quarta-feira, 19 de junho de 2013

Perder a razão e a emoção











Em Portugal teve o título redutor "Os Nossos Filhos" e é um filme que passou completamente despercebido da crítica e do público há umas semanas atrás (quando estreou em sala). Realizador pelo jovem realizador belga Joachim Lafosse, "Os Nossos Filhos" ganhou o Prémio de Melhor Actriz (Émile Dequenne, na imagem) na secção “Un Certain Regard” do festival de Cinema de Cannes 2012. A história é baseada num acontecimento verídico ocorrido em 2007 na Bélgica, no qual uma mãe matou os cinco filhos pequenos. 
O filme de Lafosse conta a história do casal Muriel e Mounir, dois jovens verdadeiramente apaixonados. Infelizmente os problemas começam a surgir rapidamente após o casamento. No centro do problema está o Dr. Pinget, o homem que cuidou de Mounir desde pequeno e que passa a exercer uma forte influência sobre os dois: o casal não só vive na sua casa como também depende financeiramente dele. Aos poucos, ela começa a sentir-se aprisionada e devastada neste clima emocional doentio e uma sombra trágica começa a pairar sobre esta família... 
É aqui que o filme resvala para um ambiente que parece extraído da estética de Michael Haneke: a mãe das crianças entra, paulatinamente, numa espiral de desintegração da personalidade. E perante o sufoco da sua vida, só vê uma forma de "proteger" os filhos: matando-os. A frieza emocional com que o realizador encena esta solução extrema faz parecer uma brincadeira a cena da morte dos 6 filhos de Magda Goebbels no filme "Downfall" (2004).
Lafosse não mostra praticamente nada, nem violência, nem sangue, nem gritos, nem a loucura que passa pela cabeça daquela mãe. A sugestão é a melhor arma para amedrontar o espectador. Apenas filma num plano fixo as crianças a irem ao chamamento da mãe que as espera com uma faca no quarto. Sim, é perturbador, pela "não acção" aparente, mas é a constatação de um cineasta que vai, certamente, crescer muito depois desta experiência radical. Porque este filme é sobre a dilaceração do amor, estilhaçado em mil pedaços perante o peso da responsabilidade, da rotina e da ausência de afecto.
Voltando ao início: é pena que o filme tenha passado ao lado de tanta gente. Ah, e o título original é bem mais adequado: "À Perdre La Raison". Ou seja, perder a racionalidade...
Trailer:

1 comentário:

C. disse...

Belíssima interpretação da Émile Dequenne.