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sexta-feira, 12 de junho de 2015

O top de Jarmusch

Jim Jarmusch (62 anos) é um cineasta norte-americano de culto autor de obras como "Dead Man" (1995), "Stranger Than Paradise" (1984) ou "Coffee and Cigarettes" (2003). Filma quase sempre a preto e branco com orçamentos limitados, colaborou com os músicos Tom Waits ou John Lurie e os seus filmes são produções do circuito independente. 

A lista que se segue revela os 10 filmes favoritos de Jarmusch: só grandes filmes notoriamente de um cinéfilo amante de bom cinema - todo ele a preto e branco e o mais recente de 1967.

1. L’Atalante (1934, Jean Vigo)
2. Tokyo Story (1953, Yasujiro Ozu)
3. They Live by Night (1949, Nicholas Ray)
4. Bob le Flambeur (1955, Jean-Pierre Melville)
5. Sunrise (1927, F.W. Murnau) 
6. The Cameraman (1928, Buster Keaton)
7. Mouchette (1967, Robert Bresson)
8. Seven Samurai (1954, Akira Kurosawa)
9. Broken Blossoms (1919, D.W. Griffith)
10. Rome, Open City (1945, Roberto Rossellini)

domingo, 18 de maio de 2014

A lista de Woody Allen

É sabido que Woody Allen sempre manifestou grande paixão pelo cinema europeu, não só como espectador, mas também enquanto realizador. Daí que não espante que nos seus 10 filmes preferidos de sempre apenas constem dois títulos do cinema norte-americano (Welles e Kubrick). 
Outros aspecto curioso é que Allen não escolheu nenhum filme de comédia (Chaplin, irmãos Marx ou Keaton, suas referências inevitáveis).






Sem nenhuma ordem em particular:

"The 400 Blows" (François Truffaut, 1959)
"8½" (Federico Fellini, 1963)
"Amarcord" (Federico Fellini, 1972)
"The Bicycle Thieves" (Vittorio de Sica, 1948)
"Citizen Kane" (Orson Welles, 1941)
"The Discreet Charm of the Bourgeoisie" (Luis Buñuel, 1972)
"La Grand Illusion" (Jean Renoir, 1937)
"Paths of Glory" (Stanley Kubrick, 1957)
"Rashomon" (Akira Kurosawa, 1950)
"The Seventh Seal" (Ingmar Bergman, 1957)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Keaton: 90 anos

90 anos.
Passam por estes dias 90 anos da estreia de uma das melhores obras do genial Buster Keaton: "Sherlock Jr.". 90 anos de uma filme que parece manter intactas as características da sua modernidade:

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Grandes filmes antes dos 30 anos

Neste post - bastante comentado - abordei os primeiros grandes filmes realizados por jovens cineastas. Aquelas primeiras obras fabulosas que marcaram a restante filmografia do cineasta e até da história do cinema. Mas nem todos esses realizadores eram jovens realizadores. Quantos realizadores se podem orgulhar de terem feito primeiras obras de inexcedível qualidade antes dos 30 anos de idade?

Eis quinze filmes da minha preferência pessoal no rol de cineastas que assinaram filmes superlativos até aos 30 anos de idade (ordenados por ordem crescente de preferência, título do filme, ano, realizador e respectiva idade à data da realização do filme):

15 - "As Aventuras de Pee Wee" (1985) - Tim Burton (27 anos)
14 - "Little Odessa" (1994) - James Gray (24 anos)
13 - "Paths of Glory" (1957) - Stanley Kubrick (29 anos)
12 - "American Graffiti" (1973) - George Lucas (29 anos)
11 - "Os 400 Golpes" (1959) - François Truffaut (27 anos)
10 - "Sherlock Jr." (1924) - Buster Keaton (29 anos)
9 - "Magnolia" (1999) - Paul Thomas Anderson (29 anos)
8 - "Reservoir Dogs" (1992) - Quentin Tarantino (29 anos)
7 - "Pi" (1998) - Darren Aronofsky (30 anos)
6 - "Duel" (1971) - Steven Spielberg (25 anos)
5 - "Sexo, Mentiras e Vídeo" (1989) - Steven Soderbergh (26 anos)
4 - "Magnificent Ambersons" (1942) - Orson Welles (27 anos)
3 - "Un Chien Andalou" (1929) - Luís Buñuel (29 anos)
2 - "Citizen Kane" (1941) - Orson Welles (26 anos)
1 - "O Couraçado Potemkine" (1925) - Sergei Eisenstein (27 anos)

domingo, 3 de novembro de 2013

Cinema mudo: com ou sem Intertítulos

É conhecida a grande resistência que muitos realizadores e actores do cinema mudo tiveram para aderir ao cinema falado. Enquanto o período mudo durou (até 1927), a história de cada filme era contada através dos célebres intertítulos, caixas pretas com as legendas dos diálogos ou pensamentos dos personagens. O curioso é que em Hollywood alguns realizadores mais audazes ambicionaram criar filmes puramente visuais, e que tivessem o mínimo de intertítulos possíveis.
O grande Buster Keaton era um desses realizadores que tentou reduzir ao mínimo o número de intertítulos, privilegiando a acção puramente visual. Foi então que Buster desafiou amigavelmente o seu rival Charlie Chaplin para ver quem dos dois realizaria o filme com menos intertítulos. Um filme mudo tinha, em média, 240 intertítulos.  O máximo que Buster Keaton tinha utilizado foram 56.
Eis o resultado desse interessante desafio: Chaplin realizou um filme com apenas 21 intertítulos, enquanto que Buster fez um filme com 23. 
Mas o verdadeiro record viria da Alemanha Expressionista: F.W. Murnau realizou um filme mudo sem intertítulos e puramente visual: "O Último Homem" (1924).
(Esta é uma das muitas histórias que revela o livro "Hollywood - Estórias de Glamour no Império do Cinema").

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Buster Keaton na "Twilight Zone"



Talvez não seja algo que toda a gente conheça, mas o actor e realizador Buster Keaton – génio da comédia muda burlesca a par de Charlie Chaplin – protagonizou um episódio da famosa série televisiva “Twilight Zone”.
Foi em 1961, tinha Keaton 65 anos de idade. O episódio em causa tinha por título “Once Upon a Time” e conta a história de um vulgar homem que vive no final do século XIX e que é transladado para meados do século XX através de um capacete que permite viajar no tempo. “Once Upon a Time” tem 25 minutos e a primeira metade é a mais interessante porque é aquela na qual Buster Keaton se sente como peixe na água.
Ou seja, como a acção se desenrola no final do século XIX, a narrativa decorre como se de um filme mudo se tratasse, sem palavras e muitos gags visuais.
A segunda parte, já com diálogos e sonoplastia, é mais desequilibrada mas, no cômputo geral, este episódio da célebre Twilight Zone cumpre na ousadia de uma fórmula original: juntar a ficção científica, o mistério e o humor burlesco.
E claro, por ser também um dos últimos momentos de brilhantismo no pequeno ecrã de Buster Keaton – só suplantado, 4 anos depois, por essa maravilhosa curta-metragem chamada “The Railrodder”.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Bom Natal (se possível, em família)

Humphrey Bogart, Lauren Bacall e o filho Stephen
Buster Keaton e os dois filhos
Scott Fitzgerald, Zelda e a filha Scottie

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Gostava...

- Gostava de ter vivido os anos de ouro do cinema clássico de Hollywood.
- Gostava de ter presenciado concertos de Charlie Parker, John Coltrane e Miles Davis em clubes nocturnos escuros e cheios de fumo de Nova Iorque de meados do século passado.
- Gostava de ter passeado nas ruas de Paris dos anos 1910 e 1920, no seio da agitação artística e cultural e ter tomado um café na esplanada do mítico Café de Flore.
- Gostava de ter ouvido ao vivo Maria Callas cantar a "Carmen" de Bizet.
- Gostava de ter assistido aos anos de criatividade fervilhante da "Factory" de Andy Warhol nos anos 60 em Nova Iorque.
- Gostava de ter assistido à gravação do primeiro álbum dos The Velvet Underground.
- Gostava de ter visto a estreia apoteótica de "Metropolis" de Fritz Lang, em Berlim (1927).
- Gostava de ter estado presente na entrega do Óscar Honorário a Charlie Chaplin em 1972.
- Gostava de ter assistido ao concerto de Jimi Hendrix no festival de Woodstock (1969).
- Gostava de ter assistido aos primeiros concertos dos Sex Pistols e dos Joy Division.
- Gostava de ter visto pintar, in loco, Salvador Dalí, Jackson Pollock e Magritte.
- Gostava de ter assistido à estreia de "A Sagração da Primavera" de Stravinsky em Paris (1913).
- Gostava de ter sido varredor do estúdio de filmagem do filme "12 Homens em Fúria" (1957) de Sidney Lumet.
- Gostava de ter tomado um copo de absinto na companhia de Fernando Pessoa no Martinho da Arcada, em Lisboa dos anos 1920.
- Gostava de ter assistido à rodagem de "The Shining" de Stanley Kubrick, "Blade Runner" de Ridley Scott e de "Stalker" de Andrei Tarkovski.
- Gostava de ter feito a viagem costa-a-costa dos EUA com Jack Kerouac que viria a dar no livro "On The Road".
- Gostava de ter visto o filme "Koyaanisqatsi" com orquestra ao vivo conduzida por Philip Glass.
- Gostava de ter acompanhado a gravação de todos os álbuns dos Dead Can Dance. 
- Gostava de ter presenciado a reacção do público aos primeiros filmes de George Méliès nos anos 1910.
- Gostava de ter tomado café em Los Angeles com Marlon Brando, Elizabeth Taylor, Buster Keaton, Sam Peckinpah, Audrey Hepburn e Maureen O'Hara.
- Gostava de ter sido figurante em todos os filmes de Alfred Hitchcock.
- Gostava... 

sábado, 13 de outubro de 2012

Buster Keaton em fotografias

Para quem procura imagens de boa resolução da vida e da carreira do grande actor e realizador Buster Keaton, basta entrar neste site. 
Encontram-se neste sítio fotografias (muitas originais e pouco conhecidas) do cineasta da comédia burlesca do cinema mudo, oriundas de filmagens, eventos informais, familiares e até GIFs. 

quarta-feira, 7 de março de 2012

O "Film" de Beckett e Keaton

Um dia, o famoso dramaturgo e escritor Samuel Beckett, autor de uma das mais revolucionárias peças de teatro do século XX ("À Espera de Godot"), resolveu aventurar-se pelo cinema. E fê-lo de forma esteticamente ousada, fazendo um curto filme experimental assumidamente mudo em pleno ano de 1965. Para tal, recrutou um génio do período dourado do cinema mudo: Buster Keaton (a preferência de Beckett era Charles Chaplin). E pediu ao realizador Alain Schneider para realizar o dito filme, ainda que sob total orientação artística de Beckett.
O filme em questão chamou-se, singelamente, "Film" e é baseado no princípio do filósofo irlandês Bishop Berkeley: "Ser é ser percebido". Buster Keaton interpreta uma espécie de figura fantasmagórica de um velho (de quem só se vê o rosto no final) que deambula pelas ruas, em total desnorte, até chegar a um quarto em ruínas... Durante os 17 minutos que dura esta curta-metragem minimalista filmada no verão de 1964 em Nova Iorque, não existem diálogos nem som.
Um ano depois da participação de Buster Keaton em "Film", o actor "que nunca ria" morreria e três anos mais tarde, Samuel Beckett seria galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.

domingo, 25 de dezembro de 2011

"The Artist" - O filme mudo


É o grande fenómeno do momento no mundo do cinema: o filme "The Artist" do realizador francês Michel Hazanavicius. A estreia deste filme aconteceu no último Festival de Cannes, competindo à Palma de Ouro (perdeu para "The Tree of Life") e o actor principal, Jean Dujardin, ganhou mesmo o Prémio de Melhor Actor. Recentemente foi nomeado para seis prémios Globos de Ouro e já se fala, insistentemente, nas nomeações para os almejados Óscares. A sensação à volta de "The Artist" é que se trata de um filme... mudo. Toda a sua estética visual remete para os filmes mudos dos gloriosos anos 1920. O realizador demorou 10 anos a convencer os produtores a investir neste projecto. E o resultado está à vista. A crítica e o público (já estreou comercialmente no final de Novembro nos EUA) têm sido quase unânimes nos elogios a este filme que foi pensado como se fosse realizado, de facto, entre 1927 e 1933 (época em que o sonoro veio substituir o mudo e que serve de pano de fundo para a história de "The Artist").

Michel Hazanavicius não é o primeiro realizador a explorar a estética do cinema mudo. O canadiano Guy Maddin (escrevi sobe ele aqui) já o fizera com brilhantes resultados formais. A inovação que "The Artist" acarreta é que não se limita a ser um mero exercício de estilo saudosista a preto e branco. Os valores de produção, as interpretações marcantes, a realização, a fotografia, a banda sonora e a história de amor (também amor ao cinema) são, tudo o indica, razões para considerar "The Artist" como uma obra absolutamente singular dos tempos modernos.

Além do mais, este filme de Hazanavicius tem outro mérito: o de chamar a atenção - sobretudo para as novas gerações de cinéfilos - para a história do cinema mudo. Vendo "The Artist", os jovens espectadores que desconhecem o período mudo, poderão ficar sensibilizados e motivados a descobrir e ver os grandes mestres desta época da história do cinema: Fritz Lang, Charlie Chaplin, Buster Keaton, Eisenstein, Murnau, etc.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Entrevista Póstuma (5) - Buster Keaton



O Homem Que Sabia Demasiado - É célebre a sua expressão "Tragedy is a close-up; comedy, a long shot". O que queria dizer com isto?

Buster Keaton - A tragédia e a comédia são dois campos que se tocam, o reverso da mesma moeda. Experimentar ambas só enriquece o ser humano e o torna mais sensível, mais compreensivo para com as contradições da própria vida. O filme "The General" é prova disso: com um tema sério, a guerra, eu construi uma comédia mordaz. Até na violência e na hostilidade se podem criar momentos de humor. O importante é saber equilibrar o lado da tragédia e o da comédia.

O Homem Que Sabia Demasiado - Nos seus filmes sempre houve essa espécie de "sentimento trágico da vida", apesar de toda a enorme carga de humor que era evidente.

Buster Keaton - Sempre foi esse factor que me diferenciou de Charles Chaplin. Ele tinha um lado sentimental da comédia, eu tinha um lado quase negro, quase trágico. Sempre entendi e usei o "gag" cómico como uma ferramenta de interpretação do mundo, das relações entre homens e mulheres, etc.

O Homem Que Sabia Demasiado - Cultivou um semblante sempre impassível, incapaz de expressar emoções, de feições neutras. Porquê?

Buster Keaton - Por um lado, foi uma forma de construir uma personagem icónica, capaz de resistir impávido à cena mais irresistivelmente cómica. Por outro lado, o facto de nunca rir, permitiu que o espectador pudesse projectar em mim as suas próprias emoções segundo o que via.

O Homem Que Sabia Demasiado - O seu humor era muito físico e consta-se que nunca recorreu a duplos nas cenas mais arriscadas.

Buster Keaton - É verdade. Sempre assumi os riscos da profissão que escolhi. Cresci no mundo do "vaudeville", que misturava circo, teatro, com muitos números cómicos arriscados. Aprendi a moldar e a controlar o meu corpo para quedas e saltos mais mirabolantes. Mas houve uma vez que andei com o pescoço partido durante um ano sem quase me dar conta...

O Homem Que Sabia Demasiado - O seu período de ouro foi durante a década de 20, em que realizou e interpretou várias obras-primas do cinema. A partir de 1930, com o contrato que fez com o estúdio Metro, entrou claramente em decadência.

Buster Keaton - É verdade, infelizmente. Nem foi por causa da ascenção do sonoro. Foi porque a partir desse momento perdi totalmente o controlo artístico dos filmes, e fui forçado a fazer filmes com argumentos e montagens impostos pelo estúdio.

O Homem Que Sabia Demasiado - Em 1952 entrou no filme "Luzes da Ribalta" de Chaplin. Como foi esse encontro?

Buster Keaton - Um momento único de dois artistas que fizeram carreira quase em simultâneo. ao contrário do que se dizia, nunca fomos adversários ou concorrentes no cinema. Cada um tinha o seu espaço, a sua arte, o seu espaço. Nesse filme interpretámos dois palhaços decadentes que faziam números em conjunto. Um filme melancólico que serviu quase como uma metáfora para as nossas carreiras naqueles anos.

terça-feira, 22 de março de 2011

Entrevista Póstuma (1) - Jacques Tati


O Homem Que Sabia Demasiado - Eu diria que o seu cinema é um cinema “geométrico”, no sentido em que o humor é desenhado de forma milimétrica, com planos bem estruturados e um timing de humor ao segundo. Concorda?

Jacques Tati – Sim e não. Eu sempre vi o cinema como uma forma de olhar o mundo, uma espécie de mecanismo que grava e transforma esse olhar numa experiência de humor, sem perder a seriedade na análise e na crítica. Nos meus filmes há essa preocupação pelo lado formal e estético, mas há também uma margem de liberdade e de abertura, procurando explorar novas abordagens na realização ou na interpretação. O Sr. Hulot evoluiu muito ao longo dos meus filmes, passou de homem passivo à mercê dos elementos tecnológicos da sociedade moderna (“O Meu Tio”), para um agente de transformação e de intervenção do meio que o rodeia (“Playtime”). Mas há, de facto, um grande sentido de organização interna nos gags que apresento.

O Homem Que Sabia Demasiado - Numa entrevista, o comediante Rowan Atkinson referiu que a sua grande influência foi Jacques Tati.

Jacques Tati - É um reconhecimento louvável do legado que deixei, mas não sei até que ponto o Rowan assimilou todas as subtis nuances cómico-dramáticas do Sr. Hulot. Construi Hulot como um personagem imbuído de uma perspicácia intuitiva, que aprende com os erros e interpreta o mundo com a experiência e inocência de uma criança. O Mr. Bean parece-me antes um personagem infantilizado (no mau sentido) dessa minha perspectiva.

O Homem Que Sabia Demasiado - O seu filme "Playtime", de 1967, parece ter sido altamente visionário, ao satirizar uma sociedade massificada e mecanicista, hiper-tecnológica, que elimina o indivíduo em virtude das massas no seio do caos urbanístico moderno.

Jacques Tati - A minha visão foi nesse sentido, mas repare que a sua descrição corresponde ao que já existia e acontecia na década de 60! A explosão da sociedade de consumo, a obsessão pela tecnologia moderna, a industrialização do trabalho, a erosão afectiva e social derivada desses factores, eram já bem notórios nos anos 50 e 60. O meu filme não foi percursor em nada, foi antes um testemunho de um mundo do qual tenho sérias dúvidas que seja o melhor para o homem viver e conviver. Mas eu nem gosto muito de falar de "Playtime" porque foi o meu filme mais complexo, difícil e que me levou à total ruína financeira.

O Homem Que Sabia Demasiado - O seu tipo de humor deve muito à comédia burlesca do período mudo: Chaplin, Keaton, Lloyd... Que outros actores ou realizadores aprecia?

Jacques Tati - Oh, não houve outros como Chaplin ou Keaton! Eram os maiores, verdadeiros artisitas de uma arte que definhou a partir do aparecimento do cinema sonoro. Ainda assim, aprecio o humor anárquico dos Irmãos Marx, a comédia de costumes de Jerry Lewis ou do italiano Totó. Já os Monty Python não gosto. O humor absurdo, político e filosófico nunca me atraiu. Além do mais, os Monty Python tinham demasiados diálogos e, por vezes, muito complexos. O Sr. Hulot conseguia dizer o mesmo quase sem dizer uma palavra.

terça-feira, 8 de março de 2011

Harold Lloyd nos 40 anos da sua morte




Quando falamos de comédia burlesca do cinema mudo invocam-se, inevitavelmente, dois nomes fundamentais: Charles Chaplin e Buster Keaton.
No entanto, há um terceiro artista que raramente é equiparado, em qualidade e prestígio, aos outros dois: Harold Lloyd. Fez cerca de 200 filmes nas décadas de 10 e 20 e desenvolveu um estilo de comédia que misturava Chaplin (o lado desastrado e humanista) e Keaton (pela destreza física na concretização das proezas cómicas). O seu filme mais conhecido foi "O Homem Mosca" (1923), no qual Harold desempenhava impressionantes acrobacias que desafiavam a gravidade.
O seu look aparentemente ingénuo - óculos pretos redondos, chapéu de palha e fato justo - outorgou-lhe uma identidade muito própria.
Hoje comemoram-se 40 anos da morte de Harold Lloyd e, para assinalar a data e a grandeza deste subvalorizado comediante, aqui ficam alguns dos seus melhores momentos (em formato "gag") que marcaram a comédia dos primeiros tempos do cinema cómico americano:
A Fnac tem à venda um pack de DVD com os melhores filmes de Harold Lloyd.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O último e esquecido filme de Buster Keaton


O génio de Buster Keaton decaiu depois da obra-prima "The General" (1925), na imagem. Ao contrário de Charlie Chaplin, Keaton - o tal actor que "nunca ria" - não resistiu ao cinema sonoro e afundou-se no alcoolismo e em filmes menores durante anos a fio.
Ironia das ironias, o seu último grande filme consistiu num duplo regresso: por um lado, o regresso ao imaginário dos comboios que o celebrizou em "The General", por outro, o regresso à linguagem do cinema... mudo.
Refiro-me à curta-metragem "The Railrodder" (1965), realizada um ano antes da morte de Buster Keaton. Esta comédia, com 25 minutos de duração, foi rodada no apogeu da redescoberta da obra de Keaton, para muitos, um actor e realizador maior que Chaplin (afirmação sempre arriscada e controversa).
Keaton tivera uns anos antes uma má experiência no filme "Film", em que contracenava com o célebre escritor Samuel Beckett. Com "The Railrodder", a experiência foi bastante mais proveitosa e positiva, uma vez que representou o regresso de Keaton ao seu universo cómico muito pessoal.
Buster Keaton aceitou o convite do realizador canadiano Gerald Potterton para, em seis semanas, rodar um filme com uma história simples: Keaton faz o papel de um londrino que deseja visitar o Canadá. Chegado ao Canadá a nado (!), Keaton encontra uma dresina amarela (pequena locomotiva a motor utilizada para puxar comboios na linha férrea) e com ela percorre milhares de quilómetros atravessando o Canadá de lés a lés .

A locomotiva está equipada com uma caixa mágica que fornece ao passageiro tudo o que é necessário no quotidiano para que possa comer, dormir, lavar-se, aquecer-se, tomar chá, lavar a roupa, caçar, tudo isto enquanto a vagonete rola pelos carris muitas vezes perigosos. Uma viagem na qual não faltam as peripécias mais rocambolescas típicas do humor burlesco dos anos 20 do século passado.
"The Railrodder" é, pois, um prodigioso exercício de comédia minimalista na esteira dos seus melhores filmes mudos. Sem diálogos, um veículo rolante e um Buster Keaton magnífico que recupera, orgulhosamente, os trejeitos interpretativos que o tornaram famoso muitas décadas antes. Vale a pena descobrir este, para todos os efeitos, "road movie".
Existe uma belíssima edição portuguesa (agora está barata), em duplo DVD, do filme "The General" - "Pamplinas Maquinista" que contém, como extra o filme "The Railrodder" - aqui.
Seja como for, aqui está o filme integral:

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"O homem que nunca ria", afinal riu-se


Quando falamos em comédia burlesca do período mudo, há dois nomes maiores a reter: Charles Chaplin e Buster Keaton (também houve Harold Lloyd, geralmente ofuscado por estes dois génios). Cada um tinha um estilo próprio de fazer humor: Chaplin mais humanista e sentimental, Keaton recorrendo a um humor mais visual e físico. Ambos fizeram verdadeiras obras-primas, ambos foram determinantes para a história do cinema em geral, e para a comédia em particular.
No entanto, há uma característica que os distingue sobremaneira: a pose de Buster Keaton, com o seu semblante eternamente melancólico, quase petrificado, impassível a tudo o que o rodeia (até às próprias situações cómicas).
Esta austeridade expressiva foi uma marca de autor original, a qual contrastava com os hilariantes gags de muitos filmes de Keaton. Porém, precisamente por causa desta imagem de marca, houve quem achasse que Keaton nunca se riu nos seus filmes. Puro engano. A curta-metragem "Coney Island" (1917), Buster ri-se por diversas vezes de situações cómicas. Consta-se que terá sido o único filme em que tal acontece (pelo menos nos filmes realizados pelo próprio, como é o caso).
Eis a sequência:

sábado, 4 de dezembro de 2010

Peter Sellers - como arruinar uma festa


Quanto a mim, uma das melhores comédias dos anos 60 é "The Party" (1968), de Blake Edwards (mais conhecido como realizador de "Breakfast at Tifanny's" e "Pantera Cor-de-Rosa") com o grande Peter Sellers como protagonista.
Nesta película, Peter Sellers é um actor indiano desastrado que é convidado, por mero acaso, para uma festa organizada por um grande produtor de Hollywood. O filme desenrola-se integralmente numa mansão onde convivem dezenas de pessoas numa festa imparável. Sellers mostra ser um convidado completamente desastrado, capaz das maiores trapalhadas ao ponto de quase destruir a mansão e arruinar a festa.
Contado assim até parece uma comédia vulgar, mas nas mãos de Blake Edwards e tendo como protagonista Peter Sellers, "A Festa" revela-se uma sublime comédia habilmente encenada em termos narrativos e visuais. É um filme em total crescendo de comicidade, que salta de situação em situação quase de forma anárquica, provocando as cenas mais hilariantes e imprevisíveis. A rigorosa mise-en-scène de Edwards e a magnífica interpretação de Sellers são marcas fortes deste sublime filme.
Uma (de muitas) das melhores cenas de "A Festa" é esta que se passa integralmente na casa de banho: Peter Sellers "luta" com os materiais desta divisão da casa, e o resultado é absolutamente desastroso (e hilariante).
Um belo exercício de cinema que traz reminiscências da comédia burlesca de Buster Keaton.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O filme de hoje

O filme para ver hoje:

"A Greve" (1925) de Sergei Eisenstein.
Nota: para além da qualidade óbvia do filme (e do seu conteúdo político/social), chamo a atenção para a extraordinária banda sonora original criada pela Alloy Orchestra (é um ensemble de apenas 3 músicos!), que já musicou filmes de Dziga Vertov, Buster Keaton, Murnau, Sternberg ou Fritz Lang.
A este respeito aconselho vivamente a ver e ouvir a parte 9/9 do filme de Eisenstein.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O romantismo impossível


Lauren Bacall e Robert Pattinson
James Dean e Eva Mendes

Megan Fox e Gary Cooper

Scarlett Johansson e Burt Lancaster
George Clooney e Grace Kelly

Clark Gable e Madonna

Leonardo DiCaprio e Carmen Miranda
Claudia Schiffer e Peter Sellers
Clark Gable e Natalie Portman
Buster Keaton e Tara Reid

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A reunião de três génios


Fotografia histórica: Buster Keaton, Jacques Tati e Harold Lloyd reunidos, em 1959, durante a cerimónia de entrega dos Óscares.
Foi nesse ano que Jacques Tati recebeu o Óscar do Melhor Filme Estrangeiro com a obra-prima "O Meu Tio". Três referências absolutas do melhor humor no cinema do século XX. E, para mais, no ano em que Jacques Tati, o mestre do cinema cómico que tanto admirava Keaton e Lloyd, ganhava o tal Óscar para Melhor Filme Estrangeiro (só faltou Chaplin na fotografia). Harold Lloyd foi sempre uma figura secundária face a Chaplin ou Keaton, mas foi um notável actor cómico do período mudo.
Esta imagem revela cumplicidades artística recíprocas e uma admiração partilhada, numa altura em que Keaton e Lloyd eram já figuras eclipsadas do firmamento cinematográfico, e Tati despontava para uma escassa mas fulgurante carreira que marcaria a 7ª Arte europeia durante décadas.