quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A raiz de todo o mal


"Não admira, pois, que o mundo vá de mal a pior e que os males aumentem cada vez mais, à medida que aumenta o tédio, e o tédio é a raiz de todo o mal. A história deste pode acompanhar-se desde os primórdios do mundo. Os deuses estavam entediados, pelo que criaram o homem. Adão estava entediado por estar sozinho, e por isso foi criada Eva. Assim o tédio entrou no mundo e aumentou na proporção do aumento da população. Adão aborrecia-se sozinho, depois Adão e Eva aborreceram-se juntos, depois Adão e Eva e Caim e Abel aborreceram-se en famille; depois a população do mundo aumentou e os povos aborreceram-se en masse. Para se divertirem congeminaram a ideia de construir uma torre tão alta que chegasse ao céu. Esta ideia, por sua vez, é tão aborrecida como a torre era alta, e constitui uma prova terrível de como o tédio se tornou dominante. "
Soren Kierkegaard - Filósofo

3 comentários:

Anónimo disse...

acho piada á tua veia intelectual...enfim!

Daniel disse...

Uma das coisas mais verdadeiras que li nos últimos tempos. Não é a morte, é o tédio quem mata mais. Pessoa não morreu do álcool, ou do tabaco; morreu do tédio enorme que tantas vezes lhe trespassava a alma. E assim morrem todos os dias os poetas que, no dizer de Agostinho da Silva, se querem fazer de uma vez poemas mas acabam a montar peças na engrenagem social. O que há a fazer é, primeiro, ser insubmisso, e não tolerar lei nenhuma que nos venha imposta de fora, e depois ser imparável a percorrer a distância que vai do ser poeta ao ser poema num salto quântico. Felicidades!

Unknown disse...

Caro Daniel: resta-me dizer que, não só concordo com o que disseste, como acho até que o teu comentário está ao nível da citação do Kierkegaard.
Saudações,
VA