terça-feira, 25 de setembro de 2012

Oslo, 31 de Agosto

Anders, toxicodependente recuperado, vagueia pelas ruas de Oslo à procura de um sentido. De um sentido válido e consistente para retomar o seu caminho, a sua vida. Anders ostenta um ar melancólico e distante, tentando não ceder à tentação e ao desgaste emocional de um falhanço eminente. Senta-se num café a escutar, disfarçadamente, as conversas das mesas ao lado. Percebe, angustiado, que as outras pessoas têm vidas, ao contrário do vazio da sua. Procura preencher esse vazio com os amigos de outrora, com o reencontro frustrado com uma namorada antiga. Em vão. Anders continua a vaguear, alienado, feito autómato. No meio da festa, da agitação e da alegria colectiva, sente-se cada vez mais isolado. Almeja conforto, compreensão, confiança.
Nada disso ocorre e Anders afunda-se. A desesperança tolhe-lhe o espírito e não mais conseguirá recuperar. Sente que os seus pecados e os seus erros foram fatais demais para os conseguir ultrapassar. Por isso cede à tentação e volta a comprar o fruto proibido. Ao menos este fruto, ainda que artificial, ainda que (potencialmente) mortal, permite-lhe um sopro de conforto e aconchego. Fátua emoção, porque Anders desistiu para sempre de reencontrar um motivo para continuar.
 

1 comentário:

Jorge Teixeira disse...

Exactamente, um filme que executa um tema e uma abordagem já vista, mas de uma forma realista, negativista, e por isso interessante. Contudo não se distancia nem se destaca de algumas comparações no que ao estilo de filmar diz respeito, aí poderia ter sido bem mais interessante - nessa conjugação dos sentidos. Mas é ainda assim dos melhores filmes que estreou nos últimos meses em Portugal.

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo