domingo, 31 de maio de 2009

"Sleeveface"

Há precisamente um ano, abordava neste post, o fenómeno cada vez maior e interessante do "Sleeveface". Dito de outro modo, é um conceito que entende o disco de vinil e, sobretudo, a respectiva capa como objecto passível de criar uma espécie de ilusão corpórea humana. De fusão entre o objecto e o corpo. O processo é muito simples (basta alguma perícia para fazer juntar o corpo humano e capa) mas os efeitos visuais resultam bem interessantes.
Resolvi dar uma espreitadela e conhecer como anda o mundo do "Sleeveface" actual. Eis alguns bons exemplos:























Qualquer pessoa com discos de vinil e alguma imaginação pode participar e contribuir

A fraude mais bela do mundo


Julgo que não devemos sentir nada em relação a um filme. Devemos sentir em relação a uma mulher, não em relação a um filme. Não podemos beijar um filme.

Tenho pena do cinema francês porque não tem dinheiro. Tenho pena do cinema americano porque não tem ideias.

Penso que um filme deve ter um princípio, um meio e um fim, mas não necessariamente por esta ordem.

Tudo o que é preciso para fazer um bom filme é ter uma pistola e uma rapariga bonita.

A fotografia é verdade. E o cinema é a verdade vinte e quatro vezes por segundo.

O cinema é a fraude mais bela do mundo.

Jean-Luc Godard

sábado, 30 de maio de 2009

Momentos e Imagens - 5


É uma fotografia notável tirada pelo fotógrafo e músico negro Gordon Parks, no intervalo das filmagens de "Stromboli" (1950) de Roberto Rossellini: a actriz Ingrid Bergman olha de soslaio enquanto em segundo plano, de forma quase espectral, estão três mulheres vestidas de igual a olhar para ela. Uma imagem simultaneamente misteriosa e bela.

E o que dizer desta imagem em que vemos a actriz Brigitte Helm, num intervalo do filme "Metropolis" (1927) de Fritz Lang, a beber por uma palhinha e a ser "secada"? Recordemos que Brigitte Helm interpretava, neste clássico filme do período mudo, o robô Maria.

As origens de "Alien"


Os estúdios 20th Century Fox anunciaram que se está a preparar uma "prequela" da saga "Alien" (1979) de Ridley Scott. O objectivo é explorar as origens do alienígena ainda antes dos acontecimentos do primeiro filme da saga, que deu fama à actriz Sigourney Weaver (na imagem). Seria interessante se este filme fosse realizador pelo próprio Ridley Scott, mas não é o caso. O realizador vai ser um desconhecido Carl Rinsch, que até agora só fez videoclips e anúncios publicitários. É um risco e uma responsabilidade consideráveis.
Agora a pergunta é: mesmo para os fãs da série "Alien", será que adianta alguma coisa esta "prequela"? Não será, de certa maneira, uma forma de explorar um filão comercial de um filme que já teve êxito face à falta de ideias originais para outros filmes?

As mãos do amor e do ódio


Robert Mitchum, no filme "A Noite do Caçador" (1955) de Charles Laughton, tinha tatuado nos dedos das mãos as palavras "Hate" e "Love". "Love" na mão direita, "Hate" na mão esquerda. Dizia que eram as duas grandes forças motrizes na vida, e que uma vezes, ganhava a mão direita, outras vezes, a mão esquerda. A vida era pautada por este combate eterno e imprevisível. Muitos anos depois, em 1989, um jovem e enérgico realizador negro, Spike Lee, realizava um filme sobre o racismo em Brooklyn (ao som dos Public Enemy), "Do The Right Thing".
Neste filme, surgia um jovem chamado Radio Raheem, que andava sempre com um enorme rádio a debitar hip-hop. A particularidade deste personagem é que Raheem tinha dois grandes anéis nas mãos a dizer o mesmo que as tatuagens de Robert Mitchum: "Love" e "Hate". Radio Raheem explica a sua versão da luta entre o amor e o ódio:


sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Vasco que tudo julga saber


O Vasco Pulido Valente habituou-nos a ser um jornalista frontal, um historiador de créditos firmados, um comentador crítico que não tem medo de assumir as suas opiniões (assim como o Miguel Sousa Tavares). Eu gosto do Vasco como jornalista na imprensa escrita (mesmo quando discordo das suas ideias ultra-pessimistas sobre o país e os portugueses), porque no comentário televisivo é um desastre. É na escrita que ele se sente bem, sendo um dos colunistas que melhor escreve em língua portuguesa. Apesar da sobranceria habitual.
Na televisão, o Vasco não cumpre requisitos mínimos e não é nada eficiente, quer ao nível da comunicação (o estilo discursivo e como se expressa), quer ao nível da opinião espontânea. Ouvi-o hoje na televisão e, com a sua habitual arrogância intelectual (como o Miguel Sousa Tavares), expressou as suas opiniões muito mal fundamentadas sobre a actualidade política e social portuguesa. O pior foi quando se pronunciou sobre o mediático caso da menina Alexandra (que foi obrigada a ir para a Rússia com a mãe biológica, destruindo a relação emocional e afectiva que a ligou - durante 4 anos - aos pais adoptivos portugueses). Vasco Pulido Valente, como julga ser dono de toda a verdade e se acha capaz de comentar todos os assuntos existentes à face da terra (como Miguel Sousa Tavares), foi peremptório ao afirmar que o tribunal fez bem em dar a custódia da criança à mãe biológica. Para explicar a sua posição, enredou-se em justificações patetas e de clareza nula de ideias, acabando por dizer a maior patacoada que alguma vez ouvi vinda de um respeitado intelectual: "o tribunal só seguiu o único critério possível: o biológico." Fiquei boquiaberto. E então a forte componente psicológica, emocional e afectiva que ligava a criança - e que em última análise a estruturava como pessoa - aos pais adoptivos não devia ter pesado na decisão? Ao dizer isto, VPV renega a importância fulcral que a educação/aculturação desempenha na formação humana de uma criança, reduzindo esse papel a um único factor. E nem vale a pena invocar estudos psicológicos e sociológicos que provam isto mesmo. Custa-me a acreditar que VPV tenha dito o que disse sem pensar, sem sequer perceber a real dimensão do disparate proferido.
Depois, questionado sobre se leu determinada reportagem, o sábio do Vasco retorquiu, do alto da sua torre de marfim: "Eu leio tudo! Até as listas telefónicas!". Eu acho é que o Vasco precisava era de ler mais manuais de psicologia, de inteligência emocional e de pedopsiquiatria, para que percebesse que as relações humanas (neste caso, criança-adulto) se baseiam muito mais do que na simples ligação biológica.

Discos que mudam uma vida - 64


Rage Against The Machine - "Rage Against The Machine" (1992)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

As ironias do cinema português


Ainda não vi o filme "Arena" com o qual João Salaviza ganhou a primeira Palma de Ouro para o cinema português. Mas uma coisa deve ser certa: tem de ser realmente uma primeira obra fulgurante para ter arrebatado o júri (presidido pelo realizador John Boorman, que se fartou de elogiar o trabalho do português).
Agora que Salaviza regressou à terra depois do choque em Cannes, o jovem realizador desdobra-se em entrevistas e esclarecimentos, desta vez, com a cabeça menos a quente: "Ter ganho a Palma de Ouro foi um feliz infortúnio, mas não sinto nem quero ter esse peso de ser estandarte do cinema nacional", afirmou o realizador à Lusa. Admiro a humildade e modéstia do rapaz, quando considera uma ironia o facto de realizadores tão importantes como João César Monteiro, Manoel de Oliveira, Pedro Costa, João Pedro Rodrigues, que já estiveram tantas vezes em Cannes, nunca terem recebido a distinção, e ele chega sem essa pretensão e ganha à primeira. É bem verdade. Ironia das ironias.
Da mesma forma que todos esses grandes realizadores portugueses, com enorme currículo artístico mas que nunca venceram em Cannes, também pode acontecer que João Salaviza, por ter ganho logo à primeira, nunca mais seja premiado - por mais anos que viva ou filmes que realize. Ironias, portanto.

Momentos e Imagens - 4

Eis uma fotografia rara e deveras curiosa. Três grandes artistas reunidos, aparentemente num dia de relaxamento e calor. Da esquerda para a direita na imagem: os realizadores Andrei Tarkovski, Michelangelo Antonioni e o poeta, escritor e argumentista Tonino Guerra (trabalhou com os dois cineastas e é o único ainda vivo dos três).

O novo de Elvis, Elvis Costello


Para os fãs de Elvis Costello (agora também conhecido como marido de Diana Krall), eis o novo álbum, "Secret, Profane & Sugarcane" (carregar em "try").

Objectos fetichistas


Elvis Presley foi o Rei do rock 'n'roll. Morreu jovem devido a excesso de drogas. Esta imagem representa um frasco de comprimidos (Benadryl) para as alergias de Elvis, prescritos no dia 15 de Agosto de 1977, exactamente um dia antes da morte do cantor. Repare-se como a etiqueta do frasco está até personalizada com o nome do artista.

Este é o guião original do célebre filme "Some Like It Hot" ("Quanto Mais Quente Melhor", 1959) de Billy Wilder. Marilyn Monroe, eterno ícone sexual do cinema, foi a actriz protagonista desta comédia clássica. E foi este o guião, precisamente, que Marilyn leu para encarnar o seu papel e interiorizar a história.
Quer o frasco de comprimidos de Elvis Presley, quer o guião de Billy Wilder que Marilyn leu, são apenas dois dos muitos objectos que vão ser leiloados no final de Junho na casa de leilões Julien's Auction. Oportunidade ideal para os fanáticos fetichistas caçadores de objectos das estrelas da cultura popular.

Almodóvar contra-ataca


O realizador espanhol Pedro Almodóvar Mantém um blogue já há algum tempo. Ultimamente, as suas crónicas, como não poderiam deixar de ser, versam sobre a sua experiência no Festival de Cannes, onde apresentou o seu último filme “Los Abrazos Rotos”. É sempre interessante ler a visão de um cineasta acerca da dinâmica de um festival com a dimensão de Cannes, e comprovar, na primeira pessoa, a sua própria sensibilidade opinativa sobre os acontecimentos que rodeiam a estreia de uma obra cinematográfica.
Pedro Almodóvar regista, no seu blogue, de forma frontal e desinteressada, as suas opiniões e críticas. Como a crítica que faz ao jornalista do jornal El País, correspondente de Cannes e que denigra o último filme de Almodóvar e a sua própria imagem, dizendo coisas provocatórias como “O filme ‘Tetro’ de Francis Coppola parece querer imitar o pior de Pedro Almodóvar”, ou “Não sou masoquista, não quero ver outra vez “Los Abrazos Rotos”. Almodóvar não se conteve e respondeu na mesa letra, num texto sintomaticamente intitulado “Crónica negra do Festival de Cannes”. Contra-ataque oficial de Almodóvar face aos ataques do crítico de cinema do El País.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Momentos e Imagens - 3


Alfred Hitchcock: grita para os seus actores ou boceja devido ao tédio ou ao cansaço? A segunda hipótese é a mais provável, ainda que o verdadeiro motivo seja desconhecido. Seja como for, é uma imagem muito bem captada.

I've Got The Blues!

Frank "Sugar Chile" Robinson, agora um reputado médico reformado de 70 anos - foi um prodígio musical aos 6 anos de idade. Um prodígio que tinha impregnado, bem no seu íntimo, o espírito do blues. Frank "Sugar Chile" Robinson cantava e tocava, de forma pouco ortodoxa (mas divertida e séria), o piano. Veja-se este delicioso exemplo:

terça-feira, 26 de maio de 2009

Audiard: batimentos cardíacos


O realiador francês Jacques Audiard ganhou o Grande Prémio do festival de Cannes, pelo filme "O Profeta" (sobre a máfia infiltrada nas prisões francesas). Como é óbvio, ainda não vi este filme, mas vi o anterior de Audiard: o premiado "De Tanto Bater o Meu Coração Parou" (2005). Um filme que acompanha a frenética e violenta vida de um homem (e os seus esquemas dúbios em negócios imobiliários) e a sua paixão, herdada da mãe, pela música e pelo piano. Filme belo e tenso, com um actor em grande forma e numa notável capacidade interpretativa - Romain Duris - esta obra de Audiard (que tem um original título) revela uma singular visão do cinema, perfeito para para quem procura na sétima arte uma verdadeira estória de um tempo que não deixa de ser o nosso. Um tempo que percorre as angústias e incertezas do personagem principal, numa aventura realista e despojada de artificialismos.
“De Tanto Bater o Meu Coração Parou” é um claro exemplo da boa forma que o cinema francês atravessa na actualidade, um cinema que redefine a narrativa do quotidiano e do pulsar existencial, capaz de surpreender o espectador pela sua intensidade dramática e pela frontalidade naturalista das suas histórias.
Aguardemos, pois, pelo novo filme de Jacques Audiard, "O Profeta".

As séries de televisão


O João Lisboa lançou-me o desafio: escolher as melhores séries de televisão de sempre. Tarefa complicada e ingrata, tanto mais que nos últimos anos tenho sido um irregular espectador de televisão. No entanto, sem querer assumir a presunção da selecção das "melhores séries de sempre", eis a lista que escolhi que julgo merecedoras de destaque e que me marcaram - algumas - sobretudo na adolescência (sem nenhuma ordem em particular):

- Twin Peaks
- Espaço 1999
- The X-Files
- MacGyver
- All in The Family
- Hill Street Blues
- Os Simpsons
- Prison Break
- Twilight Zone
- Monty Python’s Flying Circus
- The Sopranos
- The A-Team
- Alô Alô
- Band of Brothers
- Lost

E como mandam as regras do jogo, lanço este mesmo desafio a mais cinco pessoas: Álvaro Martins, Marco "Bitaites", Sérgio Currais, Hugo Torres e Os Novos Pornógrafos.

Momentos e imagens - 2


Salvador Dalí em 1972, em Nova Iorque, num salão de cabeleireiro.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O Hitchcock mudo


É conhecido que Alfred Hitchcock começou a sua carreira ainda no período do cinema mudo. A história revela que, em 1922, realizou o seu primeiro filme intitulado "Number 13", o qual nunca viria a ser terminado - entrou para a lista dos muitos "filmes perdidos" de grandes realizadores. Depois dessa experiência, Hitchcock trabalhou como assistente de realização até que, em 1925, realizou a sua primeira longa-metragem: "The Pleasure Garden": a história de duas dançarinas que dançam numa casa chamada, precisamente, "The Pleasure Garden". O filme é uma raridade, não é nenhuma obra-prima, mas é um objecto irresistível para amantes do mestre Hitchcock e para curiosos (ou estudiosos) do cinema.
Pode ser descarregado, directamente, no cada vez mais imprescindível blogue de filmes My One Thousand Movies, que de resto está a dedicar ao cineasta inglês um ciclo de 20 filmes. A não perder, portanto. 

Filmar a perversão da natureza humana


"O meu cinema é centrado na violência, porque é algo impossível de evitar na sociedade moderna em que vivemos. Gostaria que me considerassem um especialista na representação da violência nos media. A nossa cultura está marcada pelo judaísmo e cristianismo, e isso faz com que tenhamos nas entranhas o sentimento de culpabilidade. Não sou um adepto da culpabilidade, mas a ideia de filmá-la tem sido uma grande obsessão para mim. Este meu filme é sobre as raízes do mal, sobre a perversão da natureza humana. O meu objectivo foi mostrar como aqueles que definem os princípios – religiosos, políticos ou ideológicos – de maneira absoluta se convertem em verdadeiros monstros, num sistema de educação muito restrito e rígido para as crianças, cujos acontecimentos ocorreram 20 anos antes do surgimento do nazismo."
Michael Haneke, sobre o filme "The White Ribbon".
O resto da entrevista, aqui.

Momentos e Imagens - 1


Federico Fellini coloca uma manta nas costas da actriz (e companheira) Giulietta Masina, num intervalo do filme "A Estrada" (1954). O olhar triste de Masina é intrigante...

domingo, 24 de maio de 2009

Haneke levou a Palma! E Salaviza também!


Afinal, a Palma de Ouro do festival de Cannes foi mesmo parar às mãos do realizador Michael Haneke e o filme "The Withe Ribbon"! Os prognósticos confirmaram-se. E o meu post, mais abaixo, sobre este cineasta ("A Marca Haneke") faz ainda mais sentido.
No palmarés, momento grande para o cinema português: o jovem realizador João Salaviza foi laureado com a Palma de Ouro para a melhor curta-metragem ("Arena"). Parabéns!
Eis um excerto do filme português (com entrevista com o realizador):

Béla Tarr: tudo dito numa só frase


O crítico de cinema do semanário Expresso, Vasco Baptista Marques, escreve o seguinte sobre a edição em DVD do filme "O Homem de Londres" do húngaro Béla Tarr: "Foi preciso esperar cerca de 30 anos para que estreasse no circuito português um filme de Béla Tarr (em DVD), um dos poucos cineastas vivos que ainda se atrevem a entender o cinema como uma questão estética, ética e metafísica."
O crítico escreveu mais algumas considerações sobre o filme no seu artigo de opinião, mas este primeiro parágrafo disse tudo.

O sinistro Hank Quinlan


Uma das personagens do cinema mais míticas, quanto a mim, é Hank Quinlan, o polícia corrupto da obra-prima de Orson Welles, "Touch of Evil" ("Sede de Mal", 1958), um marco no cinema negro. Interpretado pelo próprio Orson Welles (numa composição genial mas quase irreconhecível), Quinlan é uma figura sinistra e perigosa, sem código de moral, sem escrúpulos de qualquer ordem. Ele enfrenta Ramon Vargas (Charlton Heston) numa investigação sobre um homicídio, não olhando a meios para conseguir os seus ignóbeis objectivos, sacrificando a verdade dos factos e obliterando o sentido de justiça. O capitão Hank Quinlan é um ser humano grotesco, não só pela sua expressão física desmesurada, mas sobretudo pela manipulação vil que faz no julgamento dos outros. Um homem malévolo, infame, que sobrevive apenas para satisfazer os seus próprios interesses, em detrimento de tudo o resto.

A realização de Orson Welles, expressionista e arrojada (ângulos de câmara, enquadramentos, profundidade de campo) e a extraordinária fotografia, exploram e acentuam a expressão hirta e fria do rosto de Quinlan. "Touch of Evil" é, por isso, mais do que um mero filme policial, um meticuloso estudo da mente humana, numa película esteticamente perfeita e memorável.

sábado, 23 de maio de 2009

A marca Haneke


Há fortes possibilidades do realizador austríaco Michael Haneke ganhar a Palma de Ouro no festival de Cannes (até porque recebeu já o prémio da crítica). Se assim acontecer, algumas más línguas dirão que tal vitória se deve ao facto da presidente do júri ser Isabelle Hupert, actriz que trabalhou com o cineasta no filme "A Pianista". Mas a verdade é que tal hipotético prémio seria o reconhecimento de uma obra cinematográfica ímpar no contexto europeu, de um realizador que nunca fez concessões estéticas ou comerciais (ainda que tenha feito, de forma algo incompreensível, um remake americano desnecessário de "Funny Games").
Haneke é um verdadeiro autor, e os filmes que fez registam essa forte marca autoral, depurada ao longo dos anos, que brota de um artista que tem uma visão muito própria do mundo em que vivemos, revelando uma sensibilidade pragmática e (não raro) controversa. O seu cinema funda-se num pessimismo que chega a incomodar, numa crítica contundente ao sistema de valores da sociedade contemporânea. O realizador que se veste sempre de negro, em contraste com o branco luminoso dos cabelos e da barba, é um cineasta que confronta os medos e fobias actuais com a passividade do espectador, obrigando-o a reflectir sobre o sentido das relações humanas extremas ("A Pianista"), sobre os contornos totalitários da televisão, do vídeo e da violência no mundo moderno ("Benny's Video", "Funny Games", "O Tempo do Lobo", "Caché").
Agora com o novíssimo "A White Ribbon" (título inglês), filme concebido numa austera fotografia a preto e branco sobre as origens da violência autoritária no início do século XX, Michael Haneke prova que é capaz de renovar o seu olhar sobre as grandes questões sociais e políticas do nosso tempo, sem fragilizar (pelo contrário, enriquecendo) a sua abordagem artística e estética. A marca Haneke, portanto.
Para ver uma entrevista ao realizador sobre o seu novo filme, clicar aqui.
Excertos do seu novo filme.

Gilliam


O realizador Terry Gilliam e o actor Verne Troyer, ontem no festival de Cannes, na apresentação do seu noovo filme, "The Imaginarium of Doctor Parnassus". Segundo rezam as crónicas, não será um grande filme do ex-Monty Python, no entanto, o excelente elenco (no qual se destaca o último papel de Heath Ledger) e a história surrealista, suscitam muita curiosidade cinéfila.

La Monte Young: a música como ser eterno


O que têm em comum estes nomes da música - Tony Conrad, Jon Hassel, Philip Glass, Steve Reich, Spacemen 3, Brian Eno, Terry Riley, Lou Reed, John Cale? Todos eles (entre outros que não foram citados) foram influenciados por um músico americano chamado La Monte Young, um compositor e teórico que exerceu uma profunda revolução estética na música contemporânea (ainda que não seja tão conhecido quanto outros revolucionário, John Cage). Com ar de eremita e claramente misantropo, (velho barbudo - é fisicamente parecido com o compositor estoniano Arvo Pärt), La Monte Young influenciou toda uma geração de músicos (do rock à electrónica, da erudita contemporânea ao jazz).
La Monte Young, considerado o percursor maior da música minimalista (e mais tarde minimal repetitiva) nasceu no estado americano do Idaho, em 1935. A sua música pode ser classificada como a mais complexa e radical do movimento minimalista, mas também é considerada como a mais interessante e original.
Entre 1956 e 1960, estudou em Los Angeles e Berkeley composição, teoria musical e contraponto. Durante esse período, colaborou com músicos de jazz como do quilate de Eric Dolphy e Don Cherry. Em 1959 dá-se uma viragem decisiva na criação musical de Young, quando ganha uma bolsa de estudos e se transfere para a escola de música de Darmstadt, em Los Angeles, onde o alemão Stockhausen ministrava os seus cursos de verão (que influenciaram toda uma geração de músicos). A experiência acarreta uma reviravolta em sua carreira, servindo este choque para acentuar ainda mais o radicalismo de suas composições. E esse radicalismo radicava, essencialmente, na exploração da música "contínua", com a utilização de tons de duração extensa, ou seja, o som sustentado ao infinito, improvisado e prolongado ininterruptamente. Mais tarde, La Monte Young junta-se a Cage na exploração da música aleatória e funda o movimento artístico de vanguarda Fluxus.
La Monte Young considera a música como um Ser Eterno, independente da existência do homem, e critica a civilização ocidental por obrigar a música a se degenerar em algo meramente humano – desnaturado e privado de essência. Daí que na década de 70 se tenha estudado a fundo a música indiana, que considerava mais espiritual e profunda. La Monte acredita na música como forma de religião e ele próprio se vê como sacerdote da cerimónia electrónica do seu tempo, recuperando a dimensão de hipnose e transe da música primitiva. O seu conceito de "Dream House", uma peça musical que deveria ser interpretada continuamente em "drones" incessantes, expericenciada como um organismo vivo, influenciou a música psicadélica, a experimental, o ambient, e a electrónica.
Os seus discos são quase impossíveis de conseguir, não dá concertos nem entrevistas, a informação que existe na internet sobre a sua vida e obra é muito escassa, e há até rumores que já morreu mas ainda ninguém sabe. Sem dúvida que La Monte Young é um compositor único, com uma visão única da função que a arte e a música devem ter.

We're all passengers

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Grandes transformações


Mike Myers -"Austin Powers:The Spy Who Shagged Me"

Lon Chaney - "O Corcunda de Notre Dame"
Eric Stolz"Mask"

Gwyneth Paltrow"Shallow Hal"

Dustin Hoffman - "Tootsie"

Nicole Kidman - "As Horas"

John Hurt - "Elephant Man"

Charlize Theron - "Monstro"

Christian Bale
- "O Maquinista"

Marion Cotillard - "Piaf"