Lemmy Kilmister - que foi "roadie" de Jimi Hendrix - é um ícone do rock, o avô do heavy metal, do punk e do hardcore. Há 35 anos à frente dos Motorhead, Lemmy é uma lenda da música que adora os Beatles e Elvis Presley e que influenciou uma grande diversidade de músicos e grupos como Metallica, Alice Cooper, Mick Jones (ex-Clash), Peter Hook (ex-New Order), Slash (ex-Guns N'Roses), Henry Rollins (ex-Black Flag), Dave Navarro (ex-Jane's Addiction). Todos têm orgulho em manifestar admiração por esta lenda viva do rock, uma carismática figura com o maior bigode, a voz mais rasgada (pelo consumo excessivo de Jack Daniels), as verrugas mais feias, o chapéu inconfundível, mas também com a atitude mais humilde e pragmática que se possa imaginar.
Realizado por Greg Olliver e Wes Orshoski, "Lemmy" (2010) é um documentário (premiado em vários festivais, como Cannes) que se debruça sobre a vida incrível do vocalista e baixista dos Motorhead. Com muitos depoimentos de amigos e músicos, o documentário revisita momentos históricos da sua vida, o seu fascínio pelos símbolos nazis, a sua intensa relação com as mulheres (fez sexo com 1000 mulheres!), a sua relação com o álcool e as drogas, a sua relação com os amigos e, claro, com a música. Apesar da timidez e do ar austero de Lemmy Kilmister, o documentário consegue arrancar algumas declarações surpreendentes - e quase sempre bem-humoradas - do próprio Lemmy, como quando ele diz pela primeira vez, e na frente do filho, que a coisa mais importante da sua vida é o rapaz. Ou quando lhe perguntam: "O que tem a dizer ao facto de o acusarem de ser nazi?". Ao que Lemmy, fardado a rigor com uniforme nazi, responde: "Bom, eu tive seis namoradas negras, logo não posso ser considerado um nazi genuíno!".
"Lemmy", o filme, traz ainda imagens raras do baixista nos The Rockin' Vickers, a sua primeira banda em meados dos anos 60, além de concertos com o grupo de rock Hawkind, do qual foi despedido nos anos 1970 por ser "muito acelerado" - graças ao speed - para o espírito mais psicadélico da banda. Lemmy, no documentário, minimiza esse episódio e justifica: "Fui despedido porque estava a foder com a namorada do vocalista".
"Lemmy" é, pois, um magnífico documentário sobre uma personagem mítica do imaginário rock e um filme honesto e competente.
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