É um hábito sempre salutar: a cada Setembro, um novo filme de Woody Allen. Estreia "O Homem Irracional", a nova obra do realizador que volta a Nova Iorque para contar esta história de um professor de filosofia de meia idade e com crise existencial dividido entre o amor de duas mulheres.
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quinta-feira, 17 de setembro de 2015
terça-feira, 3 de março de 2015
À procura de Vivian Maier
Vivian Maier (1926 - 2009) era até há dois ou três anos uma autêntica anónima. Agora passou a ser conhecida por ter sido uma das melhores fotógrafas dos EUA durante décadas. Personalidade reservada e bizarra (tinha um lado sombrio e enigmático - não conseguia estar ao lado de homens), Vivian Maier era uma simples ama que nos tempos livres se dedicava a fotografar as ruas e as pessoas de Nova Iorque e de outras cidades. O incrível é que ela tirou mais de 100 mil fotografias e guardou todos os rolos em dezenas de caixotes. Ou seja, não revelou praticamente nenhuma fotografia! O seu comportamento era compulsivo, doentio, quase como uma obsessão vital em registar momentos quotidianos da sociedade norte-americana.
Sempre a preto e branco e num ângulo sempre idêntico (tinha uma máquina Leica), as suas fotografias denotam um olhar perspicaz sobre rostos anónimos, pessoas comuns (entre burguesia e mendigos) e paisagens urbanas. Também fazia auto-retratos (vulgo selfies hoje). Todo o seu gigantesco espólio - grande parte ainda por revelar - foi descoberto por acaso por um jovem chamado John Mallof, co-autor do documentário sobre a sua vida. Comprou-o num leilão e agora dedica a sua vida a divulgar o seu trabalho e a exibir as fotografias de Vivian em museus e galerias de arte.
"Finding Vivian Maier" ("À Procura de Vivian Maier") é o título do documentário candidato aos Óscar deste ano na mesma categoria. Procura desvendar quem foi esta mulher estranha e contraditória através de depoimentos de pessoas que lidaram com ela em vida. Provavelmente Vivian Maier nunca autorizaria em vida a publicação das suas fotografias. O motivo desconhece-se. Uma coisa é certa: o seu legado só veio enriquecer a história da fotografia do século XX.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Um massacre estilizado
6 de Dezembro de 1989. Um jovem armado entra na Escola Politécnica de Montreal (Canadá), uma instituição voltada para a formação de engenheiros. Aparentemente motivado pelo ódio às feministas, o jovem dispara com toda a calma do mundo contra estudantes (sobretudo mulheres), causando um massacre com o saldo de 14 mortes e dezenas de feridos. O ataque é resultado de um plano de anos e os alvos foram pré-escolhidos. Os eventos são contados a partir de três pontos de vista: o do atirador, que conta os seus motivos e culpa terceiros pela sua frustração, o de uma aluna chamada Valérie e o de seu amigo Jean-François. Apesar do filme retratar um acto sanguinário mostrando o homicídio de 14 mulheres e outras dezenas feridas, não deve ser visto apenas com esse olhar de filme de suspense clássico. É muito mais.
O realizador, Denis Villeneuve (47 anos) é sobretudo conhecido por ter realizado em 2013 o filme "Enemy" com a estrela Jake Gyllenhaal. A sua curta carreira começou em 1998 e em 2009 realiza o filme "Polytechnique" sobre o massacre real da escola politécnica canadiana. Filmado num preto e branco de grande contraste, com um trabalho de câmara em registo quase documental, "Polytechnique" é um magnífico pequeno filme (em duração) que segue as coordenadas estéticas de "Elephant" (2003) de Gus Van Sant (este sobre o massacre do Liceu de Columbine). A diferença é que no filme de Sant as cores eram fortes e intensas e o ritmo narrativo bastante mais lento; no filme de Villeneuve o branco da neve contrasta com o escuro do sangue e dos corpos, a ambiência é estilizada e quase (por vezes) onírica, a violência não é gratuita nem explícita. Mas o horror está estampado no rosto do jovem assassino atormentado e no dos colegas que persegue e mata.
"Polytechnique" é um belo exercício de estilo de Villeneuve, quase como se fosse Alain Resnais da fase "Hiroshima, Mon Amour" a filmar esta tragédia. A fotografia é esplêndida, os ângulos e planos originais, a montagem simples e eficaz, as metáforas visuais deveras sugestivas. E a música é de puro bom gosto que sabe acompanhar e sublinhar as imagens. Um filme que só agora vi e que considero uma pequena pérola do cinema independente contemporâneo.
Fica o trailer:
"Polytechnique" é um belo exercício de estilo de Villeneuve, quase como se fosse Alain Resnais da fase "Hiroshima, Mon Amour" a filmar esta tragédia. A fotografia é esplêndida, os ângulos e planos originais, a montagem simples e eficaz, as metáforas visuais deveras sugestivas. E a música é de puro bom gosto que sabe acompanhar e sublinhar as imagens. Um filme que só agora vi e que considero uma pequena pérola do cinema independente contemporâneo.
Fica o trailer:
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Eisenstein por Greenaway
Eis uma extraordinária novidade do cinema: vai estrear este ano o novo filme do exuberante realizador Peter Greenaway. Mas não é tudo. Desta vez, ao que parece, o cineasta colocou de lado a sua veia estética barroca e visualmente excessiva para se concentrar na experiência que o realizador russo Sergei Eisenstein teve no México, em 1930, durante 10 dias, para filmar o documentário "Que Viva México!" sobre o Dia dos Mortos. Promete.
Eis o trailer:
sábado, 3 de janeiro de 2015
O Sniper de Eastwood
Um dos filmes que consta na lista de filme a ver em 2015 é este "American Sniper" de Clint Eastwood. Um biopic sobre o condecorado fuzileiro Chris Kyle (16 condecorações). Fez parte da tropa de elite Navy SEAL entre 1999 e 2009 e é considerado o mais letal atirador furtivo da História Militar dos EUA com 160 mortes confirmadas.
Esteve ao serviço na Guerra do Iraque e era conhecido por ser extremamente frio e meticuloso e nunca se arrepender da sua acção. Regressou aos EUA como um herói, escreveu uma autobiografia (na qual Eastwood se inspirou para o filme) e, com apenas 38 anos de idade, foi assassinado. Não por um sniper iraquiano ou qualquer outro inimigo, mas por um outro fuzileiro com stress pós-traumático num quartel militar no Texas.
Será esta a base da história que Clint Eastwood conta neste "American Sniper", filme cujo recente trailer evidencia a forte ligação do realizador aos temas patrióticos.
O actor Bradley Cooper encarna Chris Kyle.
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
"Os Maias" no cinema
Depois de uma bem sucedida adaptação ao cinema da difícil obra literária "O Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa, o realizador João Botelho arrisca agora ainda mais ao adaptar - segundo consta, com total respeito pelo texto literário - uma das obras maiores da literatura portuguesa: "Os Maias" de Eça de Queirós.
Pelo trailer, constata-se uma realização segura e uma boa recriação de época (com cenários assumidamente pintados) da Lisboa de final do século XIX. Mas certamente que não será um filme que irá agradar a todos, mas poderá confirmar-se como um marco do cinema português contemporâneo.
Estreia no dia 11 de Setembro.
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Stephen Hawking no cinema
Trailer para o filme sobre a vida e obra do genial físico Stephen Hawking (estreia apenas em Janeiro de 2015). O biopic tem por título "The Theory of Everything":
quarta-feira, 28 de maio de 2014
"Trailers" ou "spoilers"?
Os "trailers" dos filmes não deviam ter mais do que um minuto ou um minuto e meio. Isto é, 60 ou 60 segundos. Com uma montagem habilidosa, é tempo mais do que suficiente para revelar ao espectador a essência do filme, sem desvendar pormenores da história ou mostrar cenas demasiado reveladoras.
Mas a verdade é que continuam a existir "trailers" com dois minutos e até três minutos de duração. Acho que o realizadores ou produtores que apresentam estes "trailers" não têm pudor em mostrar a essência do filme e matam a expectativa do espectador. Ou seja, em vez de "trailers", funcionam como... "spoilers"!
segunda-feira, 5 de maio de 2014
James Brown: Biopic
Para quem gosta da música funk/soul de James Brown, vem aí um biopic que pode dar muito que falar (estreia em Agosto):
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Tarantino e a música
Quentin Tarantino cedo revelou ser um mestre original na concepção artística dos seus filmes. E isso passou muito pela utilização da música nas suas obras. Recorrendo a um reportório maioritariamente pop-rock-funk-jazz dos anos 60 e 70, Tarantino construiu um universo audiovisual de grande versatilidade e inovação.
De resto, basta ver (e ouvir) os brilhantes trailers dos seus dois primeiros filmes para compreender a ousadia formal na forma improvável e surpreendente como o cineasta de culto utilizou a música nos créditos iniciais: "Reservoir Dogs" (1992) e "Pulp Fiction" (1994), com as canções, respectivamente, "Little Green Bag" de George Baker, e "Misirlou" de Dick Dale. Que mestria!
Nota: para conhecer outros 20 grandes momentos musicais nos filmes de Tarantino, abrir aqui.
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
O regresso de Terry
Enquanto os Monty Python não fazem o seu apoteótico regresso aos palcos no Verão, eis que um dos seus elementos, Terry Gilliam, lança o seu último e excêntrico filme de ficção científica: "The Zero Theorem".
O enredo de “The Zero Theorem” desenrola-se num Mundo corporativo à imagem de "1984″, de George Orwell, onde homens com câmaras funcionam como os olhos de uma figura sombria conhecida como “Management”. Qohen Leth trabalha para conseguir resolver um estranho teorema, enquanto vive enclausurado como um monge virtual no interior de uma capela destruída por um incêndio.
Protagonizado por Christoph Waltz, David Thewlis, Melanie Thierry, Tilda Swinton e Matt Damon, “The Zero Theorem” ainda não tem distribuidora e, por isso, continua com estreia incerta.
Mas o primeiro trailer divulgado hoje remete para o habitual universo visual futurista repleto de humor sarcástico e negro (apesar das cores dos cenários) a que Terry já nos habituou:
sábado, 5 de outubro de 2013
Gravidade

Estreou há dois dias nos EUA e é já considerado um dos filmes do ano, obtendo rasgados elogios de todos os quadrantes. Não é habitual que um filme de um grande estúdio comercial (Universal Pictures) consiga reunir tão alta cotação por parte da crítica especializada, mas é o que está a acontecer com "Gravidade", novo filme do mexicano Alfonso Cuarón.
Segundo um crítico norte-americano, "Demorou até agora, com ‘Gravidade’, para que um filme se aproximasse da urgência, da beleza e do realismo de ’2001: Uma Odisseia no Espaço’. Fazendo valer o que as crónicas dizem, "Gravidade" é uma experiência cinematográfica única, potenciada ao máximo pelo 3D e realizada com total controlo visual por parte do realizador. Os protagonistas são interpretados por George Clooney e Sandra Bullock.
Aliás, como já demonstrara em "Os Filhos Do Homem" (2006), Cuarón retoma a filmagem de longos planos sem cortes e "Gravidade" começa com um plano-sequência de 15 minutos ininterruptos. Em termos de trabalho de sonoplastia e de banda sonora (composta por Steven Price), também não faltam elogios. Diz-se que visualmente é um esplendor, deixando de queixo caído quem já viu esta obra que faz jus ao génio de Kubrick.
Mas a qualidade de um filme não se mede apenas pela sua faceta formalista, pelo que consta que o argumento é suficientemente poderoso e inspirador para deixar os espectadores abismados.
Em Portugal vai estrear já no próximo dia 10. Aguardemos até lá...
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Eis aqui um conjunto de críticas altamente positivas que "Gravidade" tem recebido.Segundo um crítico norte-americano, "Demorou até agora, com ‘Gravidade’, para que um filme se aproximasse da urgência, da beleza e do realismo de ’2001: Uma Odisseia no Espaço’. Fazendo valer o que as crónicas dizem, "Gravidade" é uma experiência cinematográfica única, potenciada ao máximo pelo 3D e realizada com total controlo visual por parte do realizador. Os protagonistas são interpretados por George Clooney e Sandra Bullock.
Aliás, como já demonstrara em "Os Filhos Do Homem" (2006), Cuarón retoma a filmagem de longos planos sem cortes e "Gravidade" começa com um plano-sequência de 15 minutos ininterruptos. Em termos de trabalho de sonoplastia e de banda sonora (composta por Steven Price), também não faltam elogios. Diz-se que visualmente é um esplendor, deixando de queixo caído quem já viu esta obra que faz jus ao génio de Kubrick.
Mas a qualidade de um filme não se mede apenas pela sua faceta formalista, pelo que consta que o argumento é suficientemente poderoso e inspirador para deixar os espectadores abismados.
Em Portugal vai estrear já no próximo dia 10. Aguardemos até lá...
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Um curto mas sugestivo trailer que deixa antever um filme deveras único:
domingo, 29 de setembro de 2013
Trier imita Tarr?
Foi revelado o quarto "movie clip" do novo filme de Lars Von Trier, "Nymphomaniac". É apenas um minuto de um único plano-sequência no qual a câmara segue uma mulher enquanto se ouve a voz off do pai da personagem de Charlotte Gainsbourg.
O que surpreende nestas imagens é que parece que Trier emula a estética do cineasta Béla Tarr: fotografia a preto e branco, ambiente soturno, plano longo sem cortes, são características do cinema do realizador húngaro. O que me leva a especular: será que, da mesma forma que Trier dedicou "Anticristo" a Andrei Tarkovski, também irá dedicar este "Nymphomaniac" a Béla Tarr?...
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
O novo de Payne
Alexander Payne, realizador dos magníficos filmes "As Confissões de Schmidt" (2002), "Sideways" (2004 )e "Os Descendentes" (2011), volta no final deste ano para estrear a sua nova obra: "Nebraska".
Trata-se de uma comédia dramática no qual pai e filho enveredam numa longa viagem para recolher um prémio de um milhão de euros.
Trata-se de uma comédia dramática no qual pai e filho enveredam numa longa viagem para recolher um prémio de um milhão de euros.
Alexander Payne tem provado ser um singular contador de histórias do cinema contemporâneo, com um olhar muito peculiar sobre o modo de vida da sociedade actual. Personagens à deriva, em dúvida existencial e relações familiares no fio da navalha são elementos fulcrais na sua temática.
O trailer oficial de "Nebraska" foi revelado há dois dias. Filmado num belo preto e branco e com uma banda sonora sugestiva (de Mark Orton), o novo filme de Payne promete marcar o final do ano cinematográfico.
O poster oficial é, igualmente, dos posters visualmente mais originais de 2013.
sábado, 24 de agosto de 2013
Gondry na Espuma dos Dias
"A Espuma Dos Dias" é o livro mais famoso do escritor francês Boris Vian. Uma obra intrincada, repleta de um imaginário fértil e surrealista, personagens icónicas, diálogos rebuscados e múltiplos olhares sobre o amor, a vida e a morte. Várias vezes adaptada ao teatro e uma única vez ao cinema, agora teremos a oportunidade de ver o resultado da visão deste livro do realizador Michel Gondry no grande ecrã.
E verdade seja dita: se há cineasta contemporâneo que saberá captar a essência da complexa obra literária de Boris Vian, esse cineasta é Michel Gondry (pelas provas que já deu no passado na criação de um imaginário cinematográfico muito próprio) .
Para já, o curto trailer:
terça-feira, 23 de julho de 2013
"Os Gigantes" - ver e ouvir
Há descobertas assim: ao acaso.
Numa simples deambulação pela internet cinéfila, descobri a existência de um filme que nem de nome conhecia: "Les Géants" ("Os Gigantes"). É de 2011 e realizado pelo actor, argumentista e realizador belga (é a sua terceira longa-metragem) Bouli Lanners. As críticas que li são excelentes e o filme ganhou o Prémio da Quinzena dos Realizadores do festival de Cannes 2011. É a história de dois irmãos (13 e 15 anos) que passam as férias num bosque à beira rio. Conhecem um terceiro rapaz e aí começa uma amizade inesperada...
Numa simples deambulação pela internet cinéfila, descobri a existência de um filme que nem de nome conhecia: "Les Géants" ("Os Gigantes"). É de 2011 e realizado pelo actor, argumentista e realizador belga (é a sua terceira longa-metragem) Bouli Lanners. As críticas que li são excelentes e o filme ganhou o Prémio da Quinzena dos Realizadores do festival de Cannes 2011. É a história de dois irmãos (13 e 15 anos) que passam as férias num bosque à beira rio. Conhecem um terceiro rapaz e aí começa uma amizade inesperada...
Ainda não vi o filme, mas fiquei absolutamente rendido face ao magnífico trailer: filmado com superior bom gosto, uma fotografia belíssima que realça a tonalidade verde da paisagem, inexistência de diálogos e música intimista do projecto The Bony King of Nowhere - um jovem belga cantor de folk.
Aliás, mais do que um trailer, este é quase um videoclip com imagens do filme. A relação entre a bela e melancólica canção e as imagens provoca logo um estímulo emocional e despoleta no espectador um imaginário sobre a possível história daqueles adolescentes. Vale a pena escutar o resto das músicas do filme aqui.
Aliás, mais do que um trailer, este é quase um videoclip com imagens do filme. A relação entre a bela e melancólica canção e as imagens provoca logo um estímulo emocional e despoleta no espectador um imaginário sobre a possível história daqueles adolescentes. Vale a pena escutar o resto das músicas do filme aqui.
Raramente um simples trailer me pressionou tanto para ver o filme o mais rapidamente possível:
quarta-feira, 26 de junho de 2013
A visão da guerra de Lore
No meio da avalanche de estreias de cinema em Portugal - às vezes chegam a ser oito (!) por semana -, lá estreia um ou outro filme que vale, realmente, uma ida à sala de cinema. Há algumas semanas atrás, valia por "Os Nossos Filhos" do belga Joachim Lafosse (como referi num post abaixo), a semana passada valeu por "Lore", da australiana Cate Shortland.
O filme conta-se de uma penada: na Primavera de 1945 e com a Alemanha em ruínas após a morte de Hitler, Lore (Saskia Rosendahl) é a filha mais velha de um casal alemão (o pai era oficial do exército nazi). Perante a ausência do pai e da mãe, Lore toma conta dos quatro irmãos e leva-os numa viagem de quilómetros até à casa de uma avó...
"Lore" é, por isso, um fascinante olhar sobre a Segunda Guerra Mundial do ponto de vista da Alemanhã vencida. É também um lancinante olhar dos horrores da guerra a partir dos olhos de uma adolescente ingénua (traz à memória o brutal filme "Vem e Vê" de Elem Klimov). A realizadora soube construir personagens fortes, dar densidade psicológica a todo o processo narrativo e mostrar uma perturbadora perspectiva dos efeitos da devastação da guerra na mente (e no físico) de um grupo de crianças.
Uma das grandes surpresas cinematográficas do ano.Trailer:
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Perder a razão e a emoção

Em Portugal teve o título redutor "Os Nossos Filhos" e é um filme que passou completamente despercebido da crítica e do público há umas semanas atrás (quando estreou em sala). Realizador pelo jovem realizador belga Joachim Lafosse, "Os Nossos Filhos" ganhou o Prémio de Melhor Actriz (Émile Dequenne, na imagem) na secção “Un Certain Regard” do festival de Cinema de Cannes 2012. A história é baseada num acontecimento verídico ocorrido em 2007 na Bélgica, no qual uma mãe matou os cinco filhos pequenos.
O filme de Lafosse conta a história do casal Muriel e Mounir, dois jovens verdadeiramente apaixonados. Infelizmente os problemas começam a surgir rapidamente após o casamento. No centro do problema está o Dr. Pinget, o homem que cuidou de Mounir desde pequeno e que passa a exercer uma forte influência sobre os dois: o casal não só vive na sua casa como também depende financeiramente dele. Aos poucos, ela começa a sentir-se aprisionada e devastada neste clima emocional doentio e uma sombra trágica começa a pairar sobre esta família...
É aqui que o filme resvala para um ambiente que parece extraído da estética de Michael Haneke: a mãe das crianças entra, paulatinamente, numa espiral de desintegração da personalidade. E perante o sufoco da sua vida, só vê uma forma de "proteger" os filhos: matando-os. A frieza emocional com que o realizador encena esta solução extrema faz parecer uma brincadeira a cena da morte dos 6 filhos de Magda Goebbels no filme "Downfall" (2004).
Lafosse não mostra praticamente nada, nem violência, nem sangue, nem gritos, nem a loucura que passa pela cabeça daquela mãe. A sugestão é a melhor arma para amedrontar o espectador. Apenas filma num plano fixo as crianças a irem ao chamamento da mãe que as espera com uma faca no quarto. Sim, é perturbador, pela "não acção" aparente, mas é a constatação de um cineasta que vai, certamente, crescer muito depois desta experiência radical. Porque este filme é sobre a dilaceração do amor, estilhaçado em mil pedaços perante o peso da responsabilidade, da rotina e da ausência de afecto.
Lafosse não mostra praticamente nada, nem violência, nem sangue, nem gritos, nem a loucura que passa pela cabeça daquela mãe. A sugestão é a melhor arma para amedrontar o espectador. Apenas filma num plano fixo as crianças a irem ao chamamento da mãe que as espera com uma faca no quarto. Sim, é perturbador, pela "não acção" aparente, mas é a constatação de um cineasta que vai, certamente, crescer muito depois desta experiência radical. Porque este filme é sobre a dilaceração do amor, estilhaçado em mil pedaços perante o peso da responsabilidade, da rotina e da ausência de afecto.
Voltando ao início: é pena que o filme tenha passado ao lado de tanta gente. Ah, e o título original é bem mais adequado: "À Perdre La Raison". Ou seja, perder a racionalidade...
Trailer:
Trailer:
segunda-feira, 10 de junho de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
O regresso de Jodorowsky!
É um dos filmes mais esperados do festival de Cannes: ao fim de 21 anos de inactividade, o realizador chileno Alejandro Jodorowsky apresenta-se com "La Danza de La Realidad", o seu novíssimo trabalho.
Jodorowsky é um dos cineastas mais originais e visionários da segunda metade do século XX (sobre ele escrevi isto). Nasceu em 1929 e apenas realizou sete longas-metragens, qual delas a mais surrealista, a mais bizarra e iconoclasta (misturando sexo, violência, western, magia negra, sonhos, mitologia, simbolismo, sangue e religião).
Agora voltou, quase sem prévio aviso, para mostrar um filme autobiográfico com o belo título "A Dança da Realidade". O circunspecto jornal inglês The Guardian refere que se trata de uma obra que mistura o imaginário visual de Kusturica, Tod Browning e Fellini. E vendo o trailer do filme, percebe-se esta mistura de referências.
Seja como for, a nova obra de Jodorowsky está destinada - como tudo o resto que fez antes - a dividir apaixonadamente as opiniões: o espectador ou fica fascinando com os devaneios visuais e narrativos do cineasta ou sente repulsa quase imediata.
Nota: a banda sonora é assinada pelo filho do cineasta, Adan Jodorowsky.
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