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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Dalí e a sua musa

É preciso ler este texto para compreender a devoção que o pintor Salvador Dalí tinha pela sua musa e amante Gala. Só de uma mente delirante e criativa como a de Dalí para escrever isto:

"I name my wife: Gala, Galushka, Gradiva; Oliva, for the oval shape of her face and the colour of her skin; Oliveta, diminutive for Olive; and its delirious derivatives Oliueta, Oriueta, Buribeta, Buriueteta, Suliueta, Solibubuleta, Oliburibuleta, Ciueta, Liueta. I also call her Lionette, because when she gets angry she roars like the Metro-Goldwyn-Mayer lion"
Salvador Dali


segunda-feira, 20 de julho de 2015

A arte de Hanuka

Tomer Hanuka é um artista e ilustrador israelita que faz trabalhos gráficos para várias revistas e  organizações. Tem uma vertente do seu trabalho que aborda filmes, nomeadamente ilustrações a partir de filmes de Stanley Kubrick, Terrence Malick e Alfred Hitchcock.
Link para o site oficial.

sábado, 28 de março de 2015

Uma fotografia cheia de artistas

Houve um tempo em que era possível reunir numa só fotografia grandes génios das artes e da cultura. Sobretudo nas décadas de 1920/30, em Paris, cidade onde se reunia a nata dos artistas de vanguarda (surrealismo futurismo, literatura, artes plásticas e cinema).
Senão, vejamos quem faz parte desta fotografia (datada de 1930).

Em cima: Paul Eluard, Jean Arp, Yves Tanguy e Rene Crevel
Em baixo: Tristan Tzara, Andre Breton, Salvador Dali, Max Ernst e Man Ray.

Ou seja, nesta imagem histórica estão reunidos quase todos os principais artistas de vanguarda da época. Para completar e enriquecer a fotografia só falta o realizador Luis Buñuel, que nesta altura já tinha realizado a curta-metragem surrealista "Un Chien Andalou" (1929) com Salvador Dali e era amigo de quase todos estes visionários.

domingo, 22 de março de 2015

REP de volta

É sempre um regozijo anunciar um novo livro de Rui Eduardo Paes (REP). Aliás, um não, mas sim dois livros num só: "Bestiário Ilustríssimo II" e "Bala". Em 2012 REP lançou o livro "Bestiário Ilustríssimo" de que dei conta neste post. O trabalho desenvolvido ao longo das últimas três décadas deste crítico e teórico da música é insubstituível. Tem sido um trajecto ímpar na divulgação daquelas músicas ditas mais criativas e inovadoras de todos os quadrantes: rock, jazz, improvisação, erudita contemporânea, electro-acústica, electrónica, pós-rock, etc. Aliás, se o caro leitor tiver curiosidade em conhecer que músicas o REP gosta, basta aceder aqui à lista dos 100 discos da sua preferência.

Com esta edição Rui Eduardo Paes conta já oito livros editados nos últimos 15 anos (o nono chegará antes do final do ano), dando sempre destaque às músicas menos convencionais e àquelas que os jornais habitualmente não falam. O seu vastíssimo conhecimento não se limita à história da música (da clássica às múltiplas vanguardas), mas estende-se também à história da arte em geral, ao cinema, e às teorias sociais, culturais e políticas que servem para contextualizar e explicar fenómenos estéticos determinados. REP escreve com fervor emergente de um jovem que retira enorme prazer pela descoberta de um novo disco entusiasmante, de um novo grupo ou músico que merece destaque. O seu enfoque é sempre o de um teórico que disserta sobre a música como expressão artística, seja em que terreno musical for. Daí que possamos ler nos seus livros referências que podem ir da rebuscada cena de música noise japonesa como das últimas tendências da electrónica cut'n'paste ou das jovens promessas do jazz nacional.

Mesmo que não conheçamos um artista que REP aborda (e há fortes probabilidades de tal acontecer), pela forma entusiasta como o ensaísta escreve, somos levados a googlar para ouvir do que se trata. No meu entendimento, há muito poucos jornalistas musicais nacionais que me conseguem provocar este impulso de querer saber, de querer conhecer, de querer ouvir. Mas a qualidade da sua escrita vai para além da mera recensão de um disco ou de um objecto estético. O seu estilo de escrita é por si altamente estimulante, revelando um notável domínio sobre a língua portuguesa que raia as características da boa literatura. Um estilo que Rui Eduardo Paes cultiva como uma arma contra o habitual cinzentismo e comodismo da crítica de arte em Portugal.
  
Por conseguinte, o valor da sua escrita - mais a mais porque é um "cavaleiro solitário" nesta área - é amplamente reconhecido e fruto de um laborioso trabalho de investigação de anos e anos. O livro que agora edita - dedicado à ideia de "tempo" na arte - continua a desafiar categorizações (é uma "anti-enciclopédia") e a reformular a especificidade formal da crítica musical. Destaque para o "Bestiário Ilustríssimo II" com as suas múltiplas, curtas e diversificadas críticas e discos, artistas, instrumentos musicais, bandas e movimentos (como o grande destaque dado ao Stoner Rock). Já o livro siamês "Bala", com as belas ilustrações de David de Campos, serve de complemento ao outro, num formato mais pequeno mas não menos interessante de reflexão sobre as manifestações artísticas mais interessantes do século XX e XXI.

A edição deste livro "dois-em-um" é da Chili Com Carne e pode ser encomendada aqui.




terça-feira, 3 de março de 2015

À procura de Vivian Maier


Vivian Maier (1926 - 2009) era até há dois ou três anos uma autêntica anónima. Agora passou a ser conhecida por ter sido uma das melhores fotógrafas dos EUA durante décadas. Personalidade reservada e bizarra (tinha um lado sombrio e enigmático - não conseguia estar ao lado de homens), Vivian Maier era uma simples ama que nos tempos livres se dedicava a fotografar as ruas e as pessoas de Nova Iorque e de outras cidades. O incrível é que ela tirou mais de 100 mil fotografias e guardou todos os rolos em dezenas de caixotes. Ou seja, não revelou praticamente nenhuma fotografia! O seu comportamento era compulsivo, doentio, quase como uma obsessão vital em registar momentos quotidianos da sociedade norte-americana.

Sempre a preto e branco e num ângulo sempre idêntico (tinha uma máquina Leica), as suas fotografias denotam um olhar perspicaz sobre rostos anónimos, pessoas comuns (entre burguesia e mendigos) e paisagens urbanas. Também fazia auto-retratos (vulgo selfies hoje). Todo o seu gigantesco espólio - grande parte ainda por revelar - foi descoberto por acaso por um jovem chamado John Mallof, co-autor do documentário sobre a sua vida. Comprou-o num leilão e agora dedica a sua vida a divulgar o seu trabalho e a exibir as fotografias de Vivian em museus e galerias de arte. 

"Finding Vivian Maier" ("À Procura de Vivian Maier") é o título do documentário candidato aos Óscar deste ano na mesma categoria. Procura desvendar quem foi esta mulher estranha e contraditória através de depoimentos de pessoas que lidaram com ela em vida. Provavelmente Vivian Maier nunca autorizaria em vida a publicação das suas fotografias. O motivo desconhece-se. Uma coisa é certa: o seu legado só veio enriquecer a história da fotografia do século XX.





domingo, 1 de março de 2015

Mr. Turner: o mestre da luz


"Mr. Turner" de Mike Leigh é um filme magnífico. Se houvesse justiça nos Óscares seria nomeado para várias categorias (realização, fotografia, direcção artística, interpretação...). Para já só ganhou o prémio em Cannes para o esplêndido actor Timothy Spall no papel do pintor inglês.
William Turner, pintor da época do Romantismo inglês (século XIX), elevou a pintura paisagística quando tendeu ao quase abstraccionismo nas suas telas, sendo considerado hoje, além de génio universal da arte, precursor do Impressionismo.

O filme "Mr. Turner" retrata os últimos anos de vida e obra do pintor na Londres de meados do século XIX, um homem controverso e excessivo obcecado com o perfeccionismo da sua arte - ao ponto de ficar amarrado a um mastro de um navio em plena tempestade para reunir todos os dados empíricos dessa experiência que servissem para as suas pinturas.

Das várias sequências memoráveis do filme destaco desde logo a primeira que surge aos olhos do espectador: plano fixo de uma paisagem incrivelmente bela, um campo verdejante, um moinho e o pôr-do-sol resplandecente. Duas mulheres vão-se aproximando e a câmara começa a movimentar-se para a esquerda (a fazer lembrar um plano-sequência de Tarkovski) para acompanhar a deslocação das referidas mulheres. De repente, no exacto momento em que as mulheres deixam de estar em cena vislumbra-se ao fundo o vulto de um homem. A câmara fixa-se e revela o homem bem ao centro do plano, até que um close-up nos mostra que se trata de William Turner a tirar notas para as suas pinturas de paisagem. 

Esta sequência, que tem pouco mais de 2 minutos, é um espantoso trabalho ao nível da realização e da composição plástica e visual. É minha convicção que o realizador Mike Leigh quis mostrar, logo a partir do primeiro plano, a beleza da paisagem que tanto inspirou Turner. Mais: estas imagens são como telas da pintura paisagística do pintor inglês, mestre da luz e das cores. Trata-se, em suma, de um pequeno momento de cinema tão superlativo e tão belo esteticamente que nos deixa sem palavras.

Eis a sequência de que falo:









Nota: esta paisagem foi filmada em Herringfleet Mill, Suffolk, norte de Inglaterra.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A história da música industrial



Um dos géneros musicais mais radicais e revolucionários da segunda metade do século XX foi o industrial (que  muito me marcou na adolescência). A música industrial correspondia ao espírito mais insurrecto e alternativo dos músicos pouco satisfeitos com o rumo político e social da sociedade, muito ligada à arte, literatura e filosofia mais subversivas: desde Marquês de Sade a Nietzsche e Lautréamont, de William S. Burroughs a Philip K. Dick, do Surrealismo ao Futurismo. Nascida nos finais dos anos 1970, a música industrial conciliou uma grande fusão de tendências e estilos. Desde a música electrónica mais experimental e vanguardista (música concreta e electro-acústica), ao noise-rock, à energia da No-Wave e do Krautrock (rock vanguardista alemão).

Um dado novo veio revolucionar a cena musical: a música industrial socorre-se da parafernália mecânica e tecnológica das fábricas decadentes, própria das sociedades modernas. Ou seja, usa as ferramentas dessas fábricas como instrumentos musicais para fazer música: bidões metálicos, martelos pneumáticos, serras eléctricas, utensílios fabris diversos com efeitos sonoros originais, etc. A música industrial era ideologicamente pessimista, crítica da sociedade actual, avessa à fama e ao dinheiro. A sonoridade era compatível com estas características, com uns grupos mais radicais e extremos do que outros, mas todos com vontade de subverter as normas convencionais da música com muito ruído à mistura. Os músicos e bandas deste estilo preocupavam-se com a criação de sonoridades abrasivas, com efeito de choque sonoro imediato, de grande e extrema amplitude estética.


Grupos como Throbbing Gristle (na imagem), Cabaret Voltaire, SPK, Test Dept, Click Click, NON / Boyd Rice, Clock DVA, Z'EV, In The Nursery ou Klinik definiram um género de culto que só teria decréscimo criativo a partir da segunda metade dos anos 90. Um grupo alemão irrompeu em força no panorama industrial nos anos 80: Einstürzende Neubauten, colectivo de músicos radicais liderados pelo carismático Blixa Bargeld. Tive a oportunidade de os ver ao vivo em Lisboa há 22 anos e foi uma experiência arrepiante (voltam agora para o próximo festival NOS Primavera Sound).

Tudo para dizer que agora surgiu, finalmente, um documentário que tenta explicar o nascimento e evolução deste peculiaríssimo e alternativo género de culto: "Industrial Soundtrack For The Urban Decay", no qual muitos dos nomes citados são entrevistados. 

Eis o trailer.
E eis uma brevíssima e concisa explicação do que é a música industrial.

domingo, 9 de novembro de 2014

Picasso sob o olhar de Clouzot


"Le Mystère Picasso" (1956) é um dos mais inspirados e belos documentários sobre arte que conheço. Filmado pelo conceituado cineasta francês Henri-Georges Clouzot, este filme mantém, ainda hoje, uma frescura e uma originalidade invulgares.
Clouzot filma, de forma insuperável, o genial Pablo Picasso em continuadas sessões de pintura. O espectador apercebe-se facilmente quão excepcional é a veia criativa do pintor espanhol, quão espontânea e perfeita. O método pictórico de Picasso é captado pela câmara de Clouzot como um olhar distanciado, mas ao mesmo tempo minucioso, na captura da leveza do traço, das cores e dos movimentos.

"O Mistério Picasso" é, basicamente, um filme sobre a imponência perene da criação artística, sendo o objecto do filme a figura ímpar de Picasso. E é, igualmente, uma notável obra de cinema (Clouzot criou técnicas inovadoras para captar as pinceladas do pintor).

Eis um excerto:

domingo, 21 de setembro de 2014

A inspiração de Jackson Pollock

Bela curta-metragem de animação sobre o tema da inspiração na arte tendo como protagonista o pintor expressionista abstracto, Jackson Pollock.

domingo, 14 de setembro de 2014

Já não há tempo nem paciência


Quando era novo tinha tempo para tudo. Não havia internet nem gadgets electrónicos. Nesse tempo, escrevia e recebia centenas de cartas com pessoas que partilhavam os mesmos interesses que eu: música, cinema e artes. Lia muito e via muitos filmes. E sempre me dediquei aos estudos. Aos 17, 18, 20 anos, ia ao cinema ver tudo: filmes bons, razoáveis e maus (era uma sofreguidão). Só em contacto com experiências artísticas boas e más é que formei o meu gosto cultural. E conversas, muitas conversas de partilha de conhecimento com amigos mais velhos e sabedores. Repito: num tempo sem internet.

Mas agora tenho 45 anos. E sinto que já não tenho tempo, nem paciência, para conhecer objectos culturais e artísticos superficiais que a sociedade de consumo nos impinge diariamente. Só tenho tempo para fruir o que é realmente muito bom. Ou, pelo menos, bom. Estou cada vez mais selectivo no que consumo culturalmente. Isto é, já não perco tempo a ver filmes que sei que, à partida, são fracassos ou medíocres. Nem ler livros que não sejam realmente muito bons. Ou ouvir discos que não me proporcionem prazer, que me surpreendam ou me inquietem o espírito. 

Ou seja, cheguei a uma fase da minha vida que não arrisco perder tempo com coisas fúteis ou até, minimamente, razoáveis. Numa era de avalanche de informação (e não de conhecimento), de uma oferta de livros nunca vista, de semanas de estreias com 10 filmes, de overdose de música na internet, há que saber distinguir a qualidade (cada vez mais escassa) do puro lixo ou do entretenimento disfarçado de cultura.

Tento concentrar-me no que realmente interessa e exijo o melhor: o grande cinema, a grande música, a grande literatura. Perguntam: e qual é o meu entendimento de "grande cinema", "grande música" e "grande literatura"? Bom, se acompanham há algum tempo este blog acho que já terei deixado algumas pistas. Seja como for, serão sempre aquelas manifestações que eu considero verdadeiramente de grande valor artístico e que estimulam o nosso intelecto e mudam a nossa vida (para melhor).

E é só com isto que eu quero concentrar-me para o resto da minha vida. 

domingo, 17 de agosto de 2014

O leitor é Flâneur?

O que é flâneur? 

O termo flâneur vem do francês e tem o significado de "vagabundo", "vadio", " preguiçoso", que por sua vez vem do verbo francês flâner, que significa "para passear".
Charles Baudelaire desenvolveu um significado para flâneur de "uma pessoa que anda pela cidade a fim de experimentá-la".  Ou seja, um flâneur é alguém que vagueira sem compromisso por uma cidade, alguém que percorre as suas ruas sem objetivo aparente, mas secretamente atento à história dos lugares, observando as pessoas, a arquitectura e os espaços urbanos (e retirando prazer estético nisso).

O filósofo Walter Benjamin descreveu o flâneur como um produto da vida moderna, um paralelo com o advento do turismo. Benjamin tornou-se no seu próprio exemplo, observando o movimento social e estético durante longas caminhadas por Paris. De resto, a capital francesa é a cidade por excelenência do flâneur.

O flâneur é, pois, aquele que observa o mundo que o cerca de maneira real e descritiva, levando a vida para cada lugar que vê. O flâneur descreve (nem que seja mentalmente) as cidades, as ruas, os becos, o mundo exterior. A rua é o seu lar, o seu mundo. Ali nada é estranho ou prejudicial. Na rua ele sente-se confortável e protegido. O flâneur do século XIX representou a angústia da Revolução Industrial. Nos tempos modernos o flâneur confunde-se com o turista mais atento e observador.
É assim que eu gosto de descobrir uma cidade nova, é assim que eu adoro conhecer Paris, Madrid, Londres ou Barcelona - com uma atitude de flâneur: vagueando sem rumo certo, tirando o máximo partido da vida das ruelas, observando as particularidades urbanísticas, os edifícios e o movimento das pessoas nos passeios, os casais que namoram numa requintada esplanada, os belos jardins no meio da agitação urbana, etc. Em suma, sentir demoradamente o palpitar de uma cidade prestando atenção a todos os seus elementos materiais e imateriais. No fim, após processar toda a informação recolhida com a visita à cidade, fantasio sobre como seria se eu vivesse nesse mesma cidade.

Por isso, caro leitor, talvez seja também um flâneur "baudelairiano" sem o saber, caso desfrute de uma cidade desta forma.
Eis algumas fotografias que tirei em Paris e Londres imbuído deste espírito de flâneur:








domingo, 9 de março de 2014

Os auto-retratos de Andy Warhol

Quando era adolescente comprava tudo o que encontrava de Andy Warhol: postais, biografias, livros de pintura e até filmes realizados pelo próprio.
Fascinava-me a sua personalidade, a sua obra artística única que marcou a arte pop, a sua Factory nova-iorquina pela qual passaram tantos artistas de tantas áreas, assim como a sua ligação à música (via The Velvet Underground).
Uma das características mais marcantes no trabalho de Andy Warhol foi o auto-retrato. E ao longo da sua carreira há inúmeros exemplos de serigrafias, fotografias e pinturas cujo objecto é o próprio artista. Julgava que já conhecia todos esses exemplos. Enganei-me.
Ou, pelo menos, não me recordo de ter visto esta série de auto-retratos (de ambiguidade sexual) intitulada "Self-Portrait in Drag" (Polaroid), tirados entre 1979 e 1981, e que faz parte do espólio do The Andy Warhol Museum de Pittsburgh.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Sokurov e a pintura

Volto à brilhante odisseia da "História do Cinema" de Mark Cousins: quase no final do documentário, Cousins entrevista o realizador Alexander Sokurov que admite a enorme influência que a pintura (ou certa pintura) teve no seu cinema. Mais propriamente, na concepção plástica e estética do filme "Mãe e Filho" (1997). 
Para o trabalho visual desta magnífica película, Sokurov foi buscar inspiração ao célebre pintor alemão do século XVIII (e XIX) Caspar David Friedrich (pintor que ficou famoso por esta icónica pintura). Era mais do que evidente que este filme de Sokurov (entre outros) tinha uma forte influência da pintura, mas nunca tinha sabido qual a fonte de inspiração. Por isso parti à descoberta da pintura de Caspar David Friedrich, porque o realizador russo admitia até que tinha filmado em paisagens muito semelhantes às pinturas do pintor alemão. 
Bastou uma pequena pesquisa para compreender essa forte ligação plástica entre as imagens do filme e das pinturas (escolhas minhas):


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Top 2013 - O adeus de artistas



Bigas Luna (Cineasta)
Ray Harryhausen (Animador de efeitos especiais)
Ray Manzarek (Músico - The Doors)
Patti Page (Cantora)
Jeff Hanneman (Guitarrista - Slayer)
Aleksei Balabalov (Cineasta)
Georges Moustaki (Cantor)
Cory Monteith (Actor)
Donald Byrd Músico de jazz)
Dennis Farina (Actor)
Esther Williams (Actriz)
Jesús Franco (Cineasta)
J.J. Cale (Músico)
Patrice Chéreau (Cineasta e encenador)
Doris Lessing (Escritora)
Ian Banks (Escritor)
Jean Stapleton (Actriz)
Cláudio Calvancanti (Actor)
John Tavener (Compositor)
Urbano Tavares Rodrigues (Escritor)
Elmore Leonard (Escritor e argumentista)
Seamus Heaney (Poeta)
Otto Sander (Actor)
James Gandolfini (Actor)
António Ramos Rosa (Poeta)
Nagisa Oshima (Cineasta)
Paul Walker (Actor)
Nadir Afonso (Pintor)
Joan Fontain (Actriz)
Peter O'Toole (Actor)
Tom Sharpe (Escritor)
Lou Reed (Músico - The Velvet Underground)
Wojciech Kilar (Compositor de cinema)
Sara Montiel (Actriz e cantora)
(...)


terça-feira, 5 de novembro de 2013

"A Bela Suicida"

No dia 1 de Maio de 1947, Evelyn McHale, de 23 anos, depois de discutir com o seu namorado, lançou-se para o vazio desde o miradouro situado no andar 86 do famoso Empire State Building de Nova Iorque (no bolso do seu casado havia uma nota: "Ele está muito melhor sem mim, não seria uma boa esposa").
No outro lado da rua, Robert Wiles, estudante de fotografia, ao ouvir o tremendo impacto aproximou-se com  a sua câmara e fotografou o corpo da bela jovem que caíra sobre o tecto de uma limusine de um mandatário das Nações Unidas, estacionada perto da Quinta Avenida. Esta fotografia correria mundo e ficou conhecida como "The Most Beautiful Suicide".
"A Bela Suicida". 
A imagem de Evelyn morta no meio dos destroços da limusine é, ao mesmo tempo, chocante e enternecedora. E prova como a morte e o acto suicida, por mais brutal que seja, pode ter contornos poéticos. A fotografia quase parece encenada: repare-se como a sua mão esquerda parece acariciar o colar de pérolas. A serenidade do seu rosto, as pernas cruzadas e a elegância do seu corpo como se estivesse simplesmente deitada a descansar - sem vestígios de sangue - no meio da destruição, criam uma imagem quase onírica (terá sido esta imagem que motivou David Cronenberg a realizar o filme "Crash"?). 
A fotografia apareceu publicada em Maio de 1947 na revista Life e anos mais tarde, em 1963, o guru da Pop Art, Andy Warhol, fascinado pela iconografia trágica, utilizou a mesma foto de Robert Wiles para criar um quadro intitulado "Suicide" ("Fallen Body").

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Um escritor tem de sofrer?


O escritor americano Paul Auster deu uma entrevista ao jornal espanhol ABC em que disse - questionado sobre que conselho daria a um jovem escritor -, "Escrever é uma maneira terrível de viver, por isso aconselho a que não escrevam".
E acrescentou: "Só os jovens que realmente sentem que têm de escrever não aceitariam o meu conselho". Paul Auster acredita que os verdadeiros escritores não se preocupam com o mundo comercial e que escrever é um exercício de total solidão egoísta, num tempo e num lugar que nem sempre são claros.
Paul Auster não é o primeiro escritor a afirmar que escrever é um acto de sofrimento (ou que proporciona sofrimento). É até uma ideia quase intrínseca a muita criação literária, desde o neo-romantismo, o existencialismo até aos nossos dias. Eu quero acreditar que a escrita, como qualquer outro acto criativo e artístico sério e profissional, implica total empenhamento intelectual, dispêndio de energias e entrega emocional incondicional.
E é certo que este empenhamento desgasta, cansa, angustia, mas também há-de ter o retorno positivo: motiva prazer, satisfação, partilha, expiação e fruição. Caso contrário, todos os artistas seriam uns pobres desgraçados deprimidos e sofredores à beira do suicídio eminente...

sábado, 1 de junho de 2013

O livro de Tarkovski

Para ir directo ao assunto: este é porventura um dos mais belos livros que alguma vez li.
"Esculpir o Tempo" de Andrei Tarkovski. Escrito ao longo de muitos anos de vivências múltiplas, de momentos felizes e de infortúnios, de períodos de reflexão e de sofrimento. O realizador compilou todo os seus pensamentos, memórias e considerandos sobre a função da arte e do artista, o que deve ser ou não o cinema, qual o lugar do homem e da natureza no mundo.
São reflexões fluídas e que se lêem avidamente. Não é só um tratado sobre cinema (dos melhores que já foram escritos), é um tratado sobre a vida, sobre os valores espirituais do homem. É um tratado filosófico sobre questões terrenas e metafísicas, num estilo de escrita que tem mais de literário do que técnico. Um guia para compreendermos a sua arte e a sua visão cosmológica das coisas e dos afectos.
Mais do que Bergman, mais do que Dreyer, Tarkovski é o mestre absoluto na exploração das emoções humanas e na manipulação do tempo e da memória.
Profundamente marcado pela poesia do seu pai Arseni Tarkovski, Andrei teve uma fortíssima formação académica no campo da pintura (queria ter sido pintor), da história, da literatura e da poesia. A sua sensibilidade artística denota a extrema exigência que tinha para com a arte e o cinema. Filmar um plano era o mesmo que congelar um pedaço de tempo. Esculpi-lo. E toda a sua estética se baseia na ideia de esculpir o tempo. Em tempos houve na Fnac uma edição brasileira de "Esculpir o Tempo" (ou podem fazer o download do livro em PDF e em português).

quarta-feira, 29 de maio de 2013

100 anos de Stravinsky

Não é todos os dias que se comemora uma efeméride cultural desta importância: hoje, dia 29 de Maio, passam 100 anos exactos da estreia bombástica da obra musical e coreográfica "A Sagração da Primavera" de Igor Stravinsky. Esta obra é uma peça musical (curta, 33 minutos) absolutamente revolucionária e influente em todo o século XX. 
O maestro Leonard Bernstein considerava que era a obra que personificava o modernismo estético. E não podia ter mais razão. A música poderosa de Stravinsky rompeu com todos os cânones estabelecidos até então, ao nível do ritmo, da forma, da dinâmica e dos timbres. Frenética na sua avalanche sonora e imprevisível na linguagem artística, "A Sagração da Primavera" constitui, ainda hoje, uma peça musical de puro fascínio e perplexidade.
Não admira por isso que, na data da estreia - 29 de Maio de 1913 - apesar ter sido na década de grande fervilhar artístico das vanguardas, a música de Stravinsky e a coreografia ousada de Nijinsky tenham causado tanta revolta popular e tanta incompreensão até no meio musical erudito.
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Eis uma recriação da coreografia original apresentada em Paris há precisamente 100 anos:

terça-feira, 28 de maio de 2013

Músicas transformadas em livros

E se alguém se lembrasse de transformar em livros as músicas de bandas famosas? Pelos vistos, esse alguém já existe e chama-se Simon James, artista e designer residente em Londres. 
A ideia é deveras original: Simon James pegou em títulos de músicas de bandas como The Smiths, Joy Division, The Cure, Radiohead ou Kraftwerk (sobre a banda alemã ver aqui), e transformou-os em lombadas de livros de estilo 'vintage'. É como se cada música destas bandas correspondessem ao título de um romance.