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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O bom cinema que veremos em 2015

Agora que 2015 começou há que antecipar o ano em termos culturais. No que diz respeito ao cinema, a imprensa e as redes sociais têm indicado muitos títulos que irão marcar o ano. 
Na minha humilde opinião começo por destacar os filmes que serão totalmente dispensáveis de ver:

- "As Cinquenta Sombras de Grey"
- "Velocidade Furiosa 7"
- "Vingadores: a Era de Ultron"
- "Resident Evil 6"
- "Taken 3"
- "Rambo 5"
- "Mission Impossible 5"
- "Terminator: Genisys"
- "Paranormal Activity: The Ghost Dimensions"
- "Hitman: Agent 47"
- "The Fantastic Four"
- "[REC] 4: Apocalypse"
- "Ted 2"
- "The Hunter Games: Mockingjaxy part 2"
- "Superman vs Batman"
- "Mad Max: Fury Road"

Ou seja, fujo de tudo quanto cheire a blockbuster de entretenimento repetitivo e com fórmulas mais do que gastas, a sequelas e prequelas de blockbusters para consumir pipocas no meio da assistência apática de adolescentes imberbes.

Posto isto, vamos ao verdadeiro cinema enquanto Arte. E assim, os filmes que vão estrear (pelo menos em Portugal) em 2015 que mais me suscitam (muita) vontade de ver são (e não digam que não vai ser um grande ano de cinema!):

- "Flashmob" - Michael Haneke
- "Onomatopoeia" - Jean-Luc Godard 
- "Blackhat" - Michael Mann 
- "Leviathan" - Andrey Zvyagintsev
- "Silence" - Martin Scorsese
- "The Hateful Height" - Quentin Tarrantino
- "American Sniper" - Clint Eastwood
- "Inherent Vice" - Paul Thomas Anderson
- "Olhos Grandes" - Tim Burton
- "Queen of the Desert" - Werner Herzog 
- "I Walk With The Dead" - Nicolas Winding Refn
- "Sierra-Nevada" - Cristi Puiu
- "The Early Years" - Paolo Sorrentino
- "Sea of Trees" - Gus Van Sant 
- "Life" - Anton Corbijn
- "Francophonia: Le Louvre Under German Occupation" - Aleksandr Sokurov
- "The Assassin" - Hou Hsiao-hsien 
- "Idol's Eye" - Olivier Assayas
- "Dance of Reality" - Alejandro Jodorwosky 
- "Ferryman" - Wong Kar-Wai
- "D" - Roman Polanski
- "Sunset Song" - Terence Davies 
- "Mountains May Depart" - Jia Zhangke 
- "Crimsom Peak" - Guillermo del Toro
- "The Lost City of Z" - James Gray
- "Uma Dívida de Honra" - Tommy Lee Jones
- "Regression" - Alejandro Aménabar
- "Pasolini" - Abel Ferrara
- "Babi Yar" - Sergei Loznitsa 
- "Birdman" - Alejandro Gonzales Iñarritu
- "Cemetery of Kings" - Apichatpong Weerasethakul 
- "Knight of Cups" - Terrence Malick 
- "Women’s Shadow" - Philippe Garrel 
- "Three Memories of Childhood" - Arnaud Desplechin 
- "Louder Than Bombs" - Joachim Trier 
- "Arabian Nights" - Miguel Gomes 
- "Montanha" - João Salaviza
- "Carol" - Todd Haynes  
- "The Last Vampire" - Marco Bellocchio 


E certamente que esta lista não está fechada. 
Outros filmes de qualidade serão anunciados para enriquecer ainda mais este ano cinematográfico. 


quarta-feira, 25 de junho de 2014

Realizadores "lentos"

Esta é uma lista definitiva que comprova uma coisa tão simples quanto isto: os realizadores que filmam longos planos fixos ou planos-sequência, são todos grandes realizadores da história. Basta constatar esta lista de 15 cineastas que "exigem a paciência do espectador". Ninguém que saiba apreciar bom cinema se arriscaria a denegrir qualquer um destes nomes e, no entanto, fazem (ou faziam) filmes de várias horas com planos fixos, seja por uma questão estética ou narrativa - ou ambas. Uma boa lista para destruir o preconceito de que filmes "lentos" são chatos e sem mérito artístico.
Abrir a lista aqui.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Sokurov e a pintura

Volto à brilhante odisseia da "História do Cinema" de Mark Cousins: quase no final do documentário, Cousins entrevista o realizador Alexander Sokurov que admite a enorme influência que a pintura (ou certa pintura) teve no seu cinema. Mais propriamente, na concepção plástica e estética do filme "Mãe e Filho" (1997). 
Para o trabalho visual desta magnífica película, Sokurov foi buscar inspiração ao célebre pintor alemão do século XVIII (e XIX) Caspar David Friedrich (pintor que ficou famoso por esta icónica pintura). Era mais do que evidente que este filme de Sokurov (entre outros) tinha uma forte influência da pintura, mas nunca tinha sabido qual a fonte de inspiração. Por isso parti à descoberta da pintura de Caspar David Friedrich, porque o realizador russo admitia até que tinha filmado em paisagens muito semelhantes às pinturas do pintor alemão. 
Bastou uma pequena pesquisa para compreender essa forte ligação plástica entre as imagens do filme e das pinturas (escolhas minhas):


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O Fim da Odisseia



E pronto.

Finalizei  o visionamento dos 5 DVDs (15 horas!) do monumental documentário "The Stoty of Film: An Odissey" sobre a história do cinema. Foi deveras uma odisseia saborosa, uma experiência enriquecedora. O balanço é muito positivo, como referi numa análise mais detalhada neste post.
O autor de tamanha obra, Marc Cousins (na imagem), merece todas as honras pelo incrível trabalho que realizou. Claro que já conhecia muitos dos filmes e histórias que são abordados, mas o olhar peculiar de Marc Cousins fez-me compreender de forma diferente esses mesmos filmes e histórias. Por outro lado, fiquei também a conhecer cinematografias do mundo não ocidental que Cousins abordou, assim como dar mais atenção a alguns realizadores que julgava menores.
Claro que em 15 horas de documentário sobre uma história tão complexa e diversificada como a do cinema, não é fácil fazer uma selecção de temas a explorar. Tanto mais que nessa selecção há sempre a necessidade de deixar de fora filmes e cineastas.
Sem querer condenar o trabalho e as opções do autor sobre as suas legítimas escolhas, não deixo por isso de manifestar a minha surpresa pela não referência de realizadores que julgo importantes e que Cousins nunca mencionou ao longo do documentário. 
Isto porque Marc Cousins sempre privilegiou neste documentário os realizadores mais criativos e inventivos ao longo das várias décadas.
Daí que me pergunto porque é que nunca falou de cineastas como:

- Alejandro Jodorowsky
- Guy Maddin
- Maya Deren
- Chris Marker
- Wes Craven
- Roger Corman
- John Carpenter
- Dario Argento
- Béla Tarr (fez apenas uma referência ultra-rápida!)
Entre outros.

Mas escolhas são escolhas e respeito isso.
No fundo, Marc Cousins é um cinéfilo "old school" e não se coíbe de fazer afirmações como estas:

sábado, 21 de dezembro de 2013

Carta ao Pai Natal


Querido Pai Natal: este ano de 2013 portei-me bem. Por isso peço-te gentilmente que me ofereças estas prendas em baixo descriminadas. São algumas caixas de DVDs e Blu-Ray que gostaria de receber este ano. No total serão apenas algumas centenas de euros, não é um valor significativo no teu gigantesco orçamento anual para prendas para todo o planeta. Obrigado pela tua atenção, Pai Natal.
Então faz o favor de apontar:













domingo, 21 de julho de 2013

Diálogos minimalistas


Há filmes com muitos diálogos e filmes minimalistas com quase nenhuns diálogos. Ter muitos ou poucos diálogos num filme não é forçosamente um indício de filme medíocre ou de filme muito bom. Depende de outros factores, como a qualidade do enredo, da realização e, sobretudo, da interpretação. 
O site Flavorwire elaborou uma lista de 10 filmes caracterizados por uma espartana economia de diálogos. Por acaso, desta lista, considero que são todos filmes bons e interessantes, mas fazendo um esforço de memória dou-me conta que faltam exemplos demonstrativos do minimalismo de diálogos no cinema, como: "Gerry" (2002) de Gus Van Sant, "Duel" (1971) de Steven Spielberg, "O Cavalo de Turim" (2012) de Béla Tarr, "Solaris" (1972) de Andrei Tarkovski, "O Náufrago" (2000) de Robert Zemeckis, "Ossos" de Pedro Costa, "Ariel" (1988) de Aki Kaurismaki ou "Mãe e Filho" (1997) de Alexander Sokurov.
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Na imagem, "O Samurai" (1967) de Jean-Pierre Melville.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

"Um Filme, Uma Mulher"

A autora do blogue "Girl on Film", Sofia Santos, convidou-me a dissertar sobre uma rubrica interessante do seu blogue intitulada "Um Filme, Uma Mulher". 
Isto é, uma rubrica na qual o convidado aborda um filme específico em que uma mulher desempenha uma personagem feminina deveras relevante (pelos mais variados motivos). 
A minha opção foi escrever sobre o filme "Alexandra" de Sokurov. Para ler aqui.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A velhice e os filmes


Gosto de filmes sobre velhos. É uma forma simplista de o dizer, mas é assim mesmo: filmes sobre velhos, ou sobre a velhice. E não encaro o termo “velho” com conotações pejorativas. Pelo contrário. É o tempo da maturidade, da sabedora e da experiência. Uma etapa de vida que impõe respeito, valorização e atenção. Tempo de reflexão serena sobre o tempo vivido e sobre o sentido da vida.
No cinema, é preciso que um realizador tenha muita sensibilidade artística para não lidar com a velhice de forma sentimentalista ou condescendente, como se se tratasse de uma telenovela pejada de todos os lugares-comuns sobre o tema.
É preciso ter visão, mentalidade aberta, sentido humanista e deitar fora os preconceitos. Assim de repente, lembro-me de uma obra-prima do Neo-Realismo italiano: “Umberto D.” (1952) de Vittorio de Sica: a comovente vida de um pobre pensionista, solitário e desesperado, cuja relação com o seu fiel cão o salva de um fim trágico.
Ou o memorável “Morangos Silvestres” (1957) de Ingmar Bergman, essa esplendorosa meditação sobre o fim da vida de um professor universitário desencantado. Ou a relação de amizade entre o motorista Morgan Freeman e a velha aristocrata Jessica Tandy em "Driving Miss Daisy" (1989). Recordo-me também do último e terno filme do mestre Akira Kurosawa, "Rapsódia em Agosto" (1991), no qual uma idosa sobrevivente de Nagasaki se confronta com a custódia dos seus quatro netos e a relação com um inesperado sobrinho americano.
Também de Bergman, o crepuscular “Saraband” (2003), a sua última obra em forma de testamento sobre as inquietações afectivas e emocionais de um idoso em final de vida.

Nos últimos anos, há dois ou três títulos muito interessantes cujos personagens principais são pessoas idosas, reformados que ainda mantêm sonhos e esperanças (ou talvez não): “As Confissões de Schmidt” (2002) de Alexander Payne, com um extraordinário Jack Nicholson, que antevê um novo futuro após a morte súbita da mulher; e “Vénus” (2006) de Roger Michell, com um não menos extraordinário e veterano Peter O’Toole. Goste-se ou não do filme, "The Curious Case of Benjamim Button" (2008) é uma reflexão sobre os vários estados etários da vida humana, com especial ênfase na velhice. E que dizer do grande filme sobre uma avó e sua relação com o neto soldado, em “Alexandra” (2007) de Sokurov? Ou da maravilhosa viagem de reconciliação de um velho num cortador de relva que é retratada em "The Straight Story" (1999) de David Lynch (lembrança de João Gonçalves)?

É caso para dizer: o cinema (também) é (de e para) velhos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Uma colecção a não perder


A próxima colecção de DVD do Público é absolutamente imperdível: 15 filmes essenciais (uns mais do que outros) de 15 realizadores essenciais (uns mais do que outros). Intitula-se, bem a propósito, "Grandes Realizadores" e vai contar com filmes de John Ford, Moretti, Godard, Pialat, Resnais, Jarman, Kiarostami, Cassavetes, Sokurov, Bresson, entre outros.
As edições fazem parte do rico catálogo da Midas Filmes e o primeiro DVD sai já na próxima sexta-feira com a magnífica obra "Young Mr. Lincoln" de John Ford, a um preço irrisório: 1.99€.
Só não percebi se se trata de preço de lançamento ou não...

terça-feira, 27 de julho de 2010

Béla Tarr - um realizador único


Se me perguntarem qual o melhor realizador vivo em actividade, muito provavelmente responderia: Béla Tarr. No panorama do cinema de autor contemporâneo, Béla Tarr é o realizador mais talentoso e original. Mais do que Sokurov, do que Kaurismaki, do que Nuri Ceylan, o cineasta húngaro é o esteta por excelência, o visionário que desenvolveu uma linguagem visual própria (só filma a preto e branco), que abordou a deriva existencial do homem moderno em filmes fascinantes. Os seus filmes são como poemas visuais em permanente estado de graça. Personagens cruas e paisagens desoladoras, histórias minimalistas e místicas (na senda da inevitável referência Tarkovski), fotografia absorvente e intrigante. Depuração plástica a toda a prova. Tarr é um estilista da imagem que joga com a luz e as trevas. E trabalha os movimentos de câmara com uma perícia e minúcia como mais ninguém faz hoje.
Béla Tarr filma como se não existisse câmara, como se o olhar do espectador fosse a própria câmara. A forma como compõe a extraordinária "mise-en-scène" dos seus filmes e o modo como opera os longos movimentos de câmara (tem planos-sequência de 10 minutos) são estímulos para os sentidos. Gus Van Sant é um admirador do cineasta realizou o magnífico filme "Gerry" a pensar em Béla Tarr (não só este filme, como também "Elephant"). Conheci o seu trabalho com uma edição em DVD de dois dos seus mais célebres filmes: "Damnation" (1988) e "Werckmeister Harmonies" (2000), à venda na Amazon.com.
Béla Tarr é um dos realizadores mais radicais na opção pelo recurso do plano-sequência. Impressiona pela maneira como os seus filmes progridem como se se tratasse de um transe colectivo, que contamina os actores, a encenação e, por consequência, o espectador, desde que este se deixe envolver pelas histórias que se transformam em adágios visuais a preto e branco.
A obra de Tarr mais ambiciosa, bela, negra e épica é o filme "Sátántangó" ("Satan's Tango"), com sete horas de duração. Um espantoso fresco moderno sobre a vida conturbada de uma família rural húngara. Não é um cinema fácil e de aceitação imediata, sobretudo para os espectadores habituados à linguagem "videoclip" do cinema de Hollywood (ou de grande parte do cinema de Hollywood). O cinema de Béla Tarr é um cinema de estilo e austero, de muitas subtilezas visuais, de um ritmo pausado e de grande exigência formal, que solicita do espectador uma atenção e assimilação especiais.
O seu último filme, estreado no festival de Cannes 2008, baseado num conto do escritor policial George Simenon, é o magnífico "The Man From London" (é o único filme em DVD de Tarr à venda em Portugal) sobe o qual escrevi neste post.
Béla Tarr é um assumido "outsider", não tem site oficial, recusa entrevistas de jornalistas, não faz campanhas de promoção dos seus filmes. É um genial artista solitário e misantropo, como tantas das suas personagens dos seus filmes. Dedica-se de corpo e alma à sua arte.
De seguida, uma sequência do filme "The Man From London", das poucas sequências disponíveis no YouTube deste filme. É um único plano-sequência de 2'30''. Repare-se na mestria como a câmara se move e filma os personagens. Quem mais filma desta maneira em todo o mundo? Mais: em comparação do que escrevi a propósito da música no filme "Inception", constate-se a forma como a música é empregue nesta sequência: brilhantismo e total originalidade.

domingo, 18 de julho de 2010

"Faust" de Sokurov


Tenho um amigo que trabalha há 10 anos em animação 3D e efeitos visuais para publicidade, televisão e cinema. Começou a trabalhar em Londres, agora está na Finlândia. Fez trabalhos para a FIFA, Coca-cola, MTV, Diesel, Ubisoft, BBC, The Guardian, etc.
Estando em férias em Portugal, ontem estive com ele e perguntei-lhe em que é que estava a trabalhar. Para minha (agradável) surpresa, disse-me que a sua equipa criativa da empresa na qual trabalha, acabou de fazer a pós-produção do próximo filme (a estrear brevemente) do russo Alexander Sokurov.
O filme tem por título "Faust", baseado no célebre conto alemão no qual um homem vende a alma ao diabo em troca de sabedoria (e que Murnau adaptou ao cinema, magistralmente, em 1926). O meu amigo explicou-me, inclsuive, que tipo de efeitos visuais Sokurov pediu para o filme.
Moral: fiquei muito contente por saber que um amigo trabalha ao mais alto nível na criação de animação 3D e efeitos visuais para cinema, e logo com um dos mais importantes realizadores da actualidade.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Imagens da Steadycam


O que mostra esta imagem? A sequência da fuga na neve do filme "The Shining" de Stanley Kubrick filmada por um operador de câmara muito especial, com uma câmara pendurada à cintura. É simplesmente um dos operadores de câmara mais famosos e importantes de sempre: Garrett Brown, de seu nome.
É famoso e importante por dois motivos (entre outros): inventou a Steadycam e foi o grande responsável pela revolução na arte de filmar no filme "The Shining" (1980) de Kubrick. Já tinha havido anteriores experiências com a Steadycam, mas foi com o filme de Kubrick que a técnica de filmar com este tipo de câmara se desenvolveu e se impôs no mundo do cinema, sobretudo como um recurso estético e visual (sob a supervisão artística de Kubrick).
Basicamente, a Steadycam é um tipo de câmara que possui um sistema que se acopla ao próprio corpo (geralmente à cintura e de forma segura ou noutro sistema fixo) do operador de câmara, permitindo captar imagens em movimento e muito próximo da acção.
O resultado das imagens captadas por Garrett Brown são sequências de grande efeito visual, como são algumas cenas inesquecíveis de Danny a percorrer o Hotel Overlook no triciclo, ou a perseguição final no labirinto coberto de neve.
Depois desta obra de Kubrick, a utilização da Steadycam vulgarizou-se, mas nunca ninguém conseguiu superar a mestria técnica deste filme (tirando a experiência extrema do filme "A Arca Russa" de Sokurov, integralmente filmado recorrendo a esta câmara).

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"Anticristo" - O Caos Reina

Vi "Anticristo" de Lars Von Trier e fiquei atónito. O realizador dinamarquês expurgou os seus (e os nossos) demónios com este filme. Dilacerou o amor e fundiu-o com o mais profundo dos ódios, com a morte e a tragédia insana. Como pode "Anticristo" ser tão denso, negro e brutal e, ao mesmo tempo, ser de uma espantosa beleza visual? Como pode "Anticristo" mexer com os cinco sentidos do espectador se apenas tem dois actores e a natureza como cenário (apocalíptico)? Como conseguiu Lars Von Trier expiar os pecados da natureza humana de forma tão arrebatadora, sem deixar pingo de piedade, num pessimismo existencial levado às últimas consequências?

Razão tinha o cineasta em recusar explicar o filme no festival de Cannes. "Anticristo" não se "explica". É uma obra artística de pungentes emoções, provocadora, ousada, inconformada. Lida com o sexo, o desejo, o amor, o medo e a morte de forma como poucos realizadores ousaram abordar. É um filme que está impregnado de simbolismos ocultistas, de medos ancestrais, de imagens aterradoras, misteriosas, assombradas. Imagens inspiradas no filme "Espelho" de Andrei Tarkovski ("Anticristo" é-lhe dedicado), de uma fotografia incandescente, de uma plasticidade que julgava exclusiva de grandes cineastas como Béla Tarr ou Alexander Sokurov.
Verificação ortográfica
Como é habitual no cineasta dinamarquês, "Anticristo" está dividido em capítulos – “Luto", "Dor (Caos Reina)", "Desespero (Genocídio)" e "Os Três Mendigos", além de trazer um prólogo e um epílogo. O argumento remete para a história de um casal (os nomes não são citados em nenhum momento) que se refugia numa floresta isolada, ironicamente chamada de Jardim do Éden, após a morte do seu filho num acidente doméstico. Ela (incrível Charlotte Gainsbourg), escritora, fica totalmente entregue à dor da perda, enquanto ele (incrível Willem Dafoe), terapeuta, usa a psicologia cognitiva para ajudar a esposa. Já envoltos na vastidão e mistérios da natureza, o vegetal, o verde, o animal, os instintos humanos misturam-se numa espécie de negra saga bíblica que mexe com a moral e os valores dos espectadores. A irracionalidade e o lado animalesco tomam conta do homem e da mulher, e os actos de violência física e emocional assumem proporções dantescas. Os monstros que a Natureza oculta e que vai corroer a relação de ambos, provoca a libertação de fantasmas ancestrais.

"Anticristo" é um filme de um homem sem fé, ateu militante, descrente de valores e de posições morais, um nihilista nietzscheano desesperado que procura a explicação para o lado negro da mente humana. E como tem sido propalado, é um filme que divide violentamente: ou se adora e se adere à proposta, ou provoca profunda repulsa.
Destaque para a sequência inicial do filme (prólogo): uma impressionante e belíssima abertura poética de 5 minutos, rodada num preto e branco límpido, em câmara lenta, com música de Haendel como pano de fundo. Nesta abertura, vemos o casal a fazer amor enquanto o filho, inadvertidamente, provoca o terrível acidente mortal. Tão trágico quanto belo. O caos reina, a dor expia, a morte liberta.
Claramente um dos melhores filmes de 2009 (estreia dia 22 de Outubro em Portugal).

domingo, 12 de julho de 2009

Plano-sequência de acção

Gosto de filmes que tenham boas montagens. De Eisenstein a Scorsese, de Hitchcock a Cronenberg, muitos foram os grandes cineastas que fizeram da montagem uma linguagem artística e expressiva. No oposto deste recurso, está o plano-sequência, que não admite cortes na filmagem. Mas também gosto muito de realizadores que recorrem, com notável mestria estética e técnica, ao plano-sequência. Desde a clássica abertura de "A Sede do Mal" (1958) de Orson Welles até "A Arca Russa" (2002) de Sokurov, ou aos filmes de Béla Tarr, Tarkovski e Gus Van Sant, o plano-sequência elevou-se a verdadeira expressão de arte.
Ora, eu julgava que o plano-sequência era sobretudo utilizado pelos realizadores como instrumento de contemplação, em sequências lentas e meditativas. Pensava que não havia grandes plano-sequência em filmes de acção, que privilegiam, precisamente, a montagem frenética. A verdade é que me enganei. Há dias descobri um filme que tem uma sequência espantosa filmada em plano-sequência e que é um filme de acção puro e duro. É um filme tailandês de artes marciais e acção.
O título americano é "The Protector" (2005) e é realizado por um tal Prachya Pinkaew. Na Internet vi comentários afirmando que se trata de uma sequência tão bem filmada e original quanto a cena inicial de "A Sede do Mal" de Welles. Não diria tanto, mas este plano-sequência é deveras um trabalho incrível ao nível do movimento de câmara (que parece que voa atrás do protagonista) e ao nível da coreografia da acção. Por vezes faz lembrar os movimentos de câmara do filme pioneiro "The Shining" (1980) de Stanley Kubrick, pela forma ágil como a "steadycam" se movimenta à volta do protagonista. O melhor é mesmo ver:
PS - Lembrei-me agora que há um filme de acção com bons planos-sequência - "Children of Men.

domingo, 5 de julho de 2009

Os filmes e os velhos

Gosto de filmes sobre velhos. É uma forma simplista de o dizer, mas é assim mesmo: filmes sobre velhos, ou sobre a velhice. E não encaro o termo “velho” com conotações pejorativas. Pelo contrário. É o tempo da maturidade, da sabedora e da experiência. Um tempo de reflexão serena sobre o tempo vivido e sobre o sentido da vida. É preciso que um realizador tenha muita sensibilidade artística para não lidar com a velhice de forma sentimentalista ou condescendente, como se se tratasse de uma telenovela mexicana. É preciso ter visão, sentido estético, mentalidade aberta.
Assim de repente, lembro-me de uma obra-prima do Neo-Realismo italiano: “Umberto D.” (1952) de Vittorio de Sica: a comovente vida de um pobre pensionista, solitário e desesperado, cuja relação com o seu fiel cão o salva de um fim trágico. Ou o memorável “Morangos Silvestres” (1957) de Ingmar Bergman, essa esplendorosa meditação sobre o fim da vida de um professor universitário. Ou a relação de amizade entre o motorista Morgan Freeman e a velha aristocrata Jessica Tandy em "Driving Miss Daisy" (1989). Recordo-me também do último e terno filme do mestre Kurosawa, "Rapsódia em Agosto" (1991), no qual uma idosa sobrevivente de Nagasaki se confronta com a custódia dos seus quatro netos e a relação com um inesperado sobrinho americano.
Também de Bergman, o crepuscular “Saraband” (2003), a sua última obra em forma de testamento sobre as inquietações afectivas e emocionais de um idoso em final de vida.
Nos últimos anos, há dois ou três títulos muito interessantes cujos personagens principais são pessoas idosas, reformados que ainda mantêm sonhos e esperanças: “As Confissões de Schmidt” (2002) de Alexander Payne, com um extraordinário Jack Nicholson, que antevê um novo futuro após a morte súbita da mulher; e “Vénus” (2006) de Roger Michell, com um não menos extraordinário e veterano Peter O’Toole (na imagem). Goste-se ou não do filme, "The Curious Case of Benjamim Button" (2008) é uma reflexão sobre os vários estados etários da vida humana, com especial ênfase na velhice.
E que dizer do grande filme sobre uma avó e sua relação com o neto soldado, em “Alexandra” (2007) de Sokurov?
É caso para dizer: o cinema também é para velhos.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sokurov, Gus Van Sant e Danny Boyle


O Metacritic é um site de referência no âmbito do cinema e música, sobretudo, pelo facto de congregar dezenas de críticas de jornais e revistas especializadas. Perante a classificação de cada jornal relativamente a um determinado filme, o Metacritic elabora uma média de pontuação, estabelecendo um ranking das melhores e piores recensões críticas.
Ao passar por lá fiquei surpreendido com o filme que está entre os primeiros do top da melhor classificação: “Alexandra” do russo Alexandre Sokurov, com 85% numa escala de 100%. Este belo filme só é superado pelo “Slumdog Millionare” de Danny Boyle, com apenas mais um ponto percentual. Em terceiro lugar, surge “Milk” de Gus Van Sant com 84%. Não deixa de ser curioso o facto de três filmes tão distintos entre si disputarem a liderança crítica da imprensa mundial. Na minha humilde opinião, sou dos que acho o "Slumdog Millionaire" um objecto cinematográfico perfeitamente sobrevalorizado, muitos furos abaixo do arrojo estético da proposta do filme de Sokurov ou até de Van Sant.
Ver aqui.

quinta-feira, 19 de março de 2009

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Top 2008

Balanço

Último dia do ano. Tal como fiz o balanço no final de 2007, estas são as minhas escolhas para o ano de 2008. Não sei se são as melhores. São aquelas que gostei de desfrutar ao longo do ano. Uma selecção pessoal. Nada mais. Mas há uma confissão a fazer: no fim de um ano de imensa produção cultural, a sensação com que fico é de uma certa frustração incómoda. Isto porque, depois das escolhas feitas, fico sempre com a nítida impressão de que ficaram muitas mais referências de fora que não tive oportunidade de conhecer. Muitos filmes que não vi, muitos discos que não ouvi, muitos livros que não li. A produção cultural é cada vez maior e torrencial a cada ano que passa. Milhares e milhares de objectos culturais são despejados para o mercado, quase indistintamente. Descortinar a qualidade no meio da quantidade é cada vez mais difícil e ingrato.

A própria comunicação social sente-se incapaz de dar vazão a tanta informação. E por isso, certos discos e filmes importantes são por vezes relegados para o fundo da prateleira por falta de espaço editorial ou por conflitos de interesses jornalísticos. Conseguir fazer uma selecção criteriosa dos produtos de qualidade dos que não têm interesse nenhum, exige esforço redobrado do cidadão comum para recolher cada vez mais informação (através de revistas, internet, jornais, rádio…) de molde a definir a sua própria opinião. O tempo é escasso para fruir (e usufruir) as propostas mais interessantes (no fundo, resume-se tudo ao que disse neste post). Ainda há filmes, discos e livros que ainda não conheço mas que provavelmente entrariam para a lista de preferências que se seguem... Agora é esperar que 2009 entre em força com boas e novas propostas.

Filmes:

Ainda não vi “Corações” de Alain Resnais, “A Turma” de Laurent Cantet, “Quatro Noites com Anna” de Jerzy Skolimowski, “O Homem de Londres” de Béla Tarr, “Destruir Depois de Ler” de Ethan e Joel Coen, “A Ronda da Noite” de Peter Greenaway, “Antes que o Diabo Saiba que Morreste” de Sidney Lumet, “Fome” de Steve McQueen, “Gomorra” de Matteo Garrone, “Em Bruges” de Martin McDonagh, “Austrália” de Baz Luhrmann…

1 – “Este País Não é Para Velhos” – Ethan e Joel Coen
2 – “Alexandra” – Alexander Sokurov
3 – “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” – Cristian Mungiu
4 – “No Vale de Elah” – Paul Haggis
5 – “Haverá Sangue” – Paul Thomas Anderson
6 – “O Segredo de um Cuzcuz” - Abdellatif Kechiche
7 – “O Lado Selvagem” – Sean Penn
8 – “Sweeney Todd” – Tim Burton
9 – “The Darjeeling Limited” – Wes Anderson
10 – “Os Falsificadores” - Stefan Ruzowitzky
11 – “Wall-E” – Andrew Stanton
12 – “Nós Controlamos a Noite” – James Gray
13 – “O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford” – Andrew Dominik
14 – “O Orfanato” - Juan Antonio Bayona
15 – “Michael Clayton” – Tony Gilroy
16 – “Joy Division” – Grant Gee
17 – “The Mist” – Frank Darabont
18 – “O Acontecimento” - M. Night Shyamalan

Discos:

Apesar do hype da imprensa, ainda não ouvi discos como Fleet Foxes, Beach House, Dirty Projectors, Bon Iver, Evan Parker, Hercules & Love Affair, Silver Jews, The Dodos, Fennesz, Cut Copy, Hot Chip, She and Him…

1 - Secret Chiefs 3 – “Xaphan Book of Angels Volume 9”
2 - Leila – “Blood, Looms and Blooms””
3 - Clutchy Hopkins – “Walking Backwards”
4 - TV On The Radio – “Dear Science”
5 - Man Man – “Rabbit Habits”
6 - Portishead – “Third”
7 - Bombay Dub Orchestra – “3 Cities”
8 - Metaform – “Standing on the Shouders og Giants”
9 - Tricky – “Knowle West Boy”
10 - Stag Hare – “Black Medicine Music”
11 - Amon Tobin – “Foley Room Recorded Live In Brussels”
12 - Camille – “Music Hole”
13 - Nico Muhly – “Mothertongue”
14 - Gang Gang Dance – “Saint Dymphna”
15 - Devotchka – “A Mad And Faithful Telling”
16 - Girl Talk – “Feed the Animals”
17 – DJ Rupture – “Uproot”
18 - Fuck Buttons – “Street Horrrsing”
19 - Original Silence – “The Second Original Silence”
20 - Santogold – “Santogold”
21 - Firewater – “The Golden Hour”
22 - Matmos – “Supreme Baloon”
23 - Boredoms – “Super Roots #9”
25 - Paavoharju – “Laulu Laakson Kukista”
25 - Vampire Weekend – “Vampire Weekend”
26 - Ladytron – “Velocifero”
27 - The Bug – “London Zoo”
28 - Brazillian Girls – “New York City”
29 - Melvins – “Nude With Boots”
30 - Spiritualized – “Songs in A & E”

Discos portugueses:

Confesso que não fui um ouvinte regular de música portuguesa em 2008. Mas do que fui ouvindo ao longo do ano, gostei de: Deolinda, A Naifa, Mandrágora, Rocky Marsiano, peixe : avião, Linda Martini, Mesa, Melech Mechaya, Mikado Lab, Gala Drop, The Vicious Five, Mão Morta, Dead Combo…

Livros

Queria ter lido (espero ainda ler durante 2009): “Os Nus e os Mortos” de Norman Mailer, “Histórias de Amor” de Robert Wasler, “A Derrocada de Baliverna” de Dino Buzzati, “Contos Completos” de Truman Capote, “Correcção” de Thomas Bernhard, “Castelos Perigosos” de Céline, “Musicofilia” de Oliver Sacks, “O Jovem Estaline” de Simon Montefiore…

1 - “Sonderkommando” – Shlomo Venezia
2 – “Lacrimae Rerum” – Slavoj Zizek
3 – “A Monstruosidade de Cristo” – Slavoj Zizek
4 – “A Filosofia Segundo Woody Allen” - Vários autores
5 – “A Filosofia Segundo Alfred Hitchcock” – Vários autores
6 – “Em Busca do Grande Peixe” – David Lynch
7 – “A Febre” – Jean-Marie Le Clézio
8 – “O Jogo do Mundo” – Júlio Cortázar
9 – “O Homem Sem Qualidades Vol.1” – Robert Musil
10 – “Património” - Philip Roth
11 – “Toda a Música que eu Conheço” – António Victorino D’Almeida
12 – “Homem na Escuridão” - Paul Auster

Edições em DVD

Caixa “John Cassavetes”
Caixa “Hal Hartley”
Caixa “Wim Wenders”
Caixa "Mel Brooks"
“O Estranho Mundo de Jack”
– Edição Especial
“Casablanca” – Edição Coleccionador
“The General – Pamplinas Maquinista” – Ed. Especial
“Vertigo – A Mulher que Viveu Duas Vezes” – Ed. Especial
“Hstória(s) do Cinema” – Jean-Luc Godard
“Holocausto”
“Um Coração Selvagem” – Ed. Limitada
“Eraserhead” – Ed. Especial
"Vem e Vê" - Elem Klimov
“Control” – Ed. Especial
Coleccção Manoel de Oliveira
Coleccção “The Godfather – O Padrinho” – Ed. De Luxo
(...)

Embirrações do ano: Amy Winehouse, Tony Carreira, Tokio Hotel e "Rock in Rio"
Conflito do ano: concertos simultâneos de Leonard Cohen e Lou Reed
Acontecimento do ano: centenário de Manoel de Oliveira e Elliott Carter
Adeus: Luiz Pacheco, Bettie Page, Paul Newman, Sydney Pollack, Heath Ledger, Eartha Kitt, Albert Cossery, Harold Pinter, Humberto Solas, Pedro Bandeira Freire, Arthur C. Clarke
Boa notícia: regresso às bancas da revista de cinema Premiere e experiência 3D no cinema ("Bolt", "Viagem ao Centro da Terra"...). Abertura da Cinemateca do Porto.
Má notícia: encerramento da livraria Byblos. Preço dos livros, DVDs e CDs.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A poesia visual de Béla Tarr

Se me perguntarem qual o melhor realizador vivo em actividade, muito provavelmente responderia: Béla Tarr. No panorama do cinema de autor contemporâneo, Béla Tarr é o realizador mais talentoso. Mais do que Sokurov, do que Kaurismaki, do que Nuri Ceylan, o cineasta húngaro é o esteta por excelência, o visionário que desenvolveu uma linguagem visual própria (só filma a preto e branco), que abordou a deriva existencial do homem moderno. Os seus filmes são como poemas visuais em permanente estado de graça. Personagens cruas e paisagens desoladoras, histórias minimalistas e místicas (na senda da inevitável referência Tarkovski), fotografia absorvente e intrigante. Depuração plástica a toda a prova. Tarr é um estilista da imagem que joga com a luz e as trevas.
Béla Tarr é um dos mais prodigiosos realizadores que conheço. Filma como se não existisse câmara, como se o olhar do espectador fosse a própria câmara. A forma como compõe a extraordinária "mise-en-scène" dos seus filmes e o modo como opera os longos movimentos de câmara (tem planos-sequência de 10 minutos) são estímulos para os sentidos. Gus Van Sant é um admirador do cineasta realizou o magnífico filme "Gerry" a pensar em Béla Tarr (não só este filme, como também "Elephant"). Conheci o seu trabalho com uma edição em DVD de dosi dos seus mais célebres filmes: "Damnation" (1988) e "Werckmeister Harmonies" (2000), à venda na Amazon.
Béla Tarr é um dos realizadores mais radicais na opção pelo recurso do plano-sequência. Impressiona pela maneira como os seus filmes progridem como se se tratasse de um transe colectivo, que contamina os actores, a encenação e, por consequência, o espectador, desde que este se deixe envolver pelas histórias que se transformam em adágios visuais a preto e branco.
A obra de Tarr mais ambiciosa, bela, negra e épica é o filme "Sátántangó" ("Satan's Tango"), com sete horas de duração. Um espantoso fresco moderno sobre a vida conturbada de uma família rural húngara. Não é um cinema fácil e de aceitação imediata, sobretudo para os espectadores habituados à linguagem "videoclip" do cinema de Hollywood (ou de grande parte do cinema de Hollywood). O cinema de Béla Tarr é um cinema de estilo e austero, de muitas subtilezas visuais, de um ritmo pausado e de grande exigência formal, que solicita do espectador uma atenção e assimilação especiais.
A novidade é que Béla Tarr estreou um novo filme no último festival de Cannes, baseado num conto do escritor policial George Simenon, "The Man From London" (candidato à Palma de Ouro), o qual obteve críticas dividadas. Estranhamente, o filme de Tarr não teve estreia em salas portuguesas (como não tiveram todos os anteriores filmes). Foi lançado directamente no mercado DVD.
Béla Tarr é um assumido "outsider", não tem site oficial, recusa entrevistas de jornalistas, não faz campanhas de promoção dos seus filmes. É um genial artista solitário e misantropo, como tantas das suas personagens dos seus filmes. De seguida, uma sequência do filme "The Man From London", a única sequência disponível no YouTube. É um único plano-sequência de 9 minutos. Repare-se na mestria como a câmara se move e filma todo o espaço em redor, cenários e personagens. Quem mais filma desta maneira em todo o mundo?