmado em sistema analógico, de forma extremamente minuciosa e paciente (hoje é muito mais fácil sincronizar som e imagem). A música foi feita com base nos sons gravados durante a própria filmagem (não são samples electrónicos!) e posteriormente trabalhados e misturados em estúdio.
Sons que, diga-se, são trabalhados ao mais ínfimo pormenor, e cuja mestria rítmica é desconcertante. Ou seja, cada som que ouvimos vemos representada a respectiva fonte sonora. E o trabalho de manipulação sonora é verdadeiramente notável, para não falar no trabalho de montagem visual. Ritmos vocais, ruídos de scratch, feedbacks de guitarra, sons de objectos - tudo em espantosa harmonia conceptual.
Durante anos apresentei aos meus alunos (Educação Musical) a cassete com este videoclip, e o seu visionamento proporcionava sempre estupefacção na cabeça das crianças. Viam-no com espírito crítico, facto que estimulava o debate de opiniões acerca deste videoclip. Não era para menos. "Ohi Ho Bang Bang" foi um trabalho totalmente pioneiro na experimentação som-imagem, quer ao nível da criação musical (influenciou grande parte da produção musical electrónica dos anos 90), quer ao nível da realização de videoclips - os Coldcut têm dois videoclips que partem exactamente do mesmo conceito deste, mas já realizados com recurso à manipulação digital das imagens.
Passaram mais de 20 anos desde a data em que foi feita, mas esta pequena obra-prima de Holger Hiller/Akiko Hada, mantém a mesma frescura, ousadia formal e originalidade - apesar da qualidade de imagem ser menos boa.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Pausa intermitente


Nos três primeiros anos de vida d' O Homem Que Sabia Demasiado, não houve pausas na actividade do blog durante o mês de "silly-season-Agosto". Agora vou fazer...
Quer dizer, não será propriamente uma pausa continuada, uma vez que, sempre que for oportuno e tiver disponibilidade, irei actualizando o blog - mas num ritmo mais lento e irregular.
Afinal, férias são férias. E amanhã parto para o Alentejo para apresentar o projecto "Movie Poster" e depois sigo para viagens, praias, sol, sombras, paisagens, passeios, família, amigos e puro ócio (mas vão passando por aqui, poderá haver uma ou outra novidade).
E assim sendo: boas férias, caros leitores.

Os créditos finais de "Apocalypse Now"


Ontem revi no canal Hollywood a última meia-hora da obra-prima "Apocalypse Now Redux" de Francis Ford Coppola. O filme mantém intacta a capacidade de impacto emocional, como referi neste post.
Com o fim do filme, vieram os créditos finais e surgiu, em fundo negro, a palavra "Starring" e logo de seguida os actores na seguinte ordem: 1º Marlon Brando; 2º Robert Duvall; 3º Martin Sheen. Bem sei que na época da realização do filme Marlon Brando era a estrela mais mediática, Robert Duvall um actor em ascenção e Martin Sheen quase desconhecido. Mas caramba, grande mérito do filme deve-se à fabulosa interpretação de Sheen como capitão Willard e, quer Brando quer Duvall, surgem no grande ecrã num curto espaço de tempo - apesar da importância das suas interpretações. Parece-me algo injusto relegar para terceiro plano o papel glorioso (talvez o melhor de toda a sua carreira) de Martin Sheen. É sabido que há actores que fazem questão de ter no contrato a exigência de ficar nos primeiros lugares na ordem de apresentação dos créditos.
Não sei se terá sido o caso do filme "Apocalypse Now", mas creio que - apesar da importância do nome de Marlon Brando - os três protagonistas do filme de Coppola deveriam surgir par a par nos créditos finais.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Fui ver o filme "Super 8" e fiquei surpreendido com duas situações: a história decorre em 1979 mas, a determinada altura, ouve-se de fundo a música "Easy" dos Faith No More (quando o pai e filho estão a comer num bar). Nada seria estranho caso esta canção não fosse datada do ano de... 1992. É verdade que "Easy" é um tema original dos Commodores (banda soul de Lionel Ritchie dos anos 70, mas garanto que a versão que ouvi é a dos Faith No More - conheço bem a voz do Mike Patton).
Outra coisa que me deixou na dúvida: na sequência da estação de serviço vê-se um jovem a ouvir música num aparelho portátil Walkman da Sony. Fiquei a pensar se já existiria no mercado estes populares headphones da marca nipónica. Fui verificar e, de facto, o ano de início de comercialização do célebre Walkman foi mesmo em 1979. Nesta aspecto os produtores do filme estavam atentos, coisa que não se aplica à inexplicável inclusão de uma música que foi editada 13 anos depois da data em que a história do filme decorre.
Quanto ao filme propriamente dito, gostei sem me entusiasmar: é um bom entretenimento de Verão e percebe-se que J.J. Abrams assimilou toda a boa filmografia de aventura e ficção científica dos anos 80, cujo principal legado foi deixado por Steven Spielberg.

Clássicos do Cinema em BD para Pessoas com Pressa #28

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As míticas TDK

Num tempo em que comprar discos de vinil ainda saía caro e em que o CD era uma miragem tecnológica, a cassete de áudio cumpria uma função essencial - era o suporte musical por excelência. Nos idos anos 80 troquei montanhas de gravações com amigos, possibilitando ouvir novas músicas que, de outro modo, seria praticamente impossível conhecer.
Das várias marcas de cassetes (vulgarmente k7) existentes no mercado, as minhas preferidas eram as negras TDK SA 90, que possibilitavam 90 minutos de gravação.
Conseguia-se gravar um disco de vinil em cada lado (A e B) e, caso sobrasse espaço, um ou dois EPs ou máxi-single. Depois era colar a fita autocolante branca com a inscrição de cada álbum ou artista e arranjar um capinha à maneira para ilustrar a gravação.
Tenho centenas destas cassetes TDK que se encontram a apodrecer num canto da garagem. É um formato perecível e frágil (sobretudo por causa da fita de gravação que por vezes trilhava ou encravava), mas hoje carregado de poder nostálgico e de boas memórias que remetem para um longo período de aprendizagem e formação musical.