terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Stelarc - o artista mutante


Stelarc é um dos mais destacados artistas cibernéticos, de performance electrónica e de body-art (a par do brasileiro Eduardo Kac, o primeiro homem a quem foi implantado um microship no calcanhar no projecto "Cápsula do Tempo"). Para além de artista, é actualmente pesquisador titular do Performance Arts Digital Research Unit da The Nottingham Trent University, em Nottingham. O australiano tem vindo a trabalhar nos últimos 20 anos na junção entre corpo e tecnologia, com próteses robóticas e sistemas electrónicos diversos. As suas primeiras experiências aconteceram em 1968, quando construiu os primeiros ambientes de imersão virtual da história da arte: uns cubículos chamados "Compartimentos Sensoriais" nos quais o espectador entrava e, usando um capacete com lentes especiais que dividiam o espaço num labirinto de imagens sobrepostas, era atacado por luzes, movimentos e sons. Em 1970 desenvolve o projecto "Corpo Amplificado", no qual filma o seu esófago e dois metros do seu intestino para entender o funcionamento do seu corpo. A ideia central de Stelarc vai ao encontro da superação dos limites físicos da natureza humana (uma ideia defendida pelo Transhumanismo). Não se preocupa apenas pela dimensão puramente estética ou tecnológica do seu trabalho. O artista coloca questões pertinentes a nível filosófico e científico e defende a mutação física sintética para alcançar um grau de superioridade humana. Aliás, o criador considera o corpo humano obsoleto, e defende a sua mutação tecnológica e sintética.
A última inovação de Stelarc é desconcertante: implantou uma terceira orelha no seu braço. A orelha foi criada através dos processos mais modernos de tecido humano cultivado em laboratório, e posteriormente implantado, de forma subcutânea, no braço de Sterlac. Ver aqui o processo de implantação da orelha no braço. Mas não se fica por aqui: vai continuar a fazer cirurgias, de forma a que a orelha implantada no braço pareça ainda mais realista e com melhor definição estética. O conceito final de Stelarc é o de implantar um microfone ligado a um transmissor bluetooth de modo a que a orelha do braço de Sterlac transmita o que o braço dele ouve para qualquer um que queira ouvir isso na internet. Isto é arte? Claro que sim. É um trabalho conceptual e criativo consistente - ainda que lide com o próprio corpo humano e que possa chocar mentalidades mais susceptíveis.
Stelarc tem duas filhas, uma das quais, Astra Stelarc, tem vindo a dar continuidade ao trabalho do pai. Filha de peixe...

6 comentários:

Anónimo disse...

Victor,
Não conhecia o site do Stelarc, pelo que, mais uma vez, agradeço a referencia. O link para o brasileiro é que parece não funcionar. Não sou absolutamente nada adepto destas coisas da arte do corpo e não lhes deposito grande confiança. Creio que o ciborgue surgirá ao contrário, isto é, implementar elemntos humanos nas máquinas e não máquinas no humano ou transmutações do corpo. Mas é, pelo menos, extraordinário como o homem se sujeita a todo este martírio de colar orelhas nos braços!! Não sabia também que, segundo o artista, o corpo humano está absoleto. Não sei, mas aos olhos da, por exemplo, sociobiologia de Dawkins, isso é uma perfeita idiotice, uma vez que o corpo está em evolução. Bem, considerações à parte, porque disto pouco sei e só posso mandar postas de pescada e curiosidade, fizeste uma questão que me lembrou de te dar mais uma referência. a questão é: é isto arte? este é precisamente a questão filosófica, (quando é arte?) que Nigel Warburton tenta resolver no seu magnífico livrinho, O que é a arte, que foi publicado entre nós em 2007. Sendo um livro de filosofia está escrito para não filósofos e aborda algumas das principais teorias da arte mais recentes, incluindo uma ´serie de exemplos bizarros, como a daquele artista que não me lembro o nome cuja performance consistiu em mandar a um encontro de artistas, um pavão com o nome dele. Sei que vais gostar deste livro. Mais! Ele ajuda-nos a compreender muitas questões relacionadas com a música. Vale mesmo a pena!o livro foi publicado entre nós pela Bizâncio. Podes também visitar o blog do Warburton. Ele é um tipo da nossa idade, mais ou menos. Aliás, tem vários blogs, um deles, mesmo dedicado à arte. Podes visistar aqui, e se quiseres podes ouvir os poadcasts que ele faz a ler os seus próprios livros.
http://nigelwarburton.typepad.com/virtualphilosopher/
Abraço
Danke
Rolando Almeida

Unknown disse...

Despertaste-me a curiosidade e por isso vou procurar esse livro e esse autor. Sabes que o filósofo José Gil (ou será o irmão?) tem dissertações interessantes sobre o lugar do corpo na arte.
Entretanto já emendei o link do Eduardo Kac.
VA

RUTE disse...

Esta arte corporal parece-me algo doentia..."uma orelha implantada no braço"!!

Anónimo disse...

sei que o Jos´´e Gil tem um trabalho sobre os monstros, mas eu não aprecio o trabalho dele. E também tem uns trabalhos sobre a dança, mas são pouco acessíveis.
O do Warburton é acessível, fresco e dá-nos uma boa leva de teorias sobre a Arte. Uma das pessoas em Portugal que mais sabre sobre teorias da arte é Carmo D´Orey, uma professora de filosofia da Universidade de Lisboa. recentemente saiu na Dinalivro, um livrinho muito pequenino, organizao por ela, que se chama, O que é a arte? perspectiva analítica e reune vários ensaios consagrados da filosofia da arte contemporânea, incluindo textos de Dickie e Arthur C Danto. Mas este livro é menos acessível que o de Warburton. Também sei que está a ser traduzido um livro de George Dickie que defende uma teoria da arte institucionalista, que é das teorias mais discutidas na actualidade.
Rolando

Anónimo disse...

este gajo devia era implantar um pénis na testa (de forma artista claro) e assim mandava-nos a todos para o caralh... de uma só vez

Letras disse...

Cada dedo apontado lhes devolve 3 em suas direções...ignorantes...estudem as coisas antes de julgá-las