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segunda-feira, 11 de maio de 2015

A música de "Mad Max"

Parece que o filme "Mad Max: Fury Road" é um blockbuster de tal qualidade que já há quem lhe chame "obra-prima" (num delírio visual que mistura Alejandro Jodorowsky e Terry Gilliam!). Enquanto o filme não estreia esta semana na Europa podemos escutar a banda sonora (pelo menos o tema principal do filme) da autoria de Junkie XL
Junkie XL foi em meados dos anos 90 um músico de electrónica/big beat que veio a especializar-se em bandas sonoras para cinema, videojogos e publicidade. 
Aos 47 anos assina a banda sonora do regresso esperado de "Mad Max". Musicalmente trata-se de um tema bastante eloquente e grandioso com uma possante matriz rítmica pós-industrial (como de resto o próprio filme pede).

Ouçam:
 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O regresso de Terry

Enquanto os Monty Python não fazem o seu apoteótico regresso aos palcos no Verão, eis que um dos seus elementos, Terry Gilliam, lança o seu último e excêntrico filme de ficção científica: "The Zero Theorem"
O enredo de “The Zero Theorem” desenrola-se num Mundo corporativo à imagem de "1984″, de George Orwell, onde homens com câmaras funcionam como os olhos de uma figura sombria conhecida como “Management”. Qohen Leth trabalha para conseguir resolver um estranho teorema, enquanto vive enclausurado como um monge virtual no interior de uma capela destruída por um incêndio. 
Protagonizado por Christoph Waltz, David Thewlis, Melanie Thierry, Tilda Swinton e Matt Damon, “The Zero Theorem” ainda não tem distribuidora e, por isso, continua com estreia incerta. Mas o primeiro trailer divulgado hoje remete para o habitual universo visual futurista repleto de humor sarcástico e negro (apesar das cores dos cenários) a que Terry já nos habituou:
 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Cineastas sem canudo

Recentemente, o realizador William Friedkin disse no festival de Veneza que os jovens não precisam de frequentar escolas de cinema para se tornarem realizadores. É uma verdade. 
O mesmo se aplica a outras áreas artísticas: há muitos bons músicos que nunca aprenderam formalmente música, assim como grandes escritores que nunca frequentaram cursos de literatura ou notáveis artistas plásticos que não cursaram artes. Ser-se autodidacta nas artes sempre foi um fenómeno relativamente vulgar. Claro que frequentar uma escola artística proporciona conhecimentos e bases teóricas, mas o que conta mesmo para singrar na vida artística é o empenho, o trabalho, a vontade, a experiência prática e a criatividade de cada artista descobrir o seu próprio caminho e as suas próprias ideias estéticas. 
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Na área do cinema, por exemplo, há um bom lote de cineastas que não têm qualquer formação académica mas que não deixaram de ter sucesso e reconhecimento artístico (cada um a seu modo) por esse facto: 

- Quentin Tarantino 
- Stanley Kubrick 
- Akira Kurosawa 
- Terry Gilliam 
- James Cameron 
- Christopher Nolan 
- John Waters 
- Julie Taymor

domingo, 25 de março de 2012

Gilliam antes dos Python

Enquanto não esperamos pelo novo filme da trupe Monty Python, podemos recordar algumas obras antigas que fizeram história... ainda antes da própria história dos Monty Python ter começado. É o caso da carreira de Terry Gilliam (o único elemento americano do grupo) que revelou o seu peculiar talento - visual e humorístico - com as suas animações que viriam a ser um dos elementos de maior destaque na estética “pythoniana”.
Ainda antes do programa que celebrizou o grupo “E Agora, Algo Completamente Diferente” ter ido para o ar na televisão britânica, Terry Gilliam tinha já desenvolvido a linha visual e o tom de humor nonsense que iria caracterizar os monty Python. A prova disso é a curta-metragem realizada por Gilliam em 1968, intitulada “Storytime”:

domingo, 8 de janeiro de 2012

As imagens de Chris Marker


Na minha última visita à Fnac deparei-me com esta maravilhosa edição em DVD (Atalanta): dois DVDs com três filmes de Chris Marker, cineasta experimental que há um ano foi alvo de uma importante retrospectiva no Estoril Film Festival. O preço é bastante simpático: 19,99€. Só não comprei porque já tenho os filmes "Sans Soleil" e "La Jetée" que adquiri na Amazon há uns anos por um preço, ainda por cima, elevado.
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Mas afinal quem é Chris Marker?
Nasceu em França em 1922 e vive actualmente em Paris. Combateu na 2ª Guerra Mundial, estudou filosofia com Jean Paul Sartre e Guy Debord mas especializou-se em documentários, sendo ainda produtor, escritor, operador de câmara, artista multimédia e jornalista.
Jean-Luc Godard, Orson Welles, Federico Fellini, Pasolini, Chantal Akerman, Wim Wenders, Werner Herzog, Errol Morris, Abbas Kiarostami, e Agnès Varda referem que é um dos melhores cineastas do mundo - um "ensaísta das imagens". Trabalhou com Alain Resnais no sublime documentário sobre Auschwitz - “Noite e Nevoeiro” (1955). Deu muito poucas entrevistas ao longo da vida e quando lhe pedem uma fotografia, dá a do seu gato Guillaume.

Marker realizou em 1962 um dos mais enigmáticos, originais e belos filmes de sempre: "La Jetée". É um filme de ficção científica (aborda dois temas recorrentes: o holocausto nuclear e a viagem no tempo), feito com imagens estáticas, fotografias filmadas, à excepção de um único movimento. A curta-metragem narra a aventura de um sobrevivente da Terceira Guerra Mundial que vive como prisioneiro nos subterrâneos de uma Paris destruída. Esse homem guarda lembranças de uma infância feliz na superfície, em tempos anteriores à guerra, quando costumava ser levado pelos pais para admirar os aviões no aeroporto de Orly. Numa dessas idas ao aeroporto, quando criança, ele vê um homem ser assassinado.

Em virtude dessas memórias, cientistas do pós-guerra escolhem-no como cobaia para experiências de viagem no tempo. Como a superfície do planeta foi devastada pela guerra e pela radioactividade, a humanidade vive reclusa no subsolo e com parcos recursos. A viagem pelo tempo do protagonista irá levá-lo ao encontro da sua mais funda memória do amor, transformando a sua percepção da vida e do mundo.
Se o cinema permite uma sofisticada manipulação do tempo através da montagem, "La Jetée" demonstra que mesmo imagens estáticas são capazes de fluir e de se submeter ao transcorrer do tempo. Mas este é apenas um dos trunfos estéticos desta obra maior do cinema mundial. A poética das imagens, a soberba montagem, a história envolvente, a voz off subtil, fazem deste filme uma experiência artística única.
"La Jetée" é um filme sonoro a preto e branco, mas que prescinde de uma característica inerente à linguagem do cinema: o movimento. Neste aspecto, o crítico Raymond Bellour terá razão ao afirmar que não é o movimento que define o cinema de forma mais profunda, mas sim o tempo. E é sobre manipulação do tempo, concebida através de uma rigorosa montagem, que este filme se revela, provando que mesmo imagens estáticas são capazes de fluir e de se submeter ao transcorrer do tempo.
As novas gerações talvez saibam da existência do filme porque "La Jetée" de Marker inspirou o filme que Terry Gilliam (ex-Monty Python) fez em 1995, "12 Macacos", com Brad Pitt e Bruce Willis. O realizador Terry Gilliam diz mesmo que "La Jetée" de Marker “tem a melhor montagem que alguma vez viu, com a música e a voz a marcar o ritmo e a deslumbrar o espectador”. As influências estéticas e plásticas do filme de Chris Marker perduram até aos dias de hoje, não só no seio do próprio cinema, como na música, na fotografia e nas artes plásticas.
No caso da música, David Bowie tem um vídeo intitulado “Jump They Say” com referências directas ao filme de Marker; o grupo de jazz Chicago Underground Trio e os Isotope 217 têm um disco chamado "La Jetée" (1999 e 1999, respectivamente); o projecto de pós-rock Tortoise editou um disco intitulado "Jetty" (1998).
Em 1982, Chris Marker realiza outra obra seminal,“Sans Soleil”, que resulta numa complexa reflexão sobre a cultura da imagem na sociedade pós-moderna – filme, vídeo e fotografia. E volta a abordar os seus temas de eleição: ficção científica, memória, tempo, viagem, culturas de África e Japão. Realizou ainda um notável documentário sobre a vida do realizador russo Andrei Tarkovski - "One Day in the Life of Andrei Arsenevitvh" (2000) e em 2005 criou um trabalho multimédia e digital para o MoMa – Museu of Modern art de New York.
Chris Marker é um cineasta que continua activo mesmo com 90 anos de idade. Continua a pesquisar novas formas de expressão audiovisual, recorrendo às novas tecnologias digitais de tratamento de imagem e som. Um artista com visão quase táctil da experiência cinematográfica.
Primeira parte do filme "La Jetée" (as outras duas estão no youtube):

domingo, 1 de janeiro de 2012

Dez grandes filmes nunca realizados


Uma das iniciativas que mais prazer (e trabalho) me deu fazer neste blog foi a série "Grandes Filmes Frustrados", levada a cabo entre Setembro e Outubro de 2010.
Nesta série apresentei dez casos de projectos de filmes de dez grandes realizadores que, por diversas razões, não foram possíveis de concretizar. Filmes ambiciosos e (alguns) megalómanos que jamais viram a luz do dia e sobre os quais o grande público pouco conhece.
Os realizadores envolvidos são Orson Welles, Lars Von Trier, Robert Bresson (na imagem), Stanley Kubrick, Hitchcock, Terry Gilliam, James Cameron, Jodorwoski, David Lynch e Paul Verhoeven.
Quem não acompanhou a publicação destes posts e/ou os quiser (re)ler, é favor abrir o seguinte link.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Os irmãos Quay


No cinema existem os irmãos Coen e os irmãos Quay.
Os primeiros são sobejamente conhecidos e reconhecidos - por causa dos Óscares por "Este País Não é Para Velhos" e as nomeações por "Indomável".
Já os segundos, os Quay, irmãos americanos e gémeos verdadeiros, gozam de muito menos popularidade, mas possuem altíssimo reconhecimento artístico dentro da área em que se movimentam.
Fazem cinema de animação, misturando múltiplas técnicas de animação (sobretudo bonecos, marionetas, objectos). O seu cinema é visualmente apelativo, com elaborados jogos de luz e de sombras, ambientes surrealistas e densos, preocupação pelos detalhes narrativos, movimentos de câmara invulgares no universo do cinema de animação.
Tim Burton afirma que o imaginário dos Quay exerceu grande influência no seu cinema. Foram eles que conceberam um dos mais notáveis videoclips da história da música pop - "Sledgehammer" de Peter Gabriel.
Por outro lado, Terry Gilliam dos Monty Python elege os irmãos Quay como os mais criativos realizadores de animação dos últimos 30 anos. Vale bem a pena descobri-los.

domingo, 7 de novembro de 2010

Chris Marker no Estoril

Um dos mais singulares e "misteriosos" cineastas ainda vivos, Chris Marker, vem a Portugal para uma retrospectiva da sua obra no Estoril Film Festival. Sobre este realizador escrevi há dois anos neste blogue um texto que reproduzo agora.

Nasceu em França em 1922 e vive actualmente em Paris. Combateu na 2ª Guerra Mundial, estudou filosofia com Jean Paul Sartre e Guy Debord mas especializou-se em documentários, sendo ainda produtor, escritor, operador de câmara, artista multimédia e jornalista. Jean-Luc Godard, Orson Welles, Federico Fellini, Pasolini, Chantal Akerman, Wim Wenders, Werner Herzog, Errol Morris, Abbas Kiarostami, e Agnès Varda referem que é um dos melhores cineastas do mundo - um "ensaísta das imagens". Trabalhou com o realizador francês Alain Resnais no documentário sobre Auschwitz - “Noite e Nevoeiro” (1955). Deu muito poucas entrevistas ao longo da vida e quando lhe pedem uma fotografia, dá a do seu gato Guillaume.
Chama-se Chris Marker e realizou em 1962 um dos mais enigmáticos, originais e belos filmes de sempre: "La Jetée". É um filme de ficção científica (aborda dois temas recorrentes: o holocausto nuclear e a viagem no tempo), feito com imagens estáticas, fotografias filmadas, à excepção de um único movimento. A curta-metragem narra a aventura de um sobrevivente da Terceira Guerra Mundial que vive como prisioneiro nos subterrâneos de uma Paris destruída. Esse homem guarda lembranças de uma infância feliz na superfície, em tempos anteriores à guerra, quando costumava ser levado pelos pais para admirar os aviões no aeroporto de Orly. Numa dessas idas ao aeroporto, quando criança, ele vê um homem ser assassinado. Em virtude dessas memórias, cientistas do pós-guerra escolhem-no como cobaia para experiências de viagem no tempo. Como a superfície do planeta foi devastada pela guerra e pela radioactividade, a humanidade vive reclusa no subsolo e com parcos recursos. A viagem pelo tempo do protagonista irá levá-lo ao encontro da sua mais funda memória do amor, transformando a sua percepção da vida e do mundo.
Se o cinema permite uma sofisticada manipulação do tempo através da montagem, "La Jetée" demonstra que mesmo imagens estáticas são capazes de fluir e de se submeter ao transcorrer do tempo. Mas este é apenas um dos trunfos estéticos desta obra maior do cinema mundial. A poética das imagens, a soberba montagem, a história envolvente, a voz off subtil, fazem deste filme uma experiência artística única.
"La Jetée" é um filme sonoro a preto e branco, mas que prescinde de uma característica inerente à linguagem do cinema: o movimento. Neste aspecto, o crítico Raymond Bellour terá razão ao afirmar que não é o movimento que define o cinema de forma mais profunda, mas sim o tempo. E é sobre manipulação do tempo, concebida através de uma rigorosa montagem, que este filme se revela, provando que mesmo imagens estáticas são capazes de fluir e de se submeter ao transcorrer do tempo.
As novas gerações talvez saibam da existência do filme porque "La Jetée" de Marker inspirou o filme que Terry Gilliam (ex-Monty Python) fez em 1995, "12 Macacos", com Brad Pitt e Bruce Willis. O realizador Terry Gilliam diz mesmo que "La Jetée" de Marker “tem a melhor montagem que alguma vez viu, com a música e a voz a marcar o ritmo e a deslumbrar o espectador”.
As influências estéticas e plásticas do filme de Chris Marker perduram até aos dias de hoje, não só no seio do próprio cinema, como na música, na fotografia e nas artes plásticas. No caso da música, David Bowie tem um vídeo intitulado “Jump They Say” com referências directas ao filme de Marker; o grupo de jazz Chicago Underground Trio e os Isotope 217 têm um disco chamado "La Jetée" (1999 e 1999, respectivamente); o projecto de pós-rock Tortoise editou um disco intitulado "Jetty" (1998).
Em 1982, Chris Marker realiza outra obra seminal,“Sans Soleil”, que resulta numa complexa reflexão sobre a cultura da imagem na sociedade pós-moderna – filme, vídeo e fotografia. E volta a abordar os seus temas de eleição: ficção científica, memória, tempo, viagem, culturas de África e Japão. Realizou ainda um notável documentário sobre a vida do realizador russo Andrei Tarkovski - "One Day in the Life of Andrei Arsenevitvh" (2000) e em 2005 criou um trabalho multimédia e digital para o MoMa – Museu of Modern art de New York.
Chris Marker é um cineasta que continua activo mesmo com 90 anos de idade. Continua a pesquisar novas formas de expressão audiovisual, recorrendo às novas tecnologias digitais de tratamento de imagem e som. Um artista com visão quase táctil da experiência cinematográfica.
Primeira parte do filme "La Jetée" (as outras duas estão no youtube):

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Antologia Cinematográfica de Gérard Courant


Gérard Courant, 59 anos (na imagem), é um dos realizadores mais prolíferos da História do Cinema. No entanto, nem este facto o torna particularmente conhecido, mesmo nos meios académicos e cinéfilos.
O cineasta francês realizou e produziu cerca de 300 filmes desde os anos 70 até à actualidade, mas a sua obra mais reconhecida e ambiciosa continua a ser a verdadeira antologia cinematográfica chamada “Cinématon”, iniciada em Fevereiro de 1978. O conceito por detrás do “Cinématon” é simples (mas não simplista): uma câmara filma um único plano fixo de uma dada personalidade durante uns rigorosos 3 minutos e 20 segundos (a duração de uma bobine do formato Super 8). Enquanto Gérard Courant filma as personalidades, estas são livres de fazer o que quiserem em frente da câmara (os filmes são sempre mudos, mesmo que as pessoas falem). Não existe encenação ou artificialismos de imagem.
O projecto inicial de Gérard Courant, no final dos anos 70, resumia-se a filmar uma série de apenas 100 “Cinématons”. Contudo, este limite rapidamente foi ultrapassado com o entusiasmo do realizador, a adesão dos participantes e a originalidade inerente ao projecto. No total, Courant filmou, ao longo dos anos, o impressionante número de 4000 “Cinématons”, cuja duração total ascende a perto de 150 horas de filme. Corresponde a seis dias consecutivos de visionamento - a última exibição integral destes filmes foi apresentada em 2009, em Avignon (França).
Nesta monumental série de “retratos filmados” (uma tradução livre aproximada ao conceito de “Cinématon”) concebida ao longo dos últimos 30 anos (média de 100 por ano), Courant filmou milhares de pessoas: primeiro com amigos, familiares e realizadores em início de carreira; depois com intelectuais e personalidades artísticas (realizadores, músicos, actores) de renome internacional: Jean-Luc Godard, Wim Wenders, Terry Gilliam, Fernando Arrabal, Sandrine Bonnaire, Félix Guattari, Joseph Losey, Nagisa Oshima, Ken Loach, Roberto Benigni, Samuel Fuller, Gaspar Noé, Sergueï Paradjanov, Derek Jarman, entre muitos outros.
O realizador português Manoel de Oliveira também colaborou neste projecto, participando no 102º “Cinématon”, em 1981.
O trabalho de Gérard Courant lembra a pureza realista dos primeiros documentários da história do cinema, nos quais a acção é captada em plano fixo, sem artifícios de montagem e filmando a total espontaneidade natural do momento (ainda que alguma pessoa filmada possa encenar alguma situação). Não admira, por isso, que Raphäel Bassan, realizador e crítico de cinema francês, tenha referido que o autor do conceito “Cinématon” é o “descendente mais puro do cinema dos Irmãos Lumière”. Isto porque “cada retrato filmado” é como uma pintura em movimento que, durante três minutos e meio, regista as nuances da pessoa filmada, abrindo espaço para a sua interpretação ou, simplesmente, para a captação natural da sua presença física. E o realizador, numa minúcia de relojoeiro, aponta o dia, a hora e a profissão de cada "Cinématon" filmado.
Apesar de parecer um conceito ancorado em previsibilidade e monotonia, a verdade é que os “Cinématons” de Gérard Courant se prestam a muitos momentos distintos e surpreendentes, como as caretas feitas por Terry Gilliam, o “discurso mudo” de Roberto Benigni, a descontracção de Godard a fumar, a pintura facial efectuada pelo músico e performer Gérome ou a quase imobilidade física do realizador Robert Kramer. Alguns “Cinematons” são, por isso, mais exuberantes e interessantes do que outros, mas deste facto não decorre de nenhuma responsabilidade directa do realizador, visto que a liberdade de actuação perante a câmara é atribuída, inteiramente, à pessoa filmada. E é esta veracidade do momento filmado, esta autenticidade da imagem filmada que outorga a esta colossal série de “Cinématons” de Gérard Courant, uma originalidade quase neo-realista em formato de documentário de curta duração, num projecto único na História do Cinema: uma verdadeira Antologia Cinematográfica.
"Cinématon" de Terry Gilliam:


Nota: Este texto foi publicado originalmente no jornal do Teatro Municipal da Guarda, a propósito dos "Encontros Cinematográficos".

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Grandes Filmes Frustrados - 3: Terry Gilliam e "Quixote"

Terry Gilliam, o realizador que fez parte dos Monty Python, pode bem amaldiçoar Cervantes por não conseguir levar a cabo o seu épico projecto de filmar "The Man Who Killed Don Quixote". Dez anos depois de ter desistido da primeira tentativa de filmagem, voltou a tentar há uns meses. Sem qualquer sucesso. A falta de financiamento, há um mês e meio, ditou o fim do sonho de Terry Gilliam. O projecto, já relativamente adiantado, foi cancelado. A grande dúvida, agora, é saber se o realizador irá conseguir reunir motivação e novo financiamento para uma terceira tentativa para levar ao grande ecrã a obra literária de Cervantes.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Filmes "Almost Famous"



Na sequência do meu post imediatamente abaixo sobre o filme nunca feito por Hitchcock, recorro a uma lista de 10 películas "famosas" que foram anunciadas mas que, por um ou outro motivo, jamais saíram do papel (ou perto disso).
É o caso destes quatro títulos representados em cartazes, obviamente, imaginários.

domingo, 18 de abril de 2010

O cinema de animação dos irmãos Quay

No cinema existem os irmãos Coen e os irmãos Quay. Os primeiros são sobejamente conhecidos e reconhecidos. Já os segundos, os Quay, irmãos americanos e gémeos verdadeiros, gozam de muito menos popularidade, mas possuem altíssimo reconhecimento artístico dentro da área em que se movimentam. Fazem cinema de animação, misturando múltiplas técnicas de animação (sobretudo bonecos, marionetas, objectos). O seu cinema é visualmente apelativo, com elaborados jogos de luz e de sombras, ambientes surrealistas e densos, preocupação pelos detalhes estéticos, movimentos de câmara invulgares num universo negro e expressionista.
Tim Burton afirma que o imaginário dos Quay exerceu grande influência no seu cinema. E nota-se. Foram os irmãos Quay que conceberam um dos mais notáveis videoclips da história da música pop - "Sledgehammer" de Peter Gabriel. Por outro lado, Terry Gilliam, dos Monty Python, elege os irmãos Quay como os mais criativos realizadores de animação dos últimos 30 anos. Vale bem a pena descobri-los.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Tom Waits e o Diabo


Tom Waits encarna o Diabo no muito esperado filme "Imaginarium of Doctor Parnassus" do lunático (no melhor dos sentidos) realizador Terry Gilliam. Mais do que querer ver a última interpretação da vida de Heath Ledger, quero é ver como Tom Waits dá vida ao Diabo, entidade que por diversas vezes (muitas vezes?) cantou nas suas canções. É que o Diabo só pode ter a voz que Tom tem.

sábado, 23 de maio de 2009

Gilliam


O realizador Terry Gilliam e o actor Verne Troyer, ontem no festival de Cannes, na apresentação do seu noovo filme, "The Imaginarium of Doctor Parnassus". Segundo rezam as crónicas, não será um grande filme do ex-Monty Python, no entanto, o excelente elenco (no qual se destaca o último papel de Heath Ledger) e a história surrealista, suscitam muita curiosidade cinéfila.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Terry Gilliam e os vírus


A ficção científica e o cinema já destruíram - ou ameaçaram destruir - dezenas de vezes a humanidade através de epidemias e vírus mortais à escala planetária. Um desses filmes é "12 Macacos" (1995) de Terry Gilliam, tenebrosa visão de um futuro negro e devastador. Gilliam mostra a Terra depois de um letal vírus ter vitimado cinco biliões de pessoas. Em "12 Macacos", Bruce Willis e Brad Pitt tentavam sobreviver num mundo praticamente dizimado pelo turbilhão viral. À época do lançamento do filme, em 1995, a referência imediata e óbcia era o vírus HIV. E agora com o medo instalado com o vírus h1n1 ("gripe suína" ou "mexicana"), que filme faria hoje Terry Gilliam?...

sábado, 21 de março de 2009

Heath Ledger e o seu último filme desprezado


É uma ironia terrível. O malogrado actor Heath Ledger recebeu o Óscar póstumo há pouco menos de um mês. No entanto, parece que Hollywood não está minimamente interessado em estrear o seu último filme em que participou (na imagem) - "The Imaginarium of Doctor Parnassus" de Terry Gilliam. O filme está terminado e há seis meses que o realizador aguarda por um distribuidor para que possa estrear na sala de cinema. Há até, pasme-se, a possibilidade do filme do ex-Monty Python ser lançado directamente no mercado de DVD. Ledger tinha grande admiração pela criatividade de Terry Gilliam, autor de obras de grande fulgor artístico como "Brazil"(1985) ou "12 Macacos" (1995). Porém, os produtores e empresários do cinema industrial de Hollywood consideram o cinema de Gilliam demasiado "experimental" e com pouca capacidade de projecção comercial, seja com ou sem Heath Ledger no elenco. Ridículo é dizer pouco sobre esta ironia cínica do sistema hollywoodesco...

sexta-feira, 13 de março de 2009

Tom Waits em dois filmes


Notícia do dia: Tom Waits vai entrar como actor num filme que é descrito como "Post-Apocalyptic Western Movie" (só a descrição é um programa). Chama-se "The Book of Eli" e a história gira à volta de um homem solitário que vagueia pelo deserto americano para proteger um livro secreto que possui e que pode salvar a Humanidade. Está bom de ver que será um "road-movie" bizarro. Talvez não tão bizarro quanto a próxima obra do realizador Terry Gilliam -" The Imaginarium of Doctor Parnassus", o tal filme que contou com a última interpretação do malogrado (e oscarizado) Heath Ledger e com a participação do próprio Tom Waits, num papel muito aguardado, já que interpreta o papel de... Diabo. Sabemos quão surrealista, frenética e fantástica é a imaginação criadora de Gilliam, pelo que se espera que o filme seja nada menos que uma verdadeira e perturbante trip alucinogénica na senda do seu último filme "Tideland" (2005).
Desenvolvimento da história aqui.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Chris Marker - o manipulador do tempo

Nasceu em França em 1922 e vive actualmente em Paris. Combateu na 2ª Guerra Mundial, estudou filosofia com Jean Paul Sartre e Guy Debord mas especializou-se em documentários, sendo ainda produtor, escritor, operador de câmara, artista multimédia e jornalista. Jean-Luc Godard, Orson Welles, Federico Fellini, Pasolini, Chantal Akerman, Wim Wenders, Werner Herzog, Errol Morris, Abbas Kiarostami, e Agnès Varda referem que é um dos melhores cineastas do mundo - um "ensaísta das imagens". Trabalhou com Alain Resnais no documentário sobre Auschwitz - “Noite e Nevoeiro” (1955). Deu muito poucas entrevistas ao longo da vida e quando lhe pedem uma fotografia, dá a do seu gato Guillaume.
Chama-se Chris Marker e realizou em 1962 um dos mais enigmáticos, originais e belos filmes de sempre: "La Jetée". É um filme de ficção científica (aborda dois temas recorrentes: o holocausto nuclear e a viagem no tempo), feito com imagens estáticas, fotografias filmadas, à excepção de um único movimento. A curta-metragem narra a aventura de um sobrevivente da Terceira Guerra Mundial que vive como prisioneiro nos subterrâneos de uma Paris destruída. Esse homem guarda lembranças de uma infância feliz na superfície, em tempos anteriores à guerra, quando costumava ser levado pelos pais para admirar os aviões no aeroporto de Orly. Numa dessas idas ao aeroporto, quando criança, ele vê um homem ser assassinado. Em virtude dessas memórias, cientistas do pós-guerra escolhem-no como cobaia para experiências de viagem no tempo. Como a superfície do planeta foi devastada pela guerra e pela radioactividade, a humanidade vive reclusa no subsolo e com parcos recursos. A viagem pelo tempo do protagonista irá levá-lo ao encontro da sua mais funda memória do amor, transformando a sua percepção da vida e do mundo.
Se o cinema permite uma sofisticada manipulação do tempo através da montagem, "La Jetée" demonstra que mesmo imagens estáticas são capazes de fluir e de se submeter ao transcorrer do tempo. Mas este é apenas um dos trunfos estéticos desta obra maior do cinema mundial. A poética das imagens, a soberba montagem, a história envolvente, a voz off subtil, fazem deste filme uma experiência artística única.
"La Jetée" é um filme sonoro a preto e branco, mas que prescinde de uma característica inerente à linguagem do cinema: o movimento. Neste aspecto, o crítico Raymond Bellour terá razão ao afirmar que não é o movimento que define o cinema de forma mais profunda, mas sim o tempo. E é sobre manipulação do tempo, concebida através de uma rigorosa montagem, que este filme se revela, provando que mesmo imagens estáticas são capazes de fluir e de se submeter ao transcorrer do tempo.
As novas gerações talvez saibam da existência do filme porque "La Jetée" de Marker inspirou o filme que Terry Gilliam (ex-Monty Python) fez em 1995, "12 Macacos", com Brad Pitt e Bruce Willis. O realizador Terry Gilliam diz mesmo que "La Jetée" de Marker “tem a melhor montagem que alguma vez viu, com a música e a voz a marcar o ritmo e a deslumbrar o espectador”. As influências estéticas e plásticas do filme de Chris Marker perduram até aos dias de hoje, não só no seio do próprio cinema, como na música, na fotografia e nas artes plásticas. No caso da música, David Bowie tem um vídeo intitulado “Jump They Say” com referências directas ao filme de Marker; o grupo de jazz Chicago Underground Trio e os Isotope 217 têm um disco chamado "La Jetée" (1999 e 1999, respectivamente); o projecto de pós-rock Tortoise editou um disco intitulado "Jetty" (1998).
Em 1982, Chris Marker realiza outra obra seminal,“Sans Soleil”, que resulta numa complexa reflexão sobre a cultura da imagem na sociedade pós-moderna – filme, vídeo e fotografia. E volta a abordar os seus temas de eleição: ficção científica, memória, tempo, viagem, culturas de África e Japão. Realizou ainda um notável documentário sobre a vida do realizador russo Andrei Tarkovski - "One Day in the Life of Andrei Arsenevitvh" (2000) e em 2005 criou um trabalho multimédia e digital para o MoMa – Museu of Modern art de New York.
Chris Marker é um cineasta que continua activo mesmo com quase 90 anos de idade. Continua a pesquisar novas formas de expressão audiovisual, recorrendo às novas tecnologias digitais de tratamento de imagem e som. Um artista com visão quase táctil da experiência cinematográfica.
Primeira parte do filme "La Jetée" (as outras duas estão no youtube):

quinta-feira, 20 de março de 2008

Quay Brothers


No cinema existem os irmãos Coen e os irmãos Quay. Os primeiros são sobejamente conhecidos e reconhecidos - sobretudo com os recentes Óscares por "Este País Não é Para Velhos". Já os segundos, os Quay, irmãos americanos e gémeos verdadeiros, gozam de muito menos popularidade, mas possuem altíssimo reconhecimento artístico dentro da área em que se movimentam. Fazem cinema de animação, misturando múltiplas técnicas de animação (sobretudo bonecos, marionetas, objectos). O seu cinema é visualmente apelativo, com elaborados jogos de luz e de sombras, ambientes surrealistas e densos, preocupação pelos detalhes narrativos, movimentos de câmara invulgares no universo do cinema de animação.
Tim Burton afirma que o imaginário dos Quay exerceu grande influência no seu cinema. Foram eles que conceberam um dos mais notáveis videoclips da história da música pop - "Sledgehammer" de Peter Gabriel. Por outro lado, Terry Gilliam dos Monty Python elege os irmãos Quay como os mais criativos realizadores de animação dos últimos 30 anos. Vale bem a pena descobri-los.

sábado, 1 de março de 2008

Criterion Collection


Se há um antro de perdição para qualquer cinéfilo, esse antro chama-se Criterion. Mais do que a Fnac ou qualquer outra distribuidora/editora online de filmes em DVD, a Criterion continua a ser a referência absoluta no mundo do coleccionismo de filmes. O enfoque editorial da Criterion centra-se no cinema de autor, de culto e de pendor clássico (de todas as nacionalidades). Pauta-se por uma extrema qualidade em cada edição (pode levar anos a ser editado um DVD), desde o design das capas à reunião de extras (documentários, entrevistas) de grande valor histórico. Em Protugal, a Costa do Castelo, a Atalanta e a Midas são as editoras/distribuidoras que mais e assemelham ao modelo da Criterion. O catálogo desta editora tem quase a dimensão de uma cinemateca em suporte DVD, tal a diversidade e qualidade apresentada. Só há um contra: o preço elevado. A qualidade paga-se. Mas o cinéfilo fica muito, mas muito bem servido.
Nota: na imagem, a capa do DVD "Brazil" de Terry Gilliam da colecção Criterion.