sexta-feira, 13 de junho de 2008

Há 120 anos nascia um génio



"A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo. Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela."

Fernando Pessoa, in "Livro do Desassossego"

Cumprem-se hoje 120 anos do seu nascimento.

3 comentários:

Anónimo disse...

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa
Único. Inconfundivel. Extraordinário.

Anónimo disse...

Só falta explicar, por palavras suas, porque é que o considera um génio. Eu sei que tal daria mais trabalho do que reproduzir lugares-comuns, mas os leitores ficariam melhor esclarecidos.

Unknown disse...

É a primeira vez na vida que vejo alguém a reduzir um excerto de prosa do Fernando Pessoa a "lugar-comum". São entendimentos diferentes dos meus.
Porque é que Pessoa é um génio? É preciso explicar?! Considero que, se há génios da literatura universal do século XX que são incontestados (presumo que não partilhe desta opinião) são o Pessoa, o Kafka, o Musil, o Joyce e o Proust. Mas essa é a minha interpretação.
A genialidade na arte é difícil de explicar. Sente-se o génio ao fruir a sua produção artística, neste caso na literatura. E ao ler o "Livro do Desassossego" (entre outras obras do Pessoa - seja ensaio ou poesia) sinto esse rasgo de génio. Faz sentido para mim. Pode não fazer para outros. Simples.