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terça-feira, 10 de maio de 2011

Dissidenten em Sines

Uma das bandas mais esperadas no cartaz do próximo Festival Músicas do Mundo de Sines são os Dissidenten (tocam no dia 29 de Julho).

Alguém me gravou um disco desta banda numa cassete áudio pelos meados dos anos 80. Das várias centenas de cassetes que acumulei durante essa década, confesso que a cassete com o viciante disco "Sahara Electrik" dos Dissidenten foi das que mais rodou na aparelhagem (ao ponto da fita se ter estragado). À altura, era para mim um disco com uma sonoridade totalmente nova e estimulante, em que sons do Médio Oriente e da Ásia se misturavam com ritmos electrónicos, com o funk e o rock, na esteira do seminal álbum "My Life in the Bush of Ghosts" (editado dois anos antes) de David Byrne e Brian Eno.

Os Dissidenten são um colectivo alemão que criou alguns álbuns essenciais para a evolução da estética "fusionista" entre a world-music e a sensibilidade puramente pop (que viria a desenvolver-se posteriormente com outros grupos). De resto, o tema "Fata Morgana" dos Dissidenten foi um dos temas mais populares nas pistas de dança alternativas da primeira metade dos 80 em países como Espanha, Itália, Alemanha e Canadá.

"Sahara Electrik" é um disco de pura energia e encantamento melódico e rítmico, concebido por um grupo de alemães fascinados pela tradição musical de Marrocos, Argélia e Índia (também colaboraram com alguns músicos destes países).

Para quem quiser conhecer ou recuperar este disco dos Dissidenten, basta carregar neste link e o disco estará pronto a ser degustado em todo o seu esplendor!

Ouça-se "Fata Morgana"!

sábado, 23 de maio de 2009

La Monte Young: a música como ser eterno


O que têm em comum estes nomes da música - Tony Conrad, Jon Hassel, Philip Glass, Steve Reich, Spacemen 3, Brian Eno, Terry Riley, Lou Reed, John Cale? Todos eles (entre outros que não foram citados) foram influenciados por um músico americano chamado La Monte Young, um compositor e teórico que exerceu uma profunda revolução estética na música contemporânea (ainda que não seja tão conhecido quanto outros revolucionário, John Cage). Com ar de eremita e claramente misantropo, (velho barbudo - é fisicamente parecido com o compositor estoniano Arvo Pärt), La Monte Young influenciou toda uma geração de músicos (do rock à electrónica, da erudita contemporânea ao jazz).
La Monte Young, considerado o percursor maior da música minimalista (e mais tarde minimal repetitiva) nasceu no estado americano do Idaho, em 1935. A sua música pode ser classificada como a mais complexa e radical do movimento minimalista, mas também é considerada como a mais interessante e original.
Entre 1956 e 1960, estudou em Los Angeles e Berkeley composição, teoria musical e contraponto. Durante esse período, colaborou com músicos de jazz como do quilate de Eric Dolphy e Don Cherry. Em 1959 dá-se uma viragem decisiva na criação musical de Young, quando ganha uma bolsa de estudos e se transfere para a escola de música de Darmstadt, em Los Angeles, onde o alemão Stockhausen ministrava os seus cursos de verão (que influenciaram toda uma geração de músicos). A experiência acarreta uma reviravolta em sua carreira, servindo este choque para acentuar ainda mais o radicalismo de suas composições. E esse radicalismo radicava, essencialmente, na exploração da música "contínua", com a utilização de tons de duração extensa, ou seja, o som sustentado ao infinito, improvisado e prolongado ininterruptamente. Mais tarde, La Monte Young junta-se a Cage na exploração da música aleatória e funda o movimento artístico de vanguarda Fluxus.
La Monte Young considera a música como um Ser Eterno, independente da existência do homem, e critica a civilização ocidental por obrigar a música a se degenerar em algo meramente humano – desnaturado e privado de essência. Daí que na década de 70 se tenha estudado a fundo a música indiana, que considerava mais espiritual e profunda. La Monte acredita na música como forma de religião e ele próprio se vê como sacerdote da cerimónia electrónica do seu tempo, recuperando a dimensão de hipnose e transe da música primitiva. O seu conceito de "Dream House", uma peça musical que deveria ser interpretada continuamente em "drones" incessantes, expericenciada como um organismo vivo, influenciou a música psicadélica, a experimental, o ambient, e a electrónica.
Os seus discos são quase impossíveis de conseguir, não dá concertos nem entrevistas, a informação que existe na internet sobre a sua vida e obra é muito escassa, e há até rumores que já morreu mas ainda ninguém sabe. Sem dúvida que La Monte Young é um compositor único, com uma visão única da função que a arte e a música devem ter.

terça-feira, 21 de abril de 2009

A imagem mística


Que imagem é esta? Um mero postal místico de teor "new age"? Uma imagem de uma corrente espiritualista ou religiosa qualquer? Não. Trata-se, simplesmente, da primeira imagem tornada pública referente ao próximo filme do realizador Peter Jackson, que só terá estreia em Portugal no início de 2010. O filme tem por título "The Lovely Bones" e sobre ele já falei, há quatro meses, neste post (suscitou-me a curiosidade uma vez que a música é do Brian Eno e o argumento é uma adaptação do livro homónimo da escritora Alice Sebold).

sábado, 20 de dezembro de 2008

Eno & Jackson


O novo filme do realizador Peter Jackson (autor da saga "O Senhor dos Anéis" e de "King Kong"), intitula-se "The Lovely Bones", encontra-se ainda em filmagens e produção e terá estreia no final de 2009. Trata-se da adaptação de um livro da escritora americana Alice Sebold (com argumento adaptado do próprio realizador) que conta a história de uma jovem que é violada e assassinada e que, a partir do céu, assiste ao sofrimento da sua família e amigos que tentam a vingança. Os actores são Mark Walhberg, Rachel Weisz e Susan Sarandon. "The Lovely Bones" é uma viragem na filmografia de Peter Jackson, desta vez mais virada para o intimismo dramático e fantasista de um história do que à espectacularidade das suas últimas obras (um regresso ao estilo do brilhante filme "Heavenly Creatures" de 1994). A grande novidade deste novo filme de Peter Jackson é o facto da banda sonora original ser composta pelo mítico Brian Eno. Tanto quanto sei, é a primeira vez que o ex-Roxymusic compõe música original para um filme de Hollywood. A colaboração artística entre Jackson e Eno promete resultados muito expectantes, portanto.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Discos que mudam uma vida - 25


Dissidenten - "Sahara Electrik" (1983)

Alguém me gravou este disco numa cassete áudio pelos meados dos anos 80. Das várias centenas de cassetes que acumulei durante essa década, confesso que a cassete com o viciante disco "Sahara Electrik" dos Dissidenten foi das que mais rodou na aparelhagem (ao ponto da fita se ter estragado). À altura, era para mim um disco com uma sonoridade totalmente nova e estimulante, em que sons do Médio Oriente e da Ásia se misturavam com ritmos electrónicos, na esteira do álbum "My Life in the Bush of Ghosts" (editado dois anos antes) de David Byrne e Brian Eno.
Os Dissidenten são um colectivo alemão (ainda em actividade) que criou alguns álbuns essenciais (este é o principal) para a evolução da estética "fusionista" entre a world music e a sensibilidade puramente pop (que viria a desenvolver-se posteriormente com outros grupos). De resto, o tema "Fata Morgana" dos Dissidenten foi um dos temas mais populares nas pistas de dança alternativas da primeira metade dos 80 em países como Espanha, Itália, Alemanha e Canadá. Ouça-se "Fata Morgana" aqui. "Sahara Electrik" é um disco de pura energia e encantamento melódico e rítmico, concebido por um grupo de alemães fascinados pela tradição musical de Marrocos, Argélia e Índia (colaboraram com alguns músicos destes países).
Para quem quiser conhecer ou recuperar este disco dos Dissidenten, basta carregar neste link e o disco estará pronto a ser degustado em todo o seu esplendor!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Conhecer música nova: o papel dos amigos

A revista Blitz resolveu fazer uma sondagem aos seus leitores no seu site para saber qual o melhor meio para descobrir nova música. O resultado pode ler-se aqui. O resultado não é de espantar, dado que a preferência maioritária (57%) diz preferir a internet para conhecer música nova. O curioso é que, logo a seguir à utilização da internet, está o item "recomendação de amigos" (14%), bem à frente da opção "imprensa especializada" (9%), da "rádio" (6%) e da "televisão" (4%). Ou seja, esta sondagem meramente demonstrativa, vem provar algo que já se sabia: os jovens (e menos jovens) conhecem hoje música nova quase exclusivamente pela internet, e dando mais crédito aos conselhos de amigos do que às propostas da comunicação social. Acaba por não ser muito diferente de quando eu era mais novo - à excepção da internet - que não existia ainda.
Tinha 16 anos quando comecei verdadeiramente a gostar de música e a conhecer/consumir sofregamente sonoridades novas. E uma das formas mais importantes e decisivas que eu tive para conhecer música nova estimulante (dos mais variados géneros - do jazz ao rock, da electrónica à erudita experimental) foi através da tal "recomendação de amigos", geralmente, mais velhos e conhecedores. E com mais dinheiro para comprar os discos em vinil que estavam na berra (gravei centenas de cassetes áudio à custas dos amigos). Só a seguir vinha a imprensa especializada, que à altura se resumia ao então semanário BLITZ, ao fugaz LP, ou à imprensa britânica - Melody Maker e New Musical Express (sem esquecer o papel importante dos fanzines). E, claro, a rádio. Mítica foi a importância que a figura do radialista António Sérgio teve para toda a geração dos anos 80 , com programas de autor como o seminal "Som da Frente". Dantes, lia-se uma crítica no jornal sobre um disco ou grupo que despertava a minha atenção e que queria conhecer e ouvir. Para tal, esperava que tocasse na rádio ou que o disco ficasse à venda na discoteca. Este processo entre conhecer o grupo pela imprensa (ou por um amigo) e conhecer a sua música, podia levar semanas. Actualmente, este mesmo processo leva um minuto - basta abrir o myspace do grupo que queremos conhecer e pronto, está lá a informação que pretendemos. Hoje mesmo acabei de ouvir o single (que foi lançado hoje mesmo)do novo álbum da dupla Brian Eno e David Byrne, como já tinha referido neste post.
Agora o paradigma da informação/comunicação é outro e a internet monopoliza praticamente todo o espectro de preferências ao nível de pesquisa de informação e de consumo cultural. E muitas vezes penso se a minha formação musical (enquanto consumidor e músico) teria sido muito diferente se, na altura própria, tivesse acesso à inesgotável sociedade da informação digital como hoje acontece...

terça-feira, 29 de julho de 2008

Novidades da dupla Byrne - Eno


O Disco Digital noticiou uma pequena e breve notícia que é inversamente proporcional à sua importância: pela primeira vez em quase 30 anos, os respeitadíssimos músicos David Byrne e Brian Eno voltaram a colaborar para a criação de um disco em comum. A notícia é tanto mais importante quanto sabemos que ambos foram autores de um dos mais seminais e influentes discos da história da música pop: "My Life in the Bush of Ghosts", editado em 1981 (a foto deste post refere-se ao tempo da composição do disco). Um disco crucial pela forma como cruzou, de maneira precursora, as linguagens pop, electrónica e étnica, tendo influenciado gerações de bandas, músicos e DJ's. A mestiçagem musical, as fusões que anteciparam as correntes estéticas fusionistas, nasceram com este álbum de Eno e Byrne.
Ora, o que se sabe é que Brian Eno e David Byrne já têm um álbum novo gravado e, pelos vistos, pouco terá a ver com o referido "My Life in the Bush of Ghosts". É tido como um disco de "gospel electrónica". Se tiver metade da audácia criativa do primeiro álbum concebido em dueto, certamente que será suficiente para marcar o ano discográfico no que se refere a novas ideias e conceitos.
O disco vai chamar-se "That Happens Will Happen Today" e o primeiro single, gratuito, tem o nome de "Strange Overtones" e vai ter distribuição gratuita na internet já no próximo dia 4 de Agosto (marquem na agenda). Para tal, basta subscrever o campo no site do duo para receber a música. Depois, o álbum terá distribuição online (a pagar) e edição física em CD com design gráfico de Stefan Sagmeister, reconhecido autor austríaco de capas de discos de Lou Reed, Rolling Stones ou Pat Metheny. David Byrne partirá em digressão em Setembro para promover este disco (sem esquecer o reportório a solo e com os Talking Heads).
Para entrar no site de Byrne e Eno, basta carregar neste link e esperar por novidades frescas e estimulantes por parte de dois dos mais talentosos músicos da pop dos últimos 30 anos.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O cantor de barbas brancas

Robert Wyatt é um extraordinário songwriter inglês que fez parte dos lendários Soft Machine, banda fulgurante do rock psicadélico e progressivo dos anos 60 e 70. Um fatal acidente em 1973 confinou-o para sempre a uma cadeira de rodas (ficou paraplégico). Não foi por causa disso que deixou de fazer música, lançando-se numa irregular mas muito fértil carreira a solo. Ao longo dos anos trabalhou com Henry Cow, David Gilmour, Elvis Costello, Marc Ribot, Björk ou Carla Bley, e alguns dos seus discos são verdadeiras pérolas como "Old Rottenhat" (1985), "Dondestan" (1998), "Cuckoland" (2003). Tal como o seu mais recente trabalho, "Comicopera", editado em finais de 2007. Na altura em que saiu ouvi-o apenas uma vez e não me despertou particular interesse. Achei até estranho que tivesse sido escolhido, por muita imprensa especializada (portuguesa e estrangeira), como um dos melhores discos editados em 2007.
Passado quase um ano, voltei a ouvir "Comicopera" e percebi que na primeira audição tinha subvalorizado, enormemente, o trabalho de Wyatt. Com colaborações de Phil Manzarena (Roxy Music), Paul Weller e do grande Brian Eno, "Comicopera" contém algumas das mais inspiradas canções do músico de Bristol. Notáveis canções cantadas em várias línguas (inglês, italiano, espanhol) no seu registo vocal inconfundível (e tecnicamente impressionante - a sua tessitura vocal atinge 5 a 6 oitavas). Dividido em três partes, o cantor de longas barbas fez em "Comicopera" um magnífico trabalho de cozedura sonora, com melodias de puro encantamento (vide "Just As You Are" ou "Del Mundo") e estruturas instrumentais de grande rigor estrutural. Sem dúvida um grande disco de 2007, de 2008 e de qualquer ano.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Música que apodrece


Nos anos 80 coleccionei música como um louco fundamentalista. Trocava cassetes áudio com melómanos de todo o país (e do estrangeiro) e esperava ansiosamente que as novidades chegassem ao marco do correio. Era um ritual poder abrir o envelope almofadado, colocar a cassete no leitor e desfrutar daqueles intensos momentos de descoberta de um artista ou grupo. Como não havia dinheiro para comprar todos os discos em vinil que gostava, eram as centenas de cassetes que me saciavam a gula musical. Agora, as perto de mil cassetes estão num canto da garagem, à espera que um dia (que dia?) alguém vá lá buscar uma, retire a poeira e espere que a fita ainda aguente o peso dos anos. E que música tenho eu gravada em cassetes que provavelmente nunca mais voltarei a ouvir (por deterioração natural da fita magnética ou porque não tenho nem em vinil ou CD)?

Apenas alguns exemplos:

Half Man Half Biscuit, Test Department, Red Lorry Yellow Lorry, Captain Beefheart, Devo, Philip Boa and the Voodoo Club, Death in June, The Triffids, Robert Ashley, George Crumb, Christian Death, Dissidenten, Front 242, Camper Van Beethoven, Beatnigs, Anne Clark, Dif Juz, 23 Skidoo, The Wolfgang Press, Asmus Tietchens, in The Nursery, SPK, And Also The Trees, The Band of Holy Joy, John Adams, Elliott Sharp, Butthole Surfers, Mick Karn, Minimal Compact, Hugo LArgo, Graeme Revell, Rapeman, Coil, Steven Brown, Felt, The Residents, Can, Holger Czukay, The Feelies, Art Zoyd, Miso Ensemble, Meredith Monk, Nurse With Wound, Laibach, Christian Marclay, Harold Budd, Robert Fripp, Lights in a Fat City, Jon Hassel, Somei Satoh, Cathy Berberian, La Monte Young, Henry Cow, Negativland, Clock DVA, Biota, Moroccan Trance Music, Demetrio Stratos, Sixth Comm, Z'Ev, Skinny Puppy, Milton Babbit, Clair Obscur, Swans, Virgin Prunes, Hector Zazou, Bill Frisell, Chalres Mingus, Holger Hiller, The Gun Club, Sol Invictus, Barry Adamson, Cranioclast, Lydia Lunch, O Yuki Conjugate, No Means No, Lou Harrison, Psychic TV, Muslimgauze, Foetus, Delerium, Non, Anarband, Andrew Poppy, David Fulton, Zoviet France, Wire, Elvis Costello, Tom Cora, Faust, Von MAgnet, God, Ravi Shankar, Osso Exótico, Harry Partch, Pauline Oliveros, The Fall, Painkiller, Nicolas Collins, Peter Frohmader, David Sylvian, Kronos Quartet, Zap Mama, Jarboe, Sainkho, Jorge Reyes, Loop Guru, Carlos Zíngaro, Jane's Addiction, Ocaso Épico, Boyd Rice, FM Einheit, Alvin Lucier, Dinossaur Jr., Lush, Pengui Cafe Orchestra, Fred Frith, Pascal Comelade, Organum, Loop, The Hafler Trio, Cecil Taylor, Ala Stivell, Delerium, Tony Oxley, Pigface, Godflesh, Big Black, La Fura Dels Baus, Brian Eno, HIST, Arcace Device, Smegma, Fugazi, John Cage, Rollins Band, Yo La Tengo, John Cale, Masada, Scorn, Luciano Berio, Robert Rich, Pierre Boulez, Dead Kennedys, Telectu, Lard, Caspar Brotzman, XTC, etc, etc.

Alguém se oferece para digitalizar estas cassetezinhas?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Zíngaro - o artista imponderável


Carlos Zíngaro é um dos mais destacados músicos das novas correntes estéticas em Portugal, com uma riquíssima experiência artística ao longo de 40 anos de intensa e diversificada actividade musical. Nesta entrevista explana as suas vivências, ideias e pensamentos.

Imagine que não sabia nada a seu respeito. Como se definiria artisticamente?
Um simples indivíduo que sempre tentou encontrar outras formas de fazer e de existir. Que teimosamente insistiu na não evidência e na anti-rotina ainda acreditando ser possível hoje, aqui… Que continua a utilizar um secular instrumento de madeira quando cada vez mais os fascínios são para as “novas tecnologias” (que afinal também sempre o atraíram…).

O seu percurso musical, com 30 anos de intensa actividade, tem sido feito de forma independente mas com muitas resistências e alguma abnegação. Considera que foi devido ao país que temos ou por causa da linguagem musical outsider que tem vindo a praticar?
Permito-me referir que serão antes 43 anos visto ter começado a ser profissional (Orquestra Universitária de Música de Câmara) aos 13… O ser-se independente é muito relativo pois vão sendo sempre criadas dependências várias – se as primeiras “resistências” começaram pelos familiares e professores, tentei sempre, mal ou bem, o não corte com “quem não compreendia” as minhas insistências e roturas. O recusar integrar qualquer tipo de “escola” ou área parametrada e definida levou-me a confrontos difíceis de resolver por não ser “enquadrável” – apesar de, pontualmente, ter sempre “experimentado” as áreas mais distintas e reconhecíveis. Do rock ao fado, do MPP ao jazz, do erudito ao techno…

O Carlos “Zíngaro” foi um dos pioneiros do free jazz em Portugal, com o grupo Plexus e outras formações que fizeram história na chamada música de “vanguarda”. Porém, a sua formação vem da música clássica. Olhando para trás, como se processou essa vontade de ruptura e de experimentação?
Como já referido, a minha vontade de “experimentar”, a rebeldia em aceitar determinações “pré-fabricadas”, e um ensino claustrofóbico e castrante em que tudo o que era alheio à chamada “música clássica” não existia (infelizmente tendência já observada em alguns jovens docentes na actualidade!), empurravam-me irresistivelmente para o “pecado”… O “free jazz” surge também como reacção política, grito de revolta contra um sistema colonial violento e mortífero.

Os seus interesses musicais espartilham-se em diversas áreas e tem confessado influências que vão de John Cage a Béla Bartók, de Ornette Coleman a Jimi Hendrix ou Morton Feldman. No momento da criação, como processa e funde todas estas referências?
Difícil me é determinar um percurso programático quando me decido a “criar”. Sempre fui alheio ao conceito tradicional de “obra”, de “composição”, pelo que nunca me foi consciente a definição de percursos consoante esta ou aquela influência, este ou aquele “estilo”. Por que até quando componho improviso – apesar de a imediatez e o risco serem distintos – haverá sempre, do imenso aglomerado de influências, experiências e vivências (tantas vezes alheias ao acto musical), a necessidade de ser coerente e consequente, tentando um percurso pessoal que não seja mera colagem referencial e estilística.

O Carlos “Zíngaro” tem estado ligado intimamente às novas correntes estéticas da música de vanguarda dos últimos 30 anos, como interpreta e caracteriza a evolução das mesmas durante esse período de tempo?
Hoje em dia seremos inevitavelmente esmagados por uma industrialização, globalização, inflação de produtos que, aparentemente diversificando a escolha na prática empurram o indivíduo, seja ele produtor ou receptor, para escolhas que dificilmente têm a ver com opções personalizadas e autónomas. Se por um lado a miscigenação, a “mestiçagem”, poderão dar materiais riquíssimos, por outro lado a confusão e a indiferença vão-se instalando insidiosas sempre à espera do próximo entretenimento suficientemente apelativo ou social para que nos desloquemos dos nossos lugares comuns. Se analisarmos a história das artes no decorrer do último século e verificarmos o que foi feito por futuristas, dadaistas, surrealistas, construtivistas e outros inúmeros “istas” que sempre tentaram a alternativa ao instituído, verificamos como estamos pobres hoje.

Numa visão crítica descomplexada, concorda que o conceito de vanguarda está caduco hoje em dia? Se sim, a que outro conceito recorreria para classificar a música que pratica?
Como já alguém o disse sempre me pareceu “avant garde” um termo demasiado próximo de ficção científica ou antecipação mais ou menos fantástica… Para mim sempre se tratou do hoje, agora, actual e actuante na medida do possível. Nunca me interessaram – como evidente pelo exposto anteriormente – etiquetas, títulos ou exaustivas definições do que faço ou porquê. Sem pretender ser panfletário recordo que, toda uma movimentação sonora mais ou menos subterrânea e marginalizada senão ignorada, mais cedo ou mais tarde acaba por ser “reciclada” e adaptada pelo main stream – seja pelo pop/rock, nas bandas sonoras de tantos filmes de grande budget, como por hiper produções “eruditas” de altíssimo prestígio social…

A sua experiência de colaborações com músicos de renome mundial tem sido vasta e diversificada: Derek Bailey, Evan Parker, Tom Cora, Anthony Braxton, Peter Kowald, Steve Lacy, entre outros. Estas colaborações, para além do enriquecimento artístico que significam, resultam também de uma inerente necessidade de trocar experiências, de alargar fronteiras?
Sempre! Posso considerar-me um afortunado por ter tido a oportunidade de cruzar caminhos, tanto humanos como artísticos, com alguns dos grandes nomes das novas músicas. Quando, nos finais de 1960 e inícios de 1970 lia e ouvia alguns destes nomes à distância de quilómetros e da filtragem de um sistema esclerosado, dificilmente me seria imaginar que algum tempo depois poderia ser seu parceiro e colaborador. Ter a honra de ser considerado um amigo e um igual…

Compõe música para teatro e bailado. Consegue definir as fronteiras entre a composição musical e a sua actividade de improvisador ou é difícil destrinçar um e outro processo criativo?
Idealmente não deveria haver diferenças pois, como já referido, considero a actividade de improvisação e composição simultâneas e/ou complementares. Infelizmente na prática, e falando das músicas de cena ou “funcionais”, raramente é esse o caso pois é-se frequentemente conduzido para situações de ilustração sonora, ambientes décor, pontuação de acção ou transições “tapa buracos”. Depende depois do compositor a “arte” em conseguir ainda imprimir algum cunho pessoal ou resquícios de autonomia criativa a algo que mais não é que encomenda a integrar / servir “arte maior”.

É um cliché dizer-se que a improvisação mais não é do que um processo de composição instantânea (em tempo real), ou é muito mais do que isso?
“Mais não é…” inevitavelmente será a (errada) chave pois é muito mais! Apesar de pessoalmente fazer equivaler, em termos de prática composicional, as duas abordagens, ou de, sem dúvida privilegiando o aleatório e a improvisação, tento, mesmo que com um mínimo de parâmetros, conseguir outros processos musicais que dificilmente atingiria com uma disciplina mais académica ou matemática. Mantenho que nunca se conseguirá o fulgor, a “verdade”, energia, “elan” na interpretação de obra escrita que se consegue frequentemente na improvisação. Improvisação que se trabalha como técnica que é! Que se pensa e analisa como outra qualquer técnica ou forma.

É sabido que algumas correntes das músicas experimentais recorrem à renovação das linguagens através da apropriação e reciclagem de referências estéticas anteriores. Nesse sentido, concorda com a definição do Brian Eno quando diz que a música de hoje é 20% de inspiração e 80% de regeneração?
As proporções de Eno poderão ser algo falíveis mas será um facto que a tabula rasa aonde nada se inscreveu, aonde não houve um antes, uma qualquer variada influência é para mim inexistente. Considero ser justamente nas miscigenações e “reciclagens” que se poderão encontrar outras vias ou formas. Desde que não caia em algo que me afecta negativamente que é a colagem – a manta de retalhos de referências mais ou menos demonstrativa. Posto isto é um facto que vivemos uma época de tremenda confusão estilística e estética em que o poder da “máquina” manipula todo o pré-existente numa amálgama abusiva de acordo com critérios globalizantes de gosto percentual de índices de audiência. Em que a tecnologia acabou por, a par de todas as vantagens e avanços, determinar um facilitismo e nivelamento por baixo nesta propagada “democratização” de meios. Considero assim que, entre outras práticas, é a música improvisada, feita no local e no momento, a via possível para o renovar e o reacreditar no fenómeno musical vivo e actuante hoje.

Com o seu espírito libertário e criativo, consegue prever que caminhos musicais estará a percorrer daqui a dez ou quinze anos?
Se resistir o suficiente para lá chegar… a programação é difícil senão impossível. A continuada procura de outras formas e outras experiências. Um maior investimento em transdisciplinaridades que envolvam o movimento e a interacção tecnológica com o som e a imagem. Dedicar mais ao meu trabalho plástico em instalações que utilizem materiais tradicionais em confrontação / diluição com as mais recentes técnicas de vídeo e computação de imagem – e aonde, obviamente, a manipulação e “escultura” sonora será uma constante…

Entrevista conduzida por Victor Afonso e publicada na revista Hora TMG (Guarda)

sábado, 1 de dezembro de 2007

Audio Culture



Comprei este livro na Amazon inglesa, há três anos. É uma obra notável que aborda as múltiplas ramificações estéticas e artísticas que a música contemporânea representou nas últimas décadas. Com base na análise e crítica a músicos tão díspares e influentes como John Cage, Brian Eno, Glenn Gould, Umberto Eco, Ornette Coleman, Fred Frith, Jon Rose, Simon Reynolds, Pauline Oliveros, Paul D. Miller, David Toop, John Zorn, Karlheinz Stockhausen entre muitos outros, o autor discorre sobre a intersecção entre as várias linguagens e estilos musicais: minimalismo, música concreta, improvisação, experimentalismo, avant-rock, ambient, electrónica, free-jazz, etc
Uma semana depois de começar a lê-lo, por motivos profissionais, fui buscar à estação de autocarros um músico que iria tocar na Guarda: Chris Cutler, um eminente músico e compositor que foi membro de bandas tão marcantes do panorama avantgarde como Henry Cow, Art Bears, Cassiber, entre muitas dezenas de colaborações musicais com outros músicos/grupos de estéticas comuns. Ora, quando chego à estação de autocarros, já Chris Cutler estava à minha espera. Encontrava-se de pé, encostado a um muro e a ler um livro. À medida que me ia aproximando, reparei no livro que estava a ler: "Audio Culture: Readings in Modern Music"! Foi um bom mote de partida para uma conversa sobre música que teve início no jantar e se estendeu depois do magnífico concerto que deu nessa noite. É que Cutler é um dos compositores referenciados no próprio livro.

sábado, 24 de novembro de 2007

Glenn Branca - ruído branco


É um dos músicos mais respeitados dos últimos 30 anos. Figura ímpar da cena musical nova-iorquina de vanguarda, Glenn Branca cilindrou a linguagem rock convencional com as suas sinfonias de guitarras noise nos anos 70, tendo influenciado nomes como Sonic Youth. Entrevista ao músico, directamente de Nova Iorque.

A sua relação com a música começou na segunda metade dos anos 70, com a explosão do movimento No Wave em Nova Iorque e com músicos como Lydia Lunch, Arto Lindsay, Teenage Jesus and the Jerks e Suicide. Olhando para o passado, considera que esse foi um momento importante para a sua evolução musical?
Sim, foi uma surpresa para mim todo esse movimento. Eu vim para Nova Iorque nos anos 70 para fazer teatro e fazia muita música para teatro, mas não tinha perspectivas de fazer carreira como músico. Todavia, sempre quis formar uma banda rock desde que aprendi a tocar guitarra, com os meus 15 anos. Quando cheguei a Nova Iorque estava o movimento punk no auge e foi algo muito excitante para mim. Entretanto, conheci um músico no teatro que também tinha desejo de formar uma banda rock e demos início a uma banda. Foi um processo muito rápido: formámos a banda em poucas semanas, arranjámos concertos e audiência num ápice. Ambos tínhamos interesse em todo o tipo de música experimental, fosse na forma de jazz, de rock ou de música clássica contemporânea.

Na verdade, a sua música nunca se cingiu apenas ao rock. Costuma dizer que o jazz ou compositores contemporâneos minimalistas como La Monte Young ou Philip Glass, foram importantes para si. Como lida com estas referências tão díspares?
Bom, para mim isso nunca constituiu problema. Eu estudei música e nunca senti qualquer estranheza em gostar de diferentes referências musicais. Podia ouvir num minuto os Beatles e os Kings e, no minuto a seguir, Mahler e Penderecki, e depois, Miles Davis ou Brian Eno. Nunca me importei com essas diferenças convencionais entre géneros musicais, o que importava mesmo eram as ideias, a criatividade dos músicos e as experiências estéticas que retirava de cada artista, de cada disco.

Fale um pouco sobre o seu método de composição. Por exemplo, como é que faz para juntar o minimalismo e a “teoria da afinação” de La Monte Young com a energia do rock de guitarras?
Humm... É uma boa pergunta! Eu sempre gostei de música rock intensa e enérgica, e o tipo de compositores contemporâneos que ouvia era gente como Ligeti e Stockhausen. Eram estes os compositores que eu achava serem aqueles que faziam música mais intensa. Fazia sentido eu gostar de música intensa e brutal e deixar-me influenciar por esses compositores que eu gostava de ouvir em casa com o volume bem alto. O tipo de teatro que fazia também comungava dessa intensidade, desse espírito de confrontação estética.

Gosta da palavra experimental para classificar a sua música?
Sim, essa é a palavra que sempre gostei e que sempre usei para caracterizar o meu trabalho desde os anos 70. O movimento No Wave foi um movimento que eu considero ter sido experimental, ainda que mais tarde tenha sido chamado de Art-Rock, uma designação que eu julgo ser terrível e desajustada, até porque era confundida com o rock progressivo inglês que na altura estava também a ter muita aceitação.

Dissonância, consonância e caos são também três conceitos que lhe dizem muito respeito nas suas criações. É um trabalho difícil conjugar estes três tipos de abordagem ao som?
Esse tem sido o grande desafio e a parte interessante da minha actividade musical. Quando me apercebi que podia misturar esses conceitos – algo que eu procurava concretizar de forma consciente e deliberada – conclui que o resultado podia ser muito estimulante e criativo. É um trabalho que compositores clássicos já tentaram fazer há muito tempo, como Mahler, ainda que a dissonância explorada por este compositor não fosse muito proeminente, comparando com a minha abordagem que é bem mais extrema.

Ao longo da sua carreira editou diversas sinfonias pelas quais é mais conhecido. A sua intenção ao usar o termo “sinfonia” vai no sentido de dar outro significado à palavra e de se afastar, deliberadamente, da conotação rock?
Não, eu escrevi sinfonias simplesmente porque queria escrever sinfonias, e foi o que fiz. Não tive qualquer outra intenção, como se depreende das suas palavras.

Contudo, as suas obras foram já interpretadas por sinfonias clássicas como a The London Sinfonietta. Como lida com esta confrontação entre a música dita convencional e os conceitos avantgarde?
Isso nunca foi um problema para mim. Os chamados músicos convencionais estão, na verdade, muito familiarizados com técnicas avantgarde. Aquilo que faço é muito menos avantgarde do que Xenakis, John Cage ou Morton Feldman. Essa transição e conexão entre esses dois universos foi sempre, para mim, natural.

A sua música influenciou muitas bandas importantes do rock dos anos 80, como Sonic Youth ou My Bloody Valentine. Disse numa entrevista recente que já não ouve música rock. Significa que o panorama rock actual já não é suficientemente excitante para si?
Detesto dizer que é verdade. Por vezes ouço uma ou outra banda de que gosto, mas na generalidade não me interessam muita essas bandas que fazem parte de movimentos de moda, acho-as extremamente aborrecidas. Por isso prefiro ouvir coisas como Sonic Youth ou Swans.

Continua a viver e a trabalhar em Nova Iorque. Mesmo depois do 11 de Setembro, esta cidade continua a exercer grande influência e inspiração em si no que diz respeito à parte criativa?
Bom, eu não costumo ser influenciado por acontecimentos. É um erro pensar que a minha música é inspirada pela cidade e seus diversos acontecimentos. A música tem mais a ver com ela própria, não precisa de mais referências para se justificar. A música que escrevo deriva de um processo muito técnico e laborioso, e não tem tanto a ver com conceitos como o mal, a destruição ou o caos. A música que faço tem mais relação com noções de intensidade, consciência e exploração de novas ideias.

Sabia que o seu apelido em português significa “branco”? Por causa disso, um amigo meu costumava chamá-lo de “Glenn White-Noise”, num trocadilho entre o seu nome Branca e um certo noise que pratica.
(risos) Ah! Gosto dessa descrição! Branca é um apelido italiano, e já sabia que significava branco (white), mas esse trocadilho é realmente divertido e, mais importante, apropriado.

Entrevista conduzida por Victor Afonso para a revista Mondo Bizarre.