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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

100 anos de um Manifesto revolucionário


A primeira vanguarda histórica das artes do século XX surgiu nestas páginas do jornal francês Le Figaro. As premissas teóricas do Futurismo de Filippo Marinetti foram publicadas pela primeira vez no jornal francês, em forma de Manifesto Futurista. Foi no dia 20 de Fevereiro de 1909. Faz agora 100 anos. Marinetti considerava que os habituais recursos da arte - forma e cor - já não bastavam para expressar a complexidade social, cultural e política do mundo moderno e industrializado que então começava a despontar nas sociedades ocidentais. Assim, era necessário incorporar outros elementos para estabelecer uma ruptura radical com o passado: o movimento, a velocidade, a vida moderna, a violência e as máquinas, foram tópicos desenvolvidos pela arte Futurista.
O Futurismo italiano estendeu-se, igualmente, à pintura, à literatura e à música. Com Marinetti houve outro grande visionário, Luigi Russolo, inventor das "máquinas de fazer ruído", que já abordei neste post. Foi com Russolo que o ruído foi, pela primeira vez na história da música, utilizado com intencionalidade estética e artística. O Futurismo extinguiu-se ainda antes do fim da primeira Grande Guerra (1916), mas deixou uma indelével herança teórica por toda a Europa, despoletando outros movimentos de vanguarda, como o Dadaísmo e o Surrealismo.
Um dia tive um professor de artes visuais que me disse que nunca mais houve, em todo o século XX, um período tão rico e inovador em termos de ideias e de experiências artísticas como no período das duas primeiras décadas do século XX. Duas décadas de total libertação de convenções, de libertação ao encontro da novidade, da transgressão, da audácia criativa. Não foi de imediato, mas ao fim de alguns anos acabei por achar que esse professor tinha total razão.

Filippo Marinetti

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

George Antheil - Bad boy of music


(Imagens: George Antheil / Ezra Pound e George Antheil)
Pergunto-me muitas vezes porque é que o génio artístico de George Antheil (pronuncia-se "antil") não é reconhecido ou nem sequer surge, muitas das vezes, referenciado nos dicionários musicais como merecia.
George Antheil (1900 - 1959) foi um músico à frente do seu tempo. Nascido nos EUA, New Jersey, aprendeu muito cedo a tocar piano. Um dia teve um ímpeto expansionista e deixou os EUA com uns imberbes 22 anos, mudando-se para a Europa (Paris, Berlim, Viena...) onde conheceu Stravinsky, uma das suas principais referências. Começou a dar concertos de piano que ficaram famosos pela total inovação técnica de abordar o teclado: de forma percussiva e violenta, gerando amálgamas sonoras abruptas e harmonicamente dissonantes. Numa época em que ainda se respirava a música melódica dos impressionistas (Debussy, Ravel...), George Antheil quebrou regras e violentou os ouvidos mais sensíveis, de tal forma que alguns concertos acabavam em verdadeiros motins.
Vanguardista e revolucionário foram os primeiros epítetos atribuídos a Antheil. Estávamos nos gloriosos e ricos anos 20 do século XX e o próprio pianista auto-proclamava-se, apropriadamente, "bad boy of music". A sua irreverente visão criativa da música levou-o a experimentar inusitadas combinações de instrumentos que nunca tinham sido tentadas, inventar instrumentos (como os futuristas italianos) e a utilização, como fez também Edgar Varèse, de sons e ruídos urbanos - sirenes, buzinas, ruídos industriais, etc.
Com um espírito ávido de novas experiências artísticas e novos conhecimentos, foi amigo de artistas ilustres: James Joyce, Ezra Pound, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dali, Ernest Hemingway, Erik Satie, Igor Stravinsky, Fernand Léger... Ou seja, alguma da nata artística daqueles anos. Uma das suas obras musicais mais conhecidas e celebradas é a música que compôs para o filme dadaísta "Ballet Mécanique" de 1924, realizado pelo pintor e cineasta Fernand Léger. "Ballet Mécanique" é um marco insuperável do cinema de vanguarda dos anos 20, uma proposta visual abstracta, usando técnicas mistas - fotografia, colagens de imagens, animação, imagem real, ângulos de câmara e montagem ritmada. A música de George Antheil é um portento de erupção rítmica e combinações tímbricas, numa massa sonora agreste e imprevisível (aqui se nota onde o poianista de free jazz Cecil Taylor foi buscar inspiração) - um "ballet mecânico" com objectos e formas) como se poder ver e ouvir aqui:

Mais tarde, George Antheil regressa à américa natal e enverada por uma carreira de compositor de bandas sonoras para filmes de Hollywood. Com o passar dos anos, a música de Antheil foi evoluindo para um estágio estético mais convencional, quase próximo no neo-clacissismo, deixando para trás os anos de rebeldia e ousadia formal.

Agora chamo a especial atenção para o que se segue: a recriação da peça musical "Ballet Mécanique" de George Antheil recriada por uma orquestra de instrumentos... robots. Trata-se do projecto norte-americano LEMUR - League of Electronic Musical Urban Robots . A apresentação deste concerto aconteceu na Nation Gallery of Art, Washington, em 2006. São 16 pianos a tocar simultaneamente com uma parafernália imensa de percussão e objectos sonoros pré-controlados.

Deveras impressionante.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A arte dos ruídos


Silêncio. Silêncio. Silêncio. Ruído. Ruído. Ruído. Na actual sociedade prevalece o ruído, já o sabemos. Não há praticamente lugar nenhum no qual consigamos sentir o silêncio. Ruído, música, sons da natureza e do meio ambiente, perfazem o registo auditivo do nosso quotidiano. E quem foi o primeiro a reconhecer que o ruído era um determinante elemento da sociedade do século XX? Um italiano, futurista e contemporâneo de Marinetti, escritor e poeta, principal impulsionador do Futurismo. Chamava-se Luigi Russolo e lançou as bases, pasme-se! em 1913, para a música industrial (aquela que recorre ao ruído na sua estrutura musical). Essas bases teóricas estão compiladas num manifesto (em livro, edição espanhola) chamado "El Arte de los Ruidos" ("A Arte dos Ruídos"). Neste manifesto, Russolo refere que até ao Século XIX e ao advento da Sociedade Industrial, o ruído não fazia parte da sociedade. A partir do início do Século XX, o ruído começou a ser parte integrante do quotidiano, com as fábricas, os meios de transportes e outras diversas máquinas. Então, o pintor e compositor italiano achava que se deveria incluir esses ruídos e sons (tidos como não-musicais) na linguagem musical convencional. Que era o mesmo que dizer, romper com as próprias convenções. Para tal, Russolo inventou um conjunto de máquinas e instrumentos de fazer ruído, a que deu o nome de Intonarumori (ver imagem). Em 1914, no primeiro concerto de 18 destes instrumentos, provocou um enorme escândalo em Milão.
Durante o resto do século XX, muito se teorizou sobre a importância do ruído na música, na arte e na vida (vide John Cage).