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terça-feira, 2 de abril de 2013

Espanha e os livros

Apesar de ser um país que também está a enfrentar gravemente a crise, Espanha é muito diferente de Portugal. Visitei há uma semana a cidade de Salamanca e, sempre que lá vou, fico deslumbrado. Com a arquitectura, com o dinamismo urbano, com o património, com o cosmopolitismo dos estudantes, com a magnífica Plaza Mayor, com a oferta comercial e cultural... Enfim, uma cidade bela e sempre atractiva em múltiplos aspectos e onde não se "sente" a crise.
Um dos sítios onde se qualquer leitor se pode perder durante horas é a livraria Cervantes, que é deveras irrepreensível e um exemplo a seguir pelas livrarias portuguesas. Para cada tema há uma diversidade incrível de títulos. E o sentido de oportunidade e de actualidade é surpreendente: para dar um simples exemplo, tinham passado apenas três semanas da eleição do novo Papa Francisco e a livraria já tinha disponível duas obras biográficas em castelhano! 
A secção onde fiquei mesmo maravilhado foi na secção de cinema: largas dezenas e dezenas de títulos, quase todos originalmente escritos por jornalistas e ensaístas espanhóis (poucas traduções, o que prova o dinamismo editorial espanhol), sobre os mais improváveis temas: o cinema e a época egípcia; o cinema e as drogas; o cinema e o papel das mães; o cinema como terapia; o cinema e a psiquiatria; o cinema e a guerra, o cinema e a arquitectura, etc, etc. Vi também a tradução das memórias da realizadora alemã Leni Riefenstahl, obra que tarda para o mercado português.
Ou seja, uma espantosa variedade de livros para quem se interessa pelo cinema e suas múltiplas áreas de intervenção social, estética, histórica ou cultural. Acabei por comprar este magnífico livro sobre a relação entre o cinema e a música.
PS - aqui tinha escrito sobre uma superlativa livraria só sobre cinema de Madrid (que eu visitei numas férias de Verão). 

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A estética de Leni


Independentemente da habitual controvérsia à volta desta fotógrafa e realizadora (amante de Hilter? Colaboracionista do regime nazi? Elemento de propaganda de Goebbels?), o que importa é que se torna necessário perceber que Leni Riefenstahl realizou dois dos mais espantosos documentos visuais da História do Século XX, designadamente, da História que precedeu a 2ª Grande Guerra Mundial.
A rigorosa composição plástica das imagens, o ritmo meticuloso da montagem, os ângulos e planos inovadores, o "zeitgeist" que transpira em cada sequência filmada, a apoteose coreográfica das paradas militares e os jogos de encenação teatral dos atletas (em "Olympia"), dos soldados e de Hitler (em "O Triunfo da Vontade"), fazem destes documentários objectos de um inigualável fascínio estético (mesmo que a ideologia do nacional-socialismo totalitário nazi que está subjacente a estes documentários seja alvo de incondicional repúdio - que é o meu próprio caso).
Em Portugal estão editados, que eu tenha conhecimento, estes dois filmes que consagraram para a eternidade a realizadora alemã Leni Riefenstahl: "Olympia" (1938) e "O Triunfo da Vontade" (1934).

sábado, 17 de outubro de 2009

O legado de Leni Riefenstahl


A realizadora Leni Riefenstahl representa um fenómeno excepcional na história das imagens do século XX. Odiada e adorada em igual proporção, Leni Riefenstahl será sempre conotada com o hediondo regime nazi. Adolf Hiltler e Goebbels escolheram-na para ser a cineasta da propaganda (Fritz Lang tinha negado tal "convite", exilando-se nos EUA), impressionados com o talento artístico revelado nos seus primeiros documentários (anos 30). Fruto dessa colaboração, Riefenstahl realizou dois monumentos estéticos de exaltação da raça ariana germânica. "O Triunfo da Vontade" (1935) e "Olympia" (1938), duas obras belas e grandiosas ao serviço de uma ideologia ditatorial e racista que preconizou o Holocausto.
Há quem assuma não poder apreciar a obra da realizadora alemã por causa da sua óbvia ligação ao nazismo (ainda que desmentida ou relativizada pela própria Leni); outros há, como eu, que conseguem estabelecer uma separação no âmago da obra de Riefenstahl: separar a vertente estética da vertente política e ideológica. O pioneiro trabalho da realizadora alemã foi determinante para a história do cinema, sobretudo ao nível da linguagem do documentário - Leni era uma vanguardista visionária, experimentalista, na forma como utilizou inovadoras técnicas de filmagem, planos, enquadramentos, movimentos de câmara, fotografia, montagem, etc.
Mas a obra de Leni Riefenstahl não se resumiu aos dois enormes monumentos estéticos em prol do ideal nazi. Antes dessa colaboração, fez outros documentários importantes. Além disso, manteve-se activa até ao fim da vida (morreu em 2003 com 101 anos!), filmando o mundo subaquático e tribos africanas. Neste preciso fim-de-semana, o blogue de cinema My One Thousand Movies, dedica um ciclo especial à obra desta controversa cineasta. Vale a pena descobrir.

domingo, 4 de outubro de 2009

Os sacanas de Tarantino


Só agora vi no cinema "Inglorious Basterds" de Quentin Tarantino. Mas antes de o ver, li muitas opiniões (amadoras e profissionais) sobre a última obra do autor de "Kill Bill". Raramente li uma opinião moderada. Quase todas eram (são) extremas: ou é genial pela sua energia, montagem e argumento, ou é uma profunda desilusão pela sua aparente auto-indulgência e fantasia histórica. Julgo que "Sacanas Sem Lei" não é uma coisa nem outra. Gostei muito do filme, mas não é, quanto a mim a obra-prima inovadora que foi "Reservoir Dogs" ou "Pulp Fiction", nem é um falhanço espalhafatoso.
Quentin Tarantino sabe muito de cinema, cita descaradamente filmes e cineastas, e filma com inesgotável dedicação e energia. Sabe construir histórias delirantes com grandes momentos - diálogos soberbos, interpretações majestosas, montagem cirúrgica, humor negro imprevisível, violência impiedosa e utilização sempre surpreendente da música. Também não me parece que "Inglorious Basterds", sendo um filme assumidamente anti-filme de guerra convencional, seja uma obra fracassada nos seus intentos. Sempre foi dito pelo realizador e produtores que este filme seria um filme que apresentaria uma estrutura narrativa livre e uma visão alternativa dos acontecimentos da 2ª Guerra Mundial (uma espécie de anti-"Valquíria").
Tarantino conseguiu essa meta, rasgando os requisitos primários da heroicidade clássica dos filmes de guerra e criando personagens de um imaginário febril. Talvez por isso, atrás de mim nas cadeiras do cinema, havia um jovem casal de namorados que, no fim dos primeiros 5 minutos de projecção já estava a refilar: "Que seca de filme!" (não espanta, os teenagers vão atrás do Brad Pitt porque é o Brad Pitt, estrela mediática, e não estão preparados para sequências longas de incisivos e desconcertantes diálogos).
É óbvio que "Sacanas Sem Lei" é uma prodigiosa homenagem à história do cinema. As citações e referências são muitas - o soldado nazi que é cinéfilo, a jovem francesa que é dona de um cinema que exibe filmes de G.W. Pabst e Leni Riefenstahl, o oficial inglês que é crítico de cinema e autor de uma tese sobre cinema expressionista alemão, a carta de "King Kong" que o oficial nazi coloca na testa (no bar), que era o filme preferido de Adolf Hitler, a propaganda nazi através da indústria dos filmes, a sala de cinema enquanto palco da matança final, a frase de Shosanna "Nós os franceses respeitamos os nossos realizadores", entre outras.

No meio do turbilhão de criatividade visual e narrativa deste filme de Tarantino, há a destacar fortemente as interpretações: em primeiro lugar, destacadíssimo e responsável por uma das mais impressionantes criações dos últimos anos, está Christoph Waltz como o implacável Coronel Hans Landa. Agora percebo o que queira dizer Tarantino quando disse o que disse sobre este espantoso actor: "I think that Landa is one of the best characters I've ever written and ever will write, and Christoph played it to a tee… It's true that if I couldn't have found someone as good as Christoph I might not have made Inglorious Basterds".
O filme é quase todo atravessado pela incrível prestação de Waltz, numa personagem cáustica, mordaz, paródica e extremamente cínica. A fluência em quatro línguas (inglês, alemão, francês e italiano) acrescenta mais valia e realismo à interpretação de Waltz, justo vencedor do prémio de melhor actor no último festival de Cannes. O próprio Brad Pitt é magnífico na pele do sanguinário tenente Aldo Raine, assim como muitos personagens secundários.
Em suma, "Sacanas Sem Lei" é um obra de grande fulgor, genuinamente "tarantiniana", porventura com um ritmo desequilibrado, porventura excessiva e ambiciosa, mas é um filme que a história definirá como determinante para a redefinição do género de filmes de guerra.

segunda-feira, 17 de março de 2008

A bela e horrível vida de Leni

É o melhor e mais completo documentário sobre a grandiosa realizadora Leni Riefenstahl (deixemos agora para trás as considerações sobre se era ou não Nazi). Realizado pelo alemão Ray Müller, está agora disponível a primeira parte de "The Wonderful, Horrible Life Of Leni Riefenstahl". Compreende várias fases da vida artística e pessoal de Leni, desde os tempos do Nazismo até à realização de documentários da vida submarina e de tribos africanas. Uma vida feita de paradoxos e de estigmas históricos. Basta carregar em play: The Power of Image - Leni Rienfenstahl

domingo, 2 de dezembro de 2007

O triunfo da estética

A Fnac anuncia no seu último catálogo que vai editar, em exclusivo nacional, os dois filmes em DVD que consagraram para a eternidade a realizadora alemã Leni Riefenstahl: "Olympia" (1938) e "O Triunfo da Vontade" (1934). Acontece que no site espanhol dvdgo, a mesmíssima edição, está à venda há quase dois anos (foi onde a comprei). Independentemente da habitual controvérsia à volta desta fotógrafa e realizadora (amante de Hilter? Colaboracionista do regime nazi? Elemento de propaganda de Goebbels?), o que importa é que se torna necessário perceber que estamos perante dois dos mais espantosos documentos visuais da História do Século XX, designadamente, da História que precedeu a 2ª Grande Guerra Mundial. A plasticidade das imagens e sua composição estética, o ritmo da montagem, os ângulos de câmara inovadores, o "zeitgeist" que transpira cada sequência filmada, a apoteose coreográfica das paradas militares e os jogos de encenação teatral dos atletas (em "Olympia"), dos soldados e de Hitler (em "O Triunfo da Vontade"), fazem destes filmes objectos de um inigualável fascínio. Mesmo que a ideologia do nacional-socialismo totalitário nazi que está subjacente a estes documentários seja alvo de incondicional repúdio.