quarta-feira, 30 de junho de 2010

Philip Glass e a música para cinema


Philip Glass já era um compositor reconhecido no final dos anos 70. Nessa altura era o porta-estandarte da estética minimal repetitiva, com Steve Reich e Terry Riley. Foi nessa altura que foi convidado para fazer a primeira banda sonora original para cinema.
Apesar de alguma relutância, aceitou o desafio de musicar a fantástica viagem através de incríveis imagens que é o documentário (faz parte de uma trilogia) "Koyaanisqatsi" (1982) de Godfrey Reggio. A partir desta bem sucedida experiência, Glass nunca mais parou de fazer música para cinema.
No site oficial do compositor, estão recenseados 36 filmes para os quais compôs a música original. Apesar de não conhecer todos esses filmes (há uns 10 que ainda não vi), arrisco a elaborar as dez bandas sonoras de que gosto mais (não necessariamente as melhores):

1 - "Koyaanisqatsi" - Real. Godfrey Reggio
2 - "Kundun" - Real. Martin Scorsese
3 - "Powaqqatsi" - Real. Godfrey Reggio
4 - "Dracula" - Real. Tod Browning
5 - "The Fog of War" - Real. Errol Morris
6 - "The Hours" - Real. Stephen Daldry
7 - "The Secret Window" - Real. David Koepp
8 - "The Illusionist" - Real. Neail Burger
9 - "Naqoyqatsi" - Real. Godfrey Reggio
10 - "North Star" - Real. François de Menil
Post sobre Philip Glass.

A psicopatologia no cinema


"Imágenes de la Locura - La Psicopatologia en el Cine" de Beatriz Vera Poseck é um magnífico livro que relaciona dois temas, para mim, fascinantes: o cinema e a loucura (e as múltiplas variações deste conceito). A autora é psicóloga e cinéfila, e nesta obra analisa largas dezenas de filmes - de todas as épocas históricas do cinema - cujas histórias se centram em personagens e situações derivadas de doenças psicopatológicas (esquizofrenia, paranóia, demência, etc). Um verdadeiro e estimulante tratado.
Mais informação aqui.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Perguntas indiscretas - 33

Partilho da opinião de Woody Allen quando refere que um filme deve ser visto desde o início do genérico inicial.
Contrariando esta ideia, quando era mais novo tinha por hábito ver filmes muito depois de começarem. Às vezes apanhava um filme a meio num canal e via-o até ao fim. Era mais por vício, o que me obrigou, mais tarde, a procurar o filme noutro formato para o visionar na íntegra. Hoje já não consigo fazer isto (a não ser que sejam séries).
No entanto, consigo acompanhar um filme na TV depois de já ter começado caso se trate de um filme que já tenha visto e que tenha qualidade artística.
E convosco, como é?

Prisioneiros "artísticos"


Para além da literatura, o que têm em comum Dostoiévski, William Burroughs, Jean Genet, Oscar Wilde, Cervantes, Paul Verlaine, Ken Kesey, Alexander Soljenítsin, Thomas More e Marquês de Sade? Todos estiveram presos em determinada circunstância das suas vidas por distintos motivos (desde atentados ao pudor a questões políticas e pequenos delitos).
A par de escritores, podia-se juntar uma lista de actores, músicos e desportistas, mais ou menos consagrados e famosos, que já experimentaram ver o sol atrás das grades. A genialidade criativa também tem o seu lado obscuro e demente, prova de que todo o homem se resume a um comum mortal com fraquezas e debilidades. Como dizia o filósofo Kierkegaard, "a vida é um território sem fim de possibilidades e a cada momento somos forçados a escolher qual o caminho a percorrer". Definitivamente, o mundo é igual para todos e os ímpetos mais negativos e destrutivos da natureza humana não escolhem profissões, estatuto social ou condição artística.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O percurso de um actor


Jackie Coogan, a criança que aos 5 anos emocionou o mundo e revelou ser um verdadeiro prodígio de interpretação ao lado do mestre Charlie Chaplin no filme "The Kid" (1921), com o seu olhar ternurento e amoroso, acabou a carreira a interpretar o sinistro Uncle Fester na série televisiva "Família Addams" na década de 60.

domingo, 27 de junho de 2010

Duas preciosidades de filmes


Se por um lado, como referi no post abaixo sobre a Fnac, os preços dos DVDs continuam caros e as raridades não abundam, por outro lado, surpresas acontecem nos locais menos esperados. Foi o que me aconteceu há dias numa grande superfície comercial: no Pingo Doce (publicidade gratuita) fui dar com um prateleira com interessantes filmes independentes a preços de saldo (2,99€ a unidade). Comprei 7 DVDs por menos de 20€.
A surpresa maior é que, no meio de títulos mais ou menos conhecidos e comerciais, descortinei dois clássicos de... Yasujiro Ozu - "O Gosto do Saké" (1962) e "O Fim do Outono" (1960). Convenhamos que nunca me passaria pela cabeça encontrar estes dois filmes de culto de Ozu numa grande superfície comercial por menos de 3€ cada um.
É provável que também estejam à venda na Fnac... pelo quíntuplo ou sêxtuplo do preço que eu paguei.

Comprar filmes na Fnac


Não sei se o problema está em mim ou se é culpa, enfim, do mercado. Mas a verdade é que as minhas últimas incursões pela Fnac - sobretudo para comprar filmes - se saldaram por uma experiência frustrante.
Se há uns anos sentia um frenesim ao passar pelas secções de DVDs de autor (sempre com vontade de comprar muita coisa), agora essa excitação desvanece-se cada vez mais. Encontro quase sempre as mesmas edições, sempre caras (filmes que já estrearam há muitos anos continuam a custar 19€!), e poucas novidades verdadeiramente imperdíveis. Os packs de filmes interessantes são vendidos a um preço caríssimo - qualquer pack com 3 ou 4 DVDs ascendem a 40 ou 50€. Já para não falar no mercado de blu-ray - a colecção da trilogia "O Padrinho" custa 75€ e a série "Star Wars", 99€. A secção de DVDs a preço reduzido (em média 9€) não surpreende nem entusiasma. Repetem-se os títulos mais comerciais. Quem os compra quando estão disponíveis na net à distância de um clique?
A propósito deste assunto, no jornal espanhol El País, um especialista do mercado cultural, preconiza o desaparecimento do DVD, daqui a uns anos, a favor dos downloads (legais e ilegais) dos filmes.

sábado, 26 de junho de 2010

Os desencontros entre Faulkner e Gable


Custa a crer que seja uma história verídica.
Seja verídica ou não, tem o seu quê de saborosa: um dia, nos anos 40 do século passado, o realizador Howard Hawks convidou para uma caçada o escritor William Faulkner (prémio Nobel da Literatura) e o actor Clark Gable (imortalizado no papel do galã Rhett Butler em "E Tudo o Vento Levou").
Para fazer conversa, o actor - que nunca lera um livro na vida - exclamou: "Ah, então escreve, senhor Faulkner?". O escritor, que raramente ia ao cinema, retorquiu: "Sim. E o senhor faz o quê?".

John Williams

Não é dos meus compositores para cinema favoritos, mas é indiscutivelmente, um dos maiores: John Williams. Recebeu o incrível número de 6 Óscares ao longo da sua brilhante carreira, entre os quais, as memoráveis bandas sonoras de "Tubarão", "E.T.", "Star Wars" ou "A Lista de Schindler". Todos realizados por Steven Spielberg, pois claro (corrijo: "Star Wars" foi realizado por George Lucas).
Por vezes, creio que John Williams se enreda demasiado por um clacissismo académico que tende a explorar fórmulas orquestrais repetitivas, sem grandes explosões de criatividade e de abertura estética (ao contrário de um Howard Shore, um Tyler Bates ou de um Danny Elfman). Porém, é bem verdade que algumas das mais impactantes bandas sonoras feitas, desde os anos 70 aos nossos dias, foram compostas por Williams. E como se prepara e trabalha este compositor para compor a música dos filmes? Tomemos como exemplo a música do filme "O Resgate do Soldado Ryan" (1998) de Steven Spielberg.
No vídeo a seguir, John Williams explica como abordou o trabalho de relacionar a música com o dramatismo das imagens (legendas em espanhol).

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Cidades. Criatividade. Inovação.


Há dois anos, o jornal Público trazia como assunto principal uma reportagem sobre Richard Florida (na imagem) e as suas teorias que penso que deveriam ser assimildas por todos os políticos e agentes económicos de qualquer cidade: a reportagem divulgava a nova teoria da "Era da Criatividade" associada às cidades e ao urbanismo, defendida pelo investigador e economista Richard Florida e que está patente nalgumas das mais evoluídas cidades do mundo.
Apesar de nunca ter lido nenhum dos livros de Florida (não estão editados em Portugal), o que me parece que este ensaísta defende é que, hoje em dia, os critérios para avaliar a qualidade e dimensão de uma cidade já não têm tanto a ver com os índices económicos, turísticos ou mesmo sociais. As cidades mais atractivas para os jovens de todo o mundo, aquelas que lideram na dinâmica social, na inovação artística e dos seus espaços de fruição, são aquelas que apresentam soluções criativas mais positivas para a dinâmica social urbana. Sem esquecer as ferramentas tecnológicas e de comunicação.
Richard Florida deixa claro que a dinâmica artística realizada em equipamentos culturais institucionais como teatros, óperas ou centros culturais, já não é suficiente para consolidar uma cidade como pólo gerador de riqueza e afirmação. O autor fala dos diversos espaços físicos (interiores e exteriores) da própria cidade, aproveitados como motores de desenvolvimento, de agitação, de iniciativas. Como as ruas, por exemplo. Ou espaços inusitados que proporcionem uma nova vivência e identidade à cidade e aos seus espaços (não terá sido por acaso que o Presidente Cavaco Silva tem falado na importância das afirmação das"Indústrias Criativas para o desenvolvimento social).
Se em Lisboa existe o exemplo do Bairro Alto e do Chiado como pólos de atracção turística e cultural, em Nova Iorque existe o Soho, em Paris o bairro Marais, em Londres o Brick Lane, em Berlim o Mitte, e por aí fora.
Na tal reportagem do jornal são referidas outras cidades nas quais a dinâmica cultural e artística representam novas formas de identidade urbana: Glasgow, Manchester, Berlim, Chicago, Estocolmo, Bilbau, Barcelona, Amesterdão. À semelhança do que acontece há uns anos nestas cidades de referência mundial, seria fundamental que os políticos portugueses olhassem para as indústrias culturais como pólos sustentáveis de desenvolvimento do espaço urbano. Ideias criativas de dinamização social e cultural atraem turismo e investimento, rejuvenescendo a vida citadina de bairros, de ruas, de zonas urbanas inteiras.
Como refere o arquitecto português Tomé Alves: "Durante mais de um século aquilo que distinguia as cidades e lhe atribuía prestígio era uma orquestra sinfónica, museus, uma ópera, uma companhia de ballet. Hoje é preciso muito mais. Uma cidade fervilhante e dinâmica tem que ter espaços alternativos, ao lado de zonas e estruturas culturais de maior visibilidade."

O filme perfeito sobre...

Quando penso num filme perfeito sobre a arquitectura da cidade, sobre os espaços interiores e exteriores, sobre a relação entre o humano e o tecnológico, sobre o caos mecanicista da vida moderna, sobre o vazio do individualismo no meio das massas, sobre a excelência dos planos, sobre o rigor dos enquadramentos, sobre a importância da mise-en-scène, sobre a metódica montagem, sobre do "gag geométrico", sobre o estilo visual depurado, só consigo pensar neste filme.







Para explicar Woody Allen


Ramón Luque, autor do livro “En Busca de Woody Allen – Sexo, Muerte y Cultura en su Cine”, explora o universo temático do realizador de Nova Iorque com exemplar simplicidade e pragmatismo. A sua análise nem parece a de um professor universitário (da Universidade Juan Carlos de Madrid), habitualmente recheada de teoria hermética.
Para explicar o cinema de Woody Allen e os seus temas favoritos que reiteradamente se revelam nos seus filmes – religião, sexo, morte, solidão, amor, cultura, arte, existencialismo, filosofia -, Ramon Luque socorre-se, sem pejo, de uma teia inusitada de referências de pensadores, artistas e filósofos (já para não falar em cineastas).
A saber: Freud, Kierkegaard, Camus, Bourdieu, Durkheim, Nietzsche, Jung, Deleuze, Vattimo, Unamuno, Husserl, Heidegger, Habermas, Foucault, Derrida, Sartre, Fromm, Weber, Tchekov, Dostoievsky, Tolstoi, McLuhan, Orwell, Bataille, Nabokov, Whitman, Mailer, Shakespeare, Cervantes, Sófocles, Strindberg, (Karl e Groucho) Marx, Kafka, Proust, Schopenhauer, entre outros. Todos estes autores (e mais ainda) são citados por Ramon Luque para explicar e contextualizar a complexidade do cinema de Woody Allen.
No meu curso superior tive um professor que valorizava, desmesuradamente, a bibliografia consultada e as referências a autores nos trabalhos académicos. Tenho a certeza que esse professor daria uma excelente nota final a Ramón Luque.

terça-feira, 22 de junho de 2010

"The Incredibly Strange Creatures Who Stopped Living and Became Mixed-Up Zombies" e outros títulos espirituosos


A história do cinema está recheada de curiosidades irresistíveis. Como os títulos de filmes, por exemplo. Há títulos de filmes tão improváveis e bizarros que nem o rei da série B (ou Z, conforme a perspectiva) Ed Wood se lembraria.
Todos os títulos de filmes listados em baixo correspondem a filmes de baixo orçamento e conotados com produções independentes de fraca criatividade (à excepção ao filme de Kubrick). Não é um dado científico, mas poderá indiciar que quanto mais estranho e ridículo for o título de um filme, mais probabilidade de se tratar de uma película medíocre e absolutamente dispensável (basta uma ida rápida ao Imdb.com para constatar isso mesmo).
É certo que alguns filmes são claras paródias (ao ponto de se tornarem filmes de culto), tornando aceitável e compreensível a originalidade do título, mas outros há que pretendem ser sérios, e aí o caso toma outras proporções.
Por outro lado, os filmes com títulos patéticos levam-me a perguntar quem é que irá ver filmes ao cinema (ou comprará em DVD) cujos títulos sejam como estes:
- The Incredibly Strange Creatures Who Stopped Living and Became Mixed-Up Zombies
- Mexican Wrestling Women vs. the Aztec Mummy
- Assault of the Killer Bimbos
- Surf Nazis Must Die
- I Spit on Your Grave
- Cannibal Women in the Avocado Jungle of Death
- Attack of the Killer Refridgerator
- Fat Guy Goes Nutzoid -Revenge of the Middle
- The Man Who Loved Cat Dancing
- The Man Who Slept
- I Eat Your Skin
- I Love Pinochet- Say I Love You, But Whisper
- The Little Fat Rascal
- Soggy Penis Syndrome
- A Vagina for Christmas
- The Asian Turtle Crisis
- The Attack of the Killer Tomatoes
- Violent Shit II
- Chopper Chicks in Zombietown
- Why We Had to Kill Bitch
- The Idiot of the Mountains
- Her Silent Wow
- Three Men And A Barbie
- Jurassic Pork
- Hitler Meets Christ
- Pocahotass
- Johnny Pneumatic
- Doing John Malkovich
- My Dinner with Andre- Billy the Kid Vs. Dracula
- Full Body Massage
- Attack of the Giant Leeches
- Bride of the Gorilla
- Natural Born Jigglers
- Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb
- Saga of the Viking Women and Their Voyage to the Waters of the Great Sea Serpent

O serial killer do Photoshop



É como se o terrível barbeiro de Fleet Street, Sweeney Todd, andasse à solta pelas ruas de Londres a decapitar incautos transeuntes.
Mas não. Trata-se de um jovem artista inglês alegadamente anónimo, denominado The Decapitator, perito na manipulação do Fotoshop. Este Decapitador tem-se divertido a decapitar imagens de homens e mulheres da publididade e do espectáculo (como se constata nestas imagens - o antes e o depois). Nenhum espaço publicitário escapa impune ao decapitador, que ataca anúncios de qualquer temática e em qualquer suporte: fast-food, perfumes, seguros, telecomunicações, outdoors e até filmes.
Uma das vítimas mais mediáticas do Decapitado foi David Beckham que surge sem cabeça e ensanguentado na contracapa de um jornal britânico. Ninguém conhece as reais motivações do artista (é preciso?) e o resultado destas acções é simultaneamente divertido, original e macabro aos olhos do cidadão comum, mas as autoridades procuram identificar o autor.
O decapitador subverte a lógica da publicidade, sendo o sangue e a imagem da decapitação elementos de perturbação visual e de crítica ao mundo da publicidade capitalista.
Urge perguntar: quem será a próxima vítima a ser decapitada?

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Saramago - duas fotos

Das muitas fotografias que se tiraram das cerimónias fúnebres de José Saramago, estas duas parecem-me particularmente bem conseguidas: nas duas fotografias o corpo está desfocado em segundo plano, enquanto que se destaca, na primeira foto, dois cravos, e na segunda, a viúva Pilar Del Rio e a filha de Saramago, Violante, a olharem com ternura para o malogrado escritor.

domingo, 20 de junho de 2010

Discos que mudam uma vida - 109


PJ Harvey - "Stories From the City, Stories From the Sea" (2000)

Uma vida normal levada ao extremo


O que acontece quando uma cartomante nos diz: "você não pertence a esta vida." O protagonista deste filme, um vulgar homem de negócios com uma vida entediante, de seu nome Edmond, dá uma resposta possível: chega a casa, diz à mulher que vai sair para não mais voltar. E assim faz. Começa a deambular pelas ruas de Nova Iorque, cheias de tentações e perigos ao virar da esquina. Edmond empreende uma viagem existencial à procura de um sentido de libertação espiritual, à procura de sensações de energia e adrenalina que o façam sentir... vivo. Sexo, crime, violência, desespero, descontrolo emocional - um calvário terreno até à expiação dos pecados finais. Ecoam por esta película uma simbiose de laivos de "Fight Club" ou de "Eyes Wide Shut". É como se Edmond se culpasse por viver uma vida vazia, absorta, ausente. Edmond é interpretado pelo excelente actor William H. Macy. Aliás, todo o filme é suportado pela performance de Macy.
"Edmond"
é um filme que passou completamente ao lado do panorama cinematográfico de Portugal (nem teve estreia nacional), mas vale a pena conhecê-lo em DVD. Fez furor quando, há dois anos, passou pelo festival de Sundance. O realizador Stuart Gordon - conhecido sobretudo pelo truculento filme de terror gore "Re-Animator" (1985) -, faz par com o notável argumentista e realizador David Mamet.
Mamet sabe como ninguém contar uma história, e uma história quase sempre com contornos que desafiam a lógica narrativa habitual, com elementos assaz surrealistas e muito bem engendrados. Nota-se a cada passo que a escrita é de Mamet, nos diálogos, nas situações narrativas criadas, no subtil humor, nas personagens no limite do abismo, nas piscadelas de olho ao espectador. Como exemplo, veja-se este diálogo:
Glenna: You know who I hate?
Edmond: No, who is that?
Glenna: Faggots.
Edmond: Yes, I hate them too. Do you know why?
Glenna: Why?
Edmond: They suck cock. And that's the truest thing you will ever hear.
É isto e muito mais "Edmond".

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os seguidores

O número de seguidores deste blogue chegou aos 250. Apesar de ter a certeza que alguns (muitos?) dos que subscreveram esta lista já não devem ler e seguir o blogue, a verdade é que não posso deixar de agradecer a todos pelo interesse demonstrado ao longo destes quase 3 anos de aventura na blogosfera.
A saber:
Giovana Santos, Professora Carla Fernanda Brito de Melo, bruno sousa villar, Ton, Bruno Pereira, johnny, Fábio Silva, Mafalda Cardeira, Edu, neusinha m, Murilo Souza, João Cardoso, marciomathiello, Criola, Nina, Lucas Renan, Joel, Frederico Fellini, Dama Terrir, Pedro Pimenta, Erzsébet, .ılılı ¢OND£$$A†, Mirieli Costa, Dom Carlos Coronário, Pedro Costa, andreia dias, Rogério da Silveira Corrêa, V>EFFEKT - Ary Pablo & Raphael Oliveira, fabricio vieira, mes BiJOUX à MOI, iana_dost, Luis Miguel Costa, chebek, celestinomonteiro, JMF, EnigmA, claudia sofia santana serrano, Plan Alternatif, Cida Lopes, mojorising, Siga a cena, \m/afarrico, Bina Boavida, Rui Luís Lima, Manuela Coelho, David Barros, Mateus Souza, j, Saulo roberto, Lorena franceza, Domenium, Marcia Veiga, Magnolia, Berdades, Adelaide, CMGP, Danção, Luiza, xarhope, Metamorfo, MARCUS SAIÓRO, Carlinhos, António Raposo, Caim, Doctor Mirabilis, mm.gsil, BFerry.PT, Alexandre, Carla Marques, mariadeguerra, Sophie Ramos, Carlos Camacho, naovouporai, Pedro Magalhães, Nuno Ramos, Luiz Lagares, Marcos Ribeiro, Florentina Anacleto, Renato Hemesath, Júlia Correia, MARIA ★, Manuel Alonso, João Palhares, dade amorim, alfredobarros, Silenciosamente ouvindo..., maria jose saraiva, Vanessa S., Armando Maynard, Daniel Brito, GivenToFly, Sanja Perić, Wanderley Mariano, vale a pena, Arisca, Cintia Carvalho, Allan Davy Santos Sena, Micael Sousa, LuizFerS, Fly, António, MrCosmos, Ricardo Guimaraes, An7ónio, Tati Móes, Rolando Almeida, O Projeccionista, João Levezinho, Rui Herbon, Re Salmoiraghi, gentil carioca, Alonso Júnior, Gustavo, Diamond, Mité, Flávio Gonçalves, Pedro, Teixeira, arrssousa, clubedasimpatia, analima, filipe brito, Liliana, Remp, Jorge Stretcher, José Carlos Marques,Centopeia, Mathilda Mother, Rui Raposo, Mescla de culturas, João, gahsatan, Cristiano Contreiras, Diógenes, Mefisto, Redneck, Jeannie Dangeli, Banda Rioclaro, rui carvalho, Sofie, Conde Vlad Drakuléa, Pedro, Bá, comboio turbulento, Esquila, Miguel Antunes, Marta, c., José Magalhães, dagmar, Dewonny, Luis.C.B.C, donadaasa, Fernando Alberto, Tribo de Jacob, Luis Caçador, Teresa, Daniel Lucas, tatiana guedes da fonseca, bruno nobru, leandro, Niagara Et Al, Paulo, paulo_marco santos.ramos, Janaina Dalla Vecchia, CINE31, Francisco Maia, Spark, luis baptista, Cerveja com truco, Passenger, jp le miserable, Montanaro, Diogo Machado, Hugo, Juliana Dacoregio, Questiuncas Mor, Angelo, Sam, Anny, Tiago de la Rocha, innername, Nuno, Ana Pena, Jessycats2, Francisco Costa, Cler Oliveira, The movie_man, juju, Vasco Lopes, Ana Gomes, Luísa, kamera man in black, Ricardo, vai uma gasosa?, Tiago Costa, jmdromba, Foo, Luís Mendonça, Paulo, ALGUÉM, tickets4three, Álvaro Martins, BrainDance, Do You Believe in Angels?, Jorge Silva, Vivis, Bruce, F, karipande, Maldonado, tagarelas-miamendes, Girassol Overdrive, Kraak, Monica, André Benjamim, Nuno Gonçalves, ravenwermut, Carlos, JB, Maria, João Guerreiro, faraujo, Blogger, Personne, ana_sk, Duarte, Back Room, Ribeiro, José Miguel Pires, rjckarddo, fire cairo, Barbosa, Pedro Martins, Raquel, vasco silva, Nuno Ferreira, demeter menes, Nekas, Fernando Costa, Sylvie Azevedo, Filipe, pi, Pedro Arruda, Luís, Música é Cultura, Quem?, Nelson Magina Pereira.
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E já agora, obrigado também aos outros leitores não-seguidores.

Filmes "Almost Famous"



Na sequência do meu post imediatamente abaixo sobre o filme nunca feito por Hitchcock, recorro a uma lista de 10 películas "famosas" que foram anunciadas mas que, por um ou outro motivo, jamais saíram do papel (ou perto disso).
É o caso destes quatro títulos representados em cartazes, obviamente, imaginários.

O filme mais negro de Hitchcock... nunca feito


Alfred Hitchcock realizou, ao longo da sua carreira, cerca de 50 filmes. Mas tinha intenção de realizar muitos outros, que não passaram da pré-produção ou, até, do argumento.
Dentro desta considerável lista de filmes nunca concretizados há um título muito especial: "Kaleidoscope".
Hitchcock quis um dia realizar o seu filme mais negro e violento de sempre, de tal forma que "Psycho" pareceria uma produção da Disney.
Corria o ano de 1971. O mestre do suspense já tinha deixado ao mundo todas as suas obras-primas, mas faltava-lhe fazer "Kaleidoscope", um filme que retratava a vida de um "serial killer" e violador. O próprio Hitchcock, amante do humor negro e dos recantos violentos da mente humana, achava que poderia ser um filme demasiado violento e perturbador para o grande público. "Kaleidoscope" seria um filme brutal com vários assassinatos filmados de forma inovadora (e com luz natural) - o actor Michael Caine interpretaria o papel do terrível assassino.
No entanto, "Kaleidoscope" nunca viu a luz do dia. O argumento estava escrito (mostrou-o a François Truffaut que gostou, mas aconselhou Hitch a ser comedido com o grau de violência e sexo), a pré-produção chegou a estar em marcha, mas os estúdios de cinema que iriam financiar o filme - MCA Studios - abortaram o projecto. Razão? O argumento demasiado repulsivo e violento. E assim se perdeu, porventura, uma portentosa obra de Alfred Hitchcock, uma viagem aos abismos mais negros de uma mente psicótica, num filme extremo como o próprio Hitchcock nunca tinha feito.
Agora pergunto-me qual seria o realizador contemporâneo cmais indicado para adaptar ao grande ecrã este argumento tão visceral. David Cronenberg? Quentin Tarantino?

Saramago


“A Vítor Manuel com a simpatia do José Saramago”.
Dez. ‘91

O início de "Donnie Darko"

O filme "Donnie Darko" (2001) de Richard Kelly é um dos melhores filmes independentes da última década, tendo-se tornado num autêntico fenómeno de culto. Com um notável e original argumento, Richard Kelly realizou um filme que é uma belíssima peça de relojoaria surreal sobre os tormentos de um adolescente (um jovem Jake Gyllenhaal) que tem visões de um coelho gigante que o força a cometer crimes (metáfora para os problemas de personalidade e de adaptação social da adolescência). Obra com narrativa bizarra mas altamente sugestiva, não admira que tenha sido comparado com outro filme bizarro - "Mulloland Drive" de David Lynch, estreado também em 2001.
"Donnie Darko" tem um início de filme fulgurante, no qual a fotografia, os movimentos de câmara (montanha, bicicleta) e a música (inesquecível "Killing Moon" dos Echo & The Bunnymen) compôem um quadro audiovisual perfeito durante os primeiros 4 minutos de filme.

Filme premonitório?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A voz de Meredith Monk


No meu curso de música fiz um dia um trabalho sobre música minimal repetitiva. Foi o músico e musicólogo Jorge Lima Barreto (Telectu) que me facultou literatura sobre o assunto e gravações de discos importantes desta estética. No centro de análise dos compositores, foquei os essenciais La Monte Young, Philip Glass, Steve Reich, Terry Riley, John Adams, entre outros. No âmbito do trabalho, foi-me dado a ouvir uma cantora diferente do que tinha ouvido anteriormente: Meredith Monk.
O álbum "Dolmen Music" (1981) foi um dos que mais me despertou o fascínio por aquela voz ímpar, aquela capacidade tímbrica e expressiva única, aquela técnica vocal de talento raro. Esse disco, como outros, partia das premissas minimalistas - sobretudo ao nível do piano e de alguns trabalhos vocais. Meredith Monk é uma artista de cariz experimental que cruzou diferentes áreas artísticas (teatro, dança, vídeo, performance) sempre com inegável qualidade e originalidade.
Há muitos anos atrás, quando ouvia essa extraordinária voz de Meredith Monk, nunca pensei um dia poder vê-la actuar ao vivo... na minha própria cidade. É o que vai acontecer já amanhã, quinta-feira, no Teatro Municipal da Guarda.
Nervos em franja, portanto.

A arte de colagem de Kutiman


No mundo digital da internet a criatividade pode surgir dos sítios mais inesperados. A cultura da colagem e da montagem de fragmentos sonoros é já uma prática comum no mundo da música electrónica. Mas houve alguém que, pegando neste conceito de “corta-e-cola”, teve uma ideia luminosa (ainda que não seja totalmente original): vasculhar o interminável arquivo de vídeo do Youtube para reconstruir a seu bel-prazer esse mesmo arquivo (o projecto chama-se “ThruYou”).
Ou seja, o artista, que se chama Ophir Kutiel - israelita - é mais conhecido pelo nome artístico Kutiman, remistura pedaços (samples) de vídeos musicais caseiros (desde donas de casa a cantar a crianças a tocar djambés ou músicos amadores) e remonta-os para criar algo de novo, uma música nova. O interessante é que Kutiman explora um duplo trabalho criativo: a montagem de vídeo e a montagem de música, tudo num rigoroso complexo de sincronia entre imagem e som. Kutiman refere que teve esta ideia quando um dia quise acompanhar à guitarra um vídeo de um baterista no Youtube. Depois reconsiderou a ideia e achou que mais original seria procurar um guitarrista no Youtube que encaixasse na tal bateria (e assim sucessivamente).
Daí que a sua máxima seja “What you see is what you ear”. Nem mais. O resultado visual e musical é deveras fantástico e dá para imaginar o trabalho hercúleo de Kutiman para encontrar, no meio de milhões de vídeos do Youtube, os pedaços que devem encaixar uns nos outros, como num puzzle gigantesco. O projecto "TrhuYou" é, pois, um trabalho de pura relojoaria sonora e visual. E para quem quiser saber de onde sacou Kutiman os vídeos originais, no final de cada vídeo, surge a lista “Credits” (às vezes com 20 ou 30 origens diferentes!) com o link do vídeo completo do Youtube de onde o artista retirou o sample.
O site de Kutiman pode ser visto aqui, com mais exemplos de trabalhos da sua autoria. Eis, então, dois exemplos da criatividade de Kutiman:

"ThruYou" é um projecto inspirado, por exemplo, neste pioneiro e fantástico trabalho de Holger Hiller.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Perguntas indiscretas - 32

a) Sergei Eisenstein ou F.W. Murnau?
b) Western ou Film Noir?
c) Andrei Tarkovski ou Ingmar Bergman?

Discos que mudam uma vida - 108


Beastie Boys - "Paul's Boutique" (1989)
A banda que redefiniu as regras do hip-hop, misturando-o com outras músicas urbanas: punk-rock, funk, soul, pop, jazz. O trio nova-iorquino inovou com a utilização dos samples, do fraseado rap, das letras intervencionistas, do scratch catalisador, da estética fusionista, tudo embrulhado em roupagens de invulgar sofisticação formal.
Juntamente com Public Enemy, os Beastie Boys foram, para mim, a verdadeira manifestação da cultura hip-hop.

domingo, 13 de junho de 2010

Óculos de massa pretos - 1

Nos anos 50 do século passado, um dos pioneiros do rock, Buddy Holly, terá sido um dos primeiros a usar e a popularizar os óculos de massa pretos. Construiu assim uma imagem ao longo da sua curta carreira (morreu com apenas 22 anos, vítima de acidente).
Nos anos 80 e 90, com o advento da cultura tecnológica e digital, o uso deste tipo de óculos era sobretudo recorrente nos chamados "nerds" ou "geeks" - os jovens conotados como avessos à vida social e muito à vida intelectual e artística.
Woody Allen foi um desses artistas que sempre cultivou a imagem indissociável dos óculos pretos (graças a ele comecei também eu a usar, há cerca de 20 anos). O músico Elvis Costello é outro artista que é impossível imaginar sem este adereço, assim acontece com os inseparáveis óculos pretos de Martin Scorsese.
A partir de um dado momento a moda (se é que é uma moda) dos óculos de massa esteve em desuso, até que nestes últimos anos ressurgiu em força. Este facto deve-se muito ao revivalismo dos óculos da marca Ray-Ban, cujos modelos (não só pretos mas de muitas outras cores) estão novamente em voga nos dias de hoje. Por toda a constelação de artistas se vêem exemplos de utilização dos óculos pretos de massa, de preferência com armação quadrada, grossos e desmesurados em relação ao rosto.
A febre é tal que já foi criado um grupo de fãs no Facebook só sobre este tipo de óculos (há até quem os use sem precisar de lentes para ver melhor).
Acessório de moda passageiro ou ícone visual da cultura pop, o look com óculos pretos à "nerd" está aí para ficar.

Buddy Holly (músico)

Woody Allen (realizador)
Martin Scorsese (realizador)
Marcello Mastroiani (actor)

Rose Mcgowan (actriz)
Johnny Depp (actor)

Josh Hartnett (actor)

Elvis Costello (músico)

Jarvis Cocker (músico)

Colin Firth (actor)

Neil Hannon (músico)

Scarlett Johansson (actriz)