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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Philip Glass e a música para cinema


Philip Glass já era um compositor reconhecido no final dos anos 70. Nessa altura era o porta-estandarte da estética minimal repetitiva, com Steve Reich e Terry Riley. Foi nessa altura que foi convidado para fazer a primeira banda sonora original para cinema.
Apesar de alguma relutância, aceitou o desafio de musicar a fantástica viagem através de incríveis imagens que é o documentário (faz parte de uma trilogia) "Koyaanisqatsi" (1982) de Godfrey Reggio. A partir desta bem sucedida experiência, Glass nunca mais parou de fazer música para cinema.
No site oficial do compositor, estão recenseados 36 filmes para os quais compôs a música original. Apesar de não conhecer todos esses filmes (há uns 10 que ainda não vi), arrisco a elaborar as dez bandas sonoras de que gosto mais (não necessariamente as melhores):

1 - "Koyaanisqatsi" - Real. Godfrey Reggio
2 - "Kundun" - Real. Martin Scorsese
3 - "Powaqqatsi" - Real. Godfrey Reggio
4 - "Dracula" - Real. Tod Browning
5 - "The Fog of War" - Real. Errol Morris
6 - "The Hours" - Real. Stephen Daldry
7 - "The Secret Window" - Real. David Koepp
8 - "The Illusionist" - Real. Neail Burger
9 - "Naqoyqatsi" - Real. Godfrey Reggio
10 - "North Star" - Real. François de Menil
Post sobre Philip Glass.

domingo, 29 de novembro de 2009

Melhores filmes da década?


O The Hollywood Reporter elaborou uma lista dos dez melhores filmes da última década:

1 - "Cartas de Iwo Jima" (2006) - Clint Eastwood
2 - "Voo 93" (2006) - Paul Greengrass
3 - "Este País Não é Para Velhos" (2007) - Ethan and Joel Coen
4 - "Testemunhos de Guerra" (2003) - Errol Morris
5 - "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" (2007) - Christian Mungiu
6 - "Longe do Paraíso" (2002) - Todd Haynes
7 - "Intervenção Divina" (2002) - Elia Suleiman
8 - "Caché - Nada a Esconder" (2005) - Michael Haneke
9 - "O Escafandro e a Borboleta" (2007) - Julian Schnabel
10 - "O Laço Branco" (2009) - Michael Haneke

Esta lista deixou-me perplexo. Por vários motivos. Sabendo-se que o The Hollywood Reporter é uma importante revista norte-americana sobre a indústria do entretenimento (a outra é a Variety), fiquei surpreendido por ver referenciados 5 filmes não americanos: um palestiniano, um francês, um romeno e dois austríacos. Surpreendido porque, apesar de "Cartas de Iwo Jima" ser um bom Eastwood, julgo que o trono ficaria melhor entregue com títulos como "Gran Torino" (2008) ou "Million Dollar Baby" (2004). Surpreendido, também, por ver um razoável filme de acção - "Voo 93" - em segundo lugar. A exclamação é legítima: "Voo 93" é o segundo melhor filme da década?!
Mais uma surpresa (positiva): a nomeação do excelente documentário "Testemunhos de Guerra" de Errol Morris, de que falei aqui. E derradeira surpresa: a inclusão de 2 (!) filmes do austríaco Michael Haneke: "Caché" de 2005 e "O Laço Branco" (este filme é o único que não vi da lista), título vencedor da Palma de Ouro do último festival de Cannes (também consta outro notável filme que ganhou a Palma de Ouro do ano anterior - "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" do romeno Christian Mungiu).
O filme de Julian Schnabel é magnífico, como referi neste post, mas não sei se merece integrar os 10 melhores filmes de uma década (o mesmo para o título "Longe do Paraíso" de Haynes e "Intervenção Divina" de Suleiman). Já a fita dos irmãos Coen, quanto a mim, está de pleno direito na lista.
Em suma, uma lista surpreendente e improvável, tendo em conta que provém de um órgão de comunicação tão vocacionado para a promoção da indústria cultural norte-americana como é o "The Hollywood Reporter".

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Philip Glass - um retrato em doze partes


"Glass: A Portrait of Philip in Twelve Parts" é um documentário realizado por Scott Hicks, o mesmo realizador que fez o premiado "Shine - Simplesmente Genial" (1996), sobre a vida conturbada do pianista esquizofrénico David Helfgott. Scott Hicks realizou um brilhante documentário sobre a vida e obra de um dos maiores compositores americanos dos últimos 30 anos: Philip Glass. Foi filmado em 2007, no ano em que Glass comemorou o seu 70º aniversário. Scott Hicks refere que ficou fã de Philip Glass quando viu, em 1984, a obra-prima "Koyaanisqatsi" com música original do compositor americano. Quem é que não ficou, pergunto eu.
O documentário "Glass: A Portrait of Philip in Twelve Parts" (título retirado de uma obra de Glass intitulada "Music in Twelve Parts"), aborda o passado e o presente da obra do minimalista (Glass não gosta desta definição), assim como as suas relações familiares e de amizade, e os músicos e cineastas com os quais colaborou ao longo da sua já longa carreira. Daí que haja depoimentos de Martin Scorsese, Ravi Shankar, Nico Muhly, Errol Morris, Woody Allen, Godfrey Reggio, entre outros.
Foi o próprio Scott Hicks que filmou com a câmara HD todo o filme, com uma reverência artística respeituosa e confessa admiração. O início do documentário é particularmente surpreendente, com Philip Glass a divertir-se - qual criança endiabrada - numa vertiginosa montanha russa (pode ver-se um excerto deste momento no final do trailer). A relação de Glass com o Budismo não foi esquecida, assim como os pormenores do seu processo criativo e métodos de trabalho.
Tanto quanto sei, este documentário nunca estreou comercialmente em Portugal (a não ser num eventual festival de documentários, como o DocLisboa) e também não viu a luz do dia em edição DVD. Lamentável, portanto.
Sobre a obra de Philip Glass, escrevi um texto mais desenvolvido aqui.

sábado, 24 de novembro de 2007

Documentários políticos: visões e revisões


Num mundo globalizado e massificado pelas tecnologias da informação e comunicação, a realidade social e política toma contornos surpreendentes e cada vez mais imprevisíveis. Essa realidade já não é balizada com base em coordenadas estanques e uniformes: fenómenos globais como o terrorismo, a emigração ilegal, a pobreza, o racismo, os ideais fundamentalistas e radicais, a economia a reboque dos interesses do petróleo, os lobbies, a instabilidade social ou os conflitos étnicos e regionais, provam que o mundo é cada vez mais um mundo descoordenado, instável, inseguro e altamente complexo. Os grandes ideais políticos mobilizadores preconizados por Churchill ou John Kennedy parecem já ineficazes face à complexidade da realidade contemporânea.
Por seu turno, os EUA mantêm - fazendo uso do estatuto de única superpotência mundial - a sua supremacia militar, económica e política face ao resto do mundo. Mas por detrás dessa imagem de potência global, escondem-se segredos políticos que embaraçam a actual Administração Bush. O documentário “O Mundo Segundo Bush” (William Karel, 2004) é um crítico e polémico olhar sobre a presidência americana, as suas controversas políticas internas e externas, nas quais se revelam pormenores pouco conhecidos da administração Bush. Uma assombrosa investigação jornalística que expõe os segredos e mecanismos do poder, através de entrevistas aos protagonistas, detalhes de factos desconhecidos da opinião pública e manipulações de informação sobre temas tão controversos como a invasão do Iraque e as relações entre Bush e os magnatas do petróleo da Arábia Saudita (Bin Laden incluído). Longe da demagogia militante de Michael Moore.
Por outro lado, Robert McNamara, antigo Secretário de Defesa dos EUA dá-nos também uma visão surpreendente dos bastidores políticos do período mais delicado da política externa americana no brilhante documentário "Testemunhos de Guerra ("The Fog of War", 2003). Noutro ponto da barricada, Fidel Castro, resiste até ao fim no seu casulo comunista e anti-imperialista (o documentário "Fidel" de Oliver Stone). Os três documentários políticos (de produção recente)configuram, assim, uma espécie de trilogia surpreendente sobre o universo político mundial menos visível à opinião pública mundial. Para que todos possamos perceber melhor o mundo em que vivemos. Destes três filmes mencionados, o mais pertinente (e o melhor em termos estritamente cinematográficos) é o do premiado realizador Errol Morris. Ganhou o Óscar do melhor documentário de 2003. Trata-se de uma pertinente análise sobre o mandato dos presidentes Kennedy e Johnson, através de uma entrevista contundente do seu Secretário de defesa, o famoso e influente Robert McNamara. “Testemunhos de Guerra” aborda alguns dos factos mais importantes e delicados da história norte-americana dos últimos 40 anos, como o bombardeamento do Japão, a crise dos mísseis de Cuba e a controversa guerra do Vietname, factos que desencadearam consequências sociais, históricas e políticas ainda hoje vividas. Depois, a música original de Philip Glass outorga um cariz mais solene e austero às mensagens veiculadas pelo filme. Perante estes exemplos de intervenção cívica (porque é disso também que é feito um documentário), urge perguntar: quando é que em Portugal haverá algum realizador suficientemente corajoso para engendrar um documentário político que coloque, sem rodeios, o dedo nas feridas desta, aparentemente tácita, democracia representativa?