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quarta-feira, 30 de maio de 2012

A ponte dos suicidas

Há dias, a mítica ponte Golden Gate de São Francisco comemorou 75 anos de existência. Houve festa, comemorações oficiais e foguetes pela celebração de uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno. Mas houve também espaço para recordar a macabra fatalidade que esta ponte transporta: a altíssima taxa de suicídios (até à data, foram 1558 e muitas outras tentativas).












Sobre o fenómeno dos suicidas da ponte Golden Gate existe um notável documentário intitulado "A Ponte" (2006) de Eric Steel. O que leva tanta gente desesperada a cometer suicídio deitando-se abaixo de uma das pontes mais belas do mundo? Que fascínio mórbido é este? E porque é que as autoridades não tomam medidas preventivas que possam diminuir drasticamente esta estatística doentia? O documentário não dá respostas a nenhuma destas questões. Nem pretende fazê-lo. O que faz é mostrar, friamente, o fenómeno suicida na ponte de São Francisco, sem interpretações morais, éticas ou políticas.
Steel filmou durante um ano (2004) a ponte 24 horas por dia, captando os 23 suicídios dos 24 ocorridos naquele ano. Uma média de um suicídio a cada 15 dias (fora as tentativas). O realizador mostra a morte como se fosse em directo, num registo de voyuerismo mórbido que em nada anula a carga de dramatismo da matéria filmada. Complementarmente, Eric Steel entrevista familiares e amigos dos suicidas, tentando compreender as motivações, as personalidades, o porquê. Aí ficamos a saber que a maior parte dos que se suicidam sofrem de depressões e que a taxa de sobrevivência da queda na água é baixíssima (o documentário dá conta de um pungente testemunho de um jovem sobrevivente).
Dos vários casos relatados no filme, o que mais me impressionou é o de Gene Sprague: um jovem, vestido todo de negro, cabelo comprido, óculos escuros, encontra-se encostado à grade da ponte. Olha para um lado e para o outro. O vento forte agita-lhe os longos cabelos. Senta-se na grade durante uns momentos. De um instante para o outro, Gene coloca-se de pé na grade e lança-se hirto de costas para o rio. A sua queda até à morte demorou 4 segundos, a 100km/h:
As autoridades referem que colocar uma vedação mais alta no tabuleiro da ponte iria danificar a estética da obra, para além de significar o investimento de milhões de dólares. Enquanto isso, dezenas de homens e mulheres, vindos de todos os pontos da América, continuam a deslocar-se até à ponte Golden Gate para pôr fim trágico às suas vidas (uma média de 30 suicídios por ano e muitas mais tentativas).
"A Ponte" é um filme forte, sem concessões, que alerta para um drama social de proporções grotescas. É um documentário que apela ao mais íntimo do ser humano, à nossa consciência e ao nosso espírito.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

27

(A propósito dos recentes posts sobre suicídio e 'entrevista póstuma' a Jimi Hendrix):
É um fenómeno recorrente os ícones da cultura popular serem imortalizados quando morrem. Mesmo que sejam famosos e talentosos em vida, se morrerem jovens e, sobretudo, de causa trágica e misteriosa (suicídio, acidente, homicídio), é certo e sabido que se tornam ícones eternos no imaginário popular.
O fenómeno só podia ter começado com uma arte de massas: o cinema. Rudolfo Valentino, primeiro ídolo do cinema mudo morreu aos 31 anos em 1926 e deixou em total histeria milhões de admiradoras (conta-se que várias mulheres cometeram suicídio devido ao desespero). Depois, foi James Dean que morreu vítima de um acidente de carro com 24 precoces anos, em 1955, imortalizando a sua figura como referência incontornável da cultura do século XX. De resto, foi com Dean que se incutiu no imaginário das estrelas pop a máxima : "live fast, die young and leave a good-looking corpse". Muitos levaram à risca esta filosofia de vida.

Mas seria a partir de 1969 que a morte de artistas famosos - nomeadamente músicos - tomaria um rumo verdadeiramente iconográfico. Começou em 1960 com a morte de Brian Jones (Rolling Stones), seguiu-se a morte de Jimi Hendrix e Janis Joplin em 1970. O líder carismático dos The Doors, Jim Morrison, morreria em circunstâncias misteriosas um ano depois. Este quarteto de mortes foi apelidado de "Clube 27", pelo facto de todas estas figuras da música terem morrido com a idade de 27 anos. Mera coincidência?
Conta-se que foi um desejo mórbido de se juntar a este clube que o líder dos Nirvana, Kurt Cobain, se matou em 1994, também com 27 anos. Que insondável e misterioso desígnio se esconde por detrás deste fenómeno que leva à morte artistas populares como estes aos 27 anos? Apesar deste ser o quinteto mais famoso do fatídico e mórbido clube, muitos outros artista/músicos se podiam incluir no rol dos falecidos com 27 anos (por suicídio ou acidente). A saber:

- Pete de Freitas, guitarrista dos Echo and The Bunnymen

- Robert Johnson, guitarrista de blues

- Dave Alexander, baixista dos The Stooges

- Gary Thain, baixista dos Uriah Heep

- Kristen Pfaff, baixista das Hole

- Jeremy Michael Ward, músico dos The Mars Volta

- Mia Zapata, vocalista do grupo punk The Gits

- Ron McKernan, teclista dos Grateful Dead

- D. Boon, vocalsita do grupo punk Minutemen

- Rupert Brooke, poeta inglês

- Jean-Michel Basquiat, artista plástico

- Jonathan Gregory Brandis, actor americano

- (...)


Ian Curtis não quis esperar para entrar no "Clube 27" e, 4 anos antes de chegar a essa idade, cometeu suicídio. Mesmo não havendo nenhum "Clube 23" no qual pudesse estar representado, não é por este facto que o espírito do cantor dos Joy Division não vive no panteão mais alto dos ícones musicais de toda a história.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A nota de um actor suicida

A propósito do tópico sobre suicídio no cinema: ao contrário do que geralmente se pensa, não é muito habitual um suicida deixar uma nota de despedida a explicar as razões que o levaram a cometer o fatídico acto.

Uma das personalidades da Sétima Arte que contrariou esta tendência foi o actor George Sanders ("O Retrato de Dorian Gray", "Viagem em Itália", "Rebecca", "Sansão e Dalila"...). Aos 65 anos de idade, isolou-se num hotel de uma praia espanhola, perto de Barcelona e aí ingeriu cinco garrafas de nembutal (a sobredosagem foi-lhe fatal).

A nota de despedida do actor que fez sucesso em Hollywood nos anos 50 é particularmente seca e desarmante (e satírica, não fosse desesperada): "Querido mundo, deixo-te porque estou aborrecido. Sinto que já vivi o suficiente. Deixo-te com as tuas preocupações idiotas. Boa sorte!"

terça-feira, 5 de abril de 2011

Genealogia de Fotogramas #2

A organização do Simpósio Nacional "Suicídio 2011: Conhecer Para Prevenir", da Sociedade de Suicidologia Portuguesa, a decorrer na Guarda nos dias 8 e 9 de Abril, convidou-me para proferir uma comunicação sobre o sugestivo tema "Suicídio no Cinema".

De uma pré-selecção de 50 títulos iniciais, escolhi 30 filmes que, directa ou indirectamente, abordam a temática do suicídio, sob diferentes ângulos e perspectivas, no argumento de cada um dos filmes.

Os critérios de selecção tiveram a ver com a qualidade dos filmes, a pertinência do tema abordado e a relevância que desempenha na história (mais tarde indicarei quais os filmes analisados).

Para já, deixo apenas um belíssimo e raro exemplo: no brilhante filme de animação, "Mary & Max" (2009), há uma das mais comoventes sequências de suicídio (na forma tentada) do cinema dos últimos anos: Mary, alcoólica, solitária e desesperada, procura o suicídio com a ingestão de comprimidos, enforcando-se, ao som da canção "Que Sera, Sera". No entanto, desiste no último minuto porque teve uma visão redentora da natureza humana e das suas emoções. Uma grande lição de cinema.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Virginia Woolf - 70 anos depois

Faz hoje 70 anos que a escritora britânica Virginia Woolf se suicidou no rio afogando-se com pedras dentro dos bolsos (o seu corpo só seria recuperado quase um mês depois). O seu estado mental degradara-se profundamente (com alucinações visuais e auditivas e depressões cada vez mais penosas). Antes de cometer o derradeiro e fatal acto, escreveu uma comovente carta de despedida dirigida ao marido, Leonard. O conteúdo da cadta está reproduzido em baixo. O filme "As Horas" (2002) de Stephen Daldry, baseado num romance da escritora, reproduz a sequência do suicídio de Virginia, alternando na montagem com a redacção da dita carta. Nicole Kidman encarnou a atormentada escritora.


Meu Querido:

Tenho a certeza de que estou novamente a enlouquecer: sinto que não posso suportar outro desses terríveis períodos. E desta vez não me restabelecerei. Estou a começar a ouvir vozes e não me consigo concentrar. Por isso vou fazer o que me parece ser o melhor. Deste-me a maior felicidade possível.

Foste em todos os sentidos tudo o que qualquer pessoa podia ser. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até surgir esta terrível doença. Não consigo lutar mais contra ela, sei que estou a destruir a tua vida, que sem mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo escrever como deve ser.

Não consigo ler.

O que quero dizer é que te devo toda a felicidade da minha vida. Foste inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom.

Quero dizer isso — toda a gente o sabe. Se alguém me pudesse ter salvo, esse alguém terias sido tu. Perdi tudo menos a certeza da tua bondade. Não posso continuar a estragar a tua vida. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes do que nós fomos.


V.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Suicídios no cinema


Fiquei a saber pelo site da revista Sábado, a propósito de um artigo sobre notas de suicídio de personalidades famosas, que o realizador James Whale (autor dos clássicos de terror "Frankenstein" e "A Noiva de Frankenstein") e o actor George Sanders ("O Retrato de Dorian Gray") se suicidaram.
A carta de despedida do actor que fez sucesso em Hollywood nos anos 50 é particularmente interessante (e satírica): "Querido mundo, deixo-te porque estou aborrecido. Sinto que já vivi o suficiente. Deixo-te com as tuas preocupações idiotas. Boa sorte!"
Posto isto, parece-me, numa análise algo empírica, que existe um índice de suicídios muito mais elevado noutras artes (nem é preciso dar exemplos) - como a literatura ou música - do que propriamente no mundo do cinema.
Haverá uma razão especial?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Diane Arbus - fotografar a outra América


Vi há tempos o filme "Fur - Um Retrato Imaginário de Diane Arbus" (2007) de Steven Chainberg. Uma total desilusão.
O visionamento do filme só teve um benefício: despertou-me um interesse maior em conhecer a obra fotográfica de Diane Arbus (no filme interpretada por Nicole Kidman), uma notável e talentosa fotógrafa americana que se especializou (se a palavra é a correcta) em fotografar a perversão e a decadência humanas.
A grande maioria das suas fotografias parece vinda directamente do circo de anormalidades físicas do filme "Freaks" de Tod Browning.
Diane contrariou a tendência da fotografia do glamour e da elegância própria das revistas de moda e do social para se centrar no lado mais negro, marginal, aberrante e diferente da condição humana (Nova Iorque da década de 50 e 60): gémeos siameses, doentes mentais, deficientes físicos, anões, gigantes, mendigos decrépitos, hermafroditas, nudistas. Um olhar sobre uma outra América.
Das suas fotografias ressalta uma beleza única, uma poesia que confirma o amor que Arbus tinha por esses seres humanos ostracizados pela sociedade. Diane dizia que a fotografia servia como um escape para expiar as suas emoções lúgubres e inquietantes. A plasticidade das fotografias, os contrastes de luz, os pormenores captados, a composição visual, são elementos estéticos que conferem identidade artística à fotografia de Diane Arbus.
A primeira foto deste post, intitulada "Identical Twins" (1967) é de duas irmãs gémeas com olhar penetrante e quase ameaçador - serviu de inspiração a Stanley Kubrick para as gémeas terroríficas que surgem no filme "The Shining" (2ª imagem).
Diane Arbus morreu com apenas 48 anos de idade, por suicídio.
Mais fotos aqui.

domingo, 7 de março de 2010

Mais um músico suicida


Morrissey revelou, em Novembro de 2009, já ter pensado no suicídio no passado. O músico considera-o um acto "honrado". Num programa da BBC Rádio 4, o vocalista disse que já tinha pensado em controlar a sua própria morte: "Penso que a auto destruição é um acto honrado. Sempre pensei que fosse. É um acto de grande controlo, e compreendo aqueles que o cometem. Tenho um fascínio pela brevidade da vida e como as pessoas utilizam o seu tempo, porque todos conhecemos a verdadeira queda", disse Morrissey.
Não sei se Mark Linkous (na imagem) leu estas declarações de Morrissey sobre o suicídio. Seja como for, não seria necessário lê-las para tomar a derradeira decisão de acabar com a existência de livre vontade. Mark Linkous, líder e vocalista da banda Sparklhorse, colaborador de Tom Waits e PJ Harvey, cometeu suicídio a noite passada.
Mais um músico a engrossar a lista de "mártires suicidas" da cultura pop.

domingo, 13 de setembro de 2009

Jean Seberg


Se fosse viva, teria feito no passado dia 30 de Agosto, 70 anos. A actriz americana Jean Seberg tornou-se um verdadeiro ícone do cinema após o fulgurante desempenho do grande manifesto da Nouvelle Vague francesa, "O Acossado" (1959) de Jean-Luc Godard, ao lado de Jean-Paul Belmondo. Da sua participação em cerca de 30 filmes, destaque especial para o magnífico "Lilith e o Seu Destino" (1964) de Robert Rossen, filme no qual Jean Seberg interpretava uma doente esquizofrénica apaixonada por Warren Beaty.
A sua vida pessoal atribulada não lhe permitiu prosseguir uma carreira auspiciosa e a sua morte, com apenas 40 anos, ainda hoje está envolta em mistério (provável suicídio). Para sempre ficará recordada como a jovem estudante Patricia do filme de Godard, a vender o jornal New York Herald Tribune nas ruas de Paris, ao mesmo tempo em que se envolve com o ladrão Michel.

domingo, 5 de abril de 2009

Kurt Cobain - 15 anos depois


Foi há 15 anos, dia 5 de Abril de 1994. Lembro-me de estar no meu quarto a escrever qualquer coisa quando ouvi na rádio, não sem espanto, a notícia da morte de Kurt Cobain. O maior ícone do rock da sua geração morria, aparentemente, por suicídio, aos 27 anos de idade, engrossando o mítico "Clube 27" (os músicos que morreram com 27 anos). Os Nirvana tinham dado um dos seus últimos concertos em Portugal, no Dramático de Cascais, escassos dois meses antes da tragédia acontecer.
Conheci os Nirvana na altura da edição do disco de estreia "Bleach" (1989), um álbum muito mais cru e directo que "Nevermind", herdeiro ainda da raiva do punk rock. Com o inesperado êxito (comercial e crítico) de "Nevermind" e do hino "Smells Like Teen Spirit", Kurt Cobain rapidamente passou de figura de culto quase desconhecida para figura de dimensão mediática no mundo da música, epíteto que sempre recusou. Aliás, a fama sempre lhe trouxe dissabores, como se fosse uma força de bloqueio à sua criatividade e felicidade. Consta-se que foi por lidar mal com a exposição pública que Cobain se afundou, cada vez mais, num abismo de drogas e álcool, culminando no acto suicida. Esse último período soturno de total fragilidade psicológica e emocional, de deriva angustiada e depressiva do vocalista dos Nirvana, está bem retratado no filme "Last Days" (2005) de Gus Van Sant (ainda que não seja explícita a relação entre a personagem do filme e Kurt Cobain).
Com a morte, há 15 anos, de Kurt Cobain morria também a lenda maior da música grunge e uma das maiores referências do rock dos anos 90. A mãe do cantor que cantava - "I hate myself and I want to die" - sempre pressentiu o desenlace fatal quando, após a notícia da morte do filho, desabafou para os jornais: "Sempre lhe disse que não se juntasse ao maldito clube dos 27!"
O jornal espanhol ABC publicou um resumo da vida e obra de Kurt Cobain num "A a Z".

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Nirvana x 10


Ainda há dias escrevia sobre o projecto do ex-semanário BLITZ estar a ser digitalizado e eis que o site da actual revista divulga os dez números que foram publicados com os Nirvana (Kurt Cobain) na capa. Vem a propósito do único concerto dado pelos Nirvana em Portugal, no Dramático de Cascais, em 6 de Fevereiro de 1994, dois meses antes de Kurt Cobain ter cometido suicídio. Há 15 anos, precisamente. São dez capas do BLITZ que ficaram (ficam) para a história.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O fatídico "Clube 27"



É um fenómeno recorrente os ícones da cultura popular serem imortalizados quando morrem. Mesmo que sejam famosos e talentosos em vida, se morrerem jovens e, sobretudo, de causa trágica e misteriosa (suicídio, acidente, homicídio), é certo e sabido que se tornam ícones eternos no imaginário popular. O fenómeno só podia ter começado com uma arte de massas: o cinema. Rudolfo Valentino, primeiro ídolo do cinema mudo morreu aos 31 anos em 1926 e deixou em total histeria milhões de admiradoras (conta-se que várias mulheres cometeram suicídio devido ao desespero). Depois, foi James Dean que morreu vítima de um acidente de carro com 24 precoces anos, em 1955, imortalizando a sua figura como referência incontornável da cultura do século XX. De resto, foi com Dean que se incutiu no imaginário das estrelas pop a máxima : "live fast, die young and leave a good-looking corpse". Muitos levaram à risca esta filosofia de vida.
Mas seria a partir de 1969 que a morte de artistas famosos - nomeadamente músicos - tomaria um rumo verdadeiramente iconográfico. Começou em 1960 com a morte de Brian Jones (Rolling Stones), seguiu-se a morte de Jimi Hendrix e Janis Joplin em 1970. O líder carismático dos The Doors, Jim Morrison, morreria em circunstâncias misteriosas um ano depois. Este quarteto de mortes foi apelidado de "Clube 27" (nas imagens), pelo facto de todas estas figuras da música terem morrido com a idade de 27 anos. Mera coincidência?
Conta-se que foi um desejo mórbido de se juntar a este clube que o líder dos Nirvana, Kurt Cobain, se matou em 1994, também com 27 anos. Que insondável e misterioso desígnio se esconde por detrás deste fenómeno que leva à morte artistas populares como estes aos 27 anos? Apesar deste ser o quinteto mais famoso deste fatídico e mórbido clube, muitos outros artista/músicos se podiam incluir no rol dos falecidos com 27 anos. A saber:

- Pete de Freitas, guitarrista dos Echo and The Bunnymen
- Robert Johnson, guitarrista de blues
- Dave Alexander, baixista dos The Stooges
- Gary Thain, baixista dos Uriah Heep
- Kristen Pfaff, baixista das Hole
- Jeremy Michael Ward, músico dos The Mars Volta
- Mia Zapata, vocalista do grupo punk The Gits
- Ron McKernan, teclista dos Grateful Dead
- D. Boon, vocalsita do grupo punk Minutemen
- Rupert Brooke, poeta inglês
- Jean-Michel Basquiat, artista plástico
- Jonathan Gregory Brandis, actor americano
- (...)

Ian Curtis não quis esperar para entrar no "Clube 27" e, 4 anos antes de chegar a essa idade, cometeu suicídio. Mesmo não havendo nenhum "Clube 23" no qual pudesse estar representado, não é por este facto que o espírito do cantor dos Joy Division não vive no panteão mais alto dos ícones musicais de toda a história.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A ponte da morte



O homem, vestido todo de negro, cabelo comprido, óculos escuros, encontra-se encostado à grade da ponte. Olha para um lado e para o outro. O vento forte agita-lhe os longos cabelos. Senta-se na grade durante uns momentos. De um instante para o outro, o homem, de nome próprio Gene, coloca-se de pé na grade e lança-se hirto de costas para o rio. A sua queda até à morte demorou 4 segundos, a 100km/h. Esta é apenas uma das 24 pessoas que se suicidaram em 2004 na ponte Golden Gate e que está incluído no filme "A Ponte":
Um dos monumentos mais famosos dos EUA é a ponte Golden Gate, em São Francisco. Considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis, esta ponte foi aberta ao público em 1937 e continua a fascinar, hoje em dia, pela sua imponência e beleza. Contudo, esta ponte ganhou fama mundial por um motivo macabro: a alta taxa de suicídios. Até 2006 suicidaram-se da Golden Gate cerca de 1300 pessoas. A última estatística é de 2006: 36 suicídios e 70 tentativas. Uma verdadeiro drama social. O que leva tanta gente desesperada a cometer suicídio deitando-se abaixo de uma das pontes mais belas do mundo? Que fascínio mórbido é este? E porque é que as autoridades não tomam medidas preventivas que possam diminuir drasticamente esta estatística doentia?
O documentário "A Ponte" (à venda em DVD) do realizador Eric Steel, não dá respostas a nenhuma destas questões. Nem pretende fazê-lo. O que faz é mostrar, friamente, o fenómeno suicida na ponte de São Francisco, sem interpretações morais, éticas ou políticas. Steel filmou durante um ano (2004) a ponte 24 horas por dia, captando os 23 suicídios dos 24 ocorridos naquele ano. Uma média de um suicídio a cada 15 dias (fora as tentativas). O realizador mostra a morte como se fosse em directo, num registo de voyuerismo mórbido que em nada anula a carga de dramatismo da matéria filmada. Complementarmente, Eric Steel entrevista familiares e amigos dos suicidas, tentando compreender as motivações, as personalidades, o porquê. Aí ficamos a saber que a maior parte dos que se suicidam sofrem de depressões e que a taxa de sobrevivência da queda na água é baixíssima (o documentário dá conta de um pungente testemunho de um jovem sobrevivente). Houve um caso ainda mais raro: o de uma mulher que sobreviveu à primeira tentativa; recuperou e voltou mais tarde a lançar-se da ponte. Desta vez, com consequências mortais. Ninguém consegue explicar a razão da ponte Golden Gate constituir a obra de engenharia do mundo que regista mais suicídios. Ninguém consegue estabelecer a relação entre o fascínio mórbido da morte com a envolvência magnificiente da ponte.
As autoridades referem que colocar uma vedação mais alta no tabuleiro da ponte iria danificar a estética da obra, para além de significar o investimento de milhões de dólares. Enquanto isso, dezenas de homens e mulheres, vindos de todos os pontos da América, continuam a deslocar-se até à ponte Golden Gate para pôr fim trágico às suas vidas. "A Ponte" é um filme forte, sem concessões, que alerta para um drama social de proporções grotescas. É um documentário que apela ao mais íntimo do ser humano, à nossa consciência e ao nosso espírito. Há quem considere o suicídio um tabu social de embaraçosa discussão pública. Defendo o contrário: aprendamos alguma coisa com o budismo e consideremos a morte como fazendo parte natural da nossa última etapa da vida. E divulguemos o documentário, promovendo debates e discussões sérias à volta do que aqui se debate: a fragilidade da vida e a inevitabilidade da morte.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Dissecando "Control"

Os extras de um filme em DVD são sempre muito úteis para quem quiser compreender melhor as múltiplas vertentes da concepção de um filme: entrevistas aos actores e realizador, "making of", cenas cortadas, finais alternativos, e comentário áudio são as principais características dos extras. Há quem não tenha paciência para ver um comentário áudio porque implica visionar de novo o filme para ouvir as explicações do realizador sobre a feitura do filme. Não é o meu caso. Vejo sempre o comentário áudio do realizador porque ajuda a perceber determinados pormenores, curiosidades e opções estéticas do realizador.
Ontem vi os extras do filme "Control" de Anton Corbijn (pronuncia-se "Ánton Corbaine"). E no meio de muitos outros pormenores e curiosidades, fiquei a saber o seguinte:

- Sam Riley
(que interpreta Ian Curtis) passou várias noites em clínicas de cura de epilepsia para melhor compreender os sintomas e detalhes da doença.
- A cena final de Deborah Curtis (a actriz Samantha Morton) a gritar desesperadamente na rua quando se apercebe do suicídio de Ian, foi uma das primeiras cenas a ser filmadas. Corbijn revela que Samantha Morton revelou grande domínio emocional para interpretar esta difícil cena logo no início das filmagens.
- A maior parte dos figurantes que constituem a assistência dos concertos dos Joy Division são verdadeiros fãs actuais do grupo, recrutados pelo realizador em vários sites de devoção à banda de Ian Curtis. Este facto tornou mais exigente a interpretação de Sam Riley, uma vez que os figurantes eram verdadeiros fãs do grupo e não meros figurantes.
- Numa das cenas finais de um concerto dos Joy Division (quando interpretam a canção "DeadSouls"), vê-se na primeira fila do público a filha de Ian Curtis, Natalie Curtis, vestida de punk, numa simbólica homenagem ao pai.
- O filme foi filmado em película a cores e só depois transferido para preto e branco em formato 35m, uma vez que o preto e branco inicial tornava-se demasiado granulado.
- Devido à formação de fotógrafo de Anton Corbijn, o próprio assume que o filme parece mais como uma sequência de fotografias do que propriamente uma montagem de planos em movimento (há de facto uma grande predominância de planos fixos).
- As cenas do interior da casa de Ian e Deborah foram filmados em estúdio devido à exiguidade da verdadeira casa, na Barton Street de Macclesfielfd.
- Os actores que interpretam os vários elementos da banda aprenderam a tocar os instrumentos em apenas 2 meses (só o actor Joe Henderson sabia tocar guitarra, mas ainda assim teve de aprender a tocar baixo para encarnar Peter Hook).
- A guitarra eléctrica branca que Sam Riley segura aquando da filmagem do videoclip "Love Will Tear Us Apart" é a mesma guitarra que Ian Curtis tocou no videoclip original.
- As letras do genérico do filme piscam (como uma lâmpada fraca a ascender aos soluços). A ideia foi criar uma analogia com os sintomas da epilepsia.
- Não se vê no filme (sente-se, porém), mas Ian Curtis teve um ataque de choro compulsivo logo após o nascimento da sua filha Natalie - acontecimento que viria a agravar a sua depressão.
- A namorada de Tony Wilson que surge no filme é Gillian Gilbert, mais tarde teclista dos New Order. No filme é interpretada pela gerente da empresa de Anton Corbijn.
- Anton Corbijn assistiu na realidade a um dos ataques de epilepsia de Ian Curtis e foi o fotógrafo que documentou o videoclip "Love Will Tear us Apart".
- O realizador refere que foi ele quem escolheu as canções dos Joy Division no filme. A mítica canção "Love Will Tear us Apart" ouve-se em "Control" quando surgem os primeiros sinais de ruptura entre Ian e Deborah. Corbijn menciona que é uma canção óbvia para essa situação, mas também o seria para qualquer outra, uma vez que o filme aborda, essencialmente, o tema do amor e da sua degenerescência (pessoalmente concordo com a opção).
- Os três músicos dos actuais New Order (Hook, Moris, Summer) praticamente não contribuíram em nada para o filme e nem se encontraram com os actores que os interpretam. No entanto, gostaram muito do resultado final.
- Apesar de ser moda no final dos ano 70 a colocação de posters e cartazes nas paredes dos quartos, a dado momento, Ian Curtis tirou todos os posters dos seus ídolos (Jim Morrison, Iggy Pop) e pintou as paredes com um azul celeste.
- O fumo negro a sair da chaminé do crematório do cemitério foi colocado digitalmente.
- O argumentista de "Control" encontrou-se durante um dia com a amante de Curtis, a belga Annick Honoré, para recolher informação para o filme.
- Grande parte das filmagens foram realizadas na cidade de Nottingham, uma vez que se parece mais com a Manchester do final dos anos 70 do que a Manchester actual.
- As actrizes Samantha Morton (Deborah Curtis) e Alexandra Maria Lara (Annick Honoré) foram as únicas actrizes que nunca se encontraram nas filmagens.
- Segundo Corbijn, Ian Curtis nunca revelou claramente para onde pendia a sua relação amorosa. Na verdade, quer Deborah quer Honoré, ambas reclamam a paixão que Ian nutria por elas.
- Apesar de Ian Curtis ter mantido uma relação amorosa com Annick Honoré, esta afirmou ao argumentista do filme que nunca tiveram relações sexuais.
- Apesar de ter sido um filme com baixo orçamento e sobre um músico que se suicida de um grupo como os Joy Division, Anton Corbijn revela que nunca imaginou que "Control" viria a ser um sucesso de público e de crítica.
(...)

domingo, 28 de setembro de 2008

Por que se suicida um escritor?


Já escrevi uma vez sobre artistas (poetas, escritores) que se suicidaram. Porque, como Albert Camus um dia asseverou, só há uma pergunta à qual a filosofia deve tentar responder: a raiz do suicídio - saber se a vida merece ou não ser vivida.
A propósito do suicídio, no passado dia 12 de Setembro, do escritor americano David Foster Wallace, o jornal espanhol El País publicou um excelente artigo no qual se aborda o suicídio de escritores ao longo da história e se tenta explicar (se é que há explicação possível) para o mistério fundamental no mundo das artes: por que se matam os escritores?. Aqui.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A violência num país sereno e desenvolvido


O que motivou o jovem finlandês Matti Saari (na imagem) para chacinar, indiscriminadamente, 10 colegas a tiro? Provavelmente, a mesma motivação que levou o estudante Pekka-Eric Auvinen a matar 8 colegas, há apenas 10 meses atrás, também numa escola finlandesa. Provavelmente, a mesma motivação que levou ao massacre no Virgina Tech há um ano e meio. Sem querer fazer o papel de psicólogo social, porventura, uma motivação que deriva de vários factores conjugados: paixão exacerbada por armas de fogo e pela violência dos videojogos, maior susceptibilidade às mensagens das bandas de rock gótico, propensão para pensamentos auto-destrutivos, etc.
A pergunta essencial passa também pelo contexto social em que ocorreu (pela segunda vez em menos de um ano) este massacre. Num país com altíssimos índices de desenvolvimento e de qualidade de vida económica e social, cujo sistema educativo é referência mundial, como se explicam actos tresloucados como este? Poderá o bem-estar social e a abundância financeira gerar tamanho mal-estar interior num indivíduo? Será esta uma sociedade na qual não existem outros valores senão os paradigmas do ultra-consumismo e do ultra-materialismo? Que Finlândia é esta cuja primeira causa de morte dos jovens entre os 20 e 24 anos é o suicídio? Uma sociedade quase isenta de criminalidade e delinquência, mas cujos dois recentes massacres obrigam a repensar que juventude é esta que mata e se mata. Uma sociedade da opulência material mas vazia, desorientada e sem ideais de vida.
No Público de hoje, pode-se ler um perturbante depoimento de uma cidadã finlandesa sobre a sociedade finlandesa e que pode explicar (em parte), este segundo caso de extrema violência na terra da Nokia: “Acho que estamos a viver bem demais. Em tempos de guerra, as pessoas entreajudam-se e têm um propósito de vida. Nos tempos actuais, os finlandeses não têm desafios, nem nada por que lutar.”

segunda-feira, 19 de maio de 2008

DVD do mês


Na capa do DVD lê-se : "Um dos mais comoventes e brutalmente honestos filmes acerca do suicídio." Não é preciso dizer mais nada.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O legado de Guy Debord


Ana Cristina Leonardo (semanário Expresso) escreveu no suplemento Actual uma recensão crítica ao livro "Guy Debord" (antígona), uma espécie de biografia não ortodoxa de Debord escrita pelo ensaísta Anselm Jappe. Já tinha aqui feito uma citação breve ao livro "A Sociedade do Espectáculo". Ainda não li o livro de Jappe, mas o texto da jornalista é suficientemente esclarecedor acerca da essência do que está em causa: apurar a dimensão conceptual do pensamento político e artístico de um dos mentores da Internacional Situacionaista. E mais apropriada se torna a sua aquisição quando, neste mesmo mês, se celebram 40 anos do Maio de 68 (Ana Cristina Leonardo também chama a atenção para o facto de muitos slogans do movimento terem sido repescados do livro "A Sociedade do Espectáculo" editado um ano antes).
O suicídio de Debord (1994) foi o corolário de um sentimento de não pertença a esta sociedade e a este mundo, de refutação das leis que a regem e que instigam ao estrangulamento da liberdade. A radicalidade das teses de Debord acabam por "explicar" o acto autodestrutivo. Não esqueçamos que, para além de um notável agitador de mentalidades instituídas, Debord foi também um efémero mas distinto cineasta, abrupto e radical. Para comprovar aqui.

sábado, 12 de abril de 2008

Para não esquecer a banalidade do Mal

Primo Levi é, juntamente com Elie Wiesel, o melhor escritor saído dos campos de extermínio Nazis. "Se Isto é Um Homem" é um espantoso relato sobre os limites do sofrimento humano no âmbito dessa ignomínia chamada Holocausto. Literatura seca e descarnada, afiada como um cutelo ensanguentado. É um livro que deveria constar nos programas curriculares escolares, para que as novas gerações não esqueçam o horror vivido na Europa há apenas seis décadas atrás. Quando morreu (1987), Elie Wiesel disse: "Primo Levi morreu 40 anos depois em Auschwitz". E era verdade. Levi passou a vida atormentado por ter sido um sobrevivente da carnificina, por carregar nas costas o imenso peso da memória do Genocídio. Era como se Primo Levi continuasse e viver agrilhoado à angústia dos terríveis momentos passados no seio da máquina do extermínio alemão.
"A Trégua", editado em 1963, revela as vivências da libertação de Auschwitz, como que num lampejo de expiação espiritual. Uns anos antes da sua morte (os biógrafos falam em suicídio, os familiares referem que foi consequência de uma queda das escadas), Primo Levi lança em 1986 o livro "Os que Sucumbem e os que se Salvam" (Editorial Teorema). De forma lúcida e pragmática, Levi regressa às memórias dolorosas do campo de extermínio, justificando que sentia que a memória colectiva já pouca atenção dava ao Holocausto. Levi terminara uma poderosa trilogia de obras sobre os horrores Nazis, para nunca mais ninguém se esquecer. Na esteira de Levi, "As Benevolentes" de Jonathan Littell renova o interesse universal nesta matéria, ao escrever ao longo de 900 páginas sobre a banalidade do Mal.
PS - Este post foi suscitado com a leitura da crítica ao livro "Os que Sucumbem e os que se Salvam", feita por Luís M. Faria no Expresso de hoje