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terça-feira, 1 de setembro de 2015

Um projecto de vanguarda



Tal como o nome sugere, "Avant Garde Project" é um projecto de divulgação da música vanguardista do século XX. Por música de vanguarda entende-se todas as formas e expressões estéticas que romperam convenções e inovaram nas linguagens musicais contemporâneas: electro-acústica, experimental, concreta, minimalismo, electrónica, free-style, etc.
A maior parte das gravações disponíveis não têm edições em CD, pelo que as obras musicais foram directamente convertidas de vinil para mp3. Os downloads são gratuitos e ilimitados. O grande contributo de "Avang Garde Project" é que permite conhecer e ter acesso a centenas de raras composições de vanguarda da música erudita contemporânea, de compositores conhecidos como Bruno Maderna, Stockhausen, John Cage, Luciano Berio, Mauricio Kagel, Toru Takemitsu, Harry Partch e muitos outros desconhecidos.
Um verdadeiro tesouro musical a descobrir. Link.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

John Cage e Quim Barreiros



O compositor e teórico John Cage (1912 - 1992) foi um dos mais revolucionários estetas do século XX. A sua visão da arte e da música quebraram convenções e normas instituídas. Basta pensar que foi o percursor da música concreta (feita de sons e ruídos quotidianos), da música aleatória e da célebre obra de silêncio 4'33''.

John Cage tinha ideias artísticas altamente invulgares e originais que desafiavam o senso comum. Uma delas consistia em pôr 9 orquestras a tocar ao mesmo tempo as 9 sinfonias de Beethoven. Ao mesmo tempo! Foi um projecto tão ousado e inviável que nunca se concretizou. 
Isto para dizer que algum português potencialmente inspirado nesta ideia juntou, numa única faixa, todas as músicas famosas do Quim Barreiros. O resultado sonoro é cacofónico, próximo da música industrial ruidosa, numa avalanche imparável de mil músicas tocadas ao mesmo tempo. Mas estou em crer que seria certamente do agrado estético do próprio John Cage, porque para ele isto também era "música".

Ousem carregar play:
 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Um disco seminal do rock

Na lista dos "50 Discos Que Toda a Gende Deve Ouvir" elaborada pelo semanário Expresso, há um destaque a um disco que me é muito especial (marcou-me como melómano e influenciou-me como músico). Trata-se de "The Ascension" (1981) de Glenn Branca. O texto referente a este disco é assinado pelo crítico João Lisboa que, sabiamente, o considera fundamental para compreender as últimas décadas de história do rock (curiosamente, contrapõe esta obra de Branca com os 4'33'' de silêncio de John Cage).
Ora, porque é que este disco é tão especial e importante? Basicamente, porque, em 1981, Glenn Branca, em plena era revolucionária do movimento No Wave, esventra por dentro a estética do rock e explora novos domínios sónicos e sonoros. Com base em quatro guitarristas (dois dois quais elementos dos futuros Sonic Youth), um baterista e um baixista, Glenn Branca criou um rock instrumental de pendor formal quase sinfónico, recorrendo a riffs minimalistas e ritmos quase de um rigor mecânico (herança do Krautrock).
"The Ascension" é, por isso, um disco extremamente influente e visionário, prenhe de uma intensidade e de uma densidade completamente original à altura. Sem este disco e sem a visão iconoclasta do rock de Branca, não teria havido Sonic Youth, My Bloody Valentine, The Jesus & Mary Chain, Spacemen 3, e tantos e tantos outros grupos que recorreram à guitarra eléctrica como fonte de explosão sonora.
Em 2006 tive a oportunidade de entrevistar telefonicamente o músico Glenn Branca para a revista Mondo Bizarre. O resultado da entrevista pode ser lido abrindo este link.
Entretanto, caro leitor, aumente o volume dos altifalantes e carregue em play para ouvir (se conseguir) na íntegra esta obra fulminante da história do rock:

domingo, 17 de abril de 2011

John Cage a as sinfonias de Beethoven


O compositor (na imagem) John Cage (1919 - 1992) - célebre pela peça "musical" de silêncio intitulada 4'33" - foi um teórico revolucionário para o mundo da música experimental e de vanguarda a partir do período pós-Segunda Guerra Mundial.

No decorrer da sua diversificada e longa carreira, Cage idealizou inúmeras obras musicais (já referidas diversas vezes neste blog) que foram fonte de controvérsia, discussão e, sobretudo, foram altamente influentes para a evolução da estética musical contemporânea. Foi o precursor da música electrónica, electro-acústica, aleatória, ambiental, minimal, concreta...

O que talvez poucos saibam é que Cage deixou por concretizar uma série de projectos que não conseguiu levar a cabo por várias razões. Ou porque eram demasiado ambiciosos, ou porque simplesmente eram... bizarros demais. É o caso do projecto que previa pôr a tocar as nove sinfonias de Beethoven... ao mesmo tempo por nove orquestras diferentes! O resultado sonoro da amálgama teria sido uma experiência única e avassaladora.

A dúvida agora é saber quem poderia, hoje, concretizar tal excentricidade artística de John Cage.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

The Art of Noise


Silêncio. Ruído. Na actual sociedade prevalece o ruído, já o sabemos. Não há praticamente lugar nenhum no qual consigamos sentir o silêncio. Ruído, música, sons da natureza e do meio ambiente, perfazem o registo auditivo do nosso quotidiano. E quem foi o primeiro a reconhecer que o ruído era um elemento essencial da sociedade industrial do século XX?
Um italiano, futurista e contemporâneo de Marinetti, escritor e poeta, principal impulsionador do Futurismo. Chamava-se Luigi Russolo e lançou as bases, em 1913, para a música industrial dos anos 70 e 80 (aquela que recorre ao ruído na sua estrutura musical). Essas bases teóricas estão compiladas num manifesto (em livro, edição espanhola) chamado "El Arte de los Ruidos" ("A Arte dos Ruídos").
Neste verdadeiro manifesto artístico, Russolo refere que até ao Século XIX e ao advento da Sociedade Industrial, o ruído não fazia parte da sociedade. A partir do início do Século XX, o ruído começou a ser parte integrante do quotidiano, com as fábricas, os meios de transporte e outras diversas máquinas. Então, o pintor e compositor italiano achava que se deveria incluir esses ruídos e sons (tidos como não-musicais) na linguagem musical convencional. Que era o mesmo que dizer, romper com as próprias convenções.
Para tal, Russolo inventou um conjunto de máquinas e instrumentos de fazer ruído, a que deu o nome de Intonarumori (existe um projecto norte-americano de música experimental com esta designação).
Em 1914, o primeiro concerto futurista de 18 destes instrumentos (nas imagem), provocou um enorme escândalo em Milão (quase tão grande quanto a estreia da obra "A Sagração da Primavera" de Stravinsky em Paris, um ano antes, a qual marcou o início do modernismo na música do século XX).

E, a partir desse momento, uma revolução estética foi gerada: durante o resto do século XX, o ruído foi utilizado como elemento musical em muitos géneros e compositores, levando a vasta discussão e teorização sobre a importância do ruído na música, na arte e na vida (vide John Cage).
E eis um vídeo curioso no qual o músico Mike Patton experimenta as sonoridades específicas de máquinas sonoras reconstruídas por Luciano Chessa (2009).

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Máquina do tempo


Se existisse uma máquina do tempo na qual pudesse viajar e assistir/vivenciar os momentos que quisesse no campo estritamente musical, gostaria de:
- Assistir aos loucos anos 60 na Factory de Andy Warhol.
- Ver os longos concertos improvisados dos The Velvet Underground.
- Ver os primeiros concertos dos Sex Pistols e à explosão punk em Lodnres
- Assistir aos concertos dos Warsaw (posteriormente Joy Division) em Manchester .
- Ver a actuação de Jimi Hendrix no festival Woodstock.
- Assistir aos concertos de John Coltrane e Charlie Parker nos clubes de jazz fumarentos da downtown nova-iorquina.
- Presenciar uma sinfonia de guitarras de Glenn Branca nos anos 80.
- Assistir aos primeiros concertos de John Zorn e Elliott Sharp na Knitting Factory de Nova Iorque.
- Ver os Mão Morta, Pop Dell'Arte, Echo & The Bunnymen, Killing Joke e The Sound no mítico Rock Rendez-Vous.
- Assistir às performances místicas e excêntricas das orquestras de jazz de Sun Ra.
- Assistir à intensidade dos grandes momentos do free-jazz de Cecil Taylor, Ornette Coleman e Albert Ayler.
- Assistir ao primeiro "concerto" da peça 4'33'' de John Cage
- Assistir à estreia da obra "Bolero" de Ravel e "A Sagração da Primavera" de Stravinsky.
- Assistir aos primeiros concertos de música industrial dos Einsturzende Neubauten em Berlin no início dos anos 80.
- Assistir ao concerto dos U2 no "Live Aid" em 1985 (sobretudo pelo tema "Bad").
- Assistir à estreia da ópera "Einstein on the Beach" de Philip Glass (1976).
Etc, etc, etc... (podem continuar a lista)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Ideias novas e ideias velhas


"Não percebo porque é que as pessoas têm medo das novas ideias. Eu tenho medo é das velhas."
John Cage

quarta-feira, 24 de março de 2010

Perguntas indiscretas - 26

Corresponde à verdade a ideia segundo a qual o animal de estimação preferido dos artistas (escritores, músicos, actores...) é o gato?

Edward Albee

Sophie Kerr

Peter Lorre

John Cassavetes


John Cage


Raymond Chandler


Truman Capote
Jack Kerouac

sexta-feira, 5 de março de 2010

A arte no seu tempo (e fora dele)


Cada artista ou criador é fruto do seu tempo. A arte é fruto do seu tempo. Estamos em 2010, em pleno século XXI. Os artistas de hoje reflectem, essencialmente, sobre a experiência do presente, podendo trabalhar sobre referências do passado para projectar um futuro mais ou menos coerente. A música, o cinema, a literatura, e outras manifestações artísticas só existem porque são concebidas e contextualizadas nas circunstâncias da era em que os artistas vivem (já dizia Ortega y Gasset).
Vem esta reflexão introdutória a propósito porque, volta e meia, dou comigo a pensar o que fariam artistas que já morreram, e que viveram noutras épocas históricas, se vivessem neste nosso tempo, neste mundo, neste contexto social, político e histórico, neste tempo com as referências tecnológicas e culturais contemporâneas.
Por isso, faço o seguinte exercício mental (mais ou menos aleatório): que tipo de música faria hoje Debussy ou Satie?? Como seria o cinema de realizadores como F.W. Murnau, Buster Keaton ou Eisenstein? Sobre que temas escreveria George Orwell, Fernando Pessoa ou Edgar Allan Poe? Que configuração teria hoje a teoria filosófica de Nietzsche ou Schopenhauer? E Jackson Pollock desenvolveria hoje a mesma “action painting” que fazia nos anos 40 do século passado? Como se expressaria o surrealismo de Salvador Dalí? Stravinsky, John Cage ou Varèse aventurar-se-iam pela música electrónica?
O que diriam Franz Kafka ou Aldous Huxley da sociedade da comunicação globalizada? Qual seria a posição de um Einstein ou de um Freud face à evolução da ciência actual? Como se manifestaria hoje a inigualável genialidade criativa de um Bach ou de um Mozart? Provavelmente, alguns dos artistas citados não sofreriam quaisquer mudanças e seriam fiéis à identidade artística que os tornou famosos. Por outro lado, outros criadores haveria que seriam mais facilmente permeáveis à influência do meio que os rodeassem, alterando o seu rumo artístico e cultural de forma mais severa.
Enfim, questões que não passam de mera retórica mas que fazem sentido à luz da curiosidade do espírito humano.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A música de "Shutter Island"


As reacções à nova obra de Martin Scorsese, "Shutter Island", revelada no Festival de Cinema de Berlim têm sido entusiásticas. A prová-lo, leia-se este artigo de opinião do crítico de cinema do Público Jorge Mourinha. Está lá tudo o que se espera do mestre Scorsese. Já estava à espera que o filme fosse de um grande virtuosismo formal, estético, narrativo e uma ode à cinefilia do realizador, mas o que me surpreendeu foi ler, no referido artigo, que Scorsese recorreu a uma inesperada banda sonora para amplificar a sensação de paranóia e loucura que atravessa todo o filme: "Já o dissemos e voltamos a repetir, Shutter Island é um espantoso exercício de virtuosismo formal, um manual de como bem filmar, montar, organizar. Um exemplo: a extraordinária banda-sonora, escolhida pelo velho cúmplice Robbie Robertson, é uma colecção de peças de música contemporânea de autores como Krzsyztof Penderecki, György Ligeti ou John Cage, que amplificam a sensação de paranóia e opressão dos cenários.
Se pensarmos que Stanley Kubrick também recorreu à música atonal de Penderecki e Ligeti para criar o ambiente de terror sonoro no filme "The Shining", constataremos que "Shutter Island" se deve elevar a um patamar avassalador de expectativas estéticas.
(Nunca mais estreia?!)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O tempo na música de Satie


Um dia John Cage resolveu interpretar a peça "Vexations" do pianista francês Erik Satie (1867-1925). Satie foi conhecido como um músico excêntrico e inventivo (ainda hoje). A partitura original (na imagem) tem apenas uma página e levaria normalmente um minuto a dois a interpretar, mas no topo aparece esta instrução de Satie: "Para poder tocar este motive 840 vezes, será necessário estar preparado com antecedência e no silêncio mais absoluto e manter-se seriamente imóvel." A peça foi escrita em 1893, mas só descoberta em 1949, tendo sido considerada precursora do minimalismo repetitivo dos anos 60.
Cage levou esta instrução a sério e, em 9 e 10 de Setembro de 1963, no Pocket Theatre de Nova Iorque, apresentou "Vexations" na sua forma completa (repetição de 12 compassos 840 vezes). Cage queria explorar o conceito de tempo numa obra musical. Uma equipa de doze pianistas tocou a peça numa longa maratona desde as 18 horas até às 12h40 do dia seguinte. O The New York Times correspondeu à exibição enviando um bando de oito críticos para cobrirem o evento. Na audiência, durante algum tempo, estava Andy Warhol. que relembrou a experiência quando fez o filme de oito horas sobre o Empire State Building no ano seguinte.
O local do concerto estava equipado com um relógio de ponto que os participantes marcavam ao entrarem e ao saírem. Os ouvintes foram reembolsados de cinco cêntimos por cada vinte minutos que esperassem no "foyer". Os que assistiram a todo o concerto receberam uma senha com o valor de vinte cêntimos. Um tal Karl Schenzer, ex-actor da Broadway, foi o único a receber o reembolso total, tendo ficado sentado no "foyer" dezanove horas. Ao Times, Schenzer disse: "Sinto-me divertido e nada cansado". "Não foi muito tempo a ouvir a música?", perguntou o jornalista. "Tempo? O que é o tempo? Nesta música, a dicotomia entre vários aspectos de formas de arte dissolve-se".
A peça de Satie soa assim.
O último pianista a interpretar "Vexations" foi Michal Nyman (desconheço se foi integral).

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O silêncio e o ruído de John Cage em exposição


Até 10 de Janeiro de 2010, o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona - Macba - tem patente uma extensa exposição retrospectiva do trabalho artístico revolucionário de John Cage. Chama-se "A Anarquia do Silêncio - John Cage e a Arte Experimental" e compreende a obra de Cage desde 1030 até à data da morte, 1992 (com pinturas, documentos, vídeos e partituras musicais). Conta também com obras de outros importantes artistas com os quais colaborou, como Marcel Duchamp, Andy Warhol, Robert Rauschenberg, Nam June Paik e outros ligados ao seminal movimento Fluxus.
John Cage foi um artista experimental visionário e inovador, responsável por algumas das mais importantes rupturas conceptuais, teóricas e estéticas do século XX, como a formulação do conceito de "piano preparado" (na imagem)e a introdução do ruído, do silêncio e da aleatoriedade na linguagem musical (foi também pioneiro na música electrónica, elecro-acústica e concreta). O trabalho e o pensamento de Cage acabariam por contaminar outras artes, como a dança, o cinema, a performance, e as artes plásticas.
Quem for a Barcelona até Janeiro próximo, terá uma excelente oportunidade de ver a maior exposição realizada sobre John Cage desde a sua morte.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

"Biopics" para todos os gostos

Parece que os produtores de cinema se voltaram, definitivamente, para o mercados dos "biopics" de figuras musicais marcantes da história. Depois das biografias cinematográficas de Johnny Cash, Ian Curtis, Bob Dylan, Edith Piaf, Sid Vicious, Rolling Stones, Elvis Presley (TV), entre outros, agora a banda Ramones vai também ser levada ao cinema (entretanto Martin Scorsese já anunciou o seu biopic sobre Frank Sinatra e Spike Lee sobre James Brown).
Nunca fui um fã de Ramones, mas admito que tenha potencial para um filme interessante.
Eu sugeria mais alguns nomes de músicos e bandas que dariam excelente filmes (tendo como critério a vida pessoal e artística do músico):
- Frank Zappa
- Jimi Hendrix
- Blixa Bargeld (Einsturzende Neubauten)
- Gustav Mahler
- Lou Reed
- Erik Satie
- Tom Waits
- Syd Barrett
- Lydia Lunch
- Iggy Pop
- John Coltrane
- Sun Ra
- Sonic Youth
- Freddy Mercury
- Kraftwerk
- Leonard Cohen
- Public Enemy
- Janis Joplin
- Talking Heads
- Spike Jones
- Billie Holiday
- Captain Beefheart
- John Cage
- John Zorn
- Ennio Morricone
- (...)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O verdadeiro recorde musical


582 bateristas bateram o recorde, hoje, do maior número de bateristas a tocar ao mesmo tempo. O anterior situava-se nos 533 bateristas, alcançado há três anos nos EUA. Amadores, profissionais, jovens e velhos, homens e mulheres, juntaram-se no Birmingham National Indoor Arena para, basicamente, tocar durante 10 minutos. Uma enorme batucada, está bem de ver (e ouvir).
Estes recordes são sempre um pouco parvos e sem grande impacto (quanto a mim). Um verdadeiro e original recorde seria, como um dia pensou o compositor John Cage, desafiar nove orquestras a tocar, cada uma delas, uma das nove sinfonias de Beethoven. Simultaneamente, claro. Segundo este espírito do visionário Cage, gostaria de ter visto este recorde dos 582 bateristas a tocar, ao mesmo tempo, com 582 guitarristas de heavy-metal, 582 pianistas de jazz, 582 baixistas de reggae, 582 teclistas de música "new age", 582 cantores da canto gregoriano, 582 Djs de tecno minimal e 582 dançarinas de dança do ventre. A isto sim, chamar-se-ia, com propriedade, um verdadeiro recorde (e uma proeza digna de nota).

sábado, 20 de junho de 2009

Medo da música?


Estava a folhear a revista The Wire quando reparei no destaque dado a um livro com o sugestivo título "Fear of Music: Why People Get Rothko But Don’t Get Stockhausen", lançado há pouco tempo no mercado britânico. O autor é David Stubbs, jornalista especializado em música de cariz mais experimental e vanguardista com larga experiência na crítica musical em jornais/revistas como NME, Guardian, The Wire, Uncut, entre outras. O ponto de partida deste livro é muito, mas mesmo muito interessante: a arte moderna é um fenómeno de massas, sendo que as obras de artistas vanguardistas e experimentais como Mark Rothko, Francis Bacon ou Damien Hirst são bem acolhidas pelo público (como atestam as grandes afluências aos museus de arte contemporânea ou a atenção da comunicação social), enquanto que a música com raízes históricas e estéticas semelhantes, não recebe o mesmo tratamento.
Dito de outra forma, apesar da vanguarda estética ligada às artes plásticas e à música ter surgido, grosso modo, num mesmo contexto histórico e num percurso evolutivo paralelo, a música de cariz experimental (com o paradigma centrado no compositor alemão Stockhausen e no americano John Cage) nunca foi tão bem aceite como as artes plásticas experimentais. Porque é que as pessoas têm "medo da música" mais vanguardista e não têm preconceitos em aceitar as obras abstractas de um Rothko? Será porque as pessoas "compreendem" melhor a linguagem plástica do que a musical/sonora? Têm naturalmente menos predisposição intelectual e curiosidade artística para a música experimental? É uma linguagem mais hermética, cerebral, enquanto que as artes plásticas, por serem visuais, se tornam mais acessíveis? Há uma valorização cultural distinta entre a criação musical e a plástica?
Eu ainda não li o livro, mas talvez David Stubbs contribua para esclarecer o assunto.
O livro pode ser folheado aqui.

sábado, 23 de maio de 2009

La Monte Young: a música como ser eterno


O que têm em comum estes nomes da música - Tony Conrad, Jon Hassel, Philip Glass, Steve Reich, Spacemen 3, Brian Eno, Terry Riley, Lou Reed, John Cale? Todos eles (entre outros que não foram citados) foram influenciados por um músico americano chamado La Monte Young, um compositor e teórico que exerceu uma profunda revolução estética na música contemporânea (ainda que não seja tão conhecido quanto outros revolucionário, John Cage). Com ar de eremita e claramente misantropo, (velho barbudo - é fisicamente parecido com o compositor estoniano Arvo Pärt), La Monte Young influenciou toda uma geração de músicos (do rock à electrónica, da erudita contemporânea ao jazz).
La Monte Young, considerado o percursor maior da música minimalista (e mais tarde minimal repetitiva) nasceu no estado americano do Idaho, em 1935. A sua música pode ser classificada como a mais complexa e radical do movimento minimalista, mas também é considerada como a mais interessante e original.
Entre 1956 e 1960, estudou em Los Angeles e Berkeley composição, teoria musical e contraponto. Durante esse período, colaborou com músicos de jazz como do quilate de Eric Dolphy e Don Cherry. Em 1959 dá-se uma viragem decisiva na criação musical de Young, quando ganha uma bolsa de estudos e se transfere para a escola de música de Darmstadt, em Los Angeles, onde o alemão Stockhausen ministrava os seus cursos de verão (que influenciaram toda uma geração de músicos). A experiência acarreta uma reviravolta em sua carreira, servindo este choque para acentuar ainda mais o radicalismo de suas composições. E esse radicalismo radicava, essencialmente, na exploração da música "contínua", com a utilização de tons de duração extensa, ou seja, o som sustentado ao infinito, improvisado e prolongado ininterruptamente. Mais tarde, La Monte Young junta-se a Cage na exploração da música aleatória e funda o movimento artístico de vanguarda Fluxus.
La Monte Young considera a música como um Ser Eterno, independente da existência do homem, e critica a civilização ocidental por obrigar a música a se degenerar em algo meramente humano – desnaturado e privado de essência. Daí que na década de 70 se tenha estudado a fundo a música indiana, que considerava mais espiritual e profunda. La Monte acredita na música como forma de religião e ele próprio se vê como sacerdote da cerimónia electrónica do seu tempo, recuperando a dimensão de hipnose e transe da música primitiva. O seu conceito de "Dream House", uma peça musical que deveria ser interpretada continuamente em "drones" incessantes, expericenciada como um organismo vivo, influenciou a música psicadélica, a experimental, o ambient, e a electrónica.
Os seus discos são quase impossíveis de conseguir, não dá concertos nem entrevistas, a informação que existe na internet sobre a sua vida e obra é muito escassa, e há até rumores que já morreu mas ainda ninguém sabe. Sem dúvida que La Monte Young é um compositor único, com uma visão única da função que a arte e a música devem ter.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Música (quase) eterna



John Cage (1912-1992), o compositor e teórico que revolucionou a estética musical do século XX com as suas noções de ruído, silêncio, som, tempo e electroacústica, legou muitos conceitos artísticos vanguardistas que têm sido explorados à saciedade, desde músicos a filósofos da arte. Um deles tem a ver com a noção do "tempo dilatado", que tem expressão máxima numa peça musical que tem a duração de... 639 anos! A peça, intitulada "As Slow as Possible", é interpretada num órgão (na imagem) de uma igreja chamada St. Burchardi, em Halberstadt, na região da saxónia alemã. Composta por John Cage em 1987, a interpretação da peça teve início em 2001 e terminará exactamente em 2640 (se o mundo ainda for mundo, claro).
As notas dos acordes estão escritas na partitura e são tocadas de anos em anos, com calendário agendado para as próximas décadas. Na página da Wikipedia sobre o assunto pode até ouvir-se uma das últimas notas já tocadas no dia 5 de Janeiro de 2005. Para os mais interessados, deixo aqui o excelente site do projecto onde se inlcuem detalhes da composição, fotografias da igreja, desenhos, vídeos, etc.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Hemingway no cinema (entre outros possíveis)


A indústria de Hollywood continua obcecada com remakes e "filmes trigémeos". O que está mesmo a dar é adaptar ao grande ecrã a vida de personalidades famosas, sobretudo oriundas do mundo das artes e do espectáculo. A notícia mais recente tem a ver com a concepção de um filme biográfico sobre a vida do escritor Ernest Hemingway (1899 - 1961). É mais uma figura das artes controversa que teve uma vida pessoal e profissional atribulada, elementos que enriquecem sempre um filme (já para não falar do facto de Hemingway se ter suicidado). Mas este filme sobre o Prémio Nobel da Literatura arrisca-se a entrar no rol dos gémeos ou trigémeos, já que existem outras produções em andamento sobre a vida do autor de "O Velhor e o Mar". Em 1996, o realizador Richard Attenborough já tinha feito uma adaptação ao cinema da vida de Hemingway, mas o filme concentrava-se apenas num período da juventude do escritor.
Se pudesse sugerir vidas de artistas para serem adaptadas ao cinema, eis alguns nomes que escolheria (que poderiam, ou não, resultar em filmes interessantes):
Estrangeiros:
- James Joyce
- Mishima
- Malevitch
- Nietzsche
- George Orwell
- Magritte
- John Cage
- Bokowski
- Marquês de Sade
- Frank Zappa
- Antonin Artaud
- Luís Buñuel
- Man Ray
- Jacques Brel
- William Burroughs
- Boris Vian
- Jack Kerouac

Portugueses:
- Almada Negreiros
- Mário de Sá-Carneiro
- Luiz Pacheco
- Amadeo de Sousa Cardoso
- Fernando Pessoa
- Mário Cesariny
- António Variações
- Adolfo Luxúria Canibal

Agora é só imaginar um realizador adequado para cada levar ao grande ecrã a vida de cada um destes nomes...

domingo, 21 de dezembro de 2008

Um projecto de vanguarda



Tal como o nome indica, "Avant Garde Project" é um projecto de divulgação da música vanguardista do século XX. Por música de vanguarda entende-se todas as formas e expressões estéticas que romperam convenções e inovaram nas linguagens artísticas: electro-acústica, experimental, concreta, minimalismo, electrónica, free-style, etc. A maior parte das gravações disponíveis não têm edições em CD, pelo que as obras musicais foram directamente convertidas de vinil para mp3. Os downloads são gratuitos e ilimitados. O grande contributo de "Avang Garde Project" é que permite conhecer e ter acesso a dezenas de raras composições de vanguarda da música erudita contemporânea, de compositores conhecidos como Bruno Maderna, John Cage, Luciano Berio, Mauricio Kagel, Toru Takemitsu, Harry Partch e muitos outros desconhecidos.
Um verdadeiro tesouro musical a descobrir. Link.

domingo, 5 de outubro de 2008

O que é hoje a vanguarda?


A revista Única do semanário Expresso desta semana dedica grande parte das suas páginas ao conceito de "vanguarda". Vanguarda na ciência, na investigação, nas artes, no pensamento. Há igualmente uma secção sobre 10 personalidades portuguesas que se encontram "à frente" em várias matérias: design, arquitectura, ciência, video-arte, cinema, moda, teatro, literatura, artes plásticas, etc. Como complemento explicativo ao tema explorado, o Expresso decide enumerar as várias manifestações artísticas às quais habitualmente conotamos com o conceito de vanguarda, ao qual deu o título "abecedário das vanguardas": futurismo, dadaísmo, expressionismo abstracto, cubismo, etc. Na música são referidos os inevitáveis John Zorn, John Cage, Pierre Boulez, Anton Webern, Schoenberg, Xenakis e Frank Zappa. De facto, todos estes nomes representaram diferentes formas de encarnar a vanguarda estética na música, mas é mais do que óbvio que se trata de uma lista muito reducionista. Haveria muitos outros nomes a referir, mas isso nem é o mais importante. A questão é que o jornalista Luís M. Faria, que assina o texto, refere-se da seguinte forma quando aborda Zappa: "Zappa - Porque o rock também tem vanguardas. Este artista nunca parou de experimentar, tendo mesmo tido uma colaboração muito badalada com Pierre Boulez. Também poderíamos referir Hector Zazou". A minha opinião é esta: a haver vanguardas no rock, estas não se resumem, nem de perto nem de longe, a Frank Zappa. Sempre houve experimentação na história do rock, como houve na electrónica, no jazz ou até na pop. Só não percebi a referência final ao Zazou: também é um artista vanguardista ou é citado porque, alegadamente, teve uma colaboração com Pierre Boulez?
A discussão à volta da vanguarda nas artes é muito complexa e abrangente. O que o Expresso fez foi enumerar e caracterizar, sinteticamente, as correntes mais consensuais das vanguardas artísticas. O que não fez (porque é mais arriscado e difícil) foi problematizar o tema. Dito de outro modo, seria interessante que o Expresso tivesse publicado um artigo sobre o que é hoje a vanguarda, ou que tivesse solicitado a especialistas opiniões sobre este assunto. É que importa saber se na criação artística contemporânea ainda sobrevive o conceito de vanguarda como foi concebido pelos "ismos" da primeira metade do século XX, ou se é já outra coisa mutável e sem definição precisa. Um dia o ensaísta e jornalista musical Rui Eduardo Paes disse que já não fazia sentido falar em vanguarda (no sentido estético da transgressão e inovação) na criação musical actual, mas sim em "manifestações de experimentação". Será que o conceito de vanguarda morreu, como conceito, com Marcel Duchamp, John Cage ou Fluxus? O próprio Expresso apenas dá como exemplos de conceitos de vanguarda, artistas e movimentos já longínquos no tempo, que fazem parte do passado. Se não estou em erro, os únicos artistas vivos que são citados são John Cale e John Zorn. As dezenas de outros artistas, compositores, teóricos, escritores, artistas plásticos referenciados como vanguardistas, estão há muito mortos e enterrados. Não é, porventura, sintomático? E já agora, porque é que não foi citado nem um único realizador ou estética cinematográfica no âmbito das vanguardas? Não houve vanguarda no cinema?
Partilho da ideia do Rui Eduardo Paes. A vanguarda, como conceito teórico para definir a criação artística inovadora e avançada, morreu com com a 2ª Guerra Mundial. A partir dos anos 50 e 60, a História da Arte regista múltiplas manifestações artísticas importantes mas que mais não são do que reinterpretações, apropriações e reciclagens estéticas das vanguardas históricas.
Na imagem: "L.H.O.O.Q." (1919) de Marcel Duchamp