O novo e esperado disco dos Dead Can Dance vai ser colocado à venda em Agosto, mas já pode ser ouvido no site oficial do grupo e no Youtube.
O Paulo Bonifácio escreveu um texto a propósito de "Anastasis" (título do disco) que reproduzo aqui porque concordo inteiramente com ele.
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"Em 15 anos, de 1981 a 1996, os Dead Can Dance (DCD) editaram 8 álbuns e um EP. Depois de uma longa pausa de 16 anos, com uma digressão mundial pelo meio, deram ontem a conhecer através do seu site, o novo álbum, denominado “Anastasis”.
De “Spiritchaser” (1996) até ao presente ano, Lisa Gerrard esteve quase ininterruptamente ocupada com álbuns a solo, outros com diversas colaborações e inúmeras bandas sonoras originais. Já Brendan Perry, no conforto do seu sumptuoso estúdio de gravação, uma antiga igreja do séc. XIX, enveredou por caminhos dignos de um asceta, lançando unicamente 2 (belos) álbuns a solo.
Depois de várias obras-primas que marcaram universos ditos alternativos do mundo da música, as expectativas não eram altas, eram verdadeiramente superlativas.
“Anastasis” é uma palavra grega cujo significado passa por um renascer, sendo efectivamente esta obra, um novo renascimento da mítica banda. A capa dada a conhecer, mostra-nos uma imagem a preto e branco de um campo de girassóis, sem pétalas, unicamente com sementes, reveladoras do início de um novo ciclo. Também as sociedades humanas agora se encontram no fim de um ciclo, no qual à nossa volta tudo parece se desmoronar, para de seguida se iniciar um novo ciclo.
É composto por 8 excelentes músicas, estando equilibradas as participações, tanto de Lisa Gerrard como de Brendan Perry. O mais imediato seria referir que este “Anastasis” é um seguimento do trabalho “Ark” de Brendan Perry do ano de 2010. Assim não me parece, vejo-o mais com um bem conseguido renascimento dos DCD. Obviamente almejar as sonoridades etérias de outrora, um amplo espectro da voz de Lisa Gerrard como nos habituou nos anos 80 e 90 e a ritmos tribais de percussão, seria, a meu ver, algo de improvável acontecer neste renascer.
Inicia-se com o luminoso “Children Of The Sun” no qual Brendan Perry a determinado momento nos lembra “We are children of the sun our journey just begun”, frase que nos toca directamente no coração. Toda a letra nos atenta para o papel a desempenhar por todos, nos tempos conturbados que vivemos.
O tempo, as novas experiências musicais e pessoais de ambos os mentores, indicavam uma viragem nas sonoridades habituais dos DCD. Ressalve-se no entanto que em algumas músicas, como exemplos óbvios: “Anabasis” e “Agape” (faixas 2 e 3), os ritmos oriundo do Médio Oriente e suas percussões, remetem-nos directamente para os álbuns de outrora.
Não falta a música épica, a bela “Return Of The She-King”, cheia de ambiências celtas, com a voz luminosa Lisa Gerrard, muito focada nos registos por ela evidenciados em últimos trabalhos a solo.
Termina com “All In Good Time”faixa plena de paisagens sonoras, embalando-nos num sonho belo, preparando-nos para entrar no Paraiso, cujas portas se abrirão para os portugueses, na noite de 24 de Outubro na Casa da Música, numa, certamente, noite mágica de Outono."