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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O arrepiante espisódio de Hitchcock

Uma das séries televisivas que porventura mais marcou o imaginário popular dos anos 60 e 70 foi "Hitchcock Apresenta" (que eu vi em reposição na década de 80). Juntamente com "Twilight Zone", ambas foram séries do bizarro e do inesperado, colando os espectadores ao pequeno ecrã e influenciando diversos realizadores - John Carpenter, Steven Spiellberg, Peter Jackson, Brian de Palma, etc.
Foram mais de 300 episódios de apenas 30 minutos cada, nos quais Hitchcock apresentava pequenas histórias intrigantes, macabras, misteriosas e de desfecho quase sempre surpreendente. O humor negro (negríssimo) e a sensibilidade para gerir o suspense psicológico de Hitchcock eram elementos que não podiam faltar a esta série televisiva. Por isso se tornou viciante e houve inclusive um remake da série nos anos 80 (com realização de cineastas como Spielberg ou Joe Dante).
Recordo-me particularmente de um episódio que me marcou sobremaneira e que me causou arrepios gélidos na espinha. Conta-se numa penada: eu era adolescente, estava na cozinha a comer qualquer coisa enquanto assistia a mais um episódio de Mr. Hitch: era a história de um presidiário que tinha subornado o velho coveiro da prisão para que o deixasse esconder-se no caixão do próximo presidiário que morresse. Ambos combinaram que, assim que o caixão fosse enterrado no cemitério (no exterior da prisão), o coveiro o desenterrasse a tempo para não sufocar, para desta forma fugir rumo à liberdade.

Um dia, quando o presidiário ouviu o sino a indicar o falecimento de um outro presidiário, dirigiu-se à morgue e, no escuro, escondeu-se dentro do caixão ao lado do cadáver. Esperou ansioso. Pelo movimento do caixão, percebe que o estão a enterrar. Não vê a hora do coveiro o desenterrar. Angustiado pela demora, o presidiário, assomado por uma curiosidade mórbida, acende um fósforo para ver quem tinha morrido. Assim que ilumina o rosto do cadáver, vê a cara... do coveiro! O episódio termina com um grito lancinante e a luz do fósforo a esfumar-se. Lembro-me que fiquei estarrecido e muito incomodado psicologicamente com aquele desfecho arrepiante, e naquela noite dormi mal a pensar como teria sido se alguém passasse por aquela situação horrenda. E fiquei também a saber outra coisa: que o sentido mórbido de Alfred Hitchcock não tinha limites para impressionar o espectador.
Nota: faz parte do mito urbano que esse episódio despoletou nalguns espectadores a tafofobia (ou tafefobia), ou seja, a fobia que se caracteriza pelo medo mórbido de ser enterrado vivo e acordar preso dentro de um caixão sob o solo, tão caro a escritores como Edgar Allan Poe. Para quem sentir arrepios na espinha só de pensar em tal situação, não aconselho a ler esta lista de dez casos reais de pessoas enterradas vivas. Brrrr!...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O bom e o mau em "Avatar"


Finalmente, vi "Avatar". Não vou entrar em considerações sobre se o filme de James Cameron é cinema revolucionário por causa da utilização do 3D (a propósito deste post). O que sei é que "Avatar" é um marco no cinema pela forma como a tecnologia digital desempenha um papel preonderante na linguagem cinematográfica (apesar de importantes aspectos fracos apontados mais à frente). De beleza visual e superioridade técnica, portanto, “Avatar” está cheio. Tem sequência visuais de suster a respiração, e aí o mérito é de James Cameron que imaginou esse fabuloso planeta Pandora - concebido em imagens pela mais avançada empresa de efeitos especiais, a WETA Digital de Peter Jackson.
É inegável o nível de excelência tecnológica que Cameron conseguiu atingir para que pudesse concretizar esta magnífica aventura visual. É o próprio realizador que conta: “Sonhei criar um filme assim, ambientado num outro mundo, repleto de perigos e beleza, desde que era um menino que lia revistas de ficção científica, e desenhava monstros e extraterrestres na aula de matemática”. "Avatar" cumpre, pois, a sua função de cinema-espectáculo em tons de claro blockbuster comercial, percebendo-se o porquê de ter demorado 12 anos a conceber e os 250 milhões de dólares de custo. São duas horas e meia de deleite visual, magia e puro entretenimento (nunca o 3D foi tão deslumbrante e eficiente como neste filme).
Mas o cinema, obviamente, é mais do que o conjunto destas características eminentemente técnicas. O argumento de "Avatar" é claramente polvilhado de lugares-comuns e de total previsibilidade narrativa. Louva-se a James Cameron a crítica directa aos históricos massacres levados a cabo por europeus e norte-americanos aos povos indígenas de todo o mundo. Louva-se a preocupação na defesa dos valores ambientalistas e a mensagem subjacente. Mas é nítida a sensação de que “Avatar” é uma mistura de “O Último dos Moicanos” tecnológico do século XXI, com pitadas românticas de “Pocahontas”, e o patriotismo heróico de “Braveheart".
Li numa entrevista a James Horner (compositor da música, já lá vamos) em que este afirmava que o público não está preparado para propostas vanguardistas nem ideias muito inovadoras. Salta à vista esse facto no filme. A história é orientada segundo uma lógica dialéctica entre o bem e o mal, os opressores e os oprimidos, uma inevitável relação de amor pelo meio, e o equilíbrio entre cenas de acção desenfreada com cenas de contemplação. O final em registo de previsível "happy end" ajuda a solidificar a ideia que jamais passou pela cabeça do realizador e dos produtores a exploração de um "script" arrojado e original.
Outro ponto menos conseguido do filme é a música. James Horner, compositor de bandas sonoras de Hollywood há 30 anos, conhece bem a fórmula do sucesso imediato. Das dezenas de trabalhos já realizados, compôs a música para "Titanic", "Braveheart", "Apocalypto", "Troy" e "Apollo 13". Ou seja, filmes épicos com importante elementos heróicos. Não quer dizer que a música de "Avatar" seja má, mas é totalmente previsível e cheia de lugares-comuns. Mais: parece que James Horner se plagia a si próprio, pela forma como utiliza sempre os mesmos elementos musicais e instrumentais (flautas e cantos para dar um tom exótico, percussões furiosas para cenas de acção...). Neste aspecto, o compositor Howard Shore, na saga "O Senhor dos Anéis", soube melhor do que ninguém perceber as nuances dramáticas da histórica épica. Por outro lado, o trabalho de sonoplastia e de efeitos sonoros é irrepreensível.
O mais surpreendente e totalmente desnecessário: a canção que surge no final do filme, já a acompanhar os créditos finais. Lembram-se da famosa canção "My Heart Will Go On" cantada por Celine Dion em "Titanic"? Pois bem, James Horner propõe um reedição de uma cançoneta lamechas idêntica (não, pior) para o fim do filme. Borrou totalmente a pintura.
Em jeito de balanço final: "Avatar" não é uma obra-prima do cinema. É um filme que ficará na história pelo uso revolucionário da tecnologia digital em 3D (que provavelmente inaugurará uma era de novas produções do género) e pelo puro entretenimento de qualidade que provoca no espectador.
PS - Ao fim das duas horas e meia de visionamento senti uma ligeira dor de cabeça devido ao 3D.

domingo, 27 de dezembro de 2009

2009 - Os filmes

Confesso que não pensei muito para fazer esta lista. Fiz umas pesquisas rápidas, tomei o pulso aos filmes que mais gostei de ver no ano e pronto. Por isso é provável que falte algum título nesta lista (se tiver paciência farei uma selecção dos filmes da década).
Convém dizer que ainda não vi filmes muito esperados e elogiados (lá fora) e que deverão estrear no próximo ano em Portugal: "Serious Man" de Joel e Ethan Coen, "The Lovely Bones" de Peter Jackson, "Um Profeta" de Jacques Audiard, "Invictus" de Clint Eastwood, "The Road" de John Hillcoat, "Shutter Island" de Martin Scorsese, "The Fantastic Mr. Fox" de Wes Anderson, "Imaginarium of Doctor Parnassus" de Terry Gilliam, "Precious" de Lee Daniels, "Up in the Air" de Jason Reitman (...).

Os links remetem para posts sobre os respectivos filmes:

1 - "Anticristo" de Lars Von Trier
2 - "O Laço Branco" de Michael Haneke
3 - "Gran Torino" de Clint Eastwood
4 - "Whatever Works" de Woody Allen
5 - "Inglorious Basterds" de Quentin Tarantino
6 - "The Wrestler" de Darren Aronofsky
7 - "Inimigos Públicos" de Michael Mann
8 - "Two Lovers" de James Gray
9 - "Deixa-me Entrar" de Tomas Alfredson
10 - "Where The Wild Things Are" de Spike Jonze
11 - "The Hurt Locker" de Kathryn Bigelow
12 - "A Orfã" de Jaume Collet-Serra

Fiascos do ano: "Actividade Paranormal" e "2012"
Filme revelação do ano: "Moon" de Duncan Jones
Melhor filme de animação: "Mary and Max", seguido de "Coraline" e "Up"
Interpretação do ano: Christoph Waltz em "Inglorious Basterds"

domingo, 7 de junho de 2009

O líquido verde


"Re-Animator" é um dos mais sensacionais e originais filmes de terror de sempre. Na esteira dos clássicos filmes de terror de zombies de Wes Craven e George Romero, "Re-Animator" é um filme independente que rapidamente se tornou num objecto de culto único, gerando fãs incondicionais por todo o lado (o site "Rotten Tomatoes" dá-lhe uma rara pontuação de 92%). Vi-o quando tinha 16 anos e lembro-me do forte impacto que me causou devido a um conjunto de factores: pelo irresistível suspense criado com a história, pelos efeitos visuais impressionantes (violência gráfica "gore" imparável e muito sangue), e pelo original misto de terror e humor negro que o filme apresenta.
Realizado em 1985 por um estreante Stuart Gordon e vagamente inspirado num conto de horror do mestre H.P. Lovecraft, "Re-Animator" conta a história de um jovem médico, o sinistro Herbert West (interpretado por um electrizante Jeffrey Combs), que cria uma fórmula química com vista a trazer cadáveres de volta à vida, com base num líquido verde fluorescente, o tal "Re-Animator" que dá nome ao título. Esta experiência de dar vida aos mortos toma proporções imprevisíveis, num festival de violência gráfica, suspense, terror e humor raramente visto em filmes do género (ingredientes que influenciaram Peter Jackson a fazer filmes como "Bad Taste" e "Braindead").
Como acontece com muitos filmes de culto, "Re-Animator" de Stuar Gordon deu azo a duas sequelas perfeitamente dispensáveis. O que vale a pena é mesmo conhecer e experienciar a obsessiva aventura do Dr. Herbert West na procura da vida para além da morte.

terça-feira, 21 de abril de 2009

A imagem mística


Que imagem é esta? Um mero postal místico de teor "new age"? Uma imagem de uma corrente espiritualista ou religiosa qualquer? Não. Trata-se, simplesmente, da primeira imagem tornada pública referente ao próximo filme do realizador Peter Jackson, que só terá estreia em Portugal no início de 2010. O filme tem por título "The Lovely Bones" e sobre ele já falei, há quatro meses, neste post (suscitou-me a curiosidade uma vez que a música é do Brian Eno e o argumento é uma adaptação do livro homónimo da escritora Alice Sebold).

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sobre filmes biográficos



Não sei se se pode considerar o "biopic" (filme biográfico sobre uma personalidade) um género cinematográfico. Seja como for, assumo que gosto de "biopics", e ao longo da história do cinema existem múltiplos exemplos de bons filmes que focam o percurso da vida (ou um determinado período de tempo dessa vida) de personalidades influentes, essencialmente, ligadas às artes ou à política. Há filmes biográficos que prezam o respeito pela precisão histórica dos factos, enquanto que há outros que misturam esses factos com elementos ficcionais. Das muitas dezenas de "biopics" que já se fizeram, destaco os meus preferidos, que podem não ser os melhores ou mais representativos do "género", mas são os que gosto mais (e só do Martin Scorsese menciono três títulos!):

Kundun (1997) de Martin Scorsese sobre Dalai Lama
Raging Bull (1980) de Martin Scorsese sobre Jack LaMotta
O Aviador (2004) de Martin Scorsese sobre Howard Hughes
Amadeus (1984) de Milos Forman sobre Wolfgang Amadeus Mozart
Ed Wood (1994) de Tim Burton sobre Edward D. Wood
Control (2007) de Anton Corbijn sobre Ian Curtis
Chaplin (1992) de Richard Attenborough sobre Charlie Chaplin
Basquiat (1996) de Julian Schnabel sobre Jean-Michel Basquiat
Malcolm X (1992) de Spike Lee sobre Malcom X
Lenny (1974) de Bob Fosse sobre Lenny Bruce
American Splendour (2003) de Shari Springer sobre Harvey Pekar
A Paixão de Joana D'Arc (1928) de Carl Dreyer sobre Joana D'Arc
I'm Not There (2007) de Todd Haynes sobre Bob Dylan
The Life and Death of Peter Sellers (2004) de Stephen Hopkins sobre Peter Sellers
Bird (1988) de Clint Eastwood sobre Charlie Parker
Pollock (2000) de Ed Harris sobre Jackson Pollock
Shine (1996) de Scott Hicks sobre David Helfgott
JFK (1991) de Oliver Stone sobre John F. Kennedy
Gandhi (1982) de Richard Attenbourgh sobre Mahatma Gandhi
Walk the Line (2005) de James Mangold sobre Johnny Cash
O Homem Elefante (1980) de David Lynch sobre John Merrick
Citizen Kane (1941) de Orson Welles "sobre" William R. Hearst
Young Mr. Lincoln (1939) de John Ford sobre Abraham Lincoln
Tucker: The Man and His Dream (1988) de Francis Coppola sobre Preston Tucker
O Pianista (2002) de Roman Polanski sobre Wladyslaw Szipilman
Ray (2004) de Taylor Hackford sobre Ray Charles
Milk (2008) de Gus Van Sant sobre Harvey Milk
Zelig (1983) de Woody Allen sobre Leonard Zelig
Lawrence da Arábia (1962) de David Lean sobre Thomas Edward Lawrence
Como habitualmente, os contributos e sugestões dos leitores serão bem vindos.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Cinema 3D - bóia de salvamento (para o porno também)


O interessante editorial da revista de cinema Premiere, edição de Março, assinado por José Vieira Mendes, aborda uma possível solução para salvar a indústria do cinema, combater a pirataria e potenciar o número de espectadores nas salas: o 3D. O cinema já passou por várias e conturbadas fases que apenas impulsionaram o seu desenvolvimento: o aparecimento do som com o filme "O Cantor de Jazz" em 1927, o advento da cor com o Technicolor, a sobrevivência após o surgimento massivo da televisão (décadas de 50 e 60) e agora, a pirataria da Internet. Vários realizadores e produtores com poder em Hollywood (Steven Spielberg Geroge Lucas, Peter Jackson, Robert Zemeckis, James Cameron) já vieram afirmar que este tecnologia digital está revolucionar a forma de ver cinema e que poderá ser a bóia de salvamento para o negócio dos filmes.
Filmes recentes com 3D atraíram muito público às salas: "Bolt", "Viagem ao Centro da Terra" e "Coraline" são três exemplos paradigmáticos. O próprio Tim Burton pondera estrear o seu aguardado filme "Alice" neste formato. A verdade é que o 3D tem potencialidades para criar novas experiências sensoriais no espectador, ao nível do envolvimento e da ilusória proximidade física com o grande ecrã. Mas também é verdade que é um sistema caro no que diz respeito aos custos de produção, do equipamento de projecção e do próprio bilhete (com o custo associado dos óculos especiais). Mas os prognósticos da indústria garantem que o 3D vai afirmar-se e vulgarizar-se nos próximos anos. Provas? O facto da Disney, Pixar e Dreamworks planearem nada menos que onze estreias em 3D para a temporada 2009-2010 e seis para a temporada 2011.
Mais: a própria indústria do cinema pornográfico (sim, ainda existe) já anunciou o lançamento do primeiro filme porno em 3D! Trata-se do filme chinês "3D Sex and Zen", sequela do filme erótico "Sex and Zen" de 1991. O produtor do filme, um tal de Stephen Shiu Jr., investiu quatro milhões de dólares na produção e garante que a experiência vai ser a mais próxima do real quanto possível: "imagine ver o filme como se estivesse sentado atrás da cama; vai haver muitos 'close-ups' e será como se a actriz estivesse a centímetros do espectador", refere em jeito de provocação. Por esta descrição, é mais que certo que o filme porno ressurja nas salas comerciais!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Imagem do dia: Kate Winslet



Mais do que o reconhecimento de Mickey Rourke (por "The Wrestler" de Darren Aronofsky), mais do que o prémio de Melhor Filme Estrangeiro para um filme de animação israelita ("Valsa com Bashir"), mais do que o prémio de Melhor Comédia par ao novo Woody Allen (que devia esta a dormir ou a tocar clarinete à hora da entrega dos prémios) e mais do que os três Globos de Ouro para o novo filme de Danny Boyle, "Slumdog Millionaire", o que há a destacar, verdadeiramente, desta edição 66 dos Globos de Ouro, é o feito extraordinário da vitória dupla de uma grande actriz que ainda não atingiu o apogeu: Kate Winslet. A actriz venceu nas categorias de Melhor Actriz (pelo filme "Revolutionary Road", do marido Sam Mendes) e de Melhor Actriz Secundária (por "The Reader"). Um feito raro que projecta Kate Winslet para o estrelato apoteótico na próxima cerimónia dos Óscares.
A primeira vez que vi Kate Winslet num filme, ainda muito jovem, foi no excelente "Heavenly Creatures" de Peter Jackson, numa terrível a verídica história de vingança e assassínio. Pelo meio entrou no mega-êxito "Titanic", mas o último grande filme que vi com Winslet como actriz principal foi no magnífico "Pecados Íntimos" ("Little Children", de Todd Field), um dos melhores filmes de 2006. Nesta obra sobre relações amorosas falhadas e quotidianos à deriva (espelho de uma certa sociedade actual), Kate Winslet brilhou intensamente numa interpretação que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de Melhor Actriz Principal (perdeu para Hellen Mirren no filme "A Rainha"). O futuro só pode ser radioso para Kate.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Eno & Jackson


O novo filme do realizador Peter Jackson (autor da saga "O Senhor dos Anéis" e de "King Kong"), intitula-se "The Lovely Bones", encontra-se ainda em filmagens e produção e terá estreia no final de 2009. Trata-se da adaptação de um livro da escritora americana Alice Sebold (com argumento adaptado do próprio realizador) que conta a história de uma jovem que é violada e assassinada e que, a partir do céu, assiste ao sofrimento da sua família e amigos que tentam a vingança. Os actores são Mark Walhberg, Rachel Weisz e Susan Sarandon. "The Lovely Bones" é uma viragem na filmografia de Peter Jackson, desta vez mais virada para o intimismo dramático e fantasista de um história do que à espectacularidade das suas últimas obras (um regresso ao estilo do brilhante filme "Heavenly Creatures" de 1994). A grande novidade deste novo filme de Peter Jackson é o facto da banda sonora original ser composta pelo mítico Brian Eno. Tanto quanto sei, é a primeira vez que o ex-Roxymusic compõe música original para um filme de Hollywood. A colaboração artística entre Jackson e Eno promete resultados muito expectantes, portanto.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Bugs Bunny meets ultra-violence





Já tinha abordado neste post a intervenção de guerrilha urbana do Decapitador, um artista londrino anónimo que se tem dedicado a degolar (com a ajuda preciosa do Photoshop) imagens da publicidade, moda e cinema. Agora surge o artista James Cauty que propõe uma intervenção similar, mas adaptada unicamente aos personagens de banda desenhada da Warner Bros. James Cauty foi outrora músico de dois importantes projectos musicais de pop electrónica – The KLF e The Orb, dedicando-se actualmente em exclusivo às artes plásticas.
Ora, o que James Cauty fez com os célebres personagens da Looney Tunes - Tom & Jerry, Bugs Bunny e Gato Silvestre, segue na esteira do trabalho subversivo do Decapitador. Isto é, intensifica, desproporcionalmente, a violência gráfica das imagens com degolações, sangue a jorros e desmembramentos. Manipula e altera digitalmente a realidade - como se pode ver no seu site. Há claramente a procura por um efeito de choque visual, subvertendo a lógica da natureza divertida dos “cartoons”. A exposição destes trabalhos de James Cauty esteve patente ao público na Aquarium Gallery em Londres (com o apropriado título “Splatter”) provocando alguma estupefacção e desconcerto.
Tom & Jerry assumem-se, nas mãos do artista, como personagens macabras e potenciadoras da violência mais "gore". É como se Peter Jackson fosse o realizador destes "cartoons" quando este fazia filmes de grande violência gráfica (mas ao mesmo tempo divertidos) como “Bad Taste” e “Braindead”. No fundo, não se trata de nenhuma intervenção artística inovadora, visto que o artista intervém directamente num objecto já pré-existente e, apropriando-se dele, modifica-o conforme o seu desejo de intencionalidade estética (Duchamp foi o primeiro a recorrer a este expediente chamando-lhe “ready made”).

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A ironia macabra de Mr. Hitch

A propósito do post sobre as séries televisivas de ficção, não posso deixar de referir aquela que porventura mais marcou o imaginário popular dos anos 60 e 70: "Hitchcock Apresenta". Juntamente com "Twilight Zone", ambas foram séries que colaram os espectadores ao pequeno ecrã, ambas influenciaram diversos realizadores - John Carpenter, Steven Spiellberg, Peter Jackson, Brian de Palma, etc. Quando muitos cineastas julgavam que a televisão era um meio de comunicação menor (anos 50/60) face à arte do cinema, Hitchcock soube vislumbrar as potencialidades narrativas da "caixa que mudou o mundo". Foram mais de 300 episódios de apenas 30 minutos cada, nos quais Hitchcock apresentava pequenas histórias intrigantes, macabras, misteriosas e de desfecho quase sempre inesperado. O humor negro (negríssimo) e a sensibilidade para gerir o suspense psicológico de Hitchcock eram elementos que não podiam faltar a esta série televisiva. Por isso se tornou viciante e houve inclusive um remake da série nos anos 80 (com realização de cineastas como Spielberg ou Joe Dante).
Recordo-me particularmente de um episódio que me marcou sobremaneira e que me causou arrepios gélidos na espinha. Conta-se numa penada: era adolescente, estava na cozinha a comer qualquer coisa enquanto assistia a mais um episódio de Mr. Hitch. Era a história de um presidiário que tinha subornado o velho coveiro da prisão para que o deixasse esconder-se no caixão do próximo presidiário que morresse. Ambos combinaram que, assim que o caixão fosse enterrado no cemitério (no exterior da prisão), o coveiro o desenterrasse a tempo para não sufocar, para desta forma fugir rumo à liberdade. Um dia, quando o presidiário ouviu o sino a indicar o falecimento de um outro presidiário, dirigiu-se à morgue e, no escuro, escondeu-se dentro do caixão ao lado do cadáver. Esperou ansioso. Pelo movimento do caixão, percebe que o estão a enterrar. Não vê a hora do coveiro o desenterrar. Angustiado, o presidiário acende um fósforo para ver quem tinha morrido. Assim que ilumina o rosto do cadáver, vê a cara... do coveiro! O episódio termina com um grito lancinante e a luz do fósforo a esfumar-se. Lembro-me que fiquei estarrecido e muito incomodado psicologicamente com aquele desfecho arrepiante, e naquela noite dormi mal a pensar como teria sido se alguém passasse por aquela situação horrenda. E fiquei também a saber outra coisa: que o sentido mórbido de Alfred Hitchcock não tinha limites para impressionar o espectador.
Nota: faz parte do mito urbano que esse episódio despoletou nalguns espectadores a tafofobia (ou tafefobia), ou seja, a fobia que se caracteriza pelo medo mórbido de ser enterrado vivo e acordar preso dentro de um caixão sob o solo. Brrrr!...