quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

The Overlook Hotel

É um dos mais deliciosos e interessantes sites que descobri ultimamente. Chama-se The Overlook Hotel e, tal como o nome indica, trata-se de um site exclusivamente dedicado ao mítico filme "The Shining" de Stanley Kubrick
Contém centenas de notícias, informações, imagens, GIFs, fotografias de bastidores, curiosidades e muito mais. Indispensável para qualquer fã de Kubrick e, especialmente, de "The Shining".


That's a point


Rob Gordon (John Cusack) in "High Fidelity" (2000) - Stephen Frears

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Nota breve sobre "Amour"




Finalmente vi "Amour" de Michael Haneke
Para não correr o risco de repetir ideias já professadas sobre o filme, não vou acrescentar grande coisa ao muito que já foi dito e escrito. Apenas manifestar sucintamente a minha reacção pessoal a esta obra sobre a decadência da existência humana: gostei muito desta profunda abordagem à relação entre um casal que se vê confrontado com a eminência da doença e da morte. Haneke imprimiu uma notável e cirúrgica dimensão humana a todo o crescente sofrimento a angústia sem nunca resvalar para o fácil sentimentalismo. Pelo contrário, "Amour" está imbuído de uma crueza e densidade a toda a prova, mostrando os factos como eles são, sem rodeios nem cedências emocionais.
A realização é, como habitualmente em Haneke, de um rigor estético quase geométrico, com planos extremamente bem conseguidos à justa medida da arquitectura e espaços da casa. É verdade que neste filma perpassa uma forte tonalidade negra e pessimista, mas por fim Haneke prova ser mestre na subtileza, revelando uma ténue esperança redentora e deixando muitas pistas para a reflexão sobre as contradições do amor e da condição humana.
Por fim, palmas para as interpretações superiores da dupla de octogenários actores.  

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Morris / McNamara / Glass

Para além de ser um excelente documentário de Errol Morris, "The Fog of War" (2003) sobre o secretário de Estado Robert McNamara, é também um filme que tem uma das mais belas e inspiradas partituras musicais para cinema de Philip Glass: 

Salas de cinema à beira do fim

Esta notícia de que a Castello-Lopes vai encerrar 49 salas de cinema no país não é propriamente surpresa. Infelizmente,  tem sido essa a tendência dos últimos anos em Portugal (e não só: Espanha enfrenta um declínio ainda mais acentuado).
Com esta derradeira decisão, algumas cidades portuguesas ficam, pura e simplesmente, sem qualquer sala de cinema. Como já por diversas vezes referi neste blogue, são vários os motivos para esta decadência das salas para ver filmes: a crise, o preço elevado dos bilhetes, o desmoronar do valor cultural e social do acto de "ir ao cinema", a pirataria, o cinema de canis por cabo, a proliferação do DVD e a concorrência de outras formas de entretenimento como a internet/smartphones/videojogos estão a matar, lentamente, a fruição do cinema tal como existiu durante mais de um século.
Estudos de mercado indicam que, daqui a 5 a 10 anos, haverá um número muito reduzido (ou quase insignificante) de salas de cinema a nível global, havendo já produtoras de Hollywood a preparar as estreias de filmes através do download directo (e pago) para o computador pessoal do consumidor. Os puristas dirão que esta forma não é a mais correcta para ver cinema em sala escura e com grande ecrã. E será verdade.
Mas também será verdade que se torna cada vez mais difícil e inglório vencer a batalha para evitar que salas de cinema se transformem como esta imagem de desolação, abandono e decadência:

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um Tarantino mediano





Quentin Tarantino é um notável artificie das memórias do cinema de antanho. Para alguém, como ele, que nunca estudou formalmente cinema e que aprendeu tudo vendo toneladas de filmes durante os anos em que trabalhou num modesto clube de vídeo, é uma façanha assinalável. A sua filmografia prova que Tarantino conhece de cor e salteado os filmes série B mais obscuros dos anos 60 e 70, italianos ou espanhóis, americanos ou franceses.
Desde "Reservoir Dogs" (1992) que Tarantino tem mostrado a sua mestria na reciclagem estimulante de referências estilísticas de um cinema de culto de décadas passadas. Sam Peckinpah, Samuel Fuller ou Godard são apenas algumas das influências mais notórias. Mas o sucesso de Tarantino não seria o mesmo se não fosse um brilhante escritor de argumentos e, sobretudo, de diálogos. Diálogos sempre febris, improváveis e de grande acutilância, escritos à justa medida dos actores que escrupulosamente escolhe para os papéis. A utilização criativa da música nos seus filmes é outra espinha dorsal da linguagem do seu cinema, capaz de empolgar e de surpreender na forma como encaixa em determinadas cenas e sequências. 
E isto para dizer que chegamos a "Django Libertado", estreado há dias em Portugal. Um filme que vinha cunhado com altíssimas expectativas (mais do que o seu anterior "Inglorious Basterds"), prometendo revolucionar os códigos estilísticos do género maior da cinefilia norte-americana: o Western.
Ora, a verdade é que "Django Libertado" tem dividido opiniões de forma peremptória. Há os que o elevam à genialidade pós-moderna do cinema contemporâneo e há os que se sentem totalmente defraudados com esta incursão de Tarantino no western. Para ser claro e directo, eu sinto-me exactamente no meio destes sentimentos extremados: por um lado, não reconheço o génio neste filme como reconheci em filmes anteriores; por outro lado, creio que ainda assim consegue incutir frescura estética a um género difícil de inovar mas sem arrojo e entusiasmo desmesurados.
Isto é: "Django Libertado" é um western reciclado cuja violência sanguinolenta nem deve ser levada a sério (quase parece efeito de comédia "splastick"), sobrevive pelas espantosas interpretações - curioso! - dos actores secundários (Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson e Don Johnson, remetendo o actor principal, Jamie Foxx, para segundo plano) e pelo sempre original debitar de diálogos inteligentes e mordazes. O humor é bem empregue em certas situações (brilhante a sequência dos capuzes do KKK, que quase poderia ter sido escrita pelos Monty Python), menos bem noutras  Assim como a música, que resulta apropriadamente numas cenas, e resulta pateticamente noutras (ouvir uma música hip-hop do Tupac na sequência do massacre final deixou-me irritado! Mas deve ser um problema meu que não sou fã de música negra e menos ainda da "Blaxploitation").
Desta vez, parece-me que Tarantino se deixou deslumbrar pela utilização e reciclagem de referências do imaginário cinematográfico do Western Spaghetti que tão bem conhece. De tanto querer citar e recitar essas referências, o filme escorrega e parece não ter um rumo original. Dá a sensação que Tarantino entrou num irreversível processo autofágico de autocitação. Um beco sem saída?
Jamie Foxx é um herói negro? E depois, não houve já outros no cinema? Há polémica por causa do racismo patente do filme? Simples marketing para vender mais caro os bonecos do filme. Há demasiada violência e sangue? Não, é violência quase paródica, é excesso de sangue usado de forma quase caricatural. 
E se a primeira parte de "Django Libertado" me pareceu brilhante (sobretudo até à morte do papel de Christoph Waltz), já a sequência final de vingança de Django me pareceu ridícula, como ridículo e risível (no mau sentido) foi o happy end. Mais outra prova do ridículo foi o "cameo" do próprio Tarantino - alguém que lhe diga que não tem talento para actor e que evite esta triste exposição em filmes.
Posto isto, fala-se já que Tarantino se encontra a preparar um novo filme? Qual será o género que irá desta vez estilhaçar e reciclar? O Musical? O Noir? O Thriller? A Comédia Romântica? O Expressionismo Alemão? Aguardemos...
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Entretanto, encerro este texto de opinião com uma das imagens que mais me impressionaram no filme: os olhos e a expressão de Stephen (Samuel L. Jackson):

domingo, 27 de janeiro de 2013

Tarantino vs. Jodorowsky

Agora que estreia "Django Libertado" de Quentin Tarantino, lembrei-me de um western completamente atípico e original (muito mais atípico do que o filme do Tarantino) que é este inclassificável "El Topo" do realizador chileno Alejandro Jodorowsky. Um filme de uma liberdade estética espantosa que mistura doses iguais de surrealismo, misticismo, filosofia, simbolismo, bizarria e violência. 
Claro que Tarantino não tem nada (ou muito pouco) a ver com o universo e imaginário tão pessoais de Jodorowsky, mas julgo que um certo endeusamento pós-moderno de "Django Libertado" é exagerado. Mais a mais, quando o comparamos com a audácia formal de um filme como "El Topo", concebido há mais de 40 anos.  
 de 

sábado, 26 de janeiro de 2013

Buñuel com livro

Uma boa oportunidade na Fnac: um pack de DVD com 4 filmes do Luis Buñuel + um livro "501 Must-See Movies" (500 páginas sobre 500 filmes a ver). O preço é convidativo: 19,99€.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Nova Iorque no cinema

Nova Iorque é, porventura, a cidade do mundo mais filmada para cinema e séries de televisão de toda a história. Nunca tive a felicidade de a conhecer in loco enquanto turista (é um dos meus desígnios da vida terrestre), mas construí todo um imaginário visual com tantos e tantos filmes que já vi passados na "Big Apple". 
Ao longo das últimas 3 ou 4 décadas, Nova Iorque tornou-se absolutamente icónica para os cinéfilos de todo o mundo através de centenas de filmes e séries de televisão. Nova Iorque há-de ter um encanto e uma magia muito especiais para atrair tantos realizadores e produtores. Por exemplo, o cineasta Abel Ferrara refere que "New York is the best place to shoot. I know the neighborhoods. The light is really nice here, for some reason". 
Eis um belo vídeo com algumas das mais célebres imagens e citações de Nova Iorque no cinema: 
Há pelo menos meia-dúzia de grandes realizadores (quase todos vivem na própria metrópole) que engrandeceram a cidade e o cinema através da realização de filmes nas ruas e locais nova-iorquinos.

Quanto a mim, os 6 cineastas que mais e melhor filmaram Nova Iorque são:

6º - Sydney Pollack
5º - Spike Lee
4º - Abel Ferrara
3º - Jim Jarmusch
2 º - Martin Scorsese
1º - Woody Allen


“I’ve done about 32 pictures in New York, and I can still find good locations to shoot”
Woody Allen

Discos que mudam uma vida #176

Queens Of The Stone Age: "Songs For The Deaf" (2002)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Kubrick e o xadrez

Stanley Kubrick era um fanático jogador de xadrez. Aprendeu a jogar quando era ainda um jovem e nunca deixou de jogar em toda a sua vida. Dizia que o xadrez o ajudava a ter paciência e disciplina e o próprio processo criativo de Kubrick era uma espécie de jogo de xadrez, no qual as diferentes componentes desempenhavam funções distintas. Tudo em função da procura da perfeição artística (a própria mente criativa de Kubrick seria uma complexa e intrincada projecção do xadrez). 
O xadrez aparece em vários dos seus filmes e há um episódio curioso ocorrido quando o realizador filmava "The Shining" (1980): no início de um dia do já atrasado processo de filmagem do filme, o actor Tony Burton levou para o set um tabuleiro de xadrez para jogar com outro actor nos tempos livres (que eram muitos devido ao lento processo de filmagem de Kubrick). 
Kubrick reparou no tabuleiro e teve uma atitude drástica própria de um autêntico viciado no jogo - cancelou as filmagens desse dia para poder jogar com Burton. 
Escusado será dizer que o cineasta ganhou todos os jogos... 

Não duvido

"I steal from every movie ever made" 
 Quentin Tarantino

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A cultura dos cromossomas

"Afinal, quantas pessoas se interessam pela cultura?, Quantas se põem o problema da vida? Do homem? Se põem a interrogação sobre o que nos rodeia? É um erro tocante o imaginar-se que as pessoas cultivadas se interessam pela cultura. A cultura não vem nos livros, nem nos cursos, nem nas salas de conferências, espectáculos, exposições com uísque ou a seco. 
A cultura é um problema que tem que ver com os nossos cromossomas e tem a dimensão secreta, oculta, privada, íntima, de uma vivência sagrada." 
Vergílio Ferreira
In "Contra-Corrente, nº3"

domingo, 20 de janeiro de 2013

A córnea de Malcolm












Comprei a revista de cinema Empire por causa da reportagem alargada sobre a obra de Stanley Kubrick. Nesta reportagem consta uma interessante entrevista a Malcolm McDowell, o célebre Alex de "Laranja Mecânica", a propósito dos 40 anos do filme.

Uma das imagens icónicas deste filme de Kubrick é a de Alex, de olhos forçosamente abertos, a ser reabilitado com o visionamento forçado de imagens de violência e sexo.
Eis o que Malcolm responde à pergunta "Quão dolorosa foi a cena dos olhos abertos?":
- "Antes de mais, aquele aparelho nos meus olhos é usado em operações delicadas aos olhos onde estás deitado de costas, não numa cadeira e não num colete de forças. Colocavam anestésicos nos meus olhos, o que ardia bastante. Quando fazia efeito, o aparelho era colocado, mas estava sempre a saltar. Quando caía, arranhava a córnea, algo que não me apercebia até ir conduzir para casa e o efeito da anestesia desaparecer. A dor da córnea arranhada é horrível."

sábado, 19 de janeiro de 2013

Quando Fred Astaire dançava no tecto





Por mais que filmes como "Moulin Rouge", "Chicago" ou o recente "Os Miseráveis" tentem impor-se, a verdade é que o género musical é um género cinematográfico morto e quase sem expressão nas últimas décadas. Mas houve tempos que não foi assim.
Nos anos 40, 50 e 60, o musical era considerado um género respeitável e muito popular. Génios como Fred Astaire, Gene Kelly ou Ginger Rogers e realizadores como Stanley Donen e Vincente Minnelli consolidaram o musical como género de identidade artística própria.
Isto para dizer que um dos filmes que marcou a minha infância foi, precisamente, um musical. Mais propriamente, "Royal Wedding" (1951), de Stanley Donen. Vi-o num sábado à tarde na televisão espanhola e fiquei deslumbrado. Fred Astaire é magnético como dançarino, dono de uma notável capacidade expressiva e corporal.
Neste filme há duas coreografias que marcaram a história do musical: uma é a brilhante dança de Astaire num ginásio (provando que Astaire podia dançar com qualquer objecto à sua volta), que pode ser apreciado neste vídeo; e o momento mais emblemático do filme - e talvez de toda a carreira de Fred Astaire: a sequência na qual Astaire dança no tecto e nas paredes da sala. 
Lembro-me de ficar deveras boquiaberto com esta sequência (conhecida como "Ceiling Dance") - como era possível que Astaire dançasse com tanta graciosidade contrariando de forma tão natural a lei da gravidade? Bom, à data da estreia de "Royal Weeding", 1951, calculo a estupefacção do público perante este prodígio visual. O espantoso é que, depois de décadas de evolução técnica e digital ao nível dos efeitos especiais, esta sequência continua a surpreender e a encantar.
E como foi concebida e filmada? De forma aparentemente simples mas muito eficaz: o cenário e adereços estavam completamente fixos, assim como a câmara. Esse cenário estava ligado a um motor potente que rodava o próprio cilindro conforme os movimentos do bailarino. Sempre que Fred Astaire passava de uma parede para o tecto (ou vice-versa), o cenário rodava em conformidade (tudo filmado em tempo real da acção, sem truques de montagem). O olhar do espectador é, pois, enganado com esta simples estrutura mecânica, criando a ilusão pretendida.
Talvez seja mais interessante visionar as sequências paralelas - a do filme e a da explicação do mecanismo:

PS - O filme integral encontra-se disponível no Youtube.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A frustração

Vi o filme"O Laço Branco" (2009) de Michael Haneke quatro meses antes de estrear nas salas portuguesas. Já o seu último filme, "Amour", estreou em Dezembro de 2012 em Portugal e, mesmo com o acesso à internet, ainda não consegui vê-lo. 
Pronto, é só um post inútil para revelar a minha frustração...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Mais uma boa edição da Criterion

Mais uma boa notícia vinda da Criterion Collection: edição Blu-Ray do clássico (primeira versão de 1934) "O Homem Que Sabia Demasiado" de Alfred Hitchcock (a Criterion lançou em simultâneo uma edição em DVD). Um clássico de Hitchcock em alta definição de imagem e de som num filme cujo título dá o nome a este humilde blogue.
Mais informação sobre esta edição aqui.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Notas de Bresson #26

"Sê o primeiro a ver o que vês como tu o vês".

Atrás das Cenas #9

"Marie Antoinette" (2006) - Sofia Coppola

A máquina eterna de Allen

Isto é verdadeiramente genial: Woody Allen revela a única - sim, a única! - máquina de escrever que utilizou em toda a sua vida (nunca usou um computador). Nesta máquina de modelo alemão Olympia SM-3, que Allen comprou aos 16 anos, Allen escreveu rigorosamente todos os guiões, argumentos de filmes, livros e sketchs da sua vida e carreira. 
Passados tantos anos, o realizador refere que a máquina de escrever continua a trabalhar como um "tanque" e que utiliza um sistema "primitivo" de corte-e-cola (como exemplifica no vídeo). 
Velhos hábitos que não evoluíram com a tecnologia nem afectaram a criatividade.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Haneke vs. Schwarzenegger

Interessante (e irónica, diria) a forma como ontem o realizador austríaco Michael Haneke recebeu o Globo de Ouro pelo seu filme "Amour" entregue por Arnold Schwarzenegger: "Nunca pensei que poderia receber um prémio em Hollywood das mãos de um austríaco".
Vídeo.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Dois clássicos

Por vezes há boas surpresas numa grande superfície comercial como esta: na loja Worten (a publicidade é gratuita) deparei-me com dois grandes filmes clássicos em DVD a preços muito convidativos - 3,90€. São eles "Um Roubo no Hipódromo" ("The Killing", 1956) de Stanley Kubrick e "Eva" ("All About Eve", 1950) de Joseph L. Mankiewicz.
Fui comparar com os preços praticados na Fnac: o filme de Kubrick custa 11,90€ e o de Mankiewicz custa 9,99€. Este não é caso único. Noutras grandes superfícies (como o Jumbo), costuma haver muitos bons filmes a preços de saldo, ao contrário da política elevada de preços da Fnac.
É aproveitar, portanto.



"Samsara" - A desilusão



Finalmente vi "Samsara".
As expectativas eram elevadas, depois da alta fasquia artística conseguida com "Baraka" (1992). Ron Fricke, o realizador, aprendeu tudo quando trabalhou - como director de fotografia - com Godfrey Reggio na fantástica trilogia Qatsi (já por diversas vezes comentada neste blogue). 
As expectativas eram altas porque "Samsara" demorou 5 anos a ser concluído e foi filmado em 25 países diferentes. Mas, quanto a mim, as expectativas não foram alcançadas. Depois de ver o filme uma frustrada sensação invadiu o meu espírito. Visualmente e esteticamente, "Samsara" é de uma notável beleza plástica, mas pouco mais há de novo. Ron Fricke limitou-se a filmar sequências da natureza e das mais variadas culturas do planeta (do Oriente ao Ocidente) sem coerência. "Koyaanisqatsi" ou "Baraka" tinham um fio condutor, uma montagem rigorosa e exigente. "Samsara" parece andar à deriva, salta abruptamente de imagem para imagem sem aparente nexo. Daí que o ritmo se ressinta, visto que a própria música não ajuda. 
Apesar de gostar muito do trabalho de Lisa Gerrard (Dead Can Dance) e de Michael Stearns, a verdade e que a música de "Samsara" quase nunca consegue estabelecer uma relação efectiva com as imagens (ou vice-versa). Ao contrário do irrepreensível trabalho de Philip Glass na trilogia Qatsi, aqui a música não impõe uma coerência ao discurso visual, parecendo mera decoração de fundo. A título de exemplo, a toada ambiental predomina em 80% do documentário e só ao fim dos primeiros 40 minutos de filme houve uma sequência musical com ritmo (para contrastar com os 39 minutos anteriores). 
Não há dinâmica, não há um climax e um anti-climax, não há surpresa nem originalidade em tudo o que "Samsara" apresenta (toda a estética é devedora da herança Qatsi). Minto: houve uma sequência verdadeiramente nova e inquietante que me deixou surpreendido - o momento de uma performance impressionante do francês Olivier de Sagazan chamada "Transfiguration" (que pode ser vista aqui). Tirando essa sequência de grande impacto, nada mais me entusiasmou. 
E é pena, porque Ron Fricke poderia ter feito uma trilogia de elevada qualidade artística à semelhança da trilogia Qatsi - "Chronos" (1985) + "Baraka" (1992) + "Samsara" (2012), mas não o conseguiu.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Saul Bass e "The Shining"

É sabido quão exigente era trabalhar com Stanley Kubrick: actores, produtores, compositores, técnicos... todos receavam o perfeccionismo fanático de Kubrick.
Ora, o temperamento artístico do cineasta não mudava relativamente aos designers gráficos. Um dos maiores criadores visuais da segunda metade do século XX, Saul Bass, responsável por um trabalho gráfico e estético inovador no cinema e na publicidade, sentiu na pele a exigência de Kubrick. O realizador contratou-o para fazer o poster do filme "The Shining" (1980). 
Perante a constante insatisfação de Kubrick face aos trabalhos apresentados por Saul Bass, este teve de fazer cerca de 300 esboços até chegar ao resultado final. Para chegar a este resultado que agradou, finalmente, a Kubrick, Saul Bass trabalhou muitas ideias gráficas como atestam alguns exemplos seguintes (com apontamentos do próprio Bass):



quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Os Tops 10 da Criterion

A Criterion Collection é reconhecida como uma das mais prestigiadas editoras de filmes em todo o mundo. Com um catálogo de filmes (DVD e Blu-Ray) de superlativa qualidade artística e técnica, a Criterion move-se por uma profunda paixão pela arte do cinema (sobretudo o cinema clássico e contemporâneo de autor).
No seu site oficial existe uma interessante secção intitulada "TOP 10s". Mais não é do que as listas dos 10 filmes favoritos de realizadores, produtores, actores e outros artistas ligados ao mundo do cinema. Há escolhas bem curiosas e improváveis, como a lista de Wes Anderson
Assim, se quiser ficar a saber quais os 10 filmes preferidos de gente como Steve Buscemi, Jane Campion, Guillermo del Toro, Guy Maddin, James Franco, William Friedkin, Aki Kaurismaki, Paul Shrader ou o português João Pedro Rodrigues, é favor clicar aqui.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Playtime #82

Pista: filme neo-realista italiano.
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A solução: "Umberto D" (1952) - Vittorio De Sica
Quem descobriu: José

Tati anti-crise

Pelo menos funciona comigo: o melhor antídoto para a avalanche de notícias negativas que assolam Portugal é ver um filme do Jacques Tati. Qualquer filme do Jacques Tati. A inteligência superior do humor visual de Tati faz-me esquecer as desgraças e notícias depressivas que acontecem lá fora e é como se fruísse todo um universo mágico de sensações sempre renovadas. 
Alienado de tudo, funciona como um perfeito anti-depressivo.
Não é este também o poder que emana a arte do cinema? 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Jovens alegres no Lee Strasberg





A revista Sábado publicou uma reportagem sobre quatro jovens (na imagem) portugueses que se encontram a estudar no principal conservatório de artes dos EUA, isto é, no Lee Strasberg Theatre and Film Institute, em Nova Iorque.
Famoso desde há décadas por ser uma instituição que formou alunos como James Dean, Robert De Niro ou Marlon Brando, o Lee Strasberg Intitute é reconhecido mundialmente como uma das escolas mais exigentes e elitistas no mundo do teatro e do cinema. Ora, não é todos os dias que jovens estudantes portugueses frequentam esta escola.
A Daniela Ruah (actualmente numa série de sucesso na Foz americana) ou o Ivo Canelas foram dois actores portugueses que aprenderam a arte de interpretar segundo o famoso método de Lee Strasberg. No total, estudam 250 alunos naquela instituição, a maior parte estrangeiros (que pagam 25 mil euros de propinas!). 
Os quatro jovens que actualmente estudam nesta instituição, refere a Sábado, têm entre 19 e 23 anos. Os quatro têm muito empenho, vontade de trabalhar e muitos sonhos que querem ver concretizados. Nada de errado, até aqui. 
O que achei estranho foram certas afirmações sobre estes estudantes: "Eles querem ser actores famosos, adoram ver filmes mas não percebem muito da história da profissão. Cinema mais antigo e europeu é para esquecer e sobre os trabalhos que se fazem em Portugal sabem zero. Os seus actores de referência são Russel Crowe, Johnny Depp, ou Meryl Streep. Não descartam a possibilidade de fazer novelas em Portugal, porque isso seria uma oportunidade para melhorar o currículo". 
Perante declarações destas, custa-me constatar que jovens aspirantes a actores manifestem ignorância e desprezo relativamente à história clássica do cinema e às suas referências. Mais: a fazer fé nestas declarações, parece que os jovens procuram apenas fama fácil no mundo do estrelato e vedetismo de Hollywood, como que imbuídos da "cultura" de séries juvenis como a inócua e superficial "Morangos Com Açúcar". O talento e a criatividade não se coadunam com esta demanda da fama.
É como se estudantes de música portugueses que frequentassem a Berklee College of Music (Boston), a mais prestigiada escola de música dos EUA, viessem dizer que "queremos ser músicos famosos, adoramos ouvir música mas não percebemos muito da sua história. Música mais antiga e antiquada é para esquecer e sobre a música que se faz em Portugal sabemos zero. Os nossos músicos de referência são David Guetta, Pablo Alborán e Bruno Mars."

domingo, 6 de janeiro de 2013

A metáfora da vida segundo WA

"Um homem conta ao seu médico que o irmão julga que é uma galinha. O médico questiona-o quanto ao motivo pelo qual não o interna num hospital psiquiátrico. O homem responde: 'Não posso. Preciso dos ovos".



















Cena final de "Annie Hall" (1977)

sábado, 5 de janeiro de 2013

A Janela Indiscreta num só plano


"A Janela Indiscreta" em modo timelapse.
Foi assim que o jovem realizador Jeff Desom repensou e reconstruiu o clássico de Alfred Hitchcock. Uma experiência premiada e que dificilmente seria possível sem o recurso às ferramentas tecnológicas digitais da actualidade.
Basicamente, o que Jeff fez foi pegar nas múltiplas imagens (do mesmo ângulo) do filme e recriá-las numa única panorâmica. Com este trabalho, conseguimos visualizar num só plano todas as acções que eram vistas separadamente a partir da janela de James Stewart. 
Brilhante e minucioso exercício visual.
Quem quiser ver num tamanho maior, carregar aqui.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Para entrar na Zona



A Zona.
Haverá lugar mais misterioso e intrigante do que este na história do cinema? Um lugar místico, metafísico, potencialmente indutor de concretização dos sonhos humanos mais recônditos? A Zona é um sítio sagrado, quase sobrenatural, dentro do qual existe um Quarto muito especial onde a simples presença humana pode desencadear reacções fatalmente perigosas. 
A Zona existe no filme “Stalker” (1979) de Andrei Tarkovski, um filme cujos personagens (3 homens à deriva) procuram aconchego espiritual no seio de uma sociedade devastada e niilista. Uma viagem meditativa e filosófica ao interior da condição humana, dessa coisa tão budista que é o “desejo” e dessa outra coisa tão cristã que é a (necessidade da) “fé”. “Stalker” é também, para os mais pessimistas e visionários, uma espécie de profecia que antecipou - sete anos depois - o terrível desastre nuclear de Chernobyl. 
Ora, sobre estes considerandos (e muitos outros) relativos à Zona escreveu Geoff Dyer, eminente escritor e ensaísta britânico. O título do livro é todo um programa de intenções: “Zona: A Book About a Film About a Journey to a Room”. Foi editado no final de 2012 no mercado internacional e encontra-se à venda na Amazon (e noutras livrarias virtuais). Não creio que seja objecto, algum dia, de tradução para português. Tirando o crítico Perdro Mexia (que há umas semanas escreveu uma página no Expresso sobre a Zona), quem mais se interessa pelo tema? 
No entanto é, indubitavelmente, um livro imperdível para os amantes do universo metafísico do realizador russo e para os fanáticos da Ficção Científica de índole mais filosófica (“Stalker” é baseado numa adaptação livre de um obra de FC dos irmãos Strugatsky). 
Para ler mais informação, algumas páginas, índice e recenções críticas aqui.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Uma pérola de Hitchcock




Eis o meu primeiro grande momento cinematográfico de 2013: um filme mudo com quase 90 anos que representou o início de uma retumbante carreira de um então jovem (26 anos) realizador chamado Alfred Hitchcock: "The Lodger - A Story of the London Fog" (1927).
Numa deambulação pela FNAC deparei-me com este DVD de importação (capa em baixo) com banda sonora original do músico Nitin Sawhney.
Eu tinha conhecimento deste trabalho e até já o tinha referenciado no blogue (como os leitores mais atentos se lembrarão). Para além do DVD contendo o filme digitalmente restaurado (pelo British Film Institute), a edição é acompanhada ainda de um pequeno livro (15 páginas) com informação sobre o filme e dois CDs contendo as músicas de Nitin Sawhney.
Vi o filme ontem e fiquei absolutamente deliciado. "The Lodger" é, na cronologia da filmografia de Hitchcock, o seu terceiro filme, mas é historicamente considerado o seu primeiro filme deveras importante. É a obra na qual Hitchcock lança as sementes temáticas da sua carreira (a partir do serial killer londrino "Jack, O Estripador"): crime, suspense, falso culpado, assassínio, mulher fatal e loura, conflito psicológico e moral, mistério, sexo e morte...
E no final do período mudo, Hitch soube trabalhar na perfeição o legado visual e estético de filmes expressionistas de Fritz Lang ou Murnau, recorrendo a uma realização estilizada, uma fotografia feita de sombras insinuantes e um ritmo crescente de tensão. Ivor Novello é o misterioso "inquilino" deste filme, à época o actor (e cantor) mais popular da Inglaterra. E Ivor Novello consegue uma interpretação perturbadora, com um olhar frio e uma atitude dúbia, revela ser uma personagem na linha entre a culpa e a inocência. Uma personagem acusada de um crime monstruoso mas que, afinal, poderá ser apenas um homem solitário à procura do amor...
Sem ser uma obra-prima, "The Lodger" é um crucial e superlativo filme de Hitchcock, com uma sólida estrutura dramática e visual e um ritmo narrativo escorreito (este é também o filme no qual Hitchcock fez o seu primeiro "cameo").
A música original criada por Nitin Sawhney, músico britânico de ascendência índia com larga experiência musical, inclusive  no campo da composição para cinema, está à altura da qualidade do filme: Nitin compôs a banda sonora com uma clara alusão à música de Bernard Herrmann, compositor icónico que trabalhou com Hitchcock em vários filmes. A música de Nitin estabelece uma relação específica com as imagens e o desenrolar da acção, pontuando os momentos dramáticos e os momentos românticos com igual brilhantismo.
Novidade na música para cinema mudo é o facto de Nitin Sawhney ter utilizado dois momentos musicais cantados para acompanhar a paixão entre o casal protagonista. Ao contrário do que eu temia, o resultado é bastante positivo e encaixa na perfeição na estrutura estilística do resto da música. O bom gosto musical impera durante todo o trabalho criativo de Nitin.
A música de Nitin Sawhney foi interpretada e gravada pela prestigiada London Symphony Orchestra, e resultou numa música de teor orquestral, com recurso à percussão e às cordas e misturando a linguagem clássica com o jazz e a pop (num dos extras do DVD, o compositor explica o método de criação da banda sonora original).
Foi uma experiência deveras entusiasmante ver (e ouvir) este "The Lodger", num trabalho notável de Hitchcock que ajudou a definir as regras do thriller futuro e numa abordagem musical digna e competente de Nitin Sawhney.
Altamente recomendável, portanto.