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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Cinéfilo, eu?

Por vezes discute-se o que é ser cinéfilo. Segundo João Bénard da Costa, ex-Director da Cinemateca Portuguesa, há uma significativa diferença entre "gostar" de cinema e "amar" o cinema.
E é verdade que esta diferença define o que é um verdadeiro cinéfilo e um espectador vulgar de cinema.
Repare-se na seguinte tabela comparativa que elaborei. Não se trata de um estudo científico e académico. É aquilo que a minha intuição e experiência dizem: uma pessoa que goste de cinema e que tenha alguns conhecimentos, fará uma lista de preferências como aquelas que estão na tabela da esquerda. Será, por assim dizer, um Cinéfilo QB (quanto baste). Mas para os mesmo filmes haverá o verdadeiro Cinéfilo, aquele que tem um conhecimento mais profundo da história do cinema e um gosto mais definido, por isso, escolhe outros filmes menos conhecidos dos mesmos cineastas.

Cinéfilo QB                                                                          Cinéfilo
"Citizen Kane"-------------------Orson Welles ------------------"Macbeth" (1948)
"2001 - Odisseia no Espaço"---Stanley Kubrick---------------"The Killing" (1956)
"O Sétimo Selo"-----------------Ingmar Bergman-------------"A Fonte da Donzela" (1959)
"Manhattan"----------------------Woody Allen-------------------"Zelig" (1983)
"Janela Indiscreta"---------------Alfred Hitchcock--------------"The Lodger" (1927)
"A Lista de Schindler"----------Steven Spielberg---------------"Duel" (1971)
"Nosferatu"-----------------------F.W. Murnau-------------------"Tabu" (1933)
"O Padrinho"---------------------Francis Coppola----------------"Rumble Fish" (1983)
"O Touro Enraivecido"---------Martin Scorsese-----------------"Mean Streats" (1973

Depois há outra facção de cinéfilos, que são os hardcore, aqueles "ratos de cinemateca" que acham que até os filmes da coluna da direita são demasiado mainstream para o seu gosto refinado. Estes cinéfilos hardcore gostam é dos clássicos mais obscuros, dos títulos de culto das sessões da meia-noite e de festivais de cinema independentes. São os amantes incondicionais do cinema mais alternativo/vanguardista, formando uma espécie de elite cinéfila.

Uma lista de filmes preferidos dos Cinéfilos Hardcore será por exemplo assim:

"Meshes of the Afternoon" (1943) - Maya Deren 
"Woman in The Dunes" (1964) - Hiroshi Teshigahara
"Pastoral: To Die In The Country" (1974) - Shuji Terayama
"Warning Shadows" (1923) - Arthur Robinson
"Thunderbolt" (1929) - Josef von Sternberg
"The Stranger on The Third Floor" (1940) - Boris Ingster
"Begotten" (1990) - E. Elias Merhige
"O Quadro Negro" (2000) - Samira Makhmalbaf
"Daisies" (1966) - Vera Chytilová
"Flaming Creatures" (1963) - Jack Smith
"O Anjo das Ruas" (1928) - Frank Borzage
"My Degeneration" (1990) - Jon Moritsugu
"Love Making"  (1969) - Stan Brakhage

E o caro leitor, em que categoria de cinéfilo se integra?

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Outra visão sobre Nuremberga


Interesso-me particularmente pela história da Segunda Guerra Mundial. Devoro informação sobre muitos temas relativos à guerra que devastou (pela segunda vez) a Europa: livros, filmes e documentários (ainda há poucas semanas terminei de ver o monumental documentário de 9 horas "Shoah" de Claude Lanzamann sobre o Holocausto). Gosto sobretudo de ler sobre a Alemanha nazi, a ascenção e queda de Hitler, dos seus colaboradores, das batalhas decisivas, da componente militar, económica, social e do holocausto que a Segunda Guerra suscitou.
Não esquecer que há apenas 2 anos sairam dois excelentes filmes enquadrados historicamente na Segunda Guerra Mundial: "Hannah Arendt" de Margarethe von Trota sobre o julgamento de mentor do Holocausto nazi, Adolf Eichmann, e "Lore" de Cate Shortland sobre uma adolescente em fuga da invasão nazi - ambos abordados neste blogue.

No que toca a literatura, o último livro sobre o assunto publicado em Portugal é este "Entrevistas de Nuremberga - Revelações dos Nazis a Um Psiquiatra". O seu autor (na imagem em cima), o psiquiatra americano Leon Goldensohn, foi o responsável por entrevistar (entre 1945-46), durante os julgamentos naquela cidade alemã, alguns dos mais cruéis e fanáticos militares da cúpula do temível Terceiro Reich como Goering, Ribbentrop, Donitz, Speer, Hess entre outros.
O livro foi lançado no mercado há dias pela editora Tinta da China em formato de bolso (mesmo assim são 500 páginas). O fascínio da sua leitura prende completamente a atenção do leitor (e ainda apenas li a introdução e dois capítulos): em discurso directo, os criminosos nazis explicam a sua visão das atrocidades do regime de Hitler, assim como se tenta compreender a mentalidade e a ideologia que os guiou antes e durante a terrível guerra. Estamos, pois, perante um documento histórico ímpar, frio, cerebral e puramente analítico sobre os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial e alguns dos seus mais detacados protagonistas. Sem espinhas, portanto.

Existe um razoável filme (para televisão) de 2000 com base nos julgamentos de Nuremberga (com Alec Baldwin como protagonista) e um excelente filme realizado por Stanley Kramer em 1961. Mas porventura nenhum explorou esta faceta inédita estudada por Leon Goldensohn, uma vez que não é propriamente a análise do julgamento judicial que é o foco de estudo, mas sim o descortinar dos perfis psicológicos (e psiquiátricos) e das motivações político-ideológicas destas altas patentes militares nazis responsáveis por crimes abomináveis.
Altamente recomendável, sobretudo para os interessados no tema.

E quem sabe não poderá sair deste livro uma bela adaptação par cinema? Steven Spielberg como realizador? Martin Scorsese?...


sábado, 5 de julho de 2014

Estórias e Misérias de Hollywood #7

"A Casa Branca também foi uma Cinemateca. Eram conhecidos os domingos cinéfilos organizados pelo presidente Ronald Reagan. Eventos de gala exclusivos com 30 estrelas convidadas por sessão, como Spielberg ou Warren Beaty e outros liberais democratas. Parece que Reagan ficou particularmente tocado por 'The Day After'. O seu biógrafo conta que a única vez que viu Reagan publicamente deprimido foi depois do visionamento desse filme que narra os devastadores e sinistros efeitos de uma guerra nuclear em solo americano.
Há quem acredite que esse filme quase documental te-lo-á feito repensar a sua estratégia no auge da Guerra Fria. Reza a lenda que Reagan enviou um telegrama ao realizador Nicholas Meyer a confessar-lhe a influência do seu filme no pacto de desarmamento nuclear assinado na conferência de Reykjavik"

In: "Hollywood: Estórias de Glamour e Miséria no Império do Cinema" - Edgar Pêra

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Grandes filmes antes dos 30 anos

Neste post - bastante comentado - abordei os primeiros grandes filmes realizados por jovens cineastas. Aquelas primeiras obras fabulosas que marcaram a restante filmografia do cineasta e até da história do cinema. Mas nem todos esses realizadores eram jovens realizadores. Quantos realizadores se podem orgulhar de terem feito primeiras obras de inexcedível qualidade antes dos 30 anos de idade?

Eis quinze filmes da minha preferência pessoal no rol de cineastas que assinaram filmes superlativos até aos 30 anos de idade (ordenados por ordem crescente de preferência, título do filme, ano, realizador e respectiva idade à data da realização do filme):

15 - "As Aventuras de Pee Wee" (1985) - Tim Burton (27 anos)
14 - "Little Odessa" (1994) - James Gray (24 anos)
13 - "Paths of Glory" (1957) - Stanley Kubrick (29 anos)
12 - "American Graffiti" (1973) - George Lucas (29 anos)
11 - "Os 400 Golpes" (1959) - François Truffaut (27 anos)
10 - "Sherlock Jr." (1924) - Buster Keaton (29 anos)
9 - "Magnolia" (1999) - Paul Thomas Anderson (29 anos)
8 - "Reservoir Dogs" (1992) - Quentin Tarantino (29 anos)
7 - "Pi" (1998) - Darren Aronofsky (30 anos)
6 - "Duel" (1971) - Steven Spielberg (25 anos)
5 - "Sexo, Mentiras e Vídeo" (1989) - Steven Soderbergh (26 anos)
4 - "Magnificent Ambersons" (1942) - Orson Welles (27 anos)
3 - "Un Chien Andalou" (1929) - Luís Buñuel (29 anos)
2 - "Citizen Kane" (1941) - Orson Welles (26 anos)
1 - "O Couraçado Potemkine" (1925) - Sergei Eisenstein (27 anos)

domingo, 21 de julho de 2013

Diálogos minimalistas


Há filmes com muitos diálogos e filmes minimalistas com quase nenhuns diálogos. Ter muitos ou poucos diálogos num filme não é forçosamente um indício de filme medíocre ou de filme muito bom. Depende de outros factores, como a qualidade do enredo, da realização e, sobretudo, da interpretação. 
O site Flavorwire elaborou uma lista de 10 filmes caracterizados por uma espartana economia de diálogos. Por acaso, desta lista, considero que são todos filmes bons e interessantes, mas fazendo um esforço de memória dou-me conta que faltam exemplos demonstrativos do minimalismo de diálogos no cinema, como: "Gerry" (2002) de Gus Van Sant, "Duel" (1971) de Steven Spielberg, "O Cavalo de Turim" (2012) de Béla Tarr, "Solaris" (1972) de Andrei Tarkovski, "O Náufrago" (2000) de Robert Zemeckis, "Ossos" de Pedro Costa, "Ariel" (1988) de Aki Kaurismaki ou "Mãe e Filho" (1997) de Alexander Sokurov.
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Na imagem, "O Samurai" (1967) de Jean-Pierre Melville.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Outra forma de ver "Jurassic Park"

Por certo já viu o filme "Jurassic Park" (1993) de Steven Spielberg. Mas talvez nunca o tenha visto numa versão Flip Book. Isto é, numa animação em post-its:

domingo, 17 de março de 2013

A menina do casaco vermelho


Oliwia Dabrowska era uma menina de origem judaica de apenas 3 anos quando entrou no famoso filme "A Lista de Schindler" (1993) de Steven Spielberg. Ela vestia um casaco vermelho (a única mancha de cor de todo o filme), simbolizando o sangue e o sofrimento das vítimas do Holocausto Nazi.
O realizador sempre avisou a família da pequena para que visse o filme apenas quando atingisse os 18 anos. À revelia deste conselho, Oliwia visionou o filme com 11 anos e teve esta reacção: "Foi horrível, fiquei envergonhada e zangada com os meus pais por me terem deixado entrar no filme"
Quando fez 18 anos voltou a ver o filme e, com uma maturidade mais bem formada, compreendeu o significado histórico da obra de Spielberg e até ganhou orgulho por ter participado no mesmo.
Nota: esta  notícia veio a público há uma semana no jornal britânico The Times e foi reproduzida no último número da revista Sábado.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Os injustiçados

Enquanto não se conhecem os vencedores da 85ª Cerimónia dos Óscares, eis algumas curiosidades que geraram grandes injustiças:

- Charlie Chaplin ganhou um Óscar honorário em 1929, na primeira edição dos Óscares. Recebeu um outro Óscar Honorário em 1972 e em 1973 ganhou o seu único Óscar em competição pela banda sonora de "Limelight", um filme originalmente realizado em 1952. 

- Alfred Hitchcock recebeu o seu Óscar Honorário em 1968 e nunca ganhou em regime de competição apesar de ter sido nomeado cinco vezes como melhor realizador e de ter recebido 50 nomeações no total. 

- Henry Fonda foi nomeado duas vezes pelos grandes filmes clássicos "The Grapes of Wrath" e "12 Angry Men" mas não ganhou. Para compensar, recebeu em 1981 o habitual Óscar Honorário. 

- Stanley Kubrick, nomeado inúmeras vezes, apenas ganhou uma vez pelos efeitos especiais de "2001: Odisseia no Espaço". 

- Steven Spielberg foi nomeado para os filmes de grande espectáculo "Encontros Imediatos do 3º Grau", "Indiana Jones e a Arca Perdida" e ET - O Extraterreste" mas não ganhou qualquer Óscar por estes filmes. Apenas viria a ganhar com os seus filmes ditos "sérios": "A Lista de Schindler" e "O Resgate do Soldado Ryan".

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O mito de "Jaws"


Vi um documentário sobre os 35 anos de "Jaws" (1975) no canal por cabo Biography, segundo filme de Steven Spielberg (depois da brilhante estreia com "Duel - Um Assassino Pelas Costas" de 1971). Já sabia que "Tubarão" fora um marco na indústria cinematográfica de Hollywood, inaugurando o chamado "blockbuster de verão". 
Das ideias que fui recolhendo ao longo do referido documentário, eis as mais interessantes e curiosas:

- Steven Spielberg refere que "Jaws" representou a sua melhor e pior experiência de sempre no cinema.
- O processo de filmagem foi extremamente lento e difícil devido às condições marítimas e aos problemas mecânicos do tubarão.
- Foi largamente ultrapassado o tempo limite para a conclusão do filme e o orçamento previsto.
- Spielberg vivia todos os dias com o pressentimento aterrador de que o estúdio (Universal) rompesse com o contrato e o realizador nunca mais pudesse fazer filmes.
- Houve um clima hostil entre os actores Richard Dreyfuss e Robert Shaw (este morreria três anos após o filme, vítima de ataque cardíaco).
- Charlton Heston e Lee Marvin foram considerados para os papéis protagonistas, mas acabaram por não o ser.
- Spielberg baptizou o tubarão de "Bruce".
- Os principais responsáveis pelo filme (realizador e produtores) viveram momentos de grande ansiedade aquando da estreia porque desconheciam se iria ou não ser bem recebido pelo público.
- "Jaws" superou largamente todas as expectativas de bilheteira, ficando um ano inteiro em cartaz (67 milhões de espectadores só nos EUA), transformando-se numa das estreias mais rentáveis de sempre.
- O compositor John Williams explica que as duas ou três notas principais da sua banda sonora foram suficientes para criar uma sensação progressiva de suspense e medo. A primeira vez que Spielberg ouviu essa sequência musical minimalista reagiu a rir: "Ahah, John, está engraçado, mas mostra-me lá o que realmente compuseste para o tema principal do filme". Mais tarde, o realizador diria que sem a música de Williams, o filme nunca teria o impacto que teve.
- Spielberg, depois da experiência quase traumática das filmagens em alto mar, confessou que o seu próximo filme seria em terra bem firme e que nem filmaria cenas em banheiras (com água). Foi parcialmente verdade: o cineasta filmou a seguir o filme de ficção científica "Encontros Imediatos de 3º Grau", passava-se em terra firme mas teve duas cenas na casa de banho.
- Segundo os produtores de "Jaws", devido ao enorme sucesso do filme, aumentou em muito o número de biólogos marinhos nos EUA.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Top 2012 - Filmes

Depois do balanço dos discos do ano, os filmes. E com esta retrospectiva dou-me conta que, durante 2012,  estrearam mais filmes (de qualidade) que não vi do que aqueles que vi. 
Por exemplo, ainda não vi títulos que, porventura, poderiam constar na minha lista dos melhores do ano, tais como: "J. Edgar", "Attenberg", "Amor", "Holy Motors", "Le Havre", "César Deve Morrer", "Cloud Atlas", "O Gebo e a Sombra", "Killer Joe", "Looper", "Argo", "Ali - O Caçador", "Era Uma Vez na Anatólia", "Elena", "A Gruta dos Sonhos Perdidos", "Michael", "Enter The Void", "Mata-os Suavemente", "A Vida de Pi", "Deste Lado da Ressurreição"...
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Seja como for, os filmes que estrearam em 2012 que me deram mais prazer ver, são os seguintes:

1 - "O Cavalo de Turim" de Béla Tarr
2 - "Tabu" de Miguel Gomes
3 - "Moonrise Kingdom" de Wes Anderson
4 - "Shame" de Steve McQueen
5 - "Temos de Falar Sobre Kevin" de Lynne Ramsay
6 - "Oslo, 31 de Agosto" de Joachim Trier
7 - "A Invenção de Hugo" de Martin Scorsese
8 - "Take Shelter" de Jeff Nichols
9 - "Millennium 1 - Os Homens Que Odeiam as Mulheres" de David Fincher
10 - "4:44 Último Dia na Terra" de Abel Ferrara
11 - "Cosmopolis" de David Cronenberg
12 - "Os Descendentes" de Alexander Payne
13 - "O Miúdo da Bicicleta" dos irmãos Dardenne
14 - "Martha Marcy May Marlene" de Sean Durkin
15 - "The Grey" de John Carnahan
16 - "Cavalo de Guerra" de Steven Spielberg
17 - "Para Roma, Com Amor" de Woody Allen
18 - Frankenweenie" de Tim Burton:
19 - "Prometheus" de Ridley Scott
20 - "Amigos Improváveis" de Olivier Nakache
21 - "Albert Nobbs" de Rodrigo Garcia
22 - "A Minha Semana Com Marilyn" de Simon Curtis

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"Temos de Falar Sobre Kevin":






















"Take Shelter":















"O Cavalo de Turim":

domingo, 28 de outubro de 2012

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Música para cinema - uma abordagem




O cinema existe desde 28 de Dezembro de 1895, data em que as experiências incipientes dos irmãos Auguste e Louis Lumière, com o “cinematógrafo”, espantaram o público burguês do Grand Café de Paris. Os inventores do cinema lançaram as bases desta emergente linguagem artística com filmagens de um minuto, nas quais mostravam a vida quotidiana de cidadãos comuns.
Apesar do sucesso popular imediato daquelas sessões de projecção cinematográfica (por onde passou o escritor Eça de Queiroz), os irmãos Lumière não auguravam futuro para o cinema. Felizmente que outro francês, George Méliès (realizador do célebre filme “Viagem à Lua”, considerada a primeira ficção do cinema), não pensava da mesma forma e desenvolveu, sobremaneira, a linguagem cinematográfica, ainda que muito ligada à estética teatral. Depois, outros notáveis realizadores se encarregariam de desenvolver a linguagem do cinema de distintas formas.
O que é certo é que durante os primeiros 30 anos da sua história, o cinema foi mudo, mas não totalmente silencioso. Significa isto que o som estava ausente das imagens, apenas havendo um ou outro acompanhamento de piano ou de uma pequena orquestra durante a exibição pública, geralmente tocado por detrás da tela de projecção. Algumas ténues experiências foram feitas na conjugação som-imagem, nomeadamente, na utilização que alguns realizadores fizeram utilizando a música de compositores clássicos, como Saint-Saëns, Pizzetti ou Satie. Curiosamente, outros grandes compositores como Stravinsky, Bartók, Ravel ou Schoenberg, que se aventuraram na criação de música para filmes, manifestaram-se ineptos criadores de bandas sonoras para cinema. Daí que a relação entre o cinema e a música seja uma relação artística complexa e problemática, uma vez que se reveste de múltiplas facetas e visões distintas, levantando determinadas questões pertinentes que praticamente se mantêm vivas até hoje: será a música para cinema meramente ilustrativa? Os compositores para cinema são compositores de primeira ou de segunda? A banda sonora para filme é um género à parte da restante produção musical? Um filme fica mais rico se tiver sempre uma partitura original (como nos filmes Spielberg) ou bandas sonoras adaptadas (como nos filmes de Kubrick)?

Nos primórdios, por impossibilidade técnica, o filme era desprovido de som (banda sonora ou diálogos), e os realizadores e espectadores pouco se importavam com isso. A interpretação dos actores era mais física e expressiva, uma vez que o som dos diálogos era inexistente. Dava-se relevo às imagens e suas múltiplas formas expressivas. Quando o sonoro surgiu, no filme “The Jazz Singer” (1927, com o actor Al Jonhson a imitar um cantor de jazz negro), houve alguma resistência por parte de grandes vultos do cinema à novidade técnica do som. O próprio Charlie Chaplin chegou a dizer que o som iria “matar o cinema”. E Greta Garbo foi das poucas actrizes que se conseguiu afirmar no período sonoro com a mesma veemência com que o tinha feito no mudo. A revolução do sonoro tinha começado. Apesar da ausência de som e de música, este foi um período extremamente criativo no que se refere à consolidação da linguagem artística do cinema, enquanto forma estética (montagem, realização, fotografia, cenários) e objecto semiótico (narrativo, ficcional, documental).

Determinados filmes foram efectivamente silenciosos durante décadas. Chaplin musicou, ele próprio, os filmes “Luzes da Cidade” (1931) e “Tempos Modernos” (1936) apenas durante a década de 60.
Buñuel fez o mesmo com a obra-prima “Un Chien Andalou” (1929), à qual adicionou a banda sonora (tango argentino) 35 anos depois da estreia. Ou seja, os realizadores de cinema cedo se aperceberam da grande importância que a música detinha como complemento das imagens. Por isso Eisenstein trabalhou logo em 1938 com o compositor Sergei Prokofiev, que compôs a banda sonora épica do filme “Alexander Nevsky”, num exemplo acabado da perfeita sincronia criativa entre imagem e som. Os sons (no sentido da sonorização da narrativa) e a banda sonora (a música propriamente dita com funcionalidade dramática) desempenham um motor emocional próprio no espectador, desencadeando reacções que não seriam possíveis caso não houvesse essa componente sonora.

Durante o período áureo da indústria de Hollywood - dos anos 40 a 60 do Século XX – revelaram-se grandes compositores para cinema: Bernard Herrmann. Elmer Bernstein, Nino Rota, Ennio Morricone, Henri Mancini, Alfred Newman entre muitos outros. Hoje qualquer cinéfilo identifica a ligação estética entre determinados cineastas e músicos: David Cronenberg e a música de Howard Shore, Sergio Leone e a música de Ennio Morricone, Steven Spielberg e a música de John Williams, Hitchcock e a música de Bernard Herrmann, Tim Burton e a música de Danny Elfman, Peter Greenaway e a música de Michael Nyman, etc. Durante os últimos anos, uma das estratégias de reabilitação do cinema mudo tem sido conseguido com o fenómeno dos cine-concertos (ou filmes-concertos).

Isto é, filmes que são acompanhados com música original interpretada ao vivo e em tempo real da projecção. Há inclusive compositores e grupos musicais que se dedicam exclusivamente à criação de bandas sonoras para filmes mudos. Projectos de diversas proveniências estéticas e nacionalidades têm criado música original para filmes imortais do período mudo: Art Zoyd, Pet Shop Boys, Cinematic Orchestra, Alloy Orchestra, Clã, Mário Laginha, Nuno Rebelo, etc.
No fundo, novos campos de experiências estéticas se abriram com a confluência dos filmes com os concertos ao vivo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

"Lincoln"

Foi divulgado há apenas umas horas o trailer oficial do aguardado filme "Lincoln" do realizador Steven Spielberg sobre o presidente norte-americano Abraham Lincoln. Basta assistir ao trailer para perceber que o actor que encarna Lincoln, o sempre sensacional Daniel Day-Lewis, arrisca ser nomeado ao Óscar de Melhor Actor na próxima cerimónia dos Óscares da Academia de Hollywood.
Aguardemos...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sabemos que no mundo do cinema muitos projectos mudam de mãos. Nesta perspectiva, eis alguns filmes clássicos que quase foram parar a outros realizadores:

- "Breakfast at Tiffany's" de Blake Edwards, quase realizado por John Frankenheimer
- "Harry Potter e a Pedra Filosofal" de Chris Columbus, quase realizado por Steven Spielberg.
- "O Padrinho" de Francis Coppola, quase realizado por Sergio Leone.
- "Tubarão" de Steven Spielberg, quase realizado por Dick Richards.
- "Dune" de David Lynch, quase realizado por Alejandro Jodorowsky.
- "O Exorcista" de William Friedkin, quase realizado por Peter Bogdanovich.
- "Alien" de Ridley Scott, quase realizado por Roger Corman.
- "A Face Oculta" de Marlon Brando, quase realizado por Stanley Kubrick.
- "Jurassic Park" de Steven Spielberg, quase realizado por Tim Burton.
- "Total Recall" de Paul Verhoeven, quase realizado por David Cronenberg.

sábado, 31 de março de 2012

O futuro visto por George Lucas

O primeiro filme realizado por George Lucas é uma obra de autor espantosa que, à altura da estreia (1971), fazia prever uma carreira altamente promissora (o filme é uma adaptação da curta-metragem que Lucas fez na época na faculdade).
"THX 1138" é uma obra negra e apocalíptica sobre um futuro asséptico onde a população é forçada a viver em grandes cidades subterrâneas controladas por computadores. Valores como liberdade, religião, desejos, indivualidade e sexo são proibidos, numa visão fria e perturbadora do futuro.

Todos são controlados por drogas que reprimem os seus pensamentos e os deixam dóceis para fazerem as suas funções na sociedade de maneira que não interfiram no "equilíbrio" da máquina social. Até que o humano THX-1138 (magnífico Robert Duvall) com a sua parceira desafiam o sistema, não apenas para defender o seu amor (que é proibido), mas para tentar escapar da cidade subterrânea e viverem livres no "mundo de cima". Parábola amarga, "THX 1138" faz uma avaliação do perigo da crescente dependência de tecnologia nas nossas vidas, coisa que já "Metropolis" (1927) de Fritz Lang antecipara. Mas George Lucas não abandona a crença de que, mesmo o homem mais comum, pode ser um rebelde e insurgir-se contra regimes altamente opressores.
Os cenários e a densa fotografia transmitem o vazio da sociedade, os personagens todos carecas assustam com as suas expressões mórbidas e padronizadas, os agentes da autoridade são autómatos com máscaras e o branco asséptico predomina como elemento de forte perturbação visual, psicológica e emocional.
A supressão do indivíduo pelo totalitarismo do sistema ganhou uma dimensão nova neste filme. E não é dificil notar as profundas influências de obras famosas como "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley e "1984" de George Orwell.
George Lucas foi muito ousado e criativo nesta fabulosa estreia no cinema. Curiosamente, tão ousado e brilhante como a estreia do seu colega e amigo Steven Spielberg com a sua primeira longa-metragem "Duel" (também realizada em 1971).
Para quem nunca viu, poderá fazer o download do filme aqui.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

John Williams vs. Alberto Iglesias


"A música actual para cinema abusa de lugares-comuns. Existe uma espécie de estilo internacional que serve para tudo. O estilo de John Williams está bem para naves espaciais e para dinossauros, que é o que faz, mas é mau quando utiliza este estilo para tudo com o intuito de chegar às nomeações a qualquer preço."
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Esta declaração foi proferida pelo compositor para cinema Alberto Iglesias numa entrevista ao jornal espanhol El Mundo. Iglesias ficou conhecido pelas bandas sonoras dos filmes de Pedro Almodóvar e nos últimos anos tem recebido o reconhecimento por aprte da Academia de Hollywood: obteve três nomeações ao Óscar de Melhor Banda Sonora Original. Este ano está nomeado pela música que compôs para o filme "Tinker Tailor Soldier Spy" de Thomas Alfredson.
Mas dificilmente conseguirá ganhar, porque no lote de nomeados está o veterano John Williams (tem 80 anos) que conta no currículo com um impressionante 'score': 5 Óscares e 47 nomeações em cinco décadas de carreira (e com muitos anos de colaboração com Steve Spielberg). Este ano está duplamente nomeado: pela composição para "As Aventuras de Tintin" e para "War Horse".
Mas a verdade é que, sem menosprezar o papel central que John Williams detém na história do cinema, eu concordo com a afirmação de Albert Iglesias. Ou seja: actualmente, o estilo de composição orquestral e épico de John Williams está datado e o compositor americano adapta-o a todo o tipo de género cinematográfico: dramas, aventuras, ficção científica, acção ou até comédias. A sua estética remeteu-se para um conservadorismo sem tréguas e para um caminho do qual não se vislumbra qualquer elemento de originalidade. E é claro que o seu estilo se adapta, como uma luva, ao gosto musical - também ele conservador - da Academia de Hollywood (longe vai o tempo em que Williams surpreendia com imensa criatividade como no filme "Tubarão").
O espanhol Alberto Iglesias é, sem dúvida, um talentoso compositor. E há outros talentosos e jovens compositores para cinema com ideias refrescantes e originais. Pena é que a Academia só premeie a previsibilidade e - pegando nas palavras de Iglesias - os "lugares-comuns".

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

As próximas grandes estreias


O semanário Expresso dedicou duas páginas na análise da temporada de estreias de cinema que se avizinha (entre Janeiro e Fevereiro). Foram 11 filmes citados.
De todos esses filmes, eis aqueles que, por ordem de expectativa e de preferência, mais aguardo:
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1- "The Artist" de Michel Hazanavicius
2 - "A Invenção de Hugo" de Martin Scorsese
3 - "Cosmópolis" (na imagem) de David Cronenberg
4 - "O Cavalo de Turim" de Béla Tarr (apesar de já ter visto)
5 - "J.Edgar" de Clint Eastwood
6 - "O Gebo e a Sombra" de Manoel de Oliveira
7 - "Millennium - Os Homens Que Odeiam as Mulheres" de David Fincher
8 - "Cavalo de Guerra" de Steven Spielberg
9 - "Tabu" de Miguel Gomes
10 - "Take Shelter" de Jeff Nichols

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Transhumanismo (no cinema e não só)


O Transhumanismo, é uma doutrina filosófica e científica cuja base se cimenta nas tecnologias mais sofisticadas aplicadas a vários ramos do saber, da genética à física, da biotecnologia à filosofia, da cibernética (inteligência artificial) à robótica, da antropologia à medicina ou à neurociência. É uma das áreas do conhecimento humano que mais me têm fascinado nos últimos dez anos. Basicamente, o objectivo do Transhumanismo é melhorar e desenvolver a espécie humana (em termos mentais e físicos) através de todos os meios possíveis e eticamente respeitáveis, nomeadamente, através de uma utilização racional das tecnologias mais avançadas que existem. Contrariar o envelhecimento e aumentar a longevidade, erradicar as doenças degenerativas e mortais, incrementar a inteligência e as capacidades mentais, são algumas das prioridades do Transhumanismo. Ficção científica? Delírios científicos sem exequibilidade real? Nem por sombras. Um dos suportes tecnológicos para o desenvolvimento dos ideais Transhumanistas tem a ver com o aumento na velocidade dos (super)computadores laboratoriais, facto que tornará ainda mais poderosa a fascinante Nanotecnologia, isto é, a manipulação atómica da matéria a nível microscópico (molecular, manipulando átomo a átomo).

Cada célula humana possui centenas de enzimas: máquinas microscópicas capazes de executar a enorme variedade de reacções químicas necessárias à vida. A ideia da nanotecnologia é construir máquinas (ships microscópicos) do tamanho de apenas alguns átomos capazes de executar funções previamente definidas. Por exemplo, um conjunto de nanomáquinas, chamado nanorobot, que execute determinadas tarefas pré-concebidas na resolução de determinados problemas, debelando doenças degenerativas.

Este cenário já tinha sido antecipado pelo conto premonitório do escritor de Ficção Científica Isaac Asimov, cuja adaptação ao cinema resultou no interessante filme “Viagem Fantástica” de Richard Fleischer (1966). Neste filme (vencedor de dois Óscares), um grupo de neurocientistas é miniaturizado - chegando ao tamanho de uma molécula de glicose - e enviado, a bordo de uma nave, ao cérebro de um paciente em coma para o operar, percorrendo para isso a sua corrente sanguínea e todos os perigos inerentes. Hoje em dia, com a nanotecnologia, já é possível à realidade imitar a ficção (mas não ainda nos termos do filme citado). Filmes como "A.I." (2001) de Steven Spielberg parecem ter sido concebidos à luz da ideologia transhumanista.

Apesar do Transhumanismo constituir, por assim dizer, uma das manifestações mais arrojadas da cultura tecnológica do nosso tempo, não é por isso que não deixa de suscitar controvérsia nos meios académicos. Francis Fukuyama, célebre autor dos livros “O Fim da História” e “O Nosso Futuro Pós-Humano” refere que "o Transhumanismo tem das ideias mais terríveis e destruidoras que conheço." Só que Fukuyama não especifica de qAdicionar imagemue forma. Estaria a referir-se à manipulação genética? Aos desafios da clonagem humana? À utilização “errada” da nanotecnologia? À possibilidade (bem real, mas ainda longínqua) da inteligência artificial poder suplantar a inteligência humana, como defendem muitos cientistas? A verdade é que o Transhumanismo, apesar dos seus princípios teóricos de beneficiação da condição humana com base na tecnologia aplicada às ciências (com o intuito de almejar a condição pós-humana), não deixa de levantar questões morais, éticas e até filosóficas.

No fundo, é o homem a brincar a Deus. Será este o caminho do futuro? De qualquer forma, o cinema representou ideias do Transhumanisno praticamente desde a sua génese, muito antes até de se saber o que era o Transhumanismo e o que esta corrente defendia. Estas ideias ficaram sobretudo expostas, directa ou indirectamente, em filmes de Ficção Científica tão marcantes como "Metropolis" até "Avatar".

Eis uma lista de dez filmes essenciais: Link.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O final com lágrimas

Em conversa com um amigo sobre que finais de filmes nos fizeram chorar, houve vários títulos apresentados: "As Pontes de Madison County", "A Vida É Bela", "Ladrões de Bicicletas", "Dead Poet Society", "A Lista de Schindler", etc. Não é que eu tenha um coração duro, mas geralmente controlo muito as reacções emotivas nos finais dramáticos de certos filmes. Mas confesso que há um filme cujo final me provocou uma lágrima ao canto do olho: "About Schmidt" (2002) de Alexander Payne.
A história (que se lixem os spoilers!) é a de um velho reformado (soberbo Jack Nicholson) que parte em viagem de reconciliação pela América após enviuvar. Nunca encontrou um sentido digno para a vida, nunca se sentiu realizado no emprego banal e as suas relações familiares foram sempre falhadas.
Até que resolve ajudar uma criança africana órfã chamada Ndugu de 6 anos, enviando-lhe dinheiro. Na última sequência do filme, o velho reformado abre a carta do rapaz que ajudara e lê o que a freira da instituição escreveu. Visto que Ndugu não sabia escrever, fez-lhe um desenho. Quando o reformado abre o desenho, desata a chorar. A cena é deveras comovente e tocante, pela espontaneidade, pela forma como expressa profundo humanismo e sentimento. Aquele desenho ingénuo representava, finalmente, um sentido para a vida de Schmidt. Quem não se comoveu com esta cena, é porque no lugar do coração tem uma pedra (claro que convém ver o filme integralmente para melhor compreender a cena final).
Belíssimo e espantoso final de uma sensível e honesta comédia dramática de Alexander Payne com um notável Jack Nicholson.