Apesar das críticas genericamente muito positivas, não achei "Boyhood" aquela obra-prima que muitos asseveram (para a revista "Sight & Sound" é o melhor filme do ano). É verdade que o realizador Richard Linklater ousou algo inédito na história do cinema (filmar o tempo real de 12 anos de crescimento dos actores - ver imagem em cima), mas só resultaria num grande filme se este dispositivo fosse complementado com um extraordinário argumento. E é neste ponto que julgo "Boyhood" menos conseguido.
O filme pretende revelar a vida comum "tal como ela é" de um miúdo que tem pais divorciados. É quase um filme neo-realista que procura evidenciar como a passagem do tempo molda a vida de uma família igual a tantas outras. Linklater parece preocupar-se demasiado com esse tom intimista acerca das relações familiares, percebe-se como o desenvolvimento físico real do rapaz (Ellar Coltrane) interfere nessas mesmas relações, mas em quase 3 horas de filme estive sempre à espera que algo mais acontecesse. E esse algo mais seria, a meu ver, uma maior densidade dramática e um maior aproveitamento e impacto emocional desse fluir do tempo.
Claro que Patrica Arquette e Ethan Hawke são sólidos pilares do filme (curiosamente, quase não se percebe a passagem do tempo nos dois actores), mas a história decepcionou-me por ser ancorada em demasiadas vivências familiares sem expressão. Sim, eu sei que a vida é feita disto mesmo: da maior banalidade e rotineira existência. Mas estamos a falar de uma vida representada numa linguagem artística chamada cinema.
Imagino o que um Clint Eastwood ou um Martin Scorsese não teriam feito se tivessem pegado numa ideia semelhante...