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sexta-feira, 17 de julho de 2015

A cabeça de Murnau

F.W. Murnau foi um dos maiores realizadores do cinema mudo e do Expressionismo Alemão. Morreu em 1931 com apenas 42 anos num trágico acidente de viação. O autor do mítico filme de terror "Nosferatu" (1922) está sepultado na Alemanha e nos anos 70 a sua campa foi alvo de vandalismo. Mas nada comparável com o que aconteceu agora: alguém se deu ao trabalho de desenterrar o caixão para... roubar a cabeça do realizador! Este crime macabro de profanação de cadáver está a ser investigado pelas autoridades, as quais ainda não conseguiram chegar a nenhuma conclusão sobre quem terá cometido este acto e porquê.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O top de Jarmusch

Jim Jarmusch (62 anos) é um cineasta norte-americano de culto autor de obras como "Dead Man" (1995), "Stranger Than Paradise" (1984) ou "Coffee and Cigarettes" (2003). Filma quase sempre a preto e branco com orçamentos limitados, colaborou com os músicos Tom Waits ou John Lurie e os seus filmes são produções do circuito independente. 

A lista que se segue revela os 10 filmes favoritos de Jarmusch: só grandes filmes notoriamente de um cinéfilo amante de bom cinema - todo ele a preto e branco e o mais recente de 1967.

1. L’Atalante (1934, Jean Vigo)
2. Tokyo Story (1953, Yasujiro Ozu)
3. They Live by Night (1949, Nicholas Ray)
4. Bob le Flambeur (1955, Jean-Pierre Melville)
5. Sunrise (1927, F.W. Murnau) 
6. The Cameraman (1928, Buster Keaton)
7. Mouchette (1967, Robert Bresson)
8. Seven Samurai (1954, Akira Kurosawa)
9. Broken Blossoms (1919, D.W. Griffith)
10. Rome, Open City (1945, Roberto Rossellini)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Cinéfilo, eu?

Por vezes discute-se o que é ser cinéfilo. Segundo João Bénard da Costa, ex-Director da Cinemateca Portuguesa, há uma significativa diferença entre "gostar" de cinema e "amar" o cinema.
E é verdade que esta diferença define o que é um verdadeiro cinéfilo e um espectador vulgar de cinema.
Repare-se na seguinte tabela comparativa que elaborei. Não se trata de um estudo científico e académico. É aquilo que a minha intuição e experiência dizem: uma pessoa que goste de cinema e que tenha alguns conhecimentos, fará uma lista de preferências como aquelas que estão na tabela da esquerda. Será, por assim dizer, um Cinéfilo QB (quanto baste). Mas para os mesmo filmes haverá o verdadeiro Cinéfilo, aquele que tem um conhecimento mais profundo da história do cinema e um gosto mais definido, por isso, escolhe outros filmes menos conhecidos dos mesmos cineastas.

Cinéfilo QB                                                                          Cinéfilo
"Citizen Kane"-------------------Orson Welles ------------------"Macbeth" (1948)
"2001 - Odisseia no Espaço"---Stanley Kubrick---------------"The Killing" (1956)
"O Sétimo Selo"-----------------Ingmar Bergman-------------"A Fonte da Donzela" (1959)
"Manhattan"----------------------Woody Allen-------------------"Zelig" (1983)
"Janela Indiscreta"---------------Alfred Hitchcock--------------"The Lodger" (1927)
"A Lista de Schindler"----------Steven Spielberg---------------"Duel" (1971)
"Nosferatu"-----------------------F.W. Murnau-------------------"Tabu" (1933)
"O Padrinho"---------------------Francis Coppola----------------"Rumble Fish" (1983)
"O Touro Enraivecido"---------Martin Scorsese-----------------"Mean Streats" (1973

Depois há outra facção de cinéfilos, que são os hardcore, aqueles "ratos de cinemateca" que acham que até os filmes da coluna da direita são demasiado mainstream para o seu gosto refinado. Estes cinéfilos hardcore gostam é dos clássicos mais obscuros, dos títulos de culto das sessões da meia-noite e de festivais de cinema independentes. São os amantes incondicionais do cinema mais alternativo/vanguardista, formando uma espécie de elite cinéfila.

Uma lista de filmes preferidos dos Cinéfilos Hardcore será por exemplo assim:

"Meshes of the Afternoon" (1943) - Maya Deren 
"Woman in The Dunes" (1964) - Hiroshi Teshigahara
"Pastoral: To Die In The Country" (1974) - Shuji Terayama
"Warning Shadows" (1923) - Arthur Robinson
"Thunderbolt" (1929) - Josef von Sternberg
"The Stranger on The Third Floor" (1940) - Boris Ingster
"Begotten" (1990) - E. Elias Merhige
"O Quadro Negro" (2000) - Samira Makhmalbaf
"Daisies" (1966) - Vera Chytilová
"Flaming Creatures" (1963) - Jack Smith
"O Anjo das Ruas" (1928) - Frank Borzage
"My Degeneration" (1990) - Jon Moritsugu
"Love Making"  (1969) - Stan Brakhage

E o caro leitor, em que categoria de cinéfilo se integra?

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Estórias e Misérias de Hollywood #1

"O realizador alemão F.W. Murnau, célebre autor de 'Nosferatu', emigrou para Hollywood em 1926, onde filmou a soldo da Fox o oscarizado 'Aurora'. Murnau também ficou conhecido pela sua morte num acidente de viação, a bordo de um Rolls-Royce conduzido por um filipino de 14 anos. As boas línguas da imprensa sensacionalista afirmam que Murnau morreu a fazer 'felatio' ao motorista.
Apenas 11 pessoas compareceram ao funeral de Murnau, mas talvez não fossem precisas mais: entre elas contavam-se o realizador de documentários Robert Flaherty, Fritz Lang, o actor Emil Jannings e a diva Greta Garbo."

Edgar Pêra in "Hollywood: Estórias de Glamour e Miséria no Império do Cinema"

domingo, 3 de novembro de 2013

Cinema mudo: com ou sem Intertítulos

É conhecida a grande resistência que muitos realizadores e actores do cinema mudo tiveram para aderir ao cinema falado. Enquanto o período mudo durou (até 1927), a história de cada filme era contada através dos célebres intertítulos, caixas pretas com as legendas dos diálogos ou pensamentos dos personagens. O curioso é que em Hollywood alguns realizadores mais audazes ambicionaram criar filmes puramente visuais, e que tivessem o mínimo de intertítulos possíveis.
O grande Buster Keaton era um desses realizadores que tentou reduzir ao mínimo o número de intertítulos, privilegiando a acção puramente visual. Foi então que Buster desafiou amigavelmente o seu rival Charlie Chaplin para ver quem dos dois realizaria o filme com menos intertítulos. Um filme mudo tinha, em média, 240 intertítulos.  O máximo que Buster Keaton tinha utilizado foram 56.
Eis o resultado desse interessante desafio: Chaplin realizou um filme com apenas 21 intertítulos, enquanto que Buster fez um filme com 23. 
Mas o verdadeiro record viria da Alemanha Expressionista: F.W. Murnau realizou um filme mudo sem intertítulos e puramente visual: "O Último Homem" (1924).
(Esta é uma das muitas histórias que revela o livro "Hollywood - Estórias de Glamour no Império do Cinema").

sábado, 7 de setembro de 2013

Cinema: a discussão do top 10



Para quem ainda não sabe ou para quem quer relembrar, 846 críticos escolhidos pela revista Sight & Sound escolheram há um ano os 10 melhores filmes de sempre. 
Pela primeira vez, o clássico de Welles, "Citizen Kane", foi destronado:

1 - "Vertigo" (Alfred Hitchcock, 1958)
2 - "Citizen Kane" (Orson Welles, 1941)
3 - "Tokyo Story" (Yasujirô Ozu, 1953)
4 - "La Règle du Jeu" (Jean Renoir, 1939)
5 - "Sunrise" (F.W. Murnau, 1927)
6 - "2001: A Space Odyssey" (Stanley Kubrick, 1968)
7 - "The Searchers" (John Ford, 1956)
8 - "Man with a Movie Camera" (Dziga Vertov, 1929)
9 - "The Passion of Joan of Arc" (Carl Theodor Dreyer, 1928)
10 - "8½" (Federico Fellini, 1963)
-------------------
Apesar de se tratar de uma lista elaborada por críticos e jornalistas especializados, não deixa por isso de ser uma lista subjectiva e passível de discussão. Isto é, será legítimo perguntar porque é que não consta nenhum filme de Sergei Eisenstein, Andrei Tarkovski, Charlie Chaplin, Robert Bresson, Jacques Tati, Ingmar Bergman ou tantos outros? Simplesmente porque não "cabem" no top 10 original mas poderiam, perfeitamente, integrá-lo.  

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Uma pérola de Hitchcock




Eis o meu primeiro grande momento cinematográfico de 2013: um filme mudo com quase 90 anos que representou o início de uma retumbante carreira de um então jovem (26 anos) realizador chamado Alfred Hitchcock: "The Lodger - A Story of the London Fog" (1927).
Numa deambulação pela FNAC deparei-me com este DVD de importação (capa em baixo) com banda sonora original do músico Nitin Sawhney.
Eu tinha conhecimento deste trabalho e até já o tinha referenciado no blogue (como os leitores mais atentos se lembrarão). Para além do DVD contendo o filme digitalmente restaurado (pelo British Film Institute), a edição é acompanhada ainda de um pequeno livro (15 páginas) com informação sobre o filme e dois CDs contendo as músicas de Nitin Sawhney.
Vi o filme ontem e fiquei absolutamente deliciado. "The Lodger" é, na cronologia da filmografia de Hitchcock, o seu terceiro filme, mas é historicamente considerado o seu primeiro filme deveras importante. É a obra na qual Hitchcock lança as sementes temáticas da sua carreira (a partir do serial killer londrino "Jack, O Estripador"): crime, suspense, falso culpado, assassínio, mulher fatal e loura, conflito psicológico e moral, mistério, sexo e morte...
E no final do período mudo, Hitch soube trabalhar na perfeição o legado visual e estético de filmes expressionistas de Fritz Lang ou Murnau, recorrendo a uma realização estilizada, uma fotografia feita de sombras insinuantes e um ritmo crescente de tensão. Ivor Novello é o misterioso "inquilino" deste filme, à época o actor (e cantor) mais popular da Inglaterra. E Ivor Novello consegue uma interpretação perturbadora, com um olhar frio e uma atitude dúbia, revela ser uma personagem na linha entre a culpa e a inocência. Uma personagem acusada de um crime monstruoso mas que, afinal, poderá ser apenas um homem solitário à procura do amor...
Sem ser uma obra-prima, "The Lodger" é um crucial e superlativo filme de Hitchcock, com uma sólida estrutura dramática e visual e um ritmo narrativo escorreito (este é também o filme no qual Hitchcock fez o seu primeiro "cameo").
A música original criada por Nitin Sawhney, músico britânico de ascendência índia com larga experiência musical, inclusive  no campo da composição para cinema, está à altura da qualidade do filme: Nitin compôs a banda sonora com uma clara alusão à música de Bernard Herrmann, compositor icónico que trabalhou com Hitchcock em vários filmes. A música de Nitin estabelece uma relação específica com as imagens e o desenrolar da acção, pontuando os momentos dramáticos e os momentos românticos com igual brilhantismo.
Novidade na música para cinema mudo é o facto de Nitin Sawhney ter utilizado dois momentos musicais cantados para acompanhar a paixão entre o casal protagonista. Ao contrário do que eu temia, o resultado é bastante positivo e encaixa na perfeição na estrutura estilística do resto da música. O bom gosto musical impera durante todo o trabalho criativo de Nitin.
A música de Nitin Sawhney foi interpretada e gravada pela prestigiada London Symphony Orchestra, e resultou numa música de teor orquestral, com recurso à percussão e às cordas e misturando a linguagem clássica com o jazz e a pop (num dos extras do DVD, o compositor explica o método de criação da banda sonora original).
Foi uma experiência deveras entusiasmante ver (e ouvir) este "The Lodger", num trabalho notável de Hitchcock que ajudou a definir as regras do thriller futuro e numa abordagem musical digna e competente de Nitin Sawhney.
Altamente recomendável, portanto.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Vertov e Alloy Orchestra

Caro leitor: se nunca viu o filme "O Homem da Câmara de Filmar" (1929) de Dziga Vertov, esta é uma oportunidade ideal. Se já viu, aconselho a rever esta versão.
Isto porque se trata da versão (que eu adquiri em DVD há 7 anos) com música original da Alloy Orchestra (na imagem). É certo que há uma versão mais famosa com música composta pela Cinematic Orchestra (aqui), mas eu prefiro esta.
Alloy Orchestra, apesar do nome, é um trio de músicos norte-americano especializado, há muitos anos, em compor bandas sonoras originais para cinema mudo. Já fizeram música praticamente para todos os grandes clássicos dessa época ("Metropolis", "Nosferatu", "The General", "Blackmail", "Strike", etc). De todos os trabalhos que conheço desta Alloy Orchestra, considero que o melhor é mesmo o que fizeram para a obra-prima de Vertov.
Uma música incisiva, ao mesmo tempo séria e lúdica (ao bom estilo dos anos 1920), com um rigor sonoplástico, orquestral e rítmico verdaderamente notáveis.
Ver o filme de Dziga Vertov com esta música é, de facto, outra experiência. Acreditem. 
 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um filme diferente para o Halloween


Agora que se aproxima o Halloween, eis um dos mais míticos e sublimes filmes do período mudo: "Häxan", realizado em 1922 pelo cineasta dinamarquês Benjamim Christensen.
"Häxan", um dos primeiros grandes filmes fantásticos de sempre (é do mesmo ano de "Nosferatu" de Murnau), documenta as perseguições movidas contra as feiticeiras e os actos de bruxaria numa Europa medieval conspurcada pela intolerância religiosa e pela Inquisição.
A prodigiosa fotografia do filme, as encenações de rituais e de possessões demoníacas, e o ambiente visual expressionista recriado viria a influenciar outras obras-primas do cinema, como o clássico de Carl Dreyer, "A Paixão de Joana D'Arc" (1928).
Muito do imaginário de terror psicológico e visual dos filmes das décadas posteriores (aliás, até aos nossos dias), foi gerado a partir deste filme escandinavo. Há muito de "Häxan" no filme "O Exorcista" (1973); e os produtores do filme-fenómeno "The Blair Witch Project" (1999), deram o nome de "Häxan Films" à sua produtora. E até inspirou a criação de um grupo homónimo de música... Black Metal. O escritor beat William S. Burroughs era grande admirador do filme.
Também é verdade que o filme de Christensen foi, durante décadas, censurado e banido, quer pelas autoridades religiosas, quer pelas autoridades políticas, tornando-se num filme marginal e num verdadeiro fenómeno de culto internacional. Mas nessa suposta marginalidade existia imensa criatividade e inovação estética.
Para além disso, esta obra é interessante para compreender a bruxaria através dos tempos. Um tema muito apropriado para a próxima temporada do Halloween, portanto.
Trailer.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Cinema mudo: novo filão

Li a seguinte notícia no Portal Cinema:
"Michael Pitt está confirmado no elenco de “The First”, uma cinebiografia de Mary Pickford, uma das maiores estrelas norte-americanas do cinema mudo. O Deadline revela que Pitt será Owen Moore, o primeiro marido da atriz. A história deste filme vai explorar os principais eventos da vida e da ilustre carreira de Mary Pickford, que participou em mais de duzentos filmes e contracenou com várias estrelas masculinas como Charlie Chaplin ou Douglas Fairbanks, que nesta produção vai ser interpretado por Jude Law. Lily Rabe dará vida a Pickford. O livro "Pickford: The Woman Who Made Hollywood”, de Eileen Whitford, será a base do enredo desta obra que poderá ser realizada por Jonathan Demme. O início das suas filmagens estão agendadas parra Janeiro de 2013."
--------
Comentário: está aberto um novo filão de Hollywood. Depois da exploração, até à saciedade, dos remakes, sequelas e prequelas, os estúdios, produtores e realizadores norte-americanos viram-se agora para... o cinema mudo. Faz algum sentido depois do êxito comercial (e de crítica) do filme "O Artista", mas será que o público quer ver um "biopic" de Mary Pickford, actriz que até para os cinéfilos pouco diz nos dias que correm?
Pegando nesta ideia, eis as minhas sugestões para novas películas biográficas de artistas do período mudo que poderiam dar filmes interessantes:
- Louise Brooks
- Katlheene Cliford
- Lilian Gish
- Maria Falconetti
- Rodolfo Valentino
- Douglas Fairbanks
- Harold Lloyd
- Paulette Goddard
- F.W. Murnau
- Eric Von Stroheim
- Emil Jannings
(...)

sábado, 14 de julho de 2012

Os filmes de Chaplin

Geraldine Chaplin, actriz e filha de Charlie Chaplin, disse um dia que a última vez que viu o pai vivo estava a ver um filme de Jerry Lewis e a a rir-se desalmadamente. Geraldine ficou com uma imagem doce do último momento em que viu o pai vivo: o rei da comédia a rir-se de um actor e realizador (também ele) cómico. O humor como elo de ligação artística e emocional entre dois grandes artistas.  
Geraldine Chaplin referiu também que o pai tinha uma predilecção muito especial por "2001 - Odisseia no Espaço" (1968) de Stanley Kubrick. A tal ponto que o viu várias vezes na sala de cinema.
O próprio Charlie Chaplin, questionado sobre os seus filmes favoritos, comentou que adorava "Sunrise" (1927) de Murnau (foi uma influência para "City Lights") e "O Couraçado Potemkine" (1925) de Sergei Eisenstein, que considerava o melhor filme jamais realizado.




domingo, 25 de dezembro de 2011

"The Artist" - O filme mudo


É o grande fenómeno do momento no mundo do cinema: o filme "The Artist" do realizador francês Michel Hazanavicius. A estreia deste filme aconteceu no último Festival de Cannes, competindo à Palma de Ouro (perdeu para "The Tree of Life") e o actor principal, Jean Dujardin, ganhou mesmo o Prémio de Melhor Actor. Recentemente foi nomeado para seis prémios Globos de Ouro e já se fala, insistentemente, nas nomeações para os almejados Óscares. A sensação à volta de "The Artist" é que se trata de um filme... mudo. Toda a sua estética visual remete para os filmes mudos dos gloriosos anos 1920. O realizador demorou 10 anos a convencer os produtores a investir neste projecto. E o resultado está à vista. A crítica e o público (já estreou comercialmente no final de Novembro nos EUA) têm sido quase unânimes nos elogios a este filme que foi pensado como se fosse realizado, de facto, entre 1927 e 1933 (época em que o sonoro veio substituir o mudo e que serve de pano de fundo para a história de "The Artist").

Michel Hazanavicius não é o primeiro realizador a explorar a estética do cinema mudo. O canadiano Guy Maddin (escrevi sobe ele aqui) já o fizera com brilhantes resultados formais. A inovação que "The Artist" acarreta é que não se limita a ser um mero exercício de estilo saudosista a preto e branco. Os valores de produção, as interpretações marcantes, a realização, a fotografia, a banda sonora e a história de amor (também amor ao cinema) são, tudo o indica, razões para considerar "The Artist" como uma obra absolutamente singular dos tempos modernos.

Além do mais, este filme de Hazanavicius tem outro mérito: o de chamar a atenção - sobretudo para as novas gerações de cinéfilos - para a história do cinema mudo. Vendo "The Artist", os jovens espectadores que desconhecem o período mudo, poderão ficar sensibilizados e motivados a descobrir e ver os grandes mestres desta época da história do cinema: Fritz Lang, Charlie Chaplin, Buster Keaton, Eisenstein, Murnau, etc.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Jelonek

Já não é original juntar heavy metal e instrumentos eruditos como cordas de orquestra (violino e violoncelo). Mas a forma como o violinista polaco Jelonek pratica esta mesma fusão é algo que me agrada sobremaneira. Mais a mais, porque recorre a imagens do clássico "Nosferatu" (1922) do realizador Murnau para complementar a música:

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os dez filmes preferidos de João César Monteiro


Acabei de ler isto:
"Para João César Monteiro, entre os dez melhores filmes que viu na sua vida, "Aurora" (1927) de F.W. Murnau ocupa todas as dez posições".
Amen.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Mais do que um mero filme sobre bruxaria


O site dvdgo.com (que já esteve melhor do que agora) anunciou há tempos uma edição em DVD como um grande destaque editorial no panorama da cinefilia caseira. E, na verdade, não era para menos.
Tratava-se da versão especial remasterizada (som e imagem) de um dos mais míticos e sublimes filmes do período mudo: "Häxan", realizado em 1922 pelo cineasta dinamarquês Benjamim Christensen. "Häxan", um dos primeiros grandes filmes fantásticos de sempre (é do mesmo ano de "Nosferatu" de Murnau), documenta as perseguições movidas contra as feiticeiras e os actos de bruxaria numa Europa medieval conspurcada pela intolerância religiosa e pela Inquisição.
A prodigiosa fotografia do filme, as encenações de rituais e de possessões demoníacas, e o ambiente visual expressionista recriado viria a influenciar outras obras-primas do cinema, como o clássico de Carl Dreyer, "A Paixão de Joana D'Arc" (1928). Muito do imaginário de terror psicológico e visual dos filmes das décadas posteriores (aliás, até aos nossos dias), foi gerado a partir deste filme escandinavo. Há muito de "Häxan" no filme "O Exorcista" (1973); e os produtores do filme-fenómeno "The Blair Witch Project" (1999), deram o nome de "Häxan Films" à sua produtora. E até inspirou a criação de um grupo homónimo de música... Black Metal.

Também é verdade que o filme de Christensen foi, durante décadas, censurado e banido, quer pelas autoridades religiosas, quer pelas autoridades políticas, tornando-se num filme marginal e num verdadeiro fenómeno de culto internacional. Mas nessa suposta marginalidade existia imensa criatividade e inovação estética.
Esta edição especial em DVD traz além da versão original restaurada, a rara edição americana lançada em 1968 com narração do poeta beat William S. Burroughs (grande admirador do filme) e com o subtítulo "A Bruxaria Através dos Tempos" (no segundo disco do DVD). Imperdível, portanto.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A televisão e o cinema


É recorrente as televisões portuguesas programarem filmes de qualidade para horários improváveis (muitas das vezes, madrugada dentro).
Há muitos anos atrás, a RTP fazia verdadeiro serviço público quando passava, às quartas-feiras à noite (21h30), uma sessão de cinema. Filmes de qualidade em horário nobre com apenas um intervalo pelo meio. Isto já para não falar da programação cinéfila de cinema clássico da RTP2, que teve o seu auge até meados da década de 90. Desde que os canais privados entraram no mercado, a programação de cinema de qualidade desmoronou-se.
Desde há uns anos a esta parte, a programação das televisões em horário nobre tem sido monopolizada com telelixo: telenovelas aos molhos, futebol e programas medíocres de entretenimento (reallity shows e afins). E, claro, intervalos infindáveis de publicidade maçuda (um intervalo comercial da TVI dura, em média, 20 intermináveis minutos).
Por isso os filmes, séries e programas de informação de qualidade são relegados para secundaríssimo plano, quase sempre depois da meia-noite. Claro que há alternativas: televisão por cabo e clubes de vídeo. Só que há dezenas de milhares de famílias portuguesas que não podem pagar televisão por cabo ou ser sócio de videoclubes (e mesmo estes têm uma oferta muito limitada). E assim estupidificam-se, de forma passiva, assistindo à boçalidade televisiva diária. A nova televisão digital e os novos pacotes multimédia (Zon e Meo) podem atenuar a nefasta formatação da televisão actual e alargar as possibilidades de visionamento do espectador, mas estes produtos vão levar muitos anos a generalizar-se por toda a população.
Como vivo perto de Espanha habituei-me a ver televisão, desde muito cedo, do país vizinho. Durante anos vi clássicos de aventuras ao sábado à tarde e durante anos vi, pela primeira vez, verdadeiras obras-primas do cinema em horário nobre. Era o caso do excelente programa "Qué Grande es el Cine!" (exibido entre 1995 e 2005) do jornalista e realizador José Luis Garci (na imagem).

Durante esses anos, todas as segundas-feiras à noite depois de jantar, era exibido um filme clássico e depois comentado durante 40 minutos por parte de críticos de cinema e realizadores. Um notável serviço público (e até pedagógico decorrente do debate) quase impensável na televisão portuguesa. Foi neste programa que vi grandes filmes de John Ford, Orson Welles, Murnau, Charles Laughton, Hitchcock, Capra, Truffaut, Nicholas Ray, etc. Aposto que, nos 10 anos que durou o programa, este contribuiu para formar o gosto cinéfilo de muitas pessoas (uma geração?) para a verdadeira arte do cinema.
Era com critérios destes que se deveria reger toda e qualquer televisão pública.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

75 anos de Woody Allen


Woody Allen comemora hoje 75 anos de vida, numa altura em que finalizou o seu 40º filme da carreira ("You Will Meet a Tall Dark Stranger") e já deitou mãos à sua próxima película ("Midnight in Paris").
Dos grandes mestres do cinema, Allen é um dos meus cineastas favoritos, juntamente com Tati, Kubrick, Tarkovski, Murnau e uns quantos mais. Basta constatar que a categoria "Woody Allen" deste blogue tem 8o entradas.
Na sua diversificada filmografia contam-se filmes menores (e "menores" significa melhores do que os "melhores" de outros realizadores) e uma série de obras-primas: "Annie Hall" (1977), "Manhattan" (1979), "Crimes e Escapadelas" (1989), "Ana e as Suas Irmãs" (1986), "Match Point" (2005), "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985), "Zelig" (1983) ou "Dias da Rádio" (1987).
Um cineasta que explorou, como (quase) ninguém os domínios do desejo, do amor, da morte, da religião, das relações humanas, da psicanálise, da filosofia, dos valores morais, da fidelidade, da traição, da angústia existencial, etc. Um cineasta que deve tanto a Groucho Marx quanto a Ingmar Bergman. Um cineasta que soube tão bem fazer comédia "non sense" sobre temas sérios como filmes dramáticos com uma intensidade psicológica bergmaniana.
Para além disso, como em Martin Scorsese, Woody Allen é um cinéfilo esclarecido, com um gosto estético extremamente aguçado. Basta ver os seus filmes preferidos da História do Cinema.
Em suma: parabéns Woody Allen pelos 75 anos de vida e de muitos filmes. Que continue a fazer bom cinema até à idade do Manoel de Oliveira!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O filme de hoje

O filme para ver hoje:

"A Greve" (1925) de Sergei Eisenstein.
Nota: para além da qualidade óbvia do filme (e do seu conteúdo político/social), chamo a atenção para a extraordinária banda sonora original criada pela Alloy Orchestra (é um ensemble de apenas 3 músicos!), que já musicou filmes de Dziga Vertov, Buster Keaton, Murnau, Sternberg ou Fritz Lang.
A este respeito aconselho vivamente a ver e ouvir a parte 9/9 do filme de Eisenstein.

domingo, 21 de novembro de 2010

"The Lodger" de Hitchcock


Nas históricas entrevistas que Alfred Hitchcock deu a François Truffaut, o realizador britânico sempre disse que havia um filme mudo (dos 12 que realizou) essencial na sua filmografia, mas que poucos tinham tido oportunidade de ver. Falava da película "The Lodger", realizada em 1927, em pleno período do final do mudo. Um filme fortemente influenciado pelos mestre do Expressionismo Alemão, como Murnau ou Fritz Lang, mas que já espelhava alguns dos temas centrais da sua filmografia futura: o conceito de culpa e inocência, a ambiguidade moral, o suspense psicológico, a obsessão sexual, o crime...
O filme já era conhecido da filmografia de Hitchcock (vagamente inspirado no assassino Jack, O Estripador), mas só agora foi resgatado do esquecimento para ser exibido, comercialmente, em sala (Inglaterra) e na sua duração integral.
Enquanto, por cá, não o conseguirmos ver, podemos apreciar alguns minutos dos 74 deste "The Lodger" (que tem como subtítulo "A Story Of The London Fog"):

Consta-se que o primeiro "Cameo" de Hitchcock nos seus filmes aconteceu com "The Lodger":

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

E se Star Wars fosse um filme mudo?

Imaginem como seria "Star Wars" se tivesse sido realizado na mesma época do "Nosferatu" (1922) de F.W. Murnau. Ou seja, em pleno apogeu do cinema mudo.
Seria qualquer coisa como isto: