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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Auschwitz - 70 anos depois

Dia 27 de Janeiro assinala os 70 anos da libertação do campo de extermínio de Auschwitz. A história do Holocausto sempre me interessou e resolvi fazer uma singela homenagem aos sobreviventes do genocídio de Auschwitz: Shlomo Venezia foi um sobrevivente do campo de terror e escreveu um livro a contar os horrores que viveu (como referi neste post). 

Em 2011, no meu álbum "Psicotic Jazz Hall" de Kubik dediquei-lhe uma música com o sintomático título "Shlomo Venezia is Not Dead Yet". Era uma forma de chamada de atenção para perpetuar a memória dos sobreviventes de Auschwitz. No entanto, Shlomo faleceu em 2012 e já não pode, de viva voz, revelar a sua traumática experiência. Esta música foi criada a pensar na defesa da memória do Holocausto, mais agora nos 70 anos da libertação de Auschwitz:
E já agora: este livro "Auschwitz - Um Dia de Cada Vez" foi editado há apenas uma semana. Já li 100 páginas e é um compêndio extraoridnário sobre o que realmente aconteceu e e- como aconteceu - o maior massacre programado da Humanidade. 
E reparem na citação por baixo do título: precisamente do Shlomo Venezia ("A cada dia preferia morrer... e a cada dia lutava para sobreviver")

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

domingo, 13 de outubro de 2013

Hannah Arendt e Eichmann


"Hannah Arendt" devia ser um filme de visionamento obrigatório nas escolas (disciplinas de filosofia, política e história). Para além do filme de Margarethe Von Trotta ser um objecto cinematográfico de grande interesse, é também uma obra que dá azo ao debate de ideias sobre o Holocausto, o extermínio dos Judeus e, em particular, sobre o julgamento de Adolf Eichmann.
Hannah Arendt foi uma pensadora e filósofa de relevo da segunda metade do século XX, discípula de Heidegger e autora do livro "As Origens do Totalitarismo". Apesar de judia, Hannah demonstrou uma visão independente no julgamento (em 1961) de Adolf Eichmann, considerado um dos principais responsáveis pela "máquina de extermínio nazi". 
Com uma interpretação superior e imaculada da actriz Barbara Sukowa (outrora musa de Fassbinder e Lars Von Trier), "Hannah Arendt" é um filme de uma grande contenção dramática e que abre múltiplos campos de discussão ideológica e até filosófica: será que, como Arendt defendia, Eichmann era apenas um "burocrata que não pensava e se limitava a cumprir ordens superiores" (que levaria ao conceito de "Banalidade do Mal" desenvolvido por Arendt), ou este oficial Nazi era um carrasco monstruoso sem escrúpulos e com consciência total dos seus abomináveis actos?
Hannah Arendt acompanhou o julgamento em Israel e escreveu o que pensava para a revista The New Yorker. Não sem feroz polémica nos meios académicos e culturais ligados à questão judaica. 
Belo filme que motiva nos espectadores uma coisa que poucos filmes conseguem: fazer pensar e debater ideias. 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

"Shoah" em DVD nacional

Vai ser editado em DVD, finalmente, um dos maiores e mais importantes documentários da segunda metade do século XX: "Shoah" (1985), de Claude Lanzmann. Cópia integralmente restaurada com 9 horas de duração, "Shoah" foi filmado ao longo de mais de dez anos entrevistando centenas de sobreviventes do Holocausto nazi.

Claude Lanzmann nasceu em Paris em 1925. Jornalista, resistente, realizador, intelectual amigo de Sartre e Beauvoir, disse em 1985 que matava “nazis com a sua câmara de filmar”. A sua obra cinematográfica é o maior monumento que se pode erguer contra o esquecimento, uma obra admirável que permitiu mostrar e dizer o inconcebível, essencial para compreender o Holocausto e o extermínio de 6 milhões de judeus. 
A edição vem ainda acompanhada dofilme "Sobibor, 14 de Outubro de 1943, 16 Horas", que dá conta da única revolta de prisioneiros num campo de concentração nazi instalado na Polónia ocupada pelos alemães.
Mais informação no site da editora Midas.

sábado, 9 de março de 2013

"Vi o meu rim na mão dele"

Esta história daria um bom argumento para um filme de David Cronenberg ou de Roman Polanski: a história de sobrevivência de um judeu às mãos do "Anjo da Morte" do campo de extermínio nazi de Auschwitz: o terrível Josef Mengele.
Chama-se Yitzchak Ganon (na primeira imagem), 88 anos, vive em Israel e só quando foi ao médico revelou que é um sobrevivente das monstruosas experiências "médicas" de Mengele durante o Holocausto Nazi.
Em 1944 foi deportado para Auschwitz onde viu toda a sua família ser morta. Um dia esteve prestes a entrar na câmara de gás onde cabiam 200 vítimas. Yitzchak era o número 201 e não entrou. 
Mais tarde, o campo foi libertado e o judeu grego conseguiu escapar à morte quase certa. Há pouco tempo Yitzchak foi operado ao coração.
Os médicos disseram-lhe: "Pensámos que não sobreviveria. Não sei se sabe, mas tem apenas um rim." Yitzchak respondeu: "Eu sei. A última vez que o vi estava na mão de um homem chamado Josef Mengele, médico de Auschwitz." 
Como milhares de outras vítimas de Mengele, Yitzchak foi torturado durante vários meses. O pior momento foi quando Mengele lhe tirou um rim... a sangue frio! Revela: "Cortou-mo sem anestesia. Foi uma dor indescritível. Senti cada um dos cortes do bisturi. Depois, vi o meu rim na mão dele. Gritei como um louco. Pedi a Deus para morrer." 
O instinto sádico de Josef Mengele não se ficou por aí. Obrigou Yitzchak a passar uma noite numa banheira em água gelada para testar as funções dos seus pulmões.
Não admira que, durante 66 anos após a experiência de Auschwitz, Yitzchak Ganon tenha adquirido fobia a médicos.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A Vida é Bela

Nunca o disse aqui por se tratar de um assunto da vida privada, mas digo-o agora sem reservas: sou casado e tenho duas filhas pequenas, uma com 12 e outra com 9 anos. Durante as recentes férias de Natal, mostrei-lhes o filme "A Vida é Bela" (1997), de Roberto Benigni. Perguntaram-me sobre o que se tratava o filme. Disse-lhes que era um filme simultaneamente cómico e comovente sobre o amor de um pai para com o seu filho (e a sua mulher), que se passava no terrível período da Segunda Guerra Mundial num campo de concentração. A minha filha mais velha, porque os estudara, já conhecia alguns elementos históricos deste conturbado momento do século XX (também porque conhecia o filme "O Rapaz do Pijama às Riscas").
Durante o visionamento do filme, ambas se riram em momentos divertidos e se emocionaram nos momentos mais comoventes (sobretudo com o final). Creio que "A Vida É Bela" é um belíssimo filme para mostrar a crianças certos valores tão arredados hoje em dia da sociedade. Mostrar que, mesmo em momentos de terríveis adversidades, o amor pode vencer. Em termos de linguagem cinematográfica, prova que se pode fazer humor com temas muito sérios, numa obra que reforça a ideia de que o cinema é a grande arte da ilusão e da magia. E não esquecer que o filme de Benigni conta com uma belíssima e inesquecível música de Nicola Piovani.
De todas as brilhantes sequências do filme levadas a cabo pelo incrível Roberto Benigni, aquela que melhor representa o misto de comédia e de dramatismo, é esta em baixo. É o momento no qual Roberto, o pai, mostra ao filho que o campo de concentração em que se encontram não é mais do que um campo de jogo, tudo é um jogo para o filho alcançar o ambicionado prémio: um tanque verdadeiro. É um momento hilariante (que sintetiza o filme) mas ao mesmo tempo dramático, porque é o desespero do pai que o leva a inventar aquela história.
No final do visionamento do filme, mostrei às minhas filhas o famoso momento em que Roberto Benigni recebeu, das mãos de Sofia Loren, o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro por este filme, porventura a recepção de prémio mais emocionante e genuína de que há memória nas cerimónias dos Óscares.
Elas gostaram muito do filme e perceberam a mensagem que veicula. Perceberam o inusitado misto de tragédia e de comédia, o drama e a leveza de que é feito "A Vida é Bela". Esta foi a preparação para, no futuro, se habituarem a ver filmes cada vez mais exigentes e complexos. Filmes belos. Como a vida.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Perpetuar a Memória do Holocausto

Hoje assinala-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
66 anos depois da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, eis um relato impressionante (é apenas um extracto) de um sobrevivente (ainda vivo).
Para que Humanidande nunca esqueça.

(Desenho de David Olère, 1945)
Excertos do livro "Sonderkommando":
Béatrice Prasquier (jornalista) - O que acontecia, nos fornos crematórios de Auschwitz, às cinzas depois de os corpos serem queimados?
Shlomo Venezia (sobrevivente de Auschwitz)- As cinzas deviam ser eliminadas para não deixar nenhum vestígio. Na verdade, quer nos fornos quer nas valas comuns alguns ossos, como os da bacia, queimavam mal. Era por isso que os ossos mais largos deviam ser retirados e esmigalhados separadamente, antes de serem misturados com as cinzas. Estas, uma vez trituradas, eram transportadas numa pequena carroça. Um camião vinha recolhê-las regularmente para que fossem deitadas ao rio. Cheguei a substituir um dos homens responsáveis por triturarem as cinzas. Isso permitia-me apanhar um pouco de ar e sair da atmosfera sufocante e fétida do Crematório.

Béatrice Prasquier - O que via e o que é que acontecia quando os deportados chegavam às câmaras de gás?
Shlomo Venezia - A morte das pessoas que iam para a câmara de gás era tudo menos uma morte pacífica. É de tal modo violento e triste que tenho dificuldade em falar destas visões da câmara de gás. Podíamos encontrar pessoas com olhos saídos das órbitas devido ao esforço feito pelo organismo. Outras com sangue por todo o lado ou sujas pelos seus próprios excrementos. Todas pessoas agonizavam e sofriam terrivelmente na câmara. Não se pense que o gás era lançado e morriam automaticamente. Era um processo que podia demorar mais de dez minutos, nos quais as pessoas procuravam desesperadamente um pouco de ar - homens, mulheres e crianças. Um processo de carnificina de tipo industrial que matou milhões de pessoas. Na minha opinião, não posso garantir, mas penso que muitas pessoas morriam mesmo antes de o gás ser lançado. Estavam de tal modo apertadas umas contra as outras e em pânico, que os mais pequenos, os mais débeis, sufocavam.

A imagem que víamos ao abrir a porta depois da chacina era atroz, não dá para imaginar o que aquilo era. Pensávamos que era impossível alguém sobreviver ao gás mortífero, mas um dia, ao abrir a porta da câmara, encontrámos um bebé vivo! Sobreviveu porque estava a agarrado ao peito da mãe no momento do lançamento do gás, e o efeito de sucção permitiu-lhe não inalar o veneno. Não é preciso dizer que um oficial SS, assim que viu o bebé a chorar, sacou da pistola e matou-o, a sangue frio, com um tiro na nuca. Nos primeiros dias, apesar da fome que me atormentava, tinha dificuldade em tocar no bocado de pão que recebíamos. O odor persistia nas mãos, sentia-me sujo com a morte. Com o tempo, tive de me habituar a tudo, como instinto de sobrevivência. Tornei-me num autómato sem capacidade de raciocinar.

domingo, 9 de janeiro de 2011

O Holocausto segundo Lanzmann

O cineasta, jornalista e escritor francês Claude Lanzmann (ex-director da revista "Les Temps Modernes", fundada por Jean-Paul Sartre) deu uma entrevista ao diário espanhol El País.
Lanzmann é o realizador do documentário definitivo sobre o Holocausto nazi: "Shoah". "Shoah", palavra judaica para descrever o Holocausto, foi estreado em 1985 e é um monumental trabalho de recolha de informação (mais de 350 horas de filmagem ao longo de 11 anos de pesquisa e de entrevistas a sobreviventes), que resultou em 9 horas de filme.
Ao jornal espanhol, Lahmann e questionado sobre filmes de ficção sobre o Holocausto, refere que gosta de "O Pianista" de Polanski e não gosta de "A Lista de Schindler". Defende que nenhum dos dois filmes conseguem ir ao verdadeiro fundo do problema: "São obras sobre a sobrevivência, enquanto que eu realizei um documentário sobre a morte".
Este documentário (ainda só vi metade) não deixa ninguém indiferente perante os horrores dos campos de extermínio como o de Auschwitz ou Treblinka, com dezenas de entrevistas a sobreviventes que escaparam ao horror nazi. Este filme foi editado comercialmente no mercado DVD espanhol pela editora Filmax.
Agora pergunta-se: para quando a urgente edição portuguesa?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A estética de Leni


Independentemente da habitual controvérsia à volta desta fotógrafa e realizadora (amante de Hilter? Colaboracionista do regime nazi? Elemento de propaganda de Goebbels?), o que importa é que se torna necessário perceber que Leni Riefenstahl realizou dois dos mais espantosos documentos visuais da História do Século XX, designadamente, da História que precedeu a 2ª Grande Guerra Mundial.
A rigorosa composição plástica das imagens, o ritmo meticuloso da montagem, os ângulos e planos inovadores, o "zeitgeist" que transpira em cada sequência filmada, a apoteose coreográfica das paradas militares e os jogos de encenação teatral dos atletas (em "Olympia"), dos soldados e de Hitler (em "O Triunfo da Vontade"), fazem destes documentários objectos de um inigualável fascínio estético (mesmo que a ideologia do nacional-socialismo totalitário nazi que está subjacente a estes documentários seja alvo de incondicional repúdio - que é o meu próprio caso).
Em Portugal estão editados, que eu tenha conhecimento, estes dois filmes que consagraram para a eternidade a realizadora alemã Leni Riefenstahl: "Olympia" (1938) e "O Triunfo da Vontade" (1934).

domingo, 26 de setembro de 2010

Grandes Filmes Frustrados - 6: Lars Von Trier e "Holocausto"

A HISTÓRIA: em finais dos anos 90, o realizador Lars Von Trier tinha como projecto central um filme sobre o Holocausto. Os produtores associados ao projecto deram luz verde ao cineasta dinamarquês mas quiseram conhecer os pormenores do mesmo.
Von Trier escreveu um guião com todos os detalhes e nele defendeu um hiper-realismo total. Queria impor um conjunto de condições indispensáveis para trabalhar e dar o máximo realismo ao filme: desde logo, a construção de um campo de concentração que seguisse fielmente os planos dos nazis; queria também um período de seis semanas no qual os actores viveriam no campo quase nas mesmas condições extremas que os prisioneiros à época da 2ª Guerra Mundial.
CONCLUSÃO: Obviamente, os produtores ficaram assustados com a megalomania do realizador e os actores convidados recusaram trabalhar num filme que exigisse tamanho sacrifício real. Conhecendo a obra de Lars Von Trier, só posso imaginar um filme absolutamente apocalíptico...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

"Auschwitz"

Uwe Boll é um realizador alemão especialista em adaptar (mal) ao grande ecrã alguns videojogos de teor violento - "Alone in The Dark", "Postal", "Bloodrayne".
Um realizador sofrível e quase ignorado, portanto. No entanto, está a dar (ou vai dar) muito que falar com os seu próximo projecto: "Auschwitz". Isso mesmo: um filme sobre o campo de extermínio mais mortífero da Segunda Guerra Mundial. Mais especificamente, um filme sobre um soldado nazi (interpretado pelo próprio realizador) que guarda a porta de uma câmara de gás. Uwe Boll promete um filme seco e duro, não se fazendo rogado em mostrar toda a violência e atrocidades cometidas no infame campo do horror.
Há dias foi lançado o "teaser trailer" de "Auschwitz" e, pela amostra escassa, até que provoca calafrios e sensações fortes. Agora resta esperar pelo filme para comprovar se Uwe Boll conseguirá superar as suas fraquezas e surpreender pela positiva.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Happy Birthday Adolf Hitler!"


Ontem assinalou-se a data da derrota oficial da Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial. 65 anos depois, parece que a memória histórica se esvai na sociedade actual. Supostamente, o nazismo foi um dos piores pesadelos da Humanidade, mas ainda há quem se esforce para o manter bem vivo...
Veja-se este caso: um jovem casal holandês, Heath e Deborah Campbell, tem três filhos. Tudo de normal até agora. O elemento que distorce esta aparente anormalidade é o facto de Heath Campbell ser um acérrimo... neo-nazi. Ora, como bom neo-nazi que é, Heath nega a existência do Holocausto, odeia de morte os Judeus e venera o fascismo alemão até às últimas consequências. Para provar o seu amor pela causa, resolveu baptizar os seus três filhos com nomes de acordo com a ideologia que idolatra. Então é assim: uma filha chama-se JoyceLynn Aryan Nation Campbell; a outra, Honszlynn Himler Campbell. E, crème de la crème, o filho mais novo, que acaba de fazer três anos, dá pelo singelo nome de Adolf Hitler Campbell! E logo com uma carinha de anjo (na imagem com os pais).
Ao que parece, o diligente neo-nazi ficou indignado pelo facto de uma pastelaria se ter recusado a confeccionar um bolo de aniversário para o filho por causa do infame nome. Convenhamos que não é todos os dias que se pode ver escrito, com creme de chocolate num bolo de aniversário, a dedicatória "Happy Birthday Adolf Hilter!". O pudor, a dignidade intelectual e o respeito pela memória de 6 milhões de judeus mortos no Holocausto terão pesado na consciência do pasteleiro e, consequentemente, na nega ao pedido.
Há estigmas e estigmas na vida. Mas o estigma que esta pobre criança, Adolf Hitler Campbell, vai carregar às costas até morrer, é daqueles estigmas que nem Jesus Cristo conseguiria suportar. Ele há coisas...
Heath Campbell com a filha JoyceLynn Aryan Nation Campbell.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O filme sobre Auschwitz


No dia em que se assinalam 65 anos da libertação de Auschwitz, relembro uma das obras de cinema que, quanto a mim, melhor conseguiu retratar os horrores nazis cometidos no infame campo: "Noite e Nevoeiro" ("Nuit et Brouillard", no título original, 1955) de Alain Resnais.
“Noite e Nevoeiro” foi o primeiro grande documentário sobre o sistema concentracionário e de extermínio criado pelos nazis, sobre o Genocídio e o Holocausto, sendo considerado um marco na História do Cinema. Realizado em 1955, dez anos apenas após a libertação do campo de extermínio de Auschwitz, o filme de Resnais confirma que nenhuma descrição ou imagem pode dar a verdadeira dimensão dos acontecimentos ocorridos. À altura em que “Noite e Nevoeiro” foi realizado, a erva já tomara conta de Auschwitz: o antigo cenário do horror era uma paisagem verdejante, campestre, serena; a ruína do campo ameaçava já a ruína da memória. Era preciso reavivá-la e, para isso, Resnais intercalou o que ele próprio filmou em Auschwitz com imagens de arquivo captadas pelos aliados no fim da guerra ou pelos alemães, e com fotografias comentadas com uma lentidão litúrgica, “uma doçura terrífica”, notou François Truffaut.
De resto, este célebre cineasta francês disse uma vez que “Noite e Nevoeiro” era o “melhor filme jamais feito”. O filme tem uma voz off impressiva. É a voz do escritor francês Jean Cayrol, combatente da Resistência Francesa que foi preso político no campo de concentração de Mauthausen (Áustria).
O título, “Noite e Nevoeiro”, foi retirado do título do livro de Jean Cayrol, “Poèmes de la Nuit et Brouillard”, que por sua vez retirou a expressão ao nome do decreto alemão “Nacht und Nebel”, que estipulava a deportação para locais secretos de pessoas acusadas de conspirar contra o regime nazi. “Noite e Nevoeiro” rejeita quaisquer formatos convencionais de narrativa histórica; expõe factos em vez de os explicar, revela o horror em vez de o compreender racionalmente. E mais do que tudo, refuta a exploração fácil do sentimentalismo, do apego à emoção dramática, pelo que a câmara de Resnais filma com uma suavidade inaudita, sem cedências ideológicas ou emocionais.

A frieza e a neutralidade com que cada plano-sequência é filmado, revela-se uma agulha espetada no espírito humano, como se Alain Resnais perguntasse a cada espectador: “como foi possível?” O filme foi rodado a cores (presente, 1955) e a preto e branco (imagens de arquivo). É assim que o realizador francês aborda a montagem das imagens com as quais apresenta a sua “visão expiatória” do extermínio dos Judeus. Montagem, manipulação e reconstrução de imagens muitas vezes insustentáveis, que "produzem uma forte impressão de irrealidade que dão uma sensação de vertigem àqueles que têm que fazer este trabalho”, nas próprias palavras de Alain Resnais.
O rigor ético e estético deste filme, a música subtil de Hanns Eisler (antigo colaborador de Brecht) e as palavras poéticas de Cayrol fazem de “Noite e Nevoeiro” uma experiência cinematográfica única, para não falar da inerente importância histórica deste documentário.
"Noite e Nevoeiro" tem apenas 30 minutos de duração e pode ser visto integralmente aqui.

Respeito, muito respeito


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A História contada por Oliver Stone


Segundo o jornal i, o realizador Oliver Stone continua a desbravar caminhos políticos inauditos. Depois de ter feito documentários sobre Fidel Castro e Hugo Chávez (absolvendo-os politicamente), depois de ter procurado conspirações internas na morte de John Fitzgerald Kennedy, de ter criticado duramente George W. Bush, de ter criado um presidente Nixon amorfo, Oliver Stone investiga agora as raízes mais obscuras da história norte-americana com uma mini-série de dez horas intitulada - "The Secret History of America".
O título deste trabalho é, já por si, todo um programa de intenções. Nele, o realizador de "Platoon" quer mostrar como corporações americanas ajudaram financeiramente o partido nazi alemão. Parece-me bem denunciar certos fenómenos históricos que se encontram ainda algo encobertos pela poeira dos tempos. O que já me parece abusivo e deturpador da verdade histórica é a tentativa, já revelada nas próprias palavras de Stone, em branquear a figura política, militar e histórica de Adolfo Hitler: "O líder nazi Adolf Hitler foi um bode expiatório fácil ao longo da história. Não podemos julgar as pessoas apenas como 'más' ou 'boas'. Hitler é o produto de uma série de acções. É uma relação de causa e efeito."

Sobre Estaline, o cineasta diz que nada tem a ver com Hitler: "Não quero pintá-lo como um herói, mas tento fazer-lhe uma representação mais factual. Lutou contra a máquina alemã mais do que qualquer pessoa." Eu acho estas declarações absolutamente infelizes, demagógicas e manipuladoras, e farão as delícias dos movimentos fascistas e neo-nazis. Depreende-se das palavras de Stone que devemos desculpar Estaline porque foi um bravo combatente de Hitler (sobretudo na decisiva batalha de Estalinegrado). E o reinado de terror que durou 30 anos às mãos deste maníaco assassino em massa, responsável pela aniquilação de mais de 25 milhões dos seus próprios concidadãos inocentes, encerrando 18 milhões nos infames campos de trabalhos forçados (Gulags)? E quererá Oliver Stone fazer-nos crer que Hitler não passou de um "produto de uma série de acções", sem responsabilidades na consumação dos maiores acontecimentos trágicos de toda a História da Humanidade (2ª Guerra Mundial, Holocausto, campos de extermínio)?
Repugna-me pensar que, em pleno Século XXI, após o crescimento dos movimentos pró-criacionistas norte-americanos que negam a Teoria da Evolução darwiniana e seguem literalmente as profecias bíblicas, se difunda à custa da nova mini-série de Oliver Stone, a ideia que Hitler, afinal, é apenas um triste e irresponsável "bode expiatório fácil ao longo da história".

sábado, 19 de dezembro de 2009

O trabalho pela manhã


"We know that a man can read Goethe or Rilke in the evening, that he can play Bach and Schubert, and go to his day's work at Auschwitz in the morning."
George Steiner

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"Shoah" em DVD... espanhol


É o documentário definitivo sobre o Holocausto nazi: "Shoah" de Claude Lanzmann (essencialmente jornalista, director da revista "Les Temps Modernes", fundada por Jean-Paul Sartre). "Shoah", palavra judaica para descrever o Holocausto, foi estreado em 1985 e é um monumental trabalho de recolha de informação (mais de 350 horas de filmagem ao longo de 11 anos de pesquisa e de entrevistas a sobreviventes), que resultou em 9 horas de filme. Um documentário (já vi pelo menos metade) que não deixa ninguém indiferente perante os horrores dos campos de extermínio como o de Treblinka e que agora é lançado comercialmente no mercado DVD espanhol pela editora Filmax.
Agora pergunta-se: para quando a urgente edição portuguesa?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Os horrores de Treblinka


O jornal francês Libération escreveu o seguinte sobre este livro: "De todos os textos sobre a máquina de extermínio nazi, este é um dos mais excepcionais". Não espanta. O judeu Chil Rajchman, sobrevivente do terrível campo de extermínio de Treblinka (Polónia), guardou num caderno as suas negras memórias da experiência por que passou. E só aceitou publicá-las em 2004, após a sua morte.
Chil Rajchman contou neste livro os seus dez meses de estadia no inferno (Rajchman tinha 28 anos quando foi deportado para Treblinka, em Outubro de 1942). No momento da libertação do campo, este judeu foi um dos 57 sobreviventes entre os 750.000 judeus enviados para Treblinka para aí serem gaseados. "Sou o Último dos Judeus" não tem a verve da escrita de um Primo Levi ou de um Elie Wiesel. Não, a escrita de Rajchman é muito menos literária e muito mais descritiva, muito mais pragmática, quase ao nível jornalístico, uma espécie de documentário do abominável terror testemunhado. Ler esta obra é ser constantemente violentado pelos pormenores dos horrores do Holocausto nazi, contados com tal minúcia que chega a criar no leitor imagens visuais das torturas e dos bárbaros assassínios descritos.
O livro está à venda desde há uns dias nas livrarias e as suas 149 páginas lêem-se num ápice.
É mais um livro a perpetuar a memória histórica colectiva da Humanidade, à semelhança do livro "Sonderkommando", que conta as atrocidades cometidas em Auschwitz relatado aqui e aqui.

sábado, 17 de outubro de 2009

O legado de Leni Riefenstahl


A realizadora Leni Riefenstahl representa um fenómeno excepcional na história das imagens do século XX. Odiada e adorada em igual proporção, Leni Riefenstahl será sempre conotada com o hediondo regime nazi. Adolf Hiltler e Goebbels escolheram-na para ser a cineasta da propaganda (Fritz Lang tinha negado tal "convite", exilando-se nos EUA), impressionados com o talento artístico revelado nos seus primeiros documentários (anos 30). Fruto dessa colaboração, Riefenstahl realizou dois monumentos estéticos de exaltação da raça ariana germânica. "O Triunfo da Vontade" (1935) e "Olympia" (1938), duas obras belas e grandiosas ao serviço de uma ideologia ditatorial e racista que preconizou o Holocausto.
Há quem assuma não poder apreciar a obra da realizadora alemã por causa da sua óbvia ligação ao nazismo (ainda que desmentida ou relativizada pela própria Leni); outros há, como eu, que conseguem estabelecer uma separação no âmago da obra de Riefenstahl: separar a vertente estética da vertente política e ideológica. O pioneiro trabalho da realizadora alemã foi determinante para a história do cinema, sobretudo ao nível da linguagem do documentário - Leni era uma vanguardista visionária, experimentalista, na forma como utilizou inovadoras técnicas de filmagem, planos, enquadramentos, movimentos de câmara, fotografia, montagem, etc.
Mas a obra de Leni Riefenstahl não se resumiu aos dois enormes monumentos estéticos em prol do ideal nazi. Antes dessa colaboração, fez outros documentários importantes. Além disso, manteve-se activa até ao fim da vida (morreu em 2003 com 101 anos!), filmando o mundo subaquático e tribos africanas. Neste preciso fim-de-semana, o blogue de cinema My One Thousand Movies, dedica um ciclo especial à obra desta controversa cineasta. Vale a pena descobrir.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Guerra insana começou há 70 anos

Faz hoje 70 anos que teve início o mais sanguinário conflito de toda a história da Humanidade: 2ª Guerra Mundial. Um conflito de uma brutalidade inimaginável que jamais deve ser esquecido, sobretudo pelas novas gerações.
Daí que a história, a literatura e o cinema tenham um papel determinante em não deixar morrer, na memória colectiva mundial, as atrocidades cometidas por todos os terríveis beligerantes, especialmente por Hitler e Estaline. Das largas dezenas de filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, há muitos e bons filmes que documentam a violência deste conflito (focando um ou outro episódio em especial), mas o que me provoca mais emoção, o mais brutal pela secura das imagens, o mais espantoso pela violência insana e pelo horror, é “Vem e Vê”, do russo Elem Klimov. E sobre este filme não vou escrever mais nada porque o que tinha a dizer está tudo aqui.