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sexta-feira, 20 de março de 2015

Os (verdadeiros) primeiros filmes

Toda a gente sabe nomear um bom filme das filmografias de realizadores como Pedro Almodóvar, David Lynch, Sofia Coppola, Lars Von Trier, Martin Scorsese, Godard ou Roman Polanski. Mas poucos saberão dizer quais foram os seus primeiros filmes. E não me refiro às longas-metragens, mas sim às primeiras experiências cinematográficas no formato de curta-metragem. Por exemplo, quando falamos no primeiro filme de David Lynch julgamos que falamos do clássico de culto "Eraserhead" (1977) mas nada mais errado. O seu primeiro filme, no formato de curta é um desconcertante e surrealista filme chamado "The Alphabet" (na imagem em baixo).

É verdade que algumas dessas primeiras obras de cinema até foram bastante marcantes na vida de alguns realizadores. Por exemplo, "Un Chien Andalou" (1929) de Luis Buñuel ou "The Steam Roller and the Violin" de Andrei Tarkovski. No entanto, muitas das curtas-metragens de início de carreira de grandes cineastas ficaram esquecidas no tempo. Graças ao Youtube e ao site Taste of Cinema foi publicada uma preciosa lista com as "25 melhores curta-metragens de realizadores famosos". Realizadores de todas as épocas, nacionalidades e géneros estão aqui representados. Alguns destes pequenos filmes até já foram comentados neste blogue.

Para além de sinopse descritiva do filme, o site disponibiliza a visualização de cada uma das obras no Youtube. Uma boa forma de conhecer o trabalho menos conhecido de grandes mestre do cinema. Link.


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O bom cinema que veremos em 2015

Agora que 2015 começou há que antecipar o ano em termos culturais. No que diz respeito ao cinema, a imprensa e as redes sociais têm indicado muitos títulos que irão marcar o ano. 
Na minha humilde opinião começo por destacar os filmes que serão totalmente dispensáveis de ver:

- "As Cinquenta Sombras de Grey"
- "Velocidade Furiosa 7"
- "Vingadores: a Era de Ultron"
- "Resident Evil 6"
- "Taken 3"
- "Rambo 5"
- "Mission Impossible 5"
- "Terminator: Genisys"
- "Paranormal Activity: The Ghost Dimensions"
- "Hitman: Agent 47"
- "The Fantastic Four"
- "[REC] 4: Apocalypse"
- "Ted 2"
- "The Hunter Games: Mockingjaxy part 2"
- "Superman vs Batman"
- "Mad Max: Fury Road"

Ou seja, fujo de tudo quanto cheire a blockbuster de entretenimento repetitivo e com fórmulas mais do que gastas, a sequelas e prequelas de blockbusters para consumir pipocas no meio da assistência apática de adolescentes imberbes.

Posto isto, vamos ao verdadeiro cinema enquanto Arte. E assim, os filmes que vão estrear (pelo menos em Portugal) em 2015 que mais me suscitam (muita) vontade de ver são (e não digam que não vai ser um grande ano de cinema!):

- "Flashmob" - Michael Haneke
- "Onomatopoeia" - Jean-Luc Godard 
- "Blackhat" - Michael Mann 
- "Leviathan" - Andrey Zvyagintsev
- "Silence" - Martin Scorsese
- "The Hateful Height" - Quentin Tarrantino
- "American Sniper" - Clint Eastwood
- "Inherent Vice" - Paul Thomas Anderson
- "Olhos Grandes" - Tim Burton
- "Queen of the Desert" - Werner Herzog 
- "I Walk With The Dead" - Nicolas Winding Refn
- "Sierra-Nevada" - Cristi Puiu
- "The Early Years" - Paolo Sorrentino
- "Sea of Trees" - Gus Van Sant 
- "Life" - Anton Corbijn
- "Francophonia: Le Louvre Under German Occupation" - Aleksandr Sokurov
- "The Assassin" - Hou Hsiao-hsien 
- "Idol's Eye" - Olivier Assayas
- "Dance of Reality" - Alejandro Jodorwosky 
- "Ferryman" - Wong Kar-Wai
- "D" - Roman Polanski
- "Sunset Song" - Terence Davies 
- "Mountains May Depart" - Jia Zhangke 
- "Crimsom Peak" - Guillermo del Toro
- "The Lost City of Z" - James Gray
- "Uma Dívida de Honra" - Tommy Lee Jones
- "Regression" - Alejandro Aménabar
- "Pasolini" - Abel Ferrara
- "Babi Yar" - Sergei Loznitsa 
- "Birdman" - Alejandro Gonzales Iñarritu
- "Cemetery of Kings" - Apichatpong Weerasethakul 
- "Knight of Cups" - Terrence Malick 
- "Women’s Shadow" - Philippe Garrel 
- "Three Memories of Childhood" - Arnaud Desplechin 
- "Louder Than Bombs" - Joachim Trier 
- "Arabian Nights" - Miguel Gomes 
- "Montanha" - João Salaviza
- "Carol" - Todd Haynes  
- "The Last Vampire" - Marco Bellocchio 


E certamente que esta lista não está fechada. 
Outros filmes de qualidade serão anunciados para enriquecer ainda mais este ano cinematográfico. 


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A Manhã de Natal segundo...

Lembram-se há um ano ter publicado um vídeo no qual - de forma divertida - se fazia alusão ao Natal segundo o ponto de vista de vários realizadores famosos (ver aqui)?
Bom, os mesmos responsáveis, The Auteurs, decidiram realizar um segundo volume na mesma linha para assinalar o Natal de 2014. Ou seja, a "manhã de Natal" entendida segundo a estética de cineastas como Chaplin, David Lynch, Tarantino, Malick, Godard ou Hitchcock.
Nestas sequências de breves segundos estão condensadas as características visuais e temáticas de cada realizador. Muito interessante e bem divertido:

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O fabuloso e desconhecido Pelechian


Há dois anos, o Lisbon Estoril Film Festival tinha no seu programa uma secção denominada "Cineastas Raros". Um dos cineastas raros que o festival promoveu foi o fascinante Artavazd Pelechian (1938), realizador arménio praticamente desconhecido (mesmo do público cinéfilo).
Tive a ocasião de conhecer o seu trabalho há uns anos devido a uma edição em DVD das obras documentais (1967 - 1993) de Pelechian (edição Costa do Castelo).

Pelechian é de facto um cineasta raro pela forma como encena e constrói os seus filmes (recorrendo a filmagens originais mas também a imagens de arquivo), pela linguagem cinematográfica que utiliza (reminiscências de Eisenstein e Vertov) e pela forma como nos revela o mundo. O seu cinema documental assenta num trabalho plástico e poético das imagens em sintonia magistral com a música e o espantoso trabalho de sonoplastia. O realizador considera indissociáveis a imagem e a música como elementos que dão ritmo e coerência estética ao seu trabalho.

Pelechian praticamente só realizou curtas-metragens (oito) e a duração total da sua filmografia não ultrapassa - imagine-se - as 3 horas. Mas não é pela curta duração do seu trabalho que o cineasta deixa de ser um grande cineasta. Os seus filmes centram-se no homem e na sua relação íntima com a natureza. Para o realizador arménio, a natureza é o laço que une todos os seres vivos. Os filmes de Pelechian revelam-nos a consciência humana através de uma sensibilidade única. Não têm diálogos nem narração. As imagens explicam tudo.

Não terá sido por acaso que Jean-Luc Godard referiu uma vez que Pelechian é "um dos maiores cineastas vivos" e que Sergei Paradjanov disse que o cineasta arménio "é um dos poucos génios do cinema universal". Por sua vez, o grande realizador da Trilogia Qatsi, Godfrey Reggio, referiu que conheceu a obra de Pelechian em 1988 e que foi uma "experiência espiritual".

Uma das suas obras mais aclamadas é "Seasons", na qual Pelechian aborda os costumes da sua terra e a ligação que une o homem com a natureza. Ou o fabuloso "The End" com o início do comboio, os incrível trabalho sonoro com os sons e a música.

O seu cinema está repleto de pura poesia visual e é um cineasta de génio que urge conhecer.

(No Youtube encontram-se outros filmes do realizador, inclusive um documentário sobre a sua obra).

Recensão crítica da sua filmografia.

sábado, 14 de dezembro de 2013

"Cinemateca" de Pedro Mexia

Novo livro do poeta, tradutor, ensaísta, jornalista e ex-Director da Cinemateca Portuguesa, Pedro Mexia. "Cinemateca" são 200 páginas cheias de amor pelo cinema. Uma escrita sóbria e compenetrada, de alguém que é fascinado pelo cinema e que ama sobretudo os clássicos. 
Livro de crónicas curtas e concisas, Pedro Mexia escreve sobre dezenas de filmes de quase todas as épocas (de 1940 à actualidade) e de cinematografias muito variadas (Preminger, Hitchcock, Bresson, Buñuel, Rohmer, Antonioni, Hartley, Wenders, Godard, etc), fazendo uma interpretação muito pessoal de cada obra.
Muito recomendável, portanto.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O top de Godard

Em 1963 um ainda jovem e crítico de cinema Jean-Luc Godard escolhia os seus 10 filmes americanos preferidos:

1 - "Scarface" - Howard Hawks
2 - "The Great Dictator" - Charles Chaplin
3 - "Vertigo" - Alfred Hitchcock
4 - "The Searchers" - John Ford
5 - "Singin’ in the Rain" - Kelly-Donen
6 - "The Lady From Shanghai" - Orson Welles
7 - "Bigger Than Life" - Nicholas Ray
8 - "Angel Face" - Otto Preminger
9 - "To Be or Not To Be" - Ernst Lubitsch
10 - "Dishonored" - Josef von Sternberg

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Sasha Grey


É sobretudo conhecida por ter sido actriz de filmes pornográficos entre os 18 e 21 anos de idade. Mas Sasha Grey é uma figura muito mais interessante do que esse epíteto (geralmente negativo) costuma acerretar. 
Actualmente com 25 anos, Sasha é uma jovem mulher e artista que sabe o que quer e sabe para onde vai. Largou definitivamente a indústria pornográfica, entrou num filme de Steven Soderbergh, fez música alternatica, é fotógrafa, DJ e estreou-se na literatura, escrevendo o livro "Juliette Society" (que veio apresentar há dias a Portugal).
Sasha Grey tem um excelente gosto cinéfilo e musical, porque desde cedo um professor lhe incutiu a necessidade de ver cinema de qualidade como porta de entendimento do mundo e da vida. Por isso ficou impressionada quando viu, com apenas 12 anos, o clássico "Fahrenheit 451" de François Truffaut. Kubrick, Buñuel, Godard, Chaplin ou Hitchcock são outras das referências cinematográficas de Sasha (e sobre os quais a autora disserta no seu livro - o seu romance aborda o sexo a partir das suas próprias experiências pessoais).
Para conhecer melhor as ideias e opiniões de Sasha Grey sobre estes assuntos, nada melhor do que ler a excelente entrevista conduzida pelo site À Pala de Walsh. Abrir aqui.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Um cineasta raro

O Lisbon & Estoril Film Festival tem no seu programa um secção denominada "Cineastas Raros". Um desses cineastas raros e fascinante é Artavazd Pelechian (nasceu em 1938), realizador arménio praticamente desconhecido (mesmo do público cinéfilo).
Tive a ocasião de conhecer o seu trabalho há uns anos devido a uma edição em DVD das obras documentais (1967 - 1993) de Pelechian (edição Costa do Castelo).
Pelechian é de facto um cineasta raro pela forma como encena e constrói os seus filmes (recorrendo a filmagens mas também a imagens de arquivo), pela linguagem cinematográfica que utiliza e pela forma como nos revela o mundo. O seu cinema documental assenta numa grande poesia das imagens e numa utilização magistral da música, a par de uma montagem que acompanha as ambiências musicais. O realizador considera indissociáveis a imagem e a música como elementos que dão ritmo e coerência estética ao seu trabalho.
Os seus filmes centram-se no homem e na sua relação íntima com a natureza. Para o realizador arménio, a natureza é o laço que une todos seres. Os filmes de Pelechian revelam-nos a consciência humana através de uma sensibilidade única. Não terá sido por acaso que Godard referiu uma vez que Pelechian é um dos maiores cineastas vivos.
Uma das suas obras mais aclamadas é "Seasons", na qual Pelechian aborda os costumes da sua terra e a ligação que une o homem com a natureza. Há momentos de pura poesia visual nos seus filmes e é um cineasta que urge conhecer.
Site oficial de Artavazd Pelechian.

terça-feira, 31 de julho de 2012

A morte de Chris Marker


Morreu, aos 91 anos de idade, um grande cineasta: Chris Marker.
Lembro que a Fnac tem à venda uma sublime edição em DVD (Atalanta): dois DVDs com três filmes de Chris Marker, cineasta experimental que há um ano foi alvo de uma importante retrospectiva no Estoril Film Festival. O preço é bastante simpático: 19,99€. Só não comprei esta edição porque já tenho os filmes essenciais de Marker que adquiri na Amazon:  "Sans Soleil" e "La Jetée".
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Mas afinal quem foi Chris Marker?
Nasceu em França em 1922. Combateu na 2ª Guerra Mundial, estudou filosofia com Jean Paul Sartre e Guy Debord mas especializou-se em documentários, tendo sido ainda produtor, escritor, operador de câmara, artista multimédia e jornalista.
Jean-Luc Godard, Orson Welles, Federico Fellini, Pasolini, Chantal Akerman, Wim Wenders, Werner Herzog, Errol Morris, Abbas Kiarostami, e Agnès Varda diziam que Marker era um dos melhores cineastas do mundo - um "ensaísta das imagens". Trabalhou com Alain Resnais no sublime documentário sobre Auschwitz - “Noite e Nevoeiro” (1955). Deu muito poucas entrevistas ao longo da vida e quando lhe pediam uma fotografia, dava a do seu gato Guillaume.
Marker realizou em 1962 um dos mais enigmáticos, originais e belos filmes de sempre: "La Jetée". É um filme de ficção científica (aborda dois temas recorrentes: o holocausto nuclear e a viagem no tempo), feito com imagens estáticas, fotografias filmadas, à excepção de um único movimento. Se o cinema permite uma sofisticada manipulação do tempo através da montagem, "La Jetée" demonstra que mesmo imagens estáticas são capazes de fluir e de se submeter ao transcorrer do tempo. Mas este é apenas um dos trunfos estéticos desta obra maior do cinema mundial. A poesia das imagens, a soberba montagem, a história envolvente, a voz off subtil, fazem deste filme uma experiência artística única.

As novas gerações talvez saibam da existência do filme porque "La Jetée" de Marker inspirou o filme que Terry Gilliam (ex-Monty Python) fez em 1995, "12 Macacos", com Brad Pitt e Bruce Willis. O realizador Terry Gilliam diz mesmo que "La Jetée" de Marker “tem a melhor montagem que alguma vez viu, com a música e a voz a marcar o ritmo e a deslumbrar o espectador”. As influências estéticas e plásticas do filme de Chris Marker perduram até aos dias de hoje, não só no seio do próprio cinema, como na música, na fotografia e nas artes plásticas.
No caso da música, David Bowie tem um vídeo intitulado “Jump They Say” com referências directas ao filme de Marker; o grupo de jazz Chicago Underground Trio e os Isotope 217 têm um disco chamado "La Jetée" (1999 e 1999, respectivamente); o projecto de pós-rock Tortoise editou um disco intitulado "Jetty" (1998).
Em 1982, Chris Marker realizou outra obra seminal,“Sans Soleil”, que resultou numa complexa reflexão sobre a cultura da imagem na sociedade pós-moderna – filme, vídeo e fotografia. E voltou a abordar os seus temas de eleição: ficção científica, memória, tempo, viagem, culturas de África e Japão.
Chris Marker realizou, nos seus últimos anos de trabalho, um notável documentário sobre a vida do realizador russo Andrei Tarkovski - "One Day in the Life of Andrei Arsenevitvh" (2000) e em 2005 criou um trabalho multimédia e digital para o MoMa – Museu of Modern art de New York.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Godard, 1960

Jean-Luc Godard numa entrevista rara no início da sua carreira como realizador. Corria o longínquo ano de 1960 e Godard apresentava a sua obra revolucionária da "Nouvelle Vague" - "O Acossado" ("A Bout de Souffle") no festival de Cannes
Godard, então um jovem aparentemente impassível (sentado quase imóvel e de óculos escuros), responde às perguntas (algumas provocadoras) do jornalista, revelando uma grande dose de ironia e clareza de pensamento (mesmo quando responde "não sei").
Chamo a atenção para o último minuto da entrevista, na qual o realizador francês, muito ao seu estilo iconoclasta, diz: "Espero que consiga desiludir o público no meu segundo filme para que não possam confiar em mim nunca mais." 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

"Inception" by... Fritz Lang!

O jornal Daily Mail divulgou há dias uma interessante reportagem subordinada a uma simples e desafiadora questão: "E se os modernos blockbusters tivessem sido feitos na década de 50?" Pegando nesta premissa, o artista gráfico americano Peter Stults reinventou os posters de filmes como "Inception", "Pulp Fiction" ou "Trainspotting", criando imagens totalmente vintage. Para além da óbvia curiosidade dos posters feitos na forma estética dos anos 50 e 60, é também curioso os nomes dos créditos artísticos.
Assim, o filme "Trainspotting" seria realizado por Jean-Luc Godard e interpretado por uns jovens Michael Caine e Anthony Hopkins; ou o "Inception" realizado por Fritz Lang e interpretado por Burt Lancaster e Rita Hayworth! E quem melhor para actor em "Drive" do que... James Dean?!
Eis as provas:

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O olhar visionário de Godard


É um dos mais espantosos filmes de Jean-Luc Godard: "Alphaville" (1965). E é também um dos mais estudados na área da comunicação, da semântica e da teoria estética (Deleuze), dada a complexidade da obra.
Com interpretações fabulosas de Eddie Constantine e Anna Karina, "Alphaville" é uma espécie de filme policial/ficção científica de série B futurista, com abordagens muito cruas à ideia de repressão do Estado, de controlo das massas e da liberdade individual. Um tema muito actual, portanto.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O navio onde Godard filmou




Na cerimónia de inauguração do navio cruzeiro "Costa Concordia", em 2006, a garrafa de champanhe, tradicionamente lançada de encontro ao casco do navio como forma de "baptismo", não se partiu. Quando assim acontece, diz-se que o navio não vai ter sorte. Comprovou-se agora com o naufrágio do cruzeiro na costa italiana.

Mais curioso e intrigante ainda - e relatado no Facebook pelo Daniel Curval - é que o "Filme Socialismo" do cineasta francês Jean-Luc Godard foi filmado, em grande parte, neste navio cruzeiro (comparem as imagens).

Segundo Curval, "o filme falava do fim do capitalismo e desta Europa politica e confirma a genialidade e o visionarismo de Godard. Este naufrágio representa uma trágica e metafórica ironia."

Mesmo eu que não me empolguei com o filme de Godard, acabo por subscrever estas mesmas palavras!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Há Oliveira e há os outros

A idade é um posto, diz-se na gíria popular. E é verdade.
No universo do cinema, apesar do português Manoel de Oliveira liderar a lista mundial dos realizadores mais velhos no activo com os seus (quase) impensáveis 103 anos de idade, outros há que também deitaram para trás das costas a palavra "reforma" e continuam a fazer filmes com a experiência acumulada de muitas décadas de trabalho: Clint Eastwood (81 anos), Alain Resnais (89), Jean-Luc Godard (81), Roger Corman (85), Chris Marker (91), Jacques Rivette (83), Agnès Varda (83), Claude Chabrol (80), Jonas Mekas (88), Frederick Wiseman (81), Jean-Marie Straub (78), Carlos Saura (80), Roman Polanski (78), William Friedkin (76), entre outros.
Cineastas que são verdadeiros modelos a seguir - na vida como na arte - para os jovens aspirantes a realizadores.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O radicalismo de Godard


Dos grandes cineastas históricos ainda vivos, Jean-Luc Godard é o que eu tenho menos simpatia. Pelo menos do seu trabalho dos últimos 10 ou 15 anos. Bem sei que é um monstro sagrado da história do cinema, uma referência incontornável, um visionário que revolucionou a sétima arte, um realizador-chave da "nova vaga" francesa, etc.

Um cinéfilo tem as suas preferências, e para mim Godard é daqueles cineastas que, apesar de indubitavelmente talentoso, não me comove. E a emoção é parte essencial da linguagem artística. Gosto dos filmes do Godard dos anos 60 ("A Bout de Soufle", "Band à Part", "Le Mépris", "Pierrot le Fou", "Alphaville", "Wekkend"...), mas já não adiro com o mesmo entusiasmo aos filmes mais radicais do realizador franco-suíço.

E falo, particularmente, da sua mais recente obra, "Film Socialism", uma obra que vi ontem no cinema e que me deixou estupefacto. Godard refuta quaisquer resquícios de narrativa convencional (já o fazia antes, mas nunca com o radicalismo de agora) e explora à saciedade fragmentos de imagens, diálogos e sons que se estilhaçam a cada segundo. Para ver este filme, o espectador é forçado a uma concentração desmedida, tal a incrível avalanche de estímulos audiovisuais a que é submetido.

Sabe-se que "Film Socialisme" é constituído por três movimentos (ou secções); sabe-se que o filme lança farpas à Europa (mais uma vez), ao capitalismo, à falência das ideologias, recorrendo a imagens de arquivo, cortes abruptos e inesperados da montagem, a enquadramentos de câmara improváveis, a um ritmo avassalador de ideias, sons, memórias, informação em demasia. Radicalismo formalista do qual não retiro prazer estético.

É desse mal, quanto a mim, que padece o filme de Godard: à custa de tanto querer ser vanguardista e experimentalista - mesmo nos seus veneráveis 80 anos de idade -, o seu cinema enreda-se num formalismo levado às últimas e redundantes consequências. Cerebral, frio e metódico em excesso.

Não admira que "Film Socialisme" tenha sido recebido com reacções totalmente díspares: houve quem o comparasse à magnitude da obra literária "Ulisses" de James Joyce, e houve quem o cilindrasse pela petulância intelectual, pela linguagem audiovisual exacerbada e pela abstracção excessiva (parece que Godard, tendo filmado pela primeira vez com o sistema HD, se deixou deslumbrar com as potencialidades do mesmo - as brincadeiras visuais são mais do que muitas).

Gosto de propostas cinematográficas que me desafiem e provoquem, mas não a um nível como o cinema de Godard faz. O seu cinema actual é um cinema que me deixa exausto e desorientado, e pior: que não me provoca um pingo de emoção estética, que não me inspira nem me estimula. Saía da sala de cinema cansado pela frieza do que tinha visto e 10 minutos depois deixei de pensar no filme.

Há quem diga que "Film Socialisme" é já a manifestação visionária do "cinema do futuro". Pois que seja. Subjectividade por subjectividade, eu prefiro um plano-sequência de um qualquer filme do Béla Tarr do que este "cinema do futuro". E reconheço que "Film Socialisme" é um objecto essencial para ser discutido e analisado numa aula de cinema, de teoria da arte ou de comunicação visual.

(Nota: agora os defensores acérrimos do Godard podem encher a caixa de comentários com críticas... mas construtivas, se faz favor).

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Dois cartazes

São dois filmes que vão estrear brevemente em Portugal. Dois filmes de realizadores de gerações e formações bem diferentes (cada um no seu território de exploração cinematográfica): Darren Aronofsky e Jean-Luc Godard.
Ainda não vi nenhum destes filmes, por isso aproveito apenas para comentar os respectivos cartazes. Cada um à sua maneira, são dois notáveis cartazes: “Black Swan” pela inegável qualidade plástica da imagem, pelo olhar doce de Natalie Portman e pela inquetante cratera no seu rosto; “Film Socialism”, de Godard, pelo conceito gráfico minimalista – fundo negro, letras vermelhas e as iniciais do cineasta francês entrelaçadas com as do título da película. Ideias aparentemente simples, despojadas e que, ao mesmo tempo, revelam criatividade ao nível das soluções visuais.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Antologia Cinematográfica de Gérard Courant


Gérard Courant, 59 anos (na imagem), é um dos realizadores mais prolíferos da História do Cinema. No entanto, nem este facto o torna particularmente conhecido, mesmo nos meios académicos e cinéfilos.
O cineasta francês realizou e produziu cerca de 300 filmes desde os anos 70 até à actualidade, mas a sua obra mais reconhecida e ambiciosa continua a ser a verdadeira antologia cinematográfica chamada “Cinématon”, iniciada em Fevereiro de 1978. O conceito por detrás do “Cinématon” é simples (mas não simplista): uma câmara filma um único plano fixo de uma dada personalidade durante uns rigorosos 3 minutos e 20 segundos (a duração de uma bobine do formato Super 8). Enquanto Gérard Courant filma as personalidades, estas são livres de fazer o que quiserem em frente da câmara (os filmes são sempre mudos, mesmo que as pessoas falem). Não existe encenação ou artificialismos de imagem.
O projecto inicial de Gérard Courant, no final dos anos 70, resumia-se a filmar uma série de apenas 100 “Cinématons”. Contudo, este limite rapidamente foi ultrapassado com o entusiasmo do realizador, a adesão dos participantes e a originalidade inerente ao projecto. No total, Courant filmou, ao longo dos anos, o impressionante número de 4000 “Cinématons”, cuja duração total ascende a perto de 150 horas de filme. Corresponde a seis dias consecutivos de visionamento - a última exibição integral destes filmes foi apresentada em 2009, em Avignon (França).
Nesta monumental série de “retratos filmados” (uma tradução livre aproximada ao conceito de “Cinématon”) concebida ao longo dos últimos 30 anos (média de 100 por ano), Courant filmou milhares de pessoas: primeiro com amigos, familiares e realizadores em início de carreira; depois com intelectuais e personalidades artísticas (realizadores, músicos, actores) de renome internacional: Jean-Luc Godard, Wim Wenders, Terry Gilliam, Fernando Arrabal, Sandrine Bonnaire, Félix Guattari, Joseph Losey, Nagisa Oshima, Ken Loach, Roberto Benigni, Samuel Fuller, Gaspar Noé, Sergueï Paradjanov, Derek Jarman, entre muitos outros.
O realizador português Manoel de Oliveira também colaborou neste projecto, participando no 102º “Cinématon”, em 1981.
O trabalho de Gérard Courant lembra a pureza realista dos primeiros documentários da história do cinema, nos quais a acção é captada em plano fixo, sem artifícios de montagem e filmando a total espontaneidade natural do momento (ainda que alguma pessoa filmada possa encenar alguma situação). Não admira, por isso, que Raphäel Bassan, realizador e crítico de cinema francês, tenha referido que o autor do conceito “Cinématon” é o “descendente mais puro do cinema dos Irmãos Lumière”. Isto porque “cada retrato filmado” é como uma pintura em movimento que, durante três minutos e meio, regista as nuances da pessoa filmada, abrindo espaço para a sua interpretação ou, simplesmente, para a captação natural da sua presença física. E o realizador, numa minúcia de relojoeiro, aponta o dia, a hora e a profissão de cada "Cinématon" filmado.
Apesar de parecer um conceito ancorado em previsibilidade e monotonia, a verdade é que os “Cinématons” de Gérard Courant se prestam a muitos momentos distintos e surpreendentes, como as caretas feitas por Terry Gilliam, o “discurso mudo” de Roberto Benigni, a descontracção de Godard a fumar, a pintura facial efectuada pelo músico e performer Gérome ou a quase imobilidade física do realizador Robert Kramer. Alguns “Cinematons” são, por isso, mais exuberantes e interessantes do que outros, mas deste facto não decorre de nenhuma responsabilidade directa do realizador, visto que a liberdade de actuação perante a câmara é atribuída, inteiramente, à pessoa filmada. E é esta veracidade do momento filmado, esta autenticidade da imagem filmada que outorga a esta colossal série de “Cinématons” de Gérard Courant, uma originalidade quase neo-realista em formato de documentário de curta duração, num projecto único na História do Cinema: uma verdadeira Antologia Cinematográfica.
"Cinématon" de Terry Gilliam:


Nota: Este texto foi publicado originalmente no jornal do Teatro Municipal da Guarda, a propósito dos "Encontros Cinematográficos".

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Os veteranos em Cannes


O Festival de Cannes pode ser uma rampa de lançamento para novos valores do cinema mundial, como aconteceu com o reconhecimento do jovem João Salaviza no ano transacto. Mas Cannes continua, por assim dizer, a ser um espaço de interminável valorização dos realizadores mais veteranos e reincidentes.
Senão vejamos as idades de alguns cineastas presentes este ano em Cannes com filmes:

- Manoel de Oliveira: 101 anos
- Ridley Scott: 73 anos
- Jean-Luc Godard: 79 anos (na imagem)
- Woody Allen: 74 anos
- Abbas Kiarostami: 69 anos
- Stephen Frears: 69 anos
- Otar Iosseliani: 66 anos
- Mike Leigh: 64 anos
- Nikita Mikhalkov: 64 anos
- Oliver Stone: 63 anos

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Top 10 cinema italiano


O cinema italiano, à semelhança do francês, é um cinema que teve períodos de grande relevância histórica, cultural e estética na história do cinema mundial. São dois países cujas marcas de autor e de originalidade mais se fizeram sentir ao longo de décadas. Duas cinematografias muito criativas e pujantes.
Se em Itália emergiu o movimento Neo-Realista (Rossellini, Vittorio De Sica, Visconti) logo no pós-guerra, em França surgiu a não menos importante Nova Vaga na década de 60 (Godard, Truffaut, Rohmer, Rivette, Resnais...), que trouxe uma nova sensibilidade e uma nova forma de fazer cinema que marcaria para sempre a Sétima Arte.
Numa deambulação que fiz pela internet sobre cinema italiano, deparei-me com uma lista dos 10 melhores cineastas italianos de sempre. E é esta, por ordem decrescente:

10 - Robert Benigni
9 - Sergio Leone
8 - Pier Paolo Pasolini
7 - Franco Zeffirelli
6 - Roberto Rossellini
5 - Luchino Visconti
4 - Vittorio De Sica
3 - Bernardo Bertolucci
2 - Michelangelo Antonioni
1 - Federico Fellini
______________________
As listas valem o que valem, mas custa-me a acreditar que Bertolucci seja considerado melhor realizador do que Visconti ou do que Vittorio De Sica. Assim como me causa certa estranheza ver o Zeffirelli à frente de Pasolini e do Sergio Leone. Ou nem sequer constar Nani Moretti.
Já os dois primeiros lugares - Fellini e Antonioni - são, quanto a mim, inquestionáveis.