À primeira impressão este homem parece um figurante de um filme antigo de Vikings ou de guerreiros medievais. Nada mais errado. Trata-se de Louis Hardin, mais conhecido pelo nome artístico Moondog. Morreu em 1999 com 82 anos e ficou conhecido por viver quase três décadas nas ruas de Nova Iorque (Sixth Avenue - "O Viking da Sexta Avenida"). Ficou cego ao 16 anos e renunciou à educação cristã vestindo-se com roupas e adereços nórdicos (lanças e tudo) que o próprio criava.
Na realidade, Moondog foi das personagens de rua mais fotografadas dos anos 40, 50 e 60 nos EUA.
Pode parecer um louco excêntrico, mas trata-se de um genial e lúcido compositor que desafia convenções ainda hoje. Inventou instrumentos e gravou dezenas de discos com peças musicais que fundiam o jazz com música clássica e ritmos tribais. Apesar de cego, Moondog foi um criador visionário, admirado por artistas ilustres como Stravinsky, Philip Glass, Bob Dylan, Frank Zappa, Leonard Bernstein, Steve Reich, Charlie Parker, entre muitos outros. Um dos seus temas mais conhecidos é o seu tributo a Charlie Parker com esta esplêndida música "Bird's Lament".
Moondog viveu os últimos 25 anos na Alemanha, país que lhe possibilitou a concretização de uma verdadeira carreira artística através do contributo de uma fã. Actualmente está a ser feito um documentário da realizadora Holly Elson sobre a vida incrível de Moondog. Chama-se "The Viking of Sixth Avenue: Moondog and His Music".
Músico imenso, de uma criatividade que ultrapassa barreiras estilísticas, a obra de Moondog merece ser ouvida e apreciada (só no Youtube há mais de cem músicas disponíveis). Eis duas facetas musicais distintas de Moondog: o primeiro vídeo é de uma música de cariz clássico com um toque jazzístico. Pura criatividade em dois minutos de música:
O segundo vídeo representa outra vertente da visão criativa de Moondog: baseado nos sons e no ritmo do quotidiano de Nova Iorque, "Invocation" é um tema longo, fascinante, hipnótico e tribal que antecipa a estética da música minimalista (que surgiria apenas uma década depois):
Poucas coisas me dão mais prazer na vida do que descobrir um novo talento musical. Enche-me a alma. Regozijo-me com a descoberta de músicas e compositores/bandas que me desconcertem pela qualidade musical, pelo brilhantismo interpretativo ou pela originalidade.
É o caso recente do músico, cantor e compositor inglês Benjamin Clementine. Li recentemente uma crítica no jornal Público sobre este jovem de 26 anos e suscitou-me interesse. Parti à descoberta e foi fascínio logo à primeira audição. Benjamim Clementine é um portentoso cantor de apenas 26 anos que aprendeu sozinho a tocar piano e guitarra a partir dos 11. Em 2008, com 18 anos, resolve ir para Paris onde tocou durante alguns anos no metro, nos bares e hotéis até que um agente atento reparou no seu inato talento.
Desde aí gravou um EP e um álbum que acaba de ser editado. Já tocou no prestigiado Montreux Jazz Festival e já foi ao popular programa televisivo Jools Holland (BBC). A sua ascensão e reconhecimento estão a crescer progressivamente e não é para menos. A qualidade das composições de Benjamin são peças de ourivesaria de grande quilate. Ele próprio diz que o seu estilo musical expressionista foi influenciado por gente tão díspar como Tom Waits, Edith Piaf, Nina Simone (há que diga que é a versão masculina desta cantora), Scott Walker (quando canta no registo grave) e Erik Satie, Wim Mertens e Philip Glass no piano. A sua voz cristalina, versátil de acentuado timbre doce, arrepia pela intensidade e profundidade. As suas composições são todas de uma beleza e intensidade arrebatadoras, próprias de alguém com uma inspiração cheia de soul.
Clementine canta de forma pouco ortodoxa, soltando as frases rápidas ou lentas de forma surpreendente, com total controlo rítmico e melódico. As letras das suas canções são cuidadas e poeticamente sentidas. O seu poeta de eleição é o inglês William Blake. E nem se coíbe de fazer versões desconcertantes de grandes clássicos como "Voodoo Child" de Jimi Hendrix (aqui). Cultiva uma atitude dandy e subversiva que aprecio: dá concertos ao piano com os pés descalços, vestido com um casaco sem camisola por dentro e sentado no banco de forma quase vertical (contrariando o que as normas indicam). Ainda é cedo para confirmar se Clementine é um génio, mas a continuar a sua carreira como a começou vai tornar-se, de certeza absoluta, num dos grandes músicos e cantores do século XXI.
O seu álbum "At Least For Now" é já, quanto a mim, um disco que irá marcar 2015.
"I am an expressionist; I sing what I say, I say what I feel and i feel what I play by honesty and none other but honesty. Some will get bored of me, but I invite the patient listener to come forth, feel and most importantly engage with me without asking too many questions. Hopefully by the end of listening they shall get answers not questionable, wether pleasing or not."
Benjamin Clementine
Aqui deixo três obras-primas musicais em formato canção deste extraordinário songwriter:
Sugiro fortemente que vejam e oiçam esta mesma canção "Nemesis" numa magnífica versão a solo com Benjamin Clementine ao piano. Reparem na entrega emocional ao tema e como ele o termina. Aqui.
Não sei se este blogue tem muitos leitores fãs do compositor Philip Glass. Eu sou. Por isso fiquei muito contente com a notícia de que já está disponível na Apple Store uma aplicação com músicas de Glass para telemóveis. Intitula-se apropriadamente "Official Philip Glass Ringtones" e contém 22 melodias de obras tão emblemáticas como "Koyaanisqatsi" ou "Einstein on the Beach".
Brevemente estará também disponível para a plataforma Android (via Google Play Store). É gratuita.
Serão certamente centenas de novos discos. Ao contrário do que acontece com os filmes, dos quais sabemos, grosso modo, uma grande quantidade de títulos que vão estrear até final do ano, com os discos o panorama é diferente: todas as listas que apontam novos álbuns apenas o fazem até ao final do primeiro semestre de 2015. Logo, não é possível saber qual será a fornada de nova música que chegará até ao final do ano.
Mais: o mercado discográfico é bastante mais volátil e imprevisível do que a distribuição de cinema, pelo que haverá muitos discos interessantes que poderão sair durante este ano e não constam desta lista. Outro factor: raramente se anunciam os discos dos músicos e bandas mais alternativos e de certos géneros (electrónica, jazz, fusão, world music), apenas se divulgam os discos oriundos do universo pop-rock que têm alguma (muita ou pouca) dimensão comercial.
Assim, para já, quanto a mim, os discos que serão a evitar são os de: Justin Bieber Rhianna Scorpions Def Leppard Demi Lovato Gwen Stefani One Direction Adele Britney Spears Ricky Martin
(...)
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Enquanto que, previsivelmente, os bons discos virão de artistas e bandas como: Faith No More Radiohead New Order Dan Deacon Belle and Sebastian Beach House Savages Bjork Kanye West Philip Glass Panda Bear Six Organs of Admittance Gang of Four Run The Jewels Bob Dylan Sleater-Kinney Moon Duo John Zorn Marilyn Manson Dengue Fever Prodigy Deafheaven The xx
Mas a lista é ainda muito limitada nesta fase. Esperemos para ver mais novidades...
Que belo e tão simples exercício: alguém se lembrou de pegar no filme "Manhattan" de Woody Allen e na sua famosa sequência inicial e transformá-la numa filme assinado por... Godfrey Reggio. Este realizador é o autor da extraordinária Trilogia Qatsi, já por diversas vezes abordada neste blogue. O primeiro filme desta trilogia, "Koyaanisqatsi" (1982), foi um marco inovador no documentário não-narrativo, pela forma como foi filmado, pelo poder das imagens e pela relação com a inspirada música do compositor Philip Glass.
Voltando ao início: alguém adaptou a música que Glass compôs para o filme de Reggio e colou-a na sequência inicial do clássico de Woody Allen. Adaptou também o título do filme para se assemelhar ao título vermelho de "Koyaanisqatsi" e não mexeu na montagem original. O resultado é desconcertante e será melhor percebido quanto mais o leitor conhecer ambos os filmes (e música) citados: é como se "Manhattan" tivesse mesmo sido feito sob a visão estética de Godfrey Reggio, tal o encaixe perfeito entre as imagens e preto e branco e a música.
Pequenas experiências do YouTube que conferem um outro significado aos filmes e à música.
Boa notícia: o realizador Godfrey Reggio, autor da fenomenal e ímpar Trilogia Qatsi (documentários não narrativos), encontra-se em fase de pós-produção do seu novo filme intitulado "The Holy See". Uma vez mais, conta com a colaboração do compositor Philip Glass para a música original. "The Holy See" reflecte sobre a forma como os homens percepcionam a realidade que os rodeia num mundo ultra-saturado de referências visuais em todas as áreas da actividade humana. Mais uma vez se trata de um documentário sem palavras e com um cuidado único ao nível plástico e visual.
O trailer deste novo trabalho de Reggio é magnífico e belo na sua intrínseca concepção minimalista e estética, sempre bem relacionado com a música de Glass (aconselho ver o trailer até ao fim).
"The Holy See" deve ter estreia durante este ano.
Para além de ser um excelente documentário de Errol Morris, "The Fog of War" (2003) sobre o secretário de Estado Robert McNamara, é também um filme que tem uma das mais belas e inspiradas partituras musicais para cinema de Philip Glass:
Finalmente vi "Samsara".
As expectativas eram elevadas, depois da alta fasquia artística conseguida com "Baraka" (1992). Ron Fricke, o realizador, aprendeu tudo quando trabalhou - como director de fotografia - com Godfrey Reggio na fantástica trilogia Qatsi (já por diversas vezes comentada neste blogue).
As expectativas eram altas porque "Samsara" demorou 5 anos a ser concluído e foi filmado em 25 países diferentes. Mas, quanto a mim, as expectativas não foram alcançadas. Depois de ver o filme uma frustrada sensação invadiu o meu espírito. Visualmente e esteticamente, "Samsara" é de uma notável beleza plástica, mas pouco mais há de novo. Ron Fricke limitou-se a filmar sequências da natureza e das mais variadas culturas do planeta (do Oriente ao Ocidente) sem coerência. "Koyaanisqatsi" ou "Baraka" tinham um fio condutor, uma montagem rigorosa e exigente. "Samsara" parece andar à deriva, salta abruptamente de imagem para imagem sem aparente nexo. Daí que o ritmo se ressinta, visto que a própria música não ajuda.
Apesar de gostar muito do trabalho de Lisa Gerrard (Dead Can Dance) e de Michael Stearns, a verdade e que a música de "Samsara" quase nunca consegue estabelecer uma relação efectiva com as imagens (ou vice-versa). Ao contrário do irrepreensível trabalho de Philip Glass na trilogia Qatsi, aqui a música não impõe uma coerência ao discurso visual, parecendo mera decoração de fundo. A título de exemplo, a toada ambiental predomina em 80% do documentário e só ao fim dos primeiros 40 minutos de filme houve uma sequência musical com ritmo (para contrastar com os 39 minutos anteriores).
Não há dinâmica, não há um climax e um anti-climax, não há surpresa nem originalidade em tudo o que "Samsara" apresenta (toda a estética é devedora da herança Qatsi). Minto: houve uma sequência verdadeiramente nova e inquietante que me deixou surpreendido - o momento de uma performance impressionante do francês Olivier de Sagazan chamada "Transfiguration" (que pode ser vista aqui). Tirando essa sequência de grande impacto, nada mais me entusiasmou.
E é pena, porque Ron Fricke poderia ter feito uma trilogia de elevada qualidade artística à semelhança da trilogia Qatsi - "Chronos" (1985) + "Baraka" (1992) + "Samsara" (2012), mas não o conseguiu.
Mais um ano terminado, mais um inevitável balanço.
Musicalmente, sei que não ouvi muitos discos que poderiam estar neste lote dos "melhores". Ainda assim, estes são os discos que mais gostei de ouvir durante o ano que agora finda:
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1 - Swans: "The Seer" 2 - Moon Duo: "Circles" 3 - Death Grips: "No Love Deep Web" 4 - Sleigh Bells: "Reign of Terror" 5 - Om: "Advaitic Songs" 6 - John Zorn: “The Concealed” 7 - Matt Elliott: “The Broken Man” 8 - John Zorn & Mike Patton: “Templars: In Sacred Blood” 9 - Dead Can Dance: "Anastasis" 10 - Godspeed You Black Emperor: “Allelujah! Don’t Bend! Ascend!” 11 - Felix Kubin: "TXRF" 12 - Tom Zé: "Tropicália Lixo" 13 - Barry Adamson: "I Will Set You Free" 14 - Bill Fay: "Life is People" 15 - Tame Impala: "Lonerism" 16 - Liars: "WIXIW" 17 - Actress: “RIP” 18 - Grimes: "Visions" 19 - Gonjasufi: "MU.ZZ.LE" 20 - Philip Glass: “Rework” 21 - Spiritualized: “Sweet Heart Sweet Light” 22 - Japandroids: "Celebration Rock" 23 - Mouse on Mars: "Parastrophics" 24 - Four Tet: "Pink" 25 - Grizzly Bear: "Shields"
Discos portugueses: o único disco verdadeiramente original que ouvi em 2012: O Experimentar N’a M’Incomoda: “2 – Sagrado e Profano”
----- Swans:
Eis uma boa notícia para coleccionadores de edições especiais: com a extrema qualidade da editora Criterion Collection, acaba de ser colocada à venda a fantástica "Trilogia Qatsi" em Blu-Ray. Esta trilogia de filmes representa uma revolução na linguagem audiovisual contemporânea.
Com a herança da linguagem visual das primeiras experiências do documentário sem palavras de Dziga Vertov, Hilary Harris ou Walter Ruttmann, o realizador Godfrey Reggio preconizou uma nova forma de olhar as imagens e ouvir os sons, propondo uma nova relação expressiva entre ambos meios de comunicação e criando uma verdadeira obra de arte audiovisual.
Com a música sublime de Philip Glass, Godfrey Reggio mostra-nos um mundo saturado de imagens pré-fabricadas, fruto da sociedade hiper-acelerada e materialista, uma sociedade onde a Natureza foi suplantada pelo advento maciço do modelo de vida moderno tecnológico e digital.
Ao mesmo tempo uma meditação hipnótica em imagens e música e uma crítica feroz ao estilo de vida alienado do homem moderno, esta trilogia produz no espectador um impacto que tem tanto de emocionante como de atordoador. "Koyaanisqatsi" (1983), "Powaqqatsi" (1988) e "Naqoyqatsi" (2002), cada um à sua maneira, cada um com um notável ângulo de visão sobre o homem e a natureza, são filmes de uma beleza estonteante, uma viagem espiritual e fascinante que será, certamente, potenciada com a qualidade digital (som e image) proporcionada pelo Blu-Ray. eu já tinha adquirido há uns anos esta trilogia em DVD, numa cara edição estrangeira. Agora sinto-me compelido a comprar esta irrepreensível edição da Criterion...
É que a edição da Criterion, que pode ser vista aqui, não se resume aos três filmes. Contém um magnífico lote de extras que fará as delícias do cinéfilo mais exigente: documentários, making of, entrevistas aos criadores, ensaios de análise, fotografias, etc.
Esta obra, dado o seu enorme valor artístico, faz parte da colecção permanente do The Museum of Modern Art (Nova Iorque) e do The British Film Institute (Londres).
O filme "Metropolis" (1927) do mestre realizador alemão Fritz Lang é, porventura, um dos melhores filmes do período mudo. Esta obra expressionista de ficção científica tem sido, igualmente, uma das obras mudas mais musicadas ao longo das décadas. A composição original encomendada por Lang foi criada pelo compositor Gottfried Huppertz, mas durante as décadas posteriores foram muitos os músicos e grupos que fizeram música original para acompanhar as imagens inesquecíveis de "Metropolis".
Eis alguns nomes - oriundos dos mais variados universos musicais - que já criaram sons para o filme de Fritz Lang: Kraftwerk, Philip Glass, Model 500, Jeff Mills, Yellow Magic Orchestra, Michael Nyman, Ronnie Cramer, John Foxx, Autechre, The Alloy Orchestra, Giorgio Moroder e Abel Korzeniowski.
Do trabalho árduo dos mineiros da Serra Pelada (minas de ouro do Brasil) extrai-se beleza visual ao ritmo da música tribal e de um coro de crianças sul-americanas. A vida em transformação, em consonância com o chamamento original da terra, o sacrifício humano em prol do desenvolvimento civilizacional. O suor destes homens é vertido em ganância alheia. O trabalhador morto que é carregado aos ombros pelos colegas (no final do vídeo) transforma-se numa espécie de "Pietá" dos tempos modernos.
As imagens são captadas por um dos maiores documentaristas de sempre, Godfrey Reggio, musicadas por um dos maiores compositores contemporâneos, Philip Glass.
"Powaqqatsi" é o segundo capítulo de uma trilogia magistral e única na história das imagens e dos sons - "Trilogia Qatsi".
O álbum "Songs From the Liquid Days" (1986) de Philip Glass é uma obra-prima ímpar na obra do compositor norte-americano. E esta obra-prima em forma de disco é constituída de pequenas obras-primas musicais, em forma de composições.
É o caso deste tema "Lightning" (cuja parte vocal é erradamente atribuído à cantora Susanne Vega). Ouvir este tema até ao fim é sentir uma energia avassaladora proveniente da construção rítmica e harmónica de Glass. E a voz de Janice Pendarvis é espantosamente bela e possante, uma espécie de torrente emocional que encaixa na perfeição na música de Glass.
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A partir desta composição extraordinária, um grupo de músicos de rua muito especial criou esta fabulosa performance e adaptou a música para um surpreendente naipe de instrumentistas de sopro e percussão.
"Baraka" (1992) é uma palavra sufi que significa "Sopro de Vida" ou "Benção". Este é um sublime documentário sem legendas nem narração em voz-off (no estilo da obra-prima "Koyaanisqatsi" de Godfrey Reggio) sobre a natureza e a condição humana no planeta Terra, revelando os contrastes entre civilizações muito diferentes. No fundo, é um filme que enaltece a humanidade (mesmo que mostre a destruição e a degradação humanas) e a relação entre distintas raças, religiões, línguas e culturas.
Realizado por Ron Fricke (ex-director de fotografia de "Koyaanisqatsi"), "Baraka" é um hipnotizante poema visual filmado em estilo "time-lapse" e "super slow-motion", no qual as imagens incluem rituais religiosos, maravilhas naturais, processos de mecanização e diversos estilos de vida. Sendo um documentário visual, a música desempenha um papel fundamental (como a música de Philip Glass desempenhava em "Koyaanisqatsi"). A música original de "Baraka" foi composta pelo compositor Michael Stearns, mas há um momento do filme - porventura o mais belo e, ao mesmo tempo, o mais triste - em que a música é dos Dead Can Dance.
O tema que acompanha a sequência (em baixo) de pobreza extrema em países subdesenvolvidos da Ásia, é "The Host of Seraphim", retirada do álbum "The Serpent's Egg" (1988). Um tema deveras pungente e quase místico, do qual emanam emoções à flor da pele, exacerbadas pela força inquietante das imagens:
O realizador Ron Fricke prepara a estreia do seu novo e muito esperado filme: "Samsara", com lançamento previsto ainda este ano.
Hoje é o dia dos 75º aniversário de um dos meus compositores contemporâneos favoritos (e já muitas vezes citados neste blog - tem 45 entradas): Philip Glass.
Amado e odiado em igual medida, como quase todos os grandes artistas o são, Philip Glass é um compositor que atravessou as últimas quatro décadas com espantosa capacidade de reinvenção criativa. Inicialmente conotado com o minimalismo, Glass inovou e conseguiu trilhar um caminho musical único com base numa linguagem estética assente numa forte identidade artística.
A sua vasta e diversificada obra é prova de um trabalho intenso e ecléctico, com peças para orquestra, teatro, ensemble, óperas, documentários, bailado, exposições e filmes de ficção. Em 2007, quando Philip Glass completou 70 anos, o realizador Scott Hicks (o mesmo que fez "Shine" (1996) sobre o pianista esquizofrénico David Helffgot) acompanhou-o durante mais de um ano para a realização de um documentário sobre o compositor.
Deste trabalho resultou o muito interessante filme "Glass: a Portrait of Philip in Twelve Parts", um magnífico documentário que revela o método criativo de Glass, a sua relação com os seus músicos, assim como os seus momentos familiares mais recatados. Um documentário honesto e descomprometido que faz justiça à grandeza artística do autor de algumas das bandas sonoras mais memoráveis dos últimos 25 anos.
Philip Glass, um dos maiores compositores vivos (muitas vezes comentado neste blogue), vai cumprir 75 anos no dia 31 de Janeiro de 2012.
Para comemorar a data e servir, ao mesmo tempo, de homenagem merecida, está a ser preparado um disco de remisturas de obras de Glass por parte de alguns dos maiores nomes da música electrónica actual: Amon Tobin, Tim Hecker, Memory Tapes, Cornelius e Tyondai Braxton (dos Battles). A produção do disco é da responsabilidade do músico Beck.
Aguardemos, pois, com muita expectativa, o resultado aliciante e promissor projecto.
Não é por acaso que no Youtube os dois primeiros comentários a este vídeo são antagónicos: “This is super cool!” vs. “The horror, the horror”. Nem podia ser de outra forma: o compositor americano Philip Glass divide paixões, entre o fervor fanático e o ódio avassalador. A sua música esteve ancorada na estética minimal repetitiva para depois evoluir em distintas ramificações estilísticas ao longo dos anos. O que este vídeo documenta é a fase criativa mais febril e estonteante de Glass. O Philip Glass Ensemble interpreta o trecho “Train Spaceship Part 2” da ópera-que-revolucionou-a-ópera“Einstein on The Beach”, escrita em 1976 com encenação de Robert Wilson.
Neste vídeo vemos um Philip Glass jovem e transbordante de energia a tocar órgão e a coordenar os restantes instrumentistas. Cabe dizer que se trata de 6 minutos de grande intensidade sonora, com flutuações melódicas, harmónicas e rítmicas subtis e hipnotizantes (era esse um dos efeitos da música repetitiva). O domínio do ritmo e das dinâmicas da composição de Glass é impactante, a forma como a voz se vai enquadrando na densa estrutura sonora é digna de nota. Existe uma ilusão de repetição, já que a cada sequência melódica Glass inflitra pequenas variações de molde a que surjam, paulatinamente, novos motivos de interesse musical, num processo quase caleidoscópico. É preciso abrir a mente para fruir esta descarga sonora de Glass. E já deu para perceber que, com estas palavras, me encontro do lado da barricada dos que dizem: “This is super cool!”.
Pode ler-se aqui mais em pormenor de que trata a curta-metragem "Evidence". O filme é do premiado realizador Godfrey Reggio, autor da fabulosa trilogia "Qatsi", já dissecada neste blogue.
Basicamente, "Evidence" aborda a reacção expressiva das crianças quando estão a ver televisão (e o subsequente fascínio que exerce sobre elas), neste caso, o filme "Dumbo". A música, como habitualmente nos filmes de Reggio, é de Philip Glass: