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terça-feira, 27 de outubro de 2015

Remédios musicais para a alma

"Musicoterapia de A a Z" de Pietro Leveratto

Cada um de nós, em certos momentos, precisou de música. Quando o fluir das notas atinge a nossa atenção damo-nos conta de que a música, como uma banda sonora que acompanha cada gesto quotidiano, é necessária. Protagonistas das páginas deste volume são, pois, os sons mais adequados para emoldurar os acontecimentos da vida, eventos e sensações, a beleza e o sofrimento, o desejo e a sua ausência. O leitor poderá reencontrar as melodias que o acompanharam em ocasiões memoráveis ou para esquecer, deparar-se com histórias bizarras, divertidas e autênticas. Ou ir ainda, mais simplesmente, à procura do tema certo para a ocasião certa. 


Quer se trate do pavor de voar, de dependência do trabalho ou da agorafobia, de uma dieta ou de um ataque de tosse ou de vontade de desaparecer, as receitas de Musicoterapia oferecem remédios e conselhos através de sugestões musicais ou graças à experiência de um músico, indo do rock à experimentação contemporânea, da Viena de Mozart à ilha de Tonga, de Schubert a Bob Dylan, da Bossa Nova de Jobim aos Beatles, de Bach a Coltrane. É uma pequena enciclopédia, um repertório, um manual para ficar melhor. Ao som da música. 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O universo perturbador de Ballard

Aqui está uma edição que nenhum admirador do universo literário de J.G. Ballard pode perder: pela primeira vez no mercado nacional é editado "High Rise", em português "Arranha-Céus", escrito em 1975.

O livro decorre no espaço fechado de um arranha-céus onde moram duas mil pessoas, condomínio fechado de onde ninguém precisa de sair para o exterior. Criado o ambiente claustrofóbico e pós-histórico típico do universo ballardiano, este prédio é um simulacro da vida social moderna onde tudo parece correr bem até começarem a surgir os primeiros indícios de crime e violência que vão transformar o arranha-céus numa paisagem primitiva, onde o humano dá lugar a um bestiário de predadores: primeiro atacam-se os automóveis na garagem, depois os moradores. Um incidente conduz a outro e, acossados, os vizinhos agrupam-se por pisos possuídos por instintos animalescos. Quando aparecem as primeiras vítimas, a festa mal começou. É então que o personagem Richard Wilder, realizador de documentários, resolve avançar, de câmara em punho, numa viagem por uma inexplicável orgia de destruição, testemunhando o colapso do que nos torna humanos.

Entre a alucinação e a anarquia, a visão violenta e pessimista de J.G. Ballard oferece-nos um retrato demencial de como a vida moderna nos pode empurrar, não para um estádio mais avançado na evolução, mas para as mais primitivas formas de sociedade.

O romance foi adaptado ao cinema e deve chegar às salas ainda este ano, com a assinatura de Ben Wheatley (tem nos principais papéis os actores Jeremy Irons, Sienna Miller e Tom Hiddleston). No próximo ano, a editora Elsinore conta reeditar "Crash", celebrizado no sublime e perturbador filme homónimo de David Cronenberg.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O que diz Tarkovski #23

"Na minha infância a minha mãe sugeriu que eu lesse 'Guerra e Paz' e, durante muitos anos, ela citou frequentemente o romance, chamando-me a atenção para a subtileza e as particularidades da prosa de Tolstoi. Desse modo, 'Guerra e Paz' tornou-se para mim uma espécie de escola de arte, um critério de gosto e profundidade artística. Depois desse livro nunca mais consegui ler porcarias literárias que sempre me causaram profundo desagrado."

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O leitor compulsivo

Todos os que gostam de ler e de livros vão adorar este artigo de opinião. É especialmente pensado para os "leitores compulsivos". Em 10 mandamentos, reúnem-se 10 características dos leitores compulsivos. Eu gosto muito de ler, mas não me revi em dois dos mandamentos. Seja como for, para quem ama a leitura há muita verdade neste compêndio de mandamentos. Para ler, abrir aqui.

sábado, 28 de março de 2015

Uma fotografia cheia de artistas

Houve um tempo em que era possível reunir numa só fotografia grandes génios das artes e da cultura. Sobretudo nas décadas de 1920/30, em Paris, cidade onde se reunia a nata dos artistas de vanguarda (surrealismo futurismo, literatura, artes plásticas e cinema).
Senão, vejamos quem faz parte desta fotografia (datada de 1930).

Em cima: Paul Eluard, Jean Arp, Yves Tanguy e Rene Crevel
Em baixo: Tristan Tzara, Andre Breton, Salvador Dali, Max Ernst e Man Ray.

Ou seja, nesta imagem histórica estão reunidos quase todos os principais artistas de vanguarda da época. Para completar e enriquecer a fotografia só falta o realizador Luis Buñuel, que nesta altura já tinha realizado a curta-metragem surrealista "Un Chien Andalou" (1929) com Salvador Dali e era amigo de quase todos estes visionários.

quarta-feira, 18 de março de 2015

A educação do meu gosto - 3

A educação do  meu gosto - Literatura

Somos o que somos e gostamos do que gostamos porque estivemos sob influências de determinadas condicionantes. Ou como diria Ortega y Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância”.




Comecei a ler relativamente tarde. Ao contrário do meu gosto pela música que começou bastante cedo (12 anos), a leitura foi um prazer tardio. Lembro-me de ler durante horas banda desenhada – Hugo Pratt, Michel Vaillant, Quino (Mafalda), Lucky Luke, Asterix e super-heróis da Marvel. A leitura de livros sem imagens foi iniciada volta dos meus 17 anos com policiais: Agatha Cristie, George Simenon e Raymond Chandler. O mesmo amigo que me despertou para Tarkovski era um fã de Franz Kafka e passou-me esse entusiasmo: “A Metamorphose” e “O Processo” foram um choque. 

De Kafka passei para os contos de Edgar Allan Poe e Lovecraft, os surrealistas (André Breton, Apollinaire…) e essas obras negras e fascinantes chamadas “Os Cantos de Maldoror” de Lautréamont e "Filosofia na Alcova" do Marquês de Sade. A leitura de "Siddharta" de Herman Hesse aos 19 anos foi toda uma epifania. O mesmo amigo que me gravava as cassetes “Heterodoxos” introduziu-me nas teorias sociais e culturais revolucionárias do Situacionismo com o livro “A Sociedade do Espectáculo” de Guy Debord e nos movimentos de ruptura artística do Dadaísmo, Futurismo, Beat e Fluxus. Desenvolvi um gosto pelos autores "malditos" e fora do mainstream literário. O meu gosto pela leitura foi-se acentuando até ler autores tão díspares quanto Holderlin, Artaud, Proust, Hemingway, Bukowski, Camus, Genet, Michaux, Burroughs, Schopenhauer, Kierkegaard, Stig Dagerman, James Joyce, Albert Cossery, Italo Calvino, Unamuno, Oscar Wilde, Henry Miller, Philip Roth, Conrad, Mishima, Bataille entre dezenas de outros. Não sei bem porquê mas nunca consegui adentrar-me nos russos (Dostoievski, Tolstoi, Tchekov, Gogol...).

Desenvolvi um fervor especial pela leitura de livros de ensaios de música, arte, cinema e livros históricos sobre a 2ª Guerra Mundial, tendo um fascínio especial pela história do Holocausto. Interessei-me pelas (auto)biografias de artistas e por vastos temas relacionados com a cultura digital/cibernética dos nossos dias.

Não sei exactamente em que medida, mas sei que a leitura (e aquilo que li ao longo da minha vida) foi essencial para definir o que (sei) sou hoje.

Imagem: pormenor da minha biblioteca.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Luiz Pacheco - As entrevistas

Luiz Pacheco foi um provocador por natureza que soube como poucos espicaçar sem pudores o meio literário português, como quando inventou o “Neo-Abjeccionismo” para gozar com o Neo-Realismo (na altura vigente). Foi uma das personalidades mais insurrectas, marginais e criativas da literatura portuguesa do século XX (na esteira de Almada Negreiros e Mário Cesariny).
Pacheco foi um verdadeiro meteoro da escrita e da crítica, fulgurante espírito de sagaz mordacidade, capaz de descarnar as palavras da língua mãe como quem tosquia a lã de uma ovelha. 

Acaba de ser lançado um livro editado pela editora Tinta da China - "O Crocodilo Que Voa" - que compila as entrevistas (politicamente incorrectas) mais importantes que a comunicação social lhe fez durante os seus últimos anos de vida. Altamente recomendável.

No longínquo ano de 2007 foi realizado um documentário sobre a figura icónica de Luiz Pacheco e eu escrevi dois posts sobre o autor e o referido documentário: aqui e aqui.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A história da música industrial



Um dos géneros musicais mais radicais e revolucionários da segunda metade do século XX foi o industrial (que  muito me marcou na adolescência). A música industrial correspondia ao espírito mais insurrecto e alternativo dos músicos pouco satisfeitos com o rumo político e social da sociedade, muito ligada à arte, literatura e filosofia mais subversivas: desde Marquês de Sade a Nietzsche e Lautréamont, de William S. Burroughs a Philip K. Dick, do Surrealismo ao Futurismo. Nascida nos finais dos anos 1970, a música industrial conciliou uma grande fusão de tendências e estilos. Desde a música electrónica mais experimental e vanguardista (música concreta e electro-acústica), ao noise-rock, à energia da No-Wave e do Krautrock (rock vanguardista alemão).

Um dado novo veio revolucionar a cena musical: a música industrial socorre-se da parafernália mecânica e tecnológica das fábricas decadentes, própria das sociedades modernas. Ou seja, usa as ferramentas dessas fábricas como instrumentos musicais para fazer música: bidões metálicos, martelos pneumáticos, serras eléctricas, utensílios fabris diversos com efeitos sonoros originais, etc. A música industrial era ideologicamente pessimista, crítica da sociedade actual, avessa à fama e ao dinheiro. A sonoridade era compatível com estas características, com uns grupos mais radicais e extremos do que outros, mas todos com vontade de subverter as normas convencionais da música com muito ruído à mistura. Os músicos e bandas deste estilo preocupavam-se com a criação de sonoridades abrasivas, com efeito de choque sonoro imediato, de grande e extrema amplitude estética.


Grupos como Throbbing Gristle (na imagem), Cabaret Voltaire, SPK, Test Dept, Click Click, NON / Boyd Rice, Clock DVA, Z'EV, In The Nursery ou Klinik definiram um género de culto que só teria decréscimo criativo a partir da segunda metade dos anos 90. Um grupo alemão irrompeu em força no panorama industrial nos anos 80: Einstürzende Neubauten, colectivo de músicos radicais liderados pelo carismático Blixa Bargeld. Tive a oportunidade de os ver ao vivo em Lisboa há 22 anos e foi uma experiência arrepiante (voltam agora para o próximo festival NOS Primavera Sound).

Tudo para dizer que agora surgiu, finalmente, um documentário que tenta explicar o nascimento e evolução deste peculiaríssimo e alternativo género de culto: "Industrial Soundtrack For The Urban Decay", no qual muitos dos nomes citados são entrevistados. 

Eis o trailer.
E eis uma brevíssima e concisa explicação do que é a música industrial.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A felicidade obsessiva


Numa entrevista ao jornal Expresso o psiquiatra Carlos Amaral Dias responde assim à pergunta se era um feliz: "Não acredito no conceito de felicidade. É uma nivelação por baixo daquilo que se pode esperar da vida - e o que se pode esperar da vida é a capacidade de tirar prazer da existência humana, sabendo coabitar ao mesmo tempo com o sofrimento que é inerente à espécie. Felizes, podem ser, talvez, os besouros... A felicidade é um conceito utópico e eu não gosto de utopias."

Concordo. Vivemos numa época na qual se vende felicidade ao desbarato. As livrarias encehmse quase diariamente de livros que prometem soluções mágicas para sermos mais felizes (os quatro livros destas imagens são apenas exemplos, há dezenas de outros). Ora, a sociedade do espectáculo e do consumo sugerem a venda de produtos comerciais e de bens que levam as pessoas a serem, superficialmente, mais felizes. Os livros de auto-ajuda que prometem alcançar a eterna felicidade enchem os escaparates das livrarias. A felicidade é vendida através de livros de filósofos, psicólogos, sociólogos, políticos, religiões, publicidade, televisão, que nos induzem a obrigatoriedade de ser feliz, a todo o custo. Claro que todos queremos bem-estar, segurança e paz (elementos da felicidade), mas a vida é um conjunto complexo de contradições e frustrações, de sentimentos paradoxais e é importante saber lidar com eles.

Há pessoas verdadeiramente viciadas na busca da felicidade, seja por métodos naturais (como a prática do Yoga ou do Reiki) ou por métodos artificiais (drogas e álcool). O mundo da psicologia inventou até uma nova área de investigação, a chamada "psicologia positiva", dedicada a encontrar formas de melhorar a felicidade, do envolvimento e do significado. Os psicólogos que praticam esta variante de terapia são pioneiros num novo tipo de ciência, a "ciência da felicidade", que tenta ensinar-nos a ficar felizes e a razão pela qual o devemos ser. É de tal forma um tema obsessivo que já se instituiu o "Dia Internacional da Felicidade" e o "Dia Mais Infeliz do Ano".
Daí que venha mesmo a calhar um livro que rema contra esta corrente: tem o sugestivo título "Contra a Felicidade - Em Defesa da Melancolia", do académico Eric G. Wilson. Um livro que subverte o pensamento consensual, defendendo que a melancolia e a tristeza são sentimentos inerentes à condição humana e necessários a qualquer cultura florescente, sendo a musa da grande literatura, pintura, música e inovação. Eis o que diz Eric G. Wilson: "Basta de Prozac nos nossos cérebros. Aceitemos as nossas facetas depressivas enquanto fontes de criatividade. Ao idolatrar o ideal de felicidade, o indivíduo cega-se para o mundo e vacila perante a mais pequena contrariedade. A nossa cultura parece tratar a melancolia como estado aberrante, como vil ameaça à noção de felicidade, como gratificação imediata, felicidade como conforto superficial." 

A dualidade entre sentimentos contraditórios (melancolia/tristeza versus felicidade/alegria) já proporcionou milhares de livros, poemas, ensaios, filmes e canções. No fundo, trata-se de uma discussão que se irá eternizar enquanto houver homem à superfície da terra. Seja como for, este livro de Eric G. Wilson representa um abanão face às convenções sociais da actualidade e, apesar de ter sido editado há já 6 anos, continua a ser cada vez mais actual, contrariando a avalanche incontida de livros que ajudam a encontrar a felicidade como se este fosse o único e insofismável paradigma existencial possível.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Top 2014 - Livros

Confesso que foi um ano de escassa e irregular leitura. Ainda não terminei de ler alguns destes títulos (ensaios e romances). Entretanto, tenho outros em "fila de espera" que irão ser degustados só no decorrer do novo ano.
Ei-los:



“O Rei Pálido” – David Foster Wallace
“So This is Permanence. Ian Curtis and Joy Division Lyrics and Notebook” – Deborah Curtis & Jon Savage
“Entrevistas de Nuremberga” – Leon Goldensohn
“No Café das Juventude Perdida” – Patrick Modiano
“Jacques o Fatalista” - Denis Diderot
“A Verdadeira História das SS” – Adrian Weale
“Nove Histórias” – J.D. Salinger
“Lei Seca” – Pedro Mexia
“Obra Completa” – Álvaro de Campos
“Teremos Sempre Paris” Ray Bradbury
"Bifes Mal Passados" - João Magueijo
“O Caminho do Sacrifício” – Fritz Von Unruh
“Não Humano” – Osamu Dazai
"Cansaço, Tédio, Desassossego" - José Gil
“Diários de Viagem” – Franz Kafka
A Instável Leveza do Rock” – Paula Guerra
“O Capitalismo Estético na Era da Globalização” – Gilles Lipovestsy & Jean Serroy
“Machinas Fallantes - A Música Gravada em Portugal no início do Século XX” – Leonor Losa






















quarta-feira, 26 de novembro de 2014

As casas dos escritores

Muito do imaginário cultural e social da América passa pela arquitectura e, especialmente, das casas. As casas do Mississipi são diferentes das casas de Nova Iorque ou de New Jersey. Cada estilo de casa representa uma forma de identidade urbana (ou rural) muito específica na experiência quotidiana dos americanos.
Ora, a Google Maps resolveu investigar e mapeou as casas americanas onde viveram, não cidadãos comuns, mas sim ilustres escritores. Como esta primeira imagem que documenta a casa onde viveu Jack Kerouac, na Florida; e a segunda imagem que ilustra a casa de John Updike na Filadelphia. 

Para conhecer muitas outras casas de escritores clicar aqui e aqui.



terça-feira, 25 de novembro de 2014

Pessoa em edição especial

Edição de luxo (capas em madeira!) de "As Flores do Mal" de Fernando Pessoa com fotografias de Pedro Norton. Um belo objecto cultural numa época digital que dissemina a desmaterialização do livro.
"As Flores do Mal" é o livro dos vícios de Fernando Pessoa: absinto e aguardente, ópio e morfina, tabaco e muitos fumos, tal qual Pessoa e os seus heterónimos os sentiram e os cantaram. No total são 32 textos e poemas de Pessoa e respectivos heterónimos. São textos de inocência e abandono, textos de decadência e confissão - acompanhados por fotografias insubmissas - que nos dão a ler Fernando Pessoa como nunca o lemos.

Pena o preço elevado: 55€

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ian Curtis: livro essencial


O livro "So This is Permanence" (Faber & Faber) de Ian Curtis é já uma das melhores edições do ano. A edição é da viúva do líder dos Joy Division, Deborah Curtis e do reputado jornalista musical Jon Savage. São quase 300 páginas em capa dura, formato A4, contendo todas as letras de Ian Curtis manuscritas, apontamentos, letras originais, cartas de fãs, textos de jornais e fanzines da época, capas dos livros de preferência de Ian, etc.

A Deborah Curtis e o Jon Savage (sobretudo este) também escrevem textos muito interessantes sobre as dimensões da lírica de Curtis no seio da banda. Essencial para os fãs dos Joy Division, portanto. 

Uma das coisas mais interessantes em Ian Curtis (falecido com apenas 23 anos de idade), é que muito do seu talento e criatividade foram conseguidos à custa de muita leitura. Ian lia compulsivamente desde a adolescência, isto porque na sua apática e pequena cidade de Macclesfield (a 40km de Manchester) pouco mais havia a fazer do que ouvir música e ler. Ian lia alguma da melhor e mais alternativa literatura do século XIX e XX, cultivando a sua mente para as fascinantes e obscuras poesias das canções dos Joy Division.

Segundo este livro "So This is Permanence", Ian Curtis leu apaixonadamente os seguintes autores:

- Friedich Nietzsche
- Franz Kafka
- Rimbaud
- Oscar Wilde
- Antonin Artaud
- H.P. Lovecraft
- Nikolai Gogol
- Baudelaire
- Edga Allan Poe
- T.S. Eliot
- J.G. Ballard
- William S. Burroughs
- Jean-Paul Sartre
- Hermann Hesse
- Dostoievsky
- Aldous Huxley
- Anthony Burgess

E pensando bem, muitos destes escritores e poetas, reflectem-se nas letras de Ian Curtis.

O livro encontra-se à venda na Fnac online por apenas 16,43€ (já com portes incluídos).



domingo, 26 de outubro de 2014

O primeiro Jodorowsky

Enquanto não chega a última extravagância cinematográfica de Alejandro Jodorowsky - "A Dança da Realidade" (que deu que falar no último festival de Cannes) nada como voltar ao início da carreira deste singular realizador e perceber como tudo começou. 
Em 1957, o ainda jovem Jodorowsky, quase sem experiência no cinema - mas motivado por Jean Cocteau - filmou em Paris a sua primeira curta-metragem, "La Cravate" ("A Gravata"), uma versão muda de um conto do grande escritor Thomas Mann.
A história tem uma forte vertente surrealista (que marcaria a carreira futura do cineasta), porque a história centra-se numa mulher que vende cabeças. Um jovem que quer conquistá-la (o próprio Jodorowsky como actor) muda de cabeça e de personalidade como estratégia para os seus objectivos. 
Ao mesmo tempo divertido, bizarro e visualmente sugestivo, eis o primeiríssimo filme do realizador chileno.

O filme, considerado perdido, foi encontrado na Alemanha em 2006. Tem apenas 20 minutos.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Para que serve a literatura?

Para que serve a literatura? Mesmo que julgue ter a resposta, sugiro ver esta pequena e surpreendente animação que explica a função dos livros nas nossas vidas.
 

domingo, 14 de setembro de 2014

Já não há tempo nem paciência


Quando era novo tinha tempo para tudo. Não havia internet nem gadgets electrónicos. Nesse tempo, escrevia e recebia centenas de cartas com pessoas que partilhavam os mesmos interesses que eu: música, cinema e artes. Lia muito e via muitos filmes. E sempre me dediquei aos estudos. Aos 17, 18, 20 anos, ia ao cinema ver tudo: filmes bons, razoáveis e maus (era uma sofreguidão). Só em contacto com experiências artísticas boas e más é que formei o meu gosto cultural. E conversas, muitas conversas de partilha de conhecimento com amigos mais velhos e sabedores. Repito: num tempo sem internet.

Mas agora tenho 45 anos. E sinto que já não tenho tempo, nem paciência, para conhecer objectos culturais e artísticos superficiais que a sociedade de consumo nos impinge diariamente. Só tenho tempo para fruir o que é realmente muito bom. Ou, pelo menos, bom. Estou cada vez mais selectivo no que consumo culturalmente. Isto é, já não perco tempo a ver filmes que sei que, à partida, são fracassos ou medíocres. Nem ler livros que não sejam realmente muito bons. Ou ouvir discos que não me proporcionem prazer, que me surpreendam ou me inquietem o espírito. 

Ou seja, cheguei a uma fase da minha vida que não arrisco perder tempo com coisas fúteis ou até, minimamente, razoáveis. Numa era de avalanche de informação (e não de conhecimento), de uma oferta de livros nunca vista, de semanas de estreias com 10 filmes, de overdose de música na internet, há que saber distinguir a qualidade (cada vez mais escassa) do puro lixo ou do entretenimento disfarçado de cultura.

Tento concentrar-me no que realmente interessa e exijo o melhor: o grande cinema, a grande música, a grande literatura. Perguntam: e qual é o meu entendimento de "grande cinema", "grande música" e "grande literatura"? Bom, se acompanham há algum tempo este blog acho que já terei deixado algumas pistas. Seja como for, serão sempre aquelas manifestações que eu considero verdadeiramente de grande valor artístico e que estimulam o nosso intelecto e mudam a nossa vida (para melhor).

E é só com isto que eu quero concentrar-me para o resto da minha vida. 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

"Os Maias" no cinema

Depois de uma bem sucedida adaptação ao cinema da difícil obra literária "O Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa, o realizador João Botelho arrisca agora ainda mais ao adaptar - segundo consta, com total respeito pelo texto literário - uma das obras maiores da literatura portuguesa: "Os Maias" de Eça de Queirós. 
Pelo trailer, constata-se uma realização segura e uma boa recriação de época (com cenários assumidamente pintados) da Lisboa de final do século XIX. Mas certamente que não será um filme que irá agradar a todos, mas poderá confirmar-se como um marco do cinema português contemporâneo. 
 Estreia no dia 11 de Setembro. 

sábado, 23 de agosto de 2014

Como ser Não-Humano



É o melhor livro que li nestas férias e, por ser pequeno (130 páginas), lê-se de um fòlego. Uma das mais importantes obras literárias japonesas "malditas" do pós-guerra de um atormentado escritor - Ozamu Dazai (na imagem) - que cometeu suicídio aos 39 anos.
Obra literária profundamente existencialista sobre a condição humana, pungente na narrativa e "directa ao osso".

Eis a sinopse:
"Não-Humano apresenta-nos a imagem de um homem que carrega as suas misérias, fraquezas e amores, como um sino de um leproso pelo mundo, a imagem da nossa simples humanidade.  uma das obras mais influentes e mais populares da literatura japonesa do pós-Guerra. Último romance de Osamu Dazai, o livro faz eco dos sentimentos da jovem geração que vive a dolorosa passagem para uma nova sociedade individualizada e tecnológica.
Descrevendo-se como um falhado e alguém que vive à margem da sociedade, Yozo, o protagonista de Não-humano, enfrenta desde a sua infância uma existência de extrema solidão, causada pela sua total incapacidade em compreender os seres humanos, que teme e dos quais se esconde atrás de uma máscara cómica. Esta sua insuperável inadequação a uma vida normal, pautada por tormentosas relações com as mulheres e crescente desespero, levá-lo-á a uma progressiva alienação da sociedade com consequências trágicas."

Edição Cavalo de Ferro, 2014. À venda na Fnac ou Bertrand.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Outra visão sobre Nuremberga


Interesso-me particularmente pela história da Segunda Guerra Mundial. Devoro informação sobre muitos temas relativos à guerra que devastou (pela segunda vez) a Europa: livros, filmes e documentários (ainda há poucas semanas terminei de ver o monumental documentário de 9 horas "Shoah" de Claude Lanzamann sobre o Holocausto). Gosto sobretudo de ler sobre a Alemanha nazi, a ascenção e queda de Hitler, dos seus colaboradores, das batalhas decisivas, da componente militar, económica, social e do holocausto que a Segunda Guerra suscitou.
Não esquecer que há apenas 2 anos sairam dois excelentes filmes enquadrados historicamente na Segunda Guerra Mundial: "Hannah Arendt" de Margarethe von Trota sobre o julgamento de mentor do Holocausto nazi, Adolf Eichmann, e "Lore" de Cate Shortland sobre uma adolescente em fuga da invasão nazi - ambos abordados neste blogue.

No que toca a literatura, o último livro sobre o assunto publicado em Portugal é este "Entrevistas de Nuremberga - Revelações dos Nazis a Um Psiquiatra". O seu autor (na imagem em cima), o psiquiatra americano Leon Goldensohn, foi o responsável por entrevistar (entre 1945-46), durante os julgamentos naquela cidade alemã, alguns dos mais cruéis e fanáticos militares da cúpula do temível Terceiro Reich como Goering, Ribbentrop, Donitz, Speer, Hess entre outros.
O livro foi lançado no mercado há dias pela editora Tinta da China em formato de bolso (mesmo assim são 500 páginas). O fascínio da sua leitura prende completamente a atenção do leitor (e ainda apenas li a introdução e dois capítulos): em discurso directo, os criminosos nazis explicam a sua visão das atrocidades do regime de Hitler, assim como se tenta compreender a mentalidade e a ideologia que os guiou antes e durante a terrível guerra. Estamos, pois, perante um documento histórico ímpar, frio, cerebral e puramente analítico sobre os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial e alguns dos seus mais detacados protagonistas. Sem espinhas, portanto.

Existe um razoável filme (para televisão) de 2000 com base nos julgamentos de Nuremberga (com Alec Baldwin como protagonista) e um excelente filme realizado por Stanley Kramer em 1961. Mas porventura nenhum explorou esta faceta inédita estudada por Leon Goldensohn, uma vez que não é propriamente a análise do julgamento judicial que é o foco de estudo, mas sim o descortinar dos perfis psicológicos (e psiquiátricos) e das motivações político-ideológicas destas altas patentes militares nazis responsáveis por crimes abomináveis.
Altamente recomendável, sobretudo para os interessados no tema.

E quem sabe não poderá sair deste livro uma bela adaptação par cinema? Steven Spielberg como realizador? Martin Scorsese?...


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Campeonatos

Se há um campeonato do mundo de futebol, porque é que não pode haver um campeonato do mundo de cinema? Ou um campeonato do mundo de literatura ou de música?... De quatro em quatro anos juntavam-se os melhores países que competiam entre si para ver qual o melhor filme, o melhor disco ou o melhor livro. Sem árbitros, apenas com a apreciação crítica do público que encheria estádios... de futebol.