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sexta-feira, 5 de junho de 2015

O conhecimento segundo Kevin


Há quase dois mil anos, a maior biblioteca do mundo - a de Alexandria no antigo Egipto continha num só edifício todos os livros de ciência, arte, matemática, cultura, política produzidos naquele tempo. Ou seja, reunia a totalidade dos conhecimentos da Humanidade. No seu momento alto, a Grande Biblioteca de Alexandria chegou a acumular mais de meio milhão de documentos. Proporcionalmente, a Biblioteca de Alexandria tinha mais livros e documentos do que muitas  das maiores bibliotecas da actualidade. Isto apesar do facto de os conhecimentos humanos serem agora infinitamente mais vastos do que na Antiguidade.

Talvez levado pelo ideal de reunir todo o conhecimento humano produzido até hoje, o co-fundador da revista Wired (importante revista de ciência, cultura e tecnologia), Kevin Kelly, (na imagem) quis saber o volume e dimensão do conhecimento humano. Ou seja, quantificou (se isso é possível), grosso modo, a acumulação de conhecimentos humanos nos diversos formatos e suportes até aos dias de hoje.

Não sei como fez as contas, mas os resultados que apresentou foram estes: ao longo da história da Humanidade os seres humanos publicaram/criaram até à data:

- Trinta e dois milhões de livros.
- Setecentos e cinquenta milhões de artigos e ensaios.
- Vinte e cinco milhões de canções.
- Quinhentos milhões de imagens.
- Quinhentos mil filmes.
- Três milhões de vídeos, programas televisivos e curtas-metragens.
- Cem mil milhões de páginas na internet.

A maior parte desta explosão de conhecimentos e informação aconteceu na última metade do século XX e primeira década do século XXI. Kevin Kelly refere, por último, que o conjunto de conhecimentos humanos tem sido produzido a uma tal alta velocidade e quantidade que esse mesmo conhecimento duplica de cinco em cinco anos. E visto que esta estimativa foi feita há mais de dois anos, é mais do que certo que estes dados estão, e muito, desactualizados. Kevin Kelly é um guru da cibercultura e quando arriscou fazer esta estimativa referia-se ao facto do conceito da Biblioteca de Alexandria poder ser convertida numa colossal biblioteca... virtual.

Isto porque empresas como a Google e algumas da maiores universidades do mundo como Harvard, Oxford ou Stanford, têm um projecto comum de digitalização de livros e documentos, no sentido de criar a maior biblioteca universal de conhecimentos e cultura jamais sonhada. As intenções podem ser boas, mas este projecto hercúleo e de dimensões épicas arrisca-se a nunca ser concluído, dada a torrente colossal de informação produzida diariamente em todo o mundo.

terça-feira, 31 de março de 2015

Squarepusher: na vanguarda electrónica do século XXI



Squarepusher é o nome artístico de Tom Jenkinson, artista que há 20 anos tem dado cartas na evolução da música electrónica (a par de Aphex Twin e Amon Tobin). Squarepuser é um baixista de jazz virtuoso (na esteira do mítico Jaco Pastorius) que espantou o mundo quando em 1996 lançou o disco de estreia "Feed Me Weird Things", um misto de jazz frenético com drum'n'bass.
Há um ano este músico visionário editou um disco intitulado "Music For Robots" de que dei conta neste post. Um disco no qual verdadeiros robots faziam música a mando de Squarepusher. Um ano depois o músico regressa com um novo conceito visual e tecnológico (a componente visual sempre teve muita importância no seu trabalho), que irá acompanhar um novo álbum pela prestigiada editora Warp.

Sem grandes exageros, depois de ver o vídeo pode-se afirmar que a criatividade musical e visual de Squarepusher está para o século XXI como os Kraftwerk estiveram para as décadas de 1970/80. Ou seja, na vanguarda da música electrónica. Squarepusher desenvolveu um conceito estético e audiovisual caleidoscópico no qual os estímulos sonoros provocam uma reacção visual num ritmo estonteante para os sentidos. Não é música pop fácil para as massas, nem música para satisfazer todas as sensibilidades. Mas é música desafiante, original, provocadora, que rompe convenções e aponta pistas para o futuro. É música como se milhentos sons tecnológicos fossem centrifugados numa trituradora a alta velocidade e depois reorganizados segundo uma lógica própria.
Nota: A componente visual não é aconselhável para pessoas propensas à epilepsia ou a estímulos visuais fortes.
Quem quiser conhecer o "making of" deste vídeo e as explicações do músico, abrir aqui.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Transhumanismo (no cinema e não só)


O Transhumanismo, é uma doutrina filosófica e científica cuja base se cimenta nas tecnologias mais sofisticadas aplicadas a vários ramos do saber, da genética à física, da biotecnologia à filosofia, da cibernética (inteligência artificial) à robótica, da antropologia à medicina ou à neurociência. É uma das áreas do conhecimento humano que mais me têm fascinado nos últimos dez anos. Basicamente, o objectivo do Transhumanismo é melhorar e desenvolver a espécie humana (em termos mentais e físicos) através de todos os meios possíveis e eticamente respeitáveis, nomeadamente, através de uma utilização racional das tecnologias mais avançadas que existem. Contrariar o envelhecimento e aumentar a longevidade, erradicar as doenças degenerativas e mortais, incrementar a inteligência e as capacidades mentais, são algumas das prioridades do Transhumanismo. Ficção científica? Delírios científicos sem exequibilidade real? Nem por sombras. Um dos suportes tecnológicos para o desenvolvimento dos ideais Transhumanistas tem a ver com o aumento na velocidade dos (super)computadores laboratoriais, facto que tornará ainda mais poderosa a fascinante Nanotecnologia, isto é, a manipulação atómica da matéria a nível microscópico (molecular, manipulando átomo a átomo).

Cada célula humana possui centenas de enzimas: máquinas microscópicas capazes de executar a enorme variedade de reacções químicas necessárias à vida. A ideia da nanotecnologia é construir máquinas (ships microscópicos) do tamanho de apenas alguns átomos capazes de executar funções previamente definidas. Por exemplo, um conjunto de nanomáquinas, chamado nanorobot, que execute determinadas tarefas pré-concebidas na resolução de determinados problemas, debelando doenças degenerativas.

Este cenário já tinha sido antecipado pelo conto premonitório do escritor de Ficção Científica Isaac Asimov, cuja adaptação ao cinema resultou no interessante filme “Viagem Fantástica” de Richard Fleischer (1966). Neste filme (vencedor de dois Óscares), um grupo de neurocientistas é miniaturizado - chegando ao tamanho de uma molécula de glicose - e enviado, a bordo de uma nave, ao cérebro de um paciente em coma para o operar, percorrendo para isso a sua corrente sanguínea e todos os perigos inerentes. Hoje em dia, com a nanotecnologia, já é possível à realidade imitar a ficção (mas não ainda nos termos do filme citado). Filmes como "A.I." (2001) de Steven Spielberg parecem ter sido concebidos à luz da ideologia transhumanista.

Apesar do Transhumanismo constituir, por assim dizer, uma das manifestações mais arrojadas da cultura tecnológica do nosso tempo, não é por isso que não deixa de suscitar controvérsia nos meios académicos. Francis Fukuyama, célebre autor dos livros “O Fim da História” e “O Nosso Futuro Pós-Humano” refere que "o Transhumanismo tem das ideias mais terríveis e destruidoras que conheço." Só que Fukuyama não especifica de qAdicionar imagemue forma. Estaria a referir-se à manipulação genética? Aos desafios da clonagem humana? À utilização “errada” da nanotecnologia? À possibilidade (bem real, mas ainda longínqua) da inteligência artificial poder suplantar a inteligência humana, como defendem muitos cientistas? A verdade é que o Transhumanismo, apesar dos seus princípios teóricos de beneficiação da condição humana com base na tecnologia aplicada às ciências (com o intuito de almejar a condição pós-humana), não deixa de levantar questões morais, éticas e até filosóficas.

No fundo, é o homem a brincar a Deus. Será este o caminho do futuro? De qualquer forma, o cinema representou ideias do Transhumanisno praticamente desde a sua génese, muito antes até de se saber o que era o Transhumanismo e o que esta corrente defendia. Estas ideias ficaram sobretudo expostas, directa ou indirectamente, em filmes de Ficção Científica tão marcantes como "Metropolis" até "Avatar".

Eis uma lista de dez filmes essenciais: Link.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

"Cine-Olho"


Rob Spence é um realizador e produtor canadiano. Nunca fez nada de relevante no passado para ser reconhecido, mas pelos vistos, vai fazer. Rob Spence perdeu um olho quando tinha 13 anos devido a um disparo fortuito de uma arma de fogo. Teve de remover o olho ferido e colocar um de cristal. Agora tem 38 anos e tomou uma decisão que pode mudar a sua vida: reuniu uma equipa de engenheiros e médicos com o objectivo de elaborar uma prótese ocular que consiga incorporar uma mini-câmara. Essa mini-câmara, composta por um microship, vai ser capaz de filmar e transmitir tudo o que vê (qual "Terminator"!).

Com as imagens recolhidas por essa espécie de olho robótico (chama-lhe "Eyeborg"), Rob Spence realizou o primeiro documentário filmado com uma prótese ocular. O realizador quer, de igual modo, denunciar a fragilidade do direito à privacidade numa sociedade onde aumenta a vigilância global e tecnológica (imagino o que não fariam os serviços secretos de todo o mundo com um dispositivo como este para fins de espionagem internacional - e não só).

Uma vez escrevi sobre o artista cibernético Stelarc, que implantou uma orelha no braço com fins estético-tecnológicos. O caso do realizador canadiano, apesar de algumas semelhanças com o do Stelarc, tem contornos e fins distintos. O "olho-câmara de filmar" de Spence parece inaugurar uma era na qual o corpo humano se transforma, à custa da tecnologia, numa espécie de humanóide (ou cyborg). Nos anos 20 do século XX, o realizador de vanguarda russo Dziga Vertov inventou o conceito "Kino-Glaz", ou "Cine-Olho": a câmara funcionava como terceiro órgão ocular, instrumento que complementa o olho orgânico. Foi com a teoria do "Cine-Olho" que Vertov captou a realidade tal como ela era, filmando obras como "O Homem da Câmara de Filmar". Agora, Rob Spence, torna-se capaz de materializar, em termos absolutos e teóricos, o desejo do cineasta russo.
Ou seja, um dia veremos na sala de cinema um documentário filmado integralmente por um "olho".
Rob Spence tem um blogue.

domingo, 29 de agosto de 2010

Livros à distância de um clique


Quase dois mil livros (e outras tantas obras) para descarregar, gratuitamente, em formato PDF: Fernando Pessoa, Shakespeare, Oscar Wilde, Eça de Queiroz, Rimbaud, Thomas Mann, Cervantes, James Joyce, Kafka, Machado de Assis, entre muitos outros escritores de renome nacional e mundial. É só fazer clique.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pessoa digital


Nunca consegui ler até ao fim o monumental e inesgotável “Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa (por falta de tempo, não por falta de interesse), quanto a mim, uma das obras maiores da literatura portuguesa.
Agora com a notícia de que o espólio integral do escritor e poeta vai estar disponível online em 2010 (através da Biblioteca Nacional Digital), abrem-se portas globais de acesso à obra pessoana. O fenómeno dos livros electrónicos veio para ficar e é um sintoma claro da era digital em que vivemos. É preferível ler Pessoa em suporte digital do que não ler de todo (sobretudo para as novas gerações). E quem sabe se quando estiver online o espólio de Fernando Pessoa me motive a acabar de ler o “Livro do Desassossego”…

sábado, 13 de junho de 2009

O futuro tecnológico tão perto

A "Notícias Sábado", revista  do Diário de Notícias, revela hoje o futuro tecnológico que reserva a humanidade: "A ideia do teletransporte ainda só funciona no cinema e na imaginação, mas os especialistas em tecnologia asseguram que o futuro próximo será feito de inovações igualmente fantásticas, marcadas por redes sociais dinâmicas, tecnologia robótica e ecológica, oportunidades de negócio nascidas do uso maciço do telemóvel e de portáteis minúsculos, ligações móveis e contínuas à internet, livros e cadernos electrónicos que substituem o papel, tecidos inteligentes. O auge chegará quando cada ser humano se converter num terminal próprio permanentemente ligado."
Se hoje ouvi um adolescente na televisão dizer que por causa da internet e da tecnologia os jovens já não têm tempo para ler, daqui a alguns anos, a confirmar-se este prognóstico cibercultural, não saberão sequer o que é um livro (de papel).

sábado, 9 de maio de 2009

O robô poeta


Leonel Moura, um dos mais destacados investigadores na área da robótica na arte e da inteligência artificial, já tinha concebido um robô pintor, como referi neste post. Fruto do seu trabalho assaz inovador, o artista plástico e cientista português que trabalha há anos na investigação da chamada "criatividade artificial", criou um robô... poeta. Chama-se ISU, e tem esta estranha aparência que a imagem revela (parece mais um camião de brincar sofisticado do que um poeta visual). Desenganem-se os cépticos se julgam tratar-se de uma provocação ao mundo da arte. É o próprio Leonel Moura que afirma: "As máquinas, quando dotadas de autonomia e alguma inteligência, conseguem gerar determinadas criações originais independentes do humano que esteve na origem do processo".
ISU é capaz de realizar composições pictóricas baseadas em palavras, graças a um sistema de sensores que lhe permite criar obras com base na informação que recolhe à sua volta, de modo a que nunca cria dois trabalhos iguais. O nome ISU advém de Isidore Isou, o criador do chamado "Letrismo" (que influenciou movimentos literários artísticos de vanguarda).
Ora, ISU, o primeiro poeta das máquinas criativas, acaba de editar o seu primeiro livro de poemas, cuja apresentação aconteceu no Museu da Água de Coimbra. "Os poemas reunidos neste livro foram realizados durante o período de uma semana. Dotado de um dicionário baseado num conjunto de poemas de autores conhecidos - com destaque para Herberto Helder - ISU produziu cerca de uma centena", explica Leonel Moura.

domingo, 15 de março de 2009

O "Cine-Olho"


Rob Spence é um realizador e produtor canadiano. Nunca fez nada de relevante no passado para ser reconhecido, mas pelos vistos, vai fazer. Rob Spence perdeu um olho quando tinha 13 anos devido a um disparo fortuito de uma arma de fogo. Teve de remover o olho ferido e colocar um de cristal. Agora tem 36 anos e tomou uma decisão que pode mudar a sua vida: reuniu uma equipa de engenheiros e médicos com o objectivo de elaborar uma prótese ocular que consiga incorporar uma mini-câmara. Essa mini-câmara será composta por um microship capaz de filmar e transmitir tudo o que vê. 
Com as imagens recolhidas por essa espécie de olho robótico (chama-lhe "Eyeborg"), Rob Spence pretende fazer o primeiro documentário filmado com uma prótese ocular. O realizador quer, de igual modo, denunciar a fragilidade do direito à privacidade numa sociedade onde aumenta a vigilância global e tecnológica (imagino o que não fariam os serviços secretos de todo o mundo com um dispositivo como este para fins de espionagem internacional -  e não só). Há um ano, escrevi sobre o artista cibernético Stelarc, que implantou uma orelha no braço com fins estético-tecnológicos. O caso do realizador canadiano, apesar de algumas semelhanças com o do Stelarc, tem contornos e fins distintos. O "olho-câmara de filmar" de Spence parece inaugurar uma era na qual o corpo humano se transforma, à custa da tecnologia, numa espécie de humanóide (ou cyborg). 
Nos anos 20 do século XX, o realizador de vanguarda russo Dziga Vertov inventou o conceito "Kino-Glaz", ou "Cine-Olho": a câmara funciona como terceiro órgão ocular, instrumento que complementa o olho orgânico. Foi com a teoria do "Cine-Olho" que Vertov captou a realidade tal como ela era, filmando obras como "O Homem da Câmara de Filmar". Agora, Rob Spence, está a um passo de materializar, em termos absolutos e teóricos, o desejo do cineasta russo. Ou seja, um dia veremos na sala de cinema um documentário filmado integralmente por um "olho". 
Rob Spence tem um blogue - Eyeborg.

domingo, 8 de março de 2009

Robôs

A ciência informática e a tecnologia robótica desenvolvem-se, cada vez mais, num ritmo alucinante e nas mais diversas áreas de intervenção humana - do entretenimento à segurança, da medicina à exploração espacial. Os especialistas em cibercultura e tecnologia avisam: daqui a 15-20 anos, o homem estará dependente dos robôs humanóides (e não só) para a realização de múltiplas tarefas e funções. Seja na vida doméstica do dia-a-dia, seja em questões complexas como na indústria do armamento ou da segurança internacional. A questão de saber até que ponto os robôs poderão ter uma inteligência artificial similar à dos humanos é um assunto que divide cientistas e investigadores. A verdade é que já existem robôs que nem os escritores de Ficção Científica imaginaram, capazes de tocar peças para piano de Beethoven ou de efectuar cirurgias altamente delicadas e complexas. Será possível que daqui a alguns anos os computadores e robôs possam tomar decisões capazes de prejudicar, intencionalmente, o homem (como em "2001 - Odissea no Espaço" de Kubrick)? A realidade suplantará, algum dia, a ficção mais imaginativa?
À margem destas questões, o site de fotografias "The Big Picture" publicou um conjunto magnífico de fotografias que revela exemplos de alguns dos robôs mais avançados da actualidade. Como este simpático robô que cumprimenta a chanceler alemã Angela Merkel. Fotografias em alta resolução - aqui.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Corte-se a internet!

Espanta-me o grau de ingenuidade de Tó-Zé Brito, músico e empresário experimentado na área da indústria discográfica. Diz ele que para combater a pirataria e os downloads ilegais da Internet, se devem incrementar as penas de prisão e o corte de acesso à Internet dos prevaricadores. E desta forma mágica e radical, segundo Brito, desaparecerá o fenómeno do download ilegal de ficheiros de música em mp3: “Quando as pessoas ou as empresas compreenderem que o fornecedor de Internet lhes veda o uso, por causa de downloads ilegais, o fenómeno desaparecerá”. Será que Tó-Zé Brito julga que esta medida é, minimamente, exequível e lógica? Mais: que iria solucionar o problema? Quer dizer, segundo ele, cortava-se o acesso à Internet de dezenas de milhões de utilizadores que fizessem descargas ilegais e umas quantas prisões para impressionar e estava o assunto resolvido. Com este tipo de raciocínio pueril os defensores da regulação da Internet vão continuar a perder credibilidade.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O culto do vinil


Sem grandes surpresas, o disco de vinil resiste. Não só sobreviveu à avalanche do consumo musical digital (na era do leitor de mp3), como continua a aumentar o índice de vendas. Cada vez há mais compradores e mais edições discográficas de vinil. A velhinha rodela preta (e de outras cores!) sobreviveu à intempérie da cultura digital e, após alguns anos de sobrevivência algo periclitante, o culto do vinil ressurgiu em força no mercado. Apesar de ainda se manter longe do número de vendas dos CDs e da compra online de ficheiros em mp3, a verdade é que as estatísticas revelam que o vinil tem cada vez mais adeptos e as vendas não têm parado de subir (é o que diz o jornal El Mundo). Moda passageira? Revivalismo? Manifesto amor ao objecto? Um culto circunscrito aos coleccionadores nostálgicos? Talvez um bocadinho de tudo isto e algo mais.
Há longos anos que não compro um disco de vinil. Quem sabe agora apanhe este fenómeno em crescendo e volte a sentir a motivação de entrar numa boa loja de discos em segunda mão (e em Portugal há umas quantas bem interessantes) para voltar a colocá-los no gira-discos. Em boa verdade, não há sensação auditiva melhor do que sentir o deslizar da agulha na rodela preta (mesmo quando apanha riscos pelo meio). Foi assim que aprendi a gostar de música.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Magnética

Li aqui que foi lançada uma revista cultural exclusivamente online chamada Magnética. Já havia várias revistas virtuais (conheço algumas sobre cinema e moda), mas nenhuma chegou tão longe num conceito arrojado quanto a Magnética Magazine. Trata-se de uma revista com periodicidade mensal, sob a direcção da jornalista Ana Catarina Pereira (que coordena uma redacção jovem e de qualidade) dedicada a conteúdos diversificados: música, design, moda, arte, cinema, arquitectura, fotografia e outras temáticas afins.
O design gráfico da revista está muito bem conseguido, moderno e actual; a leitura faz-se de forma simples e eficaz, e algumas das 120 páginas da revista têm, como complemento, música e até vídeo (como a reportagem sobre os Buraka Som Sistema). Outra opção inovadora é o facto da publicidade online remeter imediatamente, através de um clic, para o site da respectiva marca, facilitando a interactividade entre leitores e anúncios publicitários.
Por último - mas não menos importante - a Magnética Magazine aposta numa edição bilingue (português e inglês) e representa, seguramente, um projecto editorial multimédia que se prepara para o futuro num contexto cada vez mais submergido na cibercultura global. A acompanhar com muita atenção.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Tesouros do cinema europeu

Adicionar imagem
Europa Film Treasures é um site que disponibiliza centenas de filmes europeus via streaming (permite visualização sem possibilidade de download). Este imenso e riquíssimo arquivo de filmes menos conhecidos da história do cinema estão disponíveis na Internet devido ao esforço conjugado de dezenas de instituições europeias vocacionadas para o arquivo e memória do cinema. São filmes menos conhecidos mas nem por isso menos importantes. Há verdadeiras preciosidades históricas em curtas-metragens do tempo do cinema mudo, e pode-se pesquisar por vários critérios: por género, país, realizador, época histórica, etc. O site pode ser lido em cinco línguas diferentes e está extremamente bem conseguido em termos de informação, conteúdos e navegabilidade: todos os filmes têm uma sinopse, ficha técnica e artística, e têm a possibilidade de serem visionados com legendas em inglês, italiano, espanhol ou francês.
O projecto Europa Film Treasures é mais um contributo para a solidificação da globalização cultural estimulada pela comunicação digital. Sem este projecto disponibilizado online para toda a comunidade virtual que o queira utilizar, seria impossível conhecer tantos tesouros esquecidos da arte das imagens, nomeadamente, dos primórdios da afirmação da 7ª Arte (destaco os documentários e filmes de animação).
Abrir link.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Livro - futuro incerto


O questionário não tem carácter científico, mas tem um significado próprio: o jornal espanhol El País lançou a pergunta - "Crê que o livro digital irá superar o papel a médio prazo?". Num total de 1600 votantes, 35% acredita que sim, e 64% que não. No entanto, a mesma edição online publica um artigo, a propósito da abertura, hoje, da maior feira do livro do mundo, a Feira do Livro de Frankfurt, em que se assegura que 1000 profissionais do mercado livreiro de 30 países acreditam que daqui a dez anos (2018), o livro em papel será suplantado por diversos formatos e suportes digitais de informação escrita - audiolivro, e-books, DVDs e leitores digitais, como o cada vez mais popular Kindle da Amazon ou o da Sony (na imagem). Como complemento a esta estimativa, 40% dos inquiridos da Feira garantem que o acontecimento no mundo do livro mais importante dos últimos 60 anos foi o "boom" da venda de livros pela internet, que baralhou dramaticamente as regras do mercado de venda de livros a nível global.
Como modesto leitor, e apesar da minha crença nos benefícios que a cibercultura acarreta para a evolução da sociedade, sou da opinião que o objecto livro dificilmente algum dia possa vir a desaparecer. O mercado dos formatos digitais de livros irá crescer e implementar-se nos hábitos de milhões de consumidores em todo o mundo, isso é certo (e cada vez mais nas futuros gerações); mas conviverá, de forma pacífica, com o formato livro tradicional. Não concebo uma livraria ou biblioteca, daqui a 50 ou 100 anos, apenas com formatos digitais expostos nas prateleiras (se é que vai haver exposição destes formatos), em substituição total do objecto físico e cultural que é o livro. Caso contrário, o conceito de biblioteca iria mudar radicalmente. Mas com a febre das novas tecnologias (veja-se o caso do computador português "Magalhães) introduzidas nas escolas e nos hábitos de trabalho dos estudantes de todos os níveis de ensino, vislumbro que o futuro não seja muito animador para a sobrevivência do livro como objecto de consumo cultural. A indústria do livro a nível mundial terá de se adaptar aos novos hábitos de consumo digital e encontrar soluções de compromisso para que Gutenberg não dê voltas no túmulo por causa da eventual morte de um objecto que inventou e que mudou o mundo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Bolachas musicais


São bolachas, mas não são bolachas como as que estão representadas na imagem. "Bolacha" é um termo encoberto para designar a partilha livre de música, com a disponibilização de álbuns em mp3. No site Bolachas Grátis, encontramos dezenas de discos recentes de bandas e músicos alternativos e fora do circuito comercial. Discos pouco conhecidos (mas nem por isso menos recomendáveis) de pop, electrónica, folk, rock, e outros sub-géneros musicais, podem ser descobertos e descarregados directamente do sítio referido. Um festim para quem procura música nova todos os dias. A coisa podia chamar-se Bombons Grátis, mas alguém resolveu chamar antes Bolachas. Bombons ou bolachas, o efeito é o mesmo e a música é o que conta.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Decibéis nos ouvidos


Há uns dias entrei num elevador com um jovem que ouvia música com auscultadores (leitor de mp3). Pelo silêncio proporcionado pelo hermetismo acústico do elevador, conseguia ouvir o que o jovem ouvia. Qualquer coisa de música rock. Fosse o que fosse, apercebi-me que o volume de som estava altíssimo. Decibéis a mais, portanto. O dito jovem não conseguiria ouvir um trovão a dois metros, dado o volume exagerado do que estava a ouvir. Estudos científicos recorrentes comprovam a relação entre a perda de audição progressiva (até 70%) com a utilização desproporcionada de volumes de som nos auscultadores. Os jovens (e menos jovens) só se apercebem desta perda de audição tarde demais.
Cada vez mais os jovens ouvem música em todas as circunstâncias e mais alguma: na rua, a andar de bicicleta, nos consultórios médicos, nas salas de aula, na igreja, em espectáculos de música, em qualquer lugar e em qualquer momento. Já acontecia nos tempos do "Discman"? Talvez, mas nunca nesta dimensão massiva e com este carácter generalista. A portabilidade dos equipamentos de som (leitores cada vez mais pequenos e poderosos), aliado ao inerente fenómeno de moda representado pela cultura iPod, são factores que ajudam à massificação dos leitores de mp3.
Os tempos mudaram drasticamente, já não existem grupos de jovens que se juntam no isolamento de um quarto para, em conjunto, ouvirem um disco, desfrutando do momento colectivo da descoberta musical. Muito menos existe o culto da iconografia relacionada com os suportes dos CD (capas, contracapas, conteúdo informativo...). O que existe agora é o consumo musical cada vez mais individualista e solipsista, ao ponto de vários jovens poderem estar na mesma sala a ouvir músicas diferentes, sem comunicação. É mais democrático e acessível, é mais fashion e mais de acordo com as regras da cultura pop, mas neste fenómeno de fruição perdem-se vivências e perde-se o prazer da partilha em comum. Para cada nova geração, novas fórmulas de fruição musical. Até ao dia em que essas gerações só conheçam o mundo virtual onde a desmaterialização da música impera. Para o bem e para o mal.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Conte: um artista cyberpunk






Christopher Conte é um jovem artista norueguês que mistura, nas suas elaboradas criações escultura, biomecânica, tecnologia robótica e ciências médicas. Utiliza materiais e peças do dia-a-dia para construir esculturas minuciosamente trabalhadas. Os objectos escultóricos de Conte são visualmente deslumbrantes, desconcertam pelo detalhe de construção, pela simbiose criativa e pela ambiguidade formal. Não é por acaso que se reclama herdeiro do artista H.R. Giger e se tornou uma figura relevante das artes cibernéticas contemporâneas. Prova disso foi a excelente reportagem que a incontornável revista Wired dedicou ao artista, assim como as exposições de sucesso crítico e de público.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Nova realidade, novas formas de consumo


É mais um exemplo de como se pode contornar a crise discográfica que afecta editoras e artistas. No programa "Câmara Clara" (RTP2) de Paula Moura Pinheiro, a fadista Aldina Duarte explicou como teve de sair da editora EMI e arriscar para investir numa editora com vista à edição dos seus próprios discos. Apesar desta solução não ser inédita, não deixa de configurar um investimento deveras arriscado para os tempos que correm. Ou seja, a edição de autor afigura-se como uma das vias possíveis para a sobrevivência dos músicos, uma vez que as editoras arriscam cada vez menos (ou praticamente nada) em artistas que não assegurem lucros mínimos. A cibercultura e seus novos hábitos de consumo alteraram profundamente as regras do jogo.
O panorama está de tal ordem que acredito ser uma questão de tempo até que o suporte físico (CD) se extinga para dar lugar a uma nova forma de consumo cultural. E essa nova modalidade de consumo só pode passar pela imaterialidade do objecto físico, isto é, a internet vai passar a ser o meio tecnológico de compra directa de discos e filmes (livros são outra matérias distinta, mas a ver vamos...). As editoras discográficas, durante décadas imprescindíveis, vão deixar de ser importantes como mediadoras do processo editorial. Por isso, os concertos vão ser (são já) uma das mais importantes fontes de rendimento para o músico. Não digo nenhuma novidade, sei-o bem, mas tenho reparado que ainda existe muita gente descrente nesta possibilidade do consumo cultural passar a ser feito, exclusivamente, por via virtual (internet), sem mais nenhum formato físico e material (supremacia do ficheiro mp3) .
Apesar dos recorrentes movimentos nostálgicos e resistentes em redor do culto do vinil e do CD, a verdade é que os sinais do mercado apontam para um processo irreversível de extinção dos mesmos (ou pelo menos, de redução dos objectos a uma expressão residual). Não defendo que seja bom ou mau, sou dos que aprendi a gostar de música (também) pelo lado fetichista do objecto, pela capa dos discos de vinil, das gravações em cassetes áudios e da compra de CDs. Só que a velocidade da sociedade da informação digital e as mudanças que esta acarreta para todos nós, dita leis que alteram os hábitos culturais.