sábado, 30 de junho de 2012

"A cena mais assustadora", disse Hitch

O mestre do suspense e dos filmes de terror psicológico assistiu uma vez à "cena mais assustadora". Não foi no domínio da ficção, mas no mundo real.
Trata-se de um episódio revelado no livro "A Desilusão de Deus" de Richard Dawkins e conta-se desta maneira simples: o realizador Alfred Hitchcock ia certa vez de viagem pela Suíça quando de repente apontou pela janela do carro em que seguia e disse aos companheiros de viagem: "Eis o espectáculo mais assustador a que alguma vez assisti."
Que espectáculo era esse? Era um padre a conversar com um rapazinho, com a mão sobre o ombro deste. Hitchcock pôs a cabeça de fora da janela do carro e gritou a plenos pulmões: "Foge, miúdo! Foge ou estás perdido!"

Mais um título de merda

O filme intitula-se "Being Flynn" e estreou esta semana em Portugal. Mas a tradução do título para português, como é recorrente, tinha de ser muito mais original e irreverente: "Mais Uma Noite de Merda Nesta Cidade da Treta". Nem mais.
Apesar de ter como protagonista o consagrado Robert De Niro, pergunto-me que tipo de público poderá atrair um filme cujo título é "Mais Uma Noite de Merda Nesta Cidade da Treta". É verdade que também há títulos de filmes em língua inglesa que deixam muito a desejar à imaginação criativa, mas nunca vi nenhum igual ou parecido a "One More Shitty Nigth in This Rubbish City".
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sexta-feira, 29 de junho de 2012

O poster

O filme "O Cavalo de Turim" de Béla Tarr vai ser exibido no Teatro Municipal da Guarda no dia 11 de Julho (Pequeno Auditório). Como adoro o realizador húngaro, o filme em si e, neste caso, o magnífico poster (o mais bonito do ano até agora, quanto a mim), quando passei por ele não resisti a tirar uma fotografia.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Woody Allen "dá sono"

Há uma rubrica matinal na rádio Antena 3 que se chama "Serginho na Farmville", cuja autoria é de um tal Serginho com pretensões a humorista (mas o seu humor é completamente rasteiro e sem graça nenhuma). A dita crónica tem a duração de uns escassos dois ou três minutos, nos quais Serginho dispara opiniões de pendor satírico sobre um pouco de tudo. Sempre que o ouço, quase nunca lhe acho piada. Destila um humor de pacotilha, previsível e sem rasgos de invenção, sempre recorrendo à mesma fórmula de crítica social e cultural de nível "revisteiro".
Hoje, particularmente, achei o programa lamentável. Entre outras coisas, Serginho refere que os filmes de Woody Allen, James Cameron e Fonseca e Costa lhe dão sono e que não suporta a "arte intelectual." Serginho pode ter a opinião que quiser, mas a forma como manifestou total desprezo pelo cinema de Woody Allen e outros dislates semelhantes, sem qualquer tipo de humor e coerência, revela uma mentalidade completamente preconceituosa e supérflua.
Para ouvir a crónica, abrir aqui.

O regresso dos Dead Can Dance

O novo e esperado disco dos Dead Can Dance vai ser colocado à venda em Agosto, mas já pode ser ouvido no site oficial do grupo e no Youtube.
O Paulo Bonifácio escreveu um texto a propósito de "Anastasis" (título do disco) que reproduzo aqui porque concordo inteiramente com ele.
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"Em 15 anos, de 1981 a 1996, os Dead Can Dance (DCD) editaram 8 álbuns e um EP. Depois de uma longa pausa de 16 anos, com uma digressão mundial pelo meio, deram ontem a conhecer através do seu site, o novo álbum, denominado “Anastasis”. 
De “Spiritchaser” (1996) até ao presente ano, Lisa Gerrard esteve quase ininterruptamente ocupada com álbuns a solo, outros com diversas colaborações e inúmeras bandas sonoras originais. Já Brendan Perry, no conforto do seu sumptuoso estúdio de gravação, uma antiga igreja do séc. XIX, enveredou por caminhos dignos de um asceta, lançando unicamente 2 (belos) álbuns a solo. Depois de várias obras-primas que marcaram universos ditos alternativos do mundo da música, as expectativas não eram altas, eram verdadeiramente superlativas. 
“Anastasis” é uma palavra grega cujo significado passa por um renascer, sendo efectivamente esta obra, um novo renascimento da mítica banda. A capa dada a conhecer, mostra-nos uma imagem a preto e branco de um campo de girassóis, sem pétalas, unicamente com sementes, reveladoras do início de um novo ciclo. Também as sociedades humanas agora se encontram no fim de um ciclo, no qual à nossa volta tudo parece se desmoronar, para de seguida se iniciar um novo ciclo. 
É composto por 8 excelentes músicas, estando equilibradas as participações, tanto de Lisa Gerrard como de Brendan Perry. O mais imediato seria referir que este “Anastasis” é um seguimento do trabalho “Ark” de Brendan Perry do ano de 2010. Assim não me parece, vejo-o mais com um bem conseguido renascimento dos DCD. Obviamente almejar as sonoridades etérias de outrora, um amplo espectro da voz de Lisa Gerrard como nos habituou nos anos 80 e 90 e a ritmos tribais de percussão, seria, a meu ver, algo de improvável acontecer neste renascer. 
Inicia-se com o luminoso “Children Of The Sun” no qual Brendan Perry a determinado momento nos lembra “We are children of the sun our journey just begun”, frase que nos toca directamente no coração. Toda a letra nos atenta para o papel a desempenhar por todos, nos tempos conturbados que vivemos. O tempo, as novas experiências musicais e pessoais de ambos os mentores, indicavam uma viragem nas sonoridades habituais dos DCD. Ressalve-se no entanto que em algumas músicas, como exemplos óbvios: “Anabasis” e “Agape” (faixas 2 e 3), os ritmos oriundo do Médio Oriente e suas percussões, remetem-nos directamente para os álbuns de outrora. 
 Não falta a música épica, a bela “Return Of The She-King”, cheia de ambiências celtas, com a voz luminosa Lisa Gerrard, muito focada nos registos por ela evidenciados em últimos trabalhos a solo. Termina com “All In Good Time”faixa plena de paisagens sonoras, embalando-nos num sonho belo, preparando-nos para entrar no Paraiso, cujas portas se abrirão para os portugueses, na noite de 24 de Outubro na Casa da Música, numa, certamente, noite mágica de Outono."


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Janet Leigh e a cor da lingerie

A revista de cinema Empire publica uma reportagem especial sobre Alfred Hitchcock.
Nesta reportagem são feitas análises a diversos filmes do mestre e acerca do clássico "Psycho" (1960), o texto aborda uma questão interessante e pouco comentada pela crítica ou pelos cinéfilos: Marion Crane (interpretada pela actriz Janet Leigh) desdobra-se, inconscientemente, em duas mulheres diferentes. Na primeira parte do filme, Marion Crane revela ser uma mulher sem preconceitos nem rancores de ordem moral. Durante este início de filme, Marion usa roupa interior branca.
Num segundo e fulcral momento de "Psycho", Marion Crane mancha a sua aparente inocência ao roubar 40 mil dólares do patrão e fugir da polícia para o motel de Norman Bates. Quando entra no quarto do motel, muda a lingerie e veste uma de cor preta. De forma subconsciente, a mulher anteriormente impoluta, assume a culpa do seu acto criminoso e é como se enegrecesse o seu estado de alma.
Hitchcock conhecia bem os meandros da mente humana, e este sinal representado pela mudança de cor da roupa interior da actriz principal, resulta num fascinante "case study" psicanalítico.
Por isso é que há os mestres e depois há os outros.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Cameron ambicioso ou... louco?

Das duas uma: ou o realizador James Cameron endoideceu de vez, ou então é um génio criativo extraordinariamente corajoso e metódico. Cameron anunciou que não só vai filmar a sequela do mega-êxito "Avatar", como vai filmar... três sequelas ao mesmo tempo! Ou seja, James Cameron vai filmar em simultâneo "Avatar" 2, "Avatar 3" e "Avatar 4". 
A actriz Sigourney Weaver, que participou no primeiro filme e voltará a participar nos próximos, também já tinha referido à imprensa esta intenção hercúlea de Cameron. A dúvida que se levanta é: tendo em conta que "Avatar" foi um projecto altamente complexo, que demorou 10 anos a ser concluído e que custou mais de 200 milhões de dólares, quantos anos e quantos milhões precisará o realizador para concluir as três próximas entregas... ao mesmo tempo?

Playtime #76

A solução: "Fargo" (1996) de Joel e Ethan Coen
Quem descobriu: Joao Amorim e Pedro

"Blade Runner" - 30 anos

No dia 25 de Junho comemoraram-se 30 anos da estreia de um dos mais influentes filmes de ficção científica de sempre: "Blade Runner" de Ridley Scott. Estreado nos EUA no dia 25 de Junho de 1982 (a Portugal chegaria apenas em Fevereiro do ano seguinte com o título "Perigo Iminente"), "Blade Runner" marcaria um ponto de viragem neste tipo de cinema e transformaria esta obra de Scott num verdadeiro fenómeno de culto.
Visão distópica e negra de um futuro não muito distante (2019), um "set design" vanguardista, um enredo sofisticado (com base numa história de Philip K. Dick), interpretações memoráveis (Rutger Hauer e Harrisson Ford), notável banda sonora de Vangelis e realização suguríssima de Ridley Scott, "Blade Runner" constituiu uma experiência memorável para várias gerações de cinéfilos e cineastas. Com várias versões ao longo das três décadas de existência, este filme revela, a cada visionamento, novas capacidades de leitura e interpretação. Plasticamente é imaculado, sombrio e antecipou o mundo altamente tecnológico no qual vivemos.  

domingo, 24 de junho de 2012

Os melhores insultos

O cinema ensina muitas coisas interessantes, inclusivamente formas de insultar outra pessoa. É o que esta montagem revela: formas - mais ou menos originais - de insultar o outro, nos mais variados contextos e situações em exemplos de dezenas de filmes e actores. Desde o insulto mais violento e agressivo, até ao mais cómico e desconcertante. E depois de ver este vídeo, fico com a clara ideia de que ninguém insulta melhor do que Joe Pesci nos filmes de Martin Scorsese.

O vento

O filme "O Cavalo de Turim" de Béla Tarr, recentemente estreado em Portugal (quer dizer: em apenas duas salas de duas cidades de Portugal!), tem sido muito comentado pela suas especificidades íntrinsecas. Uma dessas especificidades que marcam a estética do realizador húngaro é a fotografia a preto e branco, os longos planos-sequência e, no caso particular da história de "O Cavalo de Turim", a forte presença do vento. Um vento hostil e perturbador que dificulta qualquer actividade humana. Um vento que avassala a esperança mas que se torna, visualmente, num expediente para Tarr provar a poesia do seu cinema.  
A verdade é que não foi neste último filme que Béla Tarr recorreu ao vento como elemento natural fundamental.
Já na sua monumental obra (em duração e em qualidade) "Satantango" (1994), o realizador tinha recorrido ao vento para acentuar o estado anímico dos personagens. O excerto vídeo que em baixo faz parte da primeira parte do referido filme e é um momento visual sublime que só Béla Tarr conseguiria alemejar.

sábado, 23 de junho de 2012

Os "substitutos" de Woody Allen

Quem conhece minimamente o cinema de Woody Allen, sabe quais são as principais características deste realizador enquanto actor a interpretar personagens: amante de literatura e cinema, neurótico, inseguro com as mulheres, crítico para com a sociedade, paciente de psiquiatras e perito em tiradas filosófico-existenciais. 
Ora, Woody Allen interpretou muitos personagens deste teor ao longo dos anos da sua carreira, mas houve muitas outras ocasiões em que foram determinados actores a fazer de... Woody Allen (ainda que o próprio costume negar esta constatação). Ora, este vídeo revela todos os "substitutos" (ou alter-egos) de Woody Allen, actor, em filmes de Woody Allen, realizador.

Eis a lista de actores (por ordem de aparecimento) com os tiques de Woody Allen: 
RICHARD BENJAMIN - "Deconstructing Harry" (1997)
LARRY DAVID - "Whatever Works" (2009)
JONATHAN MUNK - "Annie Hall" (1977)
STANLEY TUCCI - "Deconstructing Harry" (1997) 
JASON BIGGS - "Anything Else" (2003)
SETH GREEN - "Radio Days" (1987)
TED BESSELL - "Don’t Drink the Water" (1969) 
JOHN CUSACK - "Bullets Over Broadway" (1994) 
KENNETH BRANAGH - "Celebrity" (1998)
WILL FERRELL - "Melinda and Melinda" (2004)
MICHAEL J. FOX - "Don’t Drink the Water" (1994) 
TOBEY MAGUIRE - "Deconstructing Harry" (1997)
OWEN WILSON - "Midnight In Paris"(2011)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Discos que mudam uma vida - 166

Björk - "Post" (2005)

Futebol e beleza plástica

Não é habitual escrever sobre futebol no blogue. Mas a felicidade da vitória da selecção portuguesa sobre a apática República Checa leva-me a fazê-lo. E sobretudo para realçar a beleza plástica que este desporto pode suscitar e se tem revelando ao longo do campeonato europeu de futebol. 
Quem acompanha o Euro 2012 tem reparado na fantástica qualidade de realização dos jogos. Os realizadores têm investido numa montagem extremamente bem conseguida, em planos de grande pormenor e nos sempre deslumbrantes momentos "super slow-motion". Estas características permitem olhar para o futebol numa perspectiva estética diferente, mais arrojada e plástica, ao mesmo tempo que se fica com uma melhor ideia da complexidade dos movimentos técnicos futebolísticos (o documentário "Zidane - Um Retrato do Século XXI", de 2006, provou isto mesmo). 
O foto-jornalismo também tem contribuído para o incremento da qualidade plástica das imagens do futebol, visto que nos tem tem mostrado, ao longo do torneio, fotografias verdadeiramente incríveis e de qualidade nos planos captados. 
É o exemplo destas duas fotografias da Reuters que captam o soberbo pontapé de bicicleta de Cristiano Ronaldo, o que comprova esta premissa: a de que o futebol proporciona impacto visual e (diria até) emoção estética como qualquer outra manifestação artística.
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E agora não resisto: Força Portugal!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Pulp Fiction" recriado

Pogo é o nome artístico de Nick Bertke. No seu canal do Youtube, Pogo diverte-se a fazer remisturas de imagens de filmes e séries televisivas, criando um divertido e ritmado "mashup" de sons e imagens. Agora pegou no clássico "Pulp Fiction" de Quentin Tarantino para o retalhar com minúcia milimétrica, de forma a criar uma remontagem de "samples" de vozes (Samuel L. Jackson e Uma Thurman) e de imagens ao sabor da música (da autoria do próprio Pogo).
Digamos que é uma recriação possibilitada pela democratização das ferramentas tecnológicas e digitais ao alcance de qualquer talentoso artífice de imagens e sons. E acaba por ser bem divertido ouvir Samuel L. Jackson vociferar - como se estivesse a cantar numa qualquer música da moda - "Say 'what' again!":

Hitch e "Frenzy"

É um curto (10 minutos) mas sublime documento em vídeo que mostra Alfred Hitchcock a dirigir o seu penúltimo filme, "Frenzy" de 1972 (o último seria "Family Plot" de 1976). Para muitos um filme menor da rica filmografia de Hitch, para outros (nos quais me incluo), um filme notável de construção narrativa e visual. Nesta espécie de "making of", vemos Hitchcock a dirigir os actores e a opinar sobre os seus afamados métodos de trabalho.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Um videoclip bizarro

A banda islandesa Sigur Rós revelou hoje o seu novo videoclip de um tema retirado do último álbum, "Valtari". Os músicos referem que se inspiraram nas imagens que a música de "Valtari" sugere e entregaram a realização deste videoclip à realizadora israelita Alma Har'el
Os Sigur Rós dão o aviso: este não é bem um videoclip convencional, tanto que lhe chamam "Mystery Film Experiment". E esta afirmação faz todo o sentido depois de ver o conteúdo destes 8 minutos e 33 segundos de filme: nudez, violência gráfica, bizarria surrealista, imagens desconexas... Todo este aparente caos visual parece fazer sentido como total antítese face à placidez da música da banda islandesa (que tem como protagonista o actor Shia LaBeouf).
Mais parece uma curta-metragem alucinante que misturou os contributos da fase mais fantasista de David Lynch com o legado surreal de Luis Buñuel:

domingo, 17 de junho de 2012

Perguntas Indiscretas #40

"Plan 9 From Outer Space" (1959) de Ed Wood tem sido considerado, ao longo dos anos, o "Pior filme da história do cinema". Será mesmo?

Os rostos

Raramente vemos os artistas desta forma: os rostos pormenorizados, com as rugas e imperfeições de qualquer mortal. É o que nos propõe o site Celebrity Close-Up, um olhar detalhado das expressões dos rostos de actores e actrizes (e outras celebridades da música e do espectáculo).
Neste caso, de Anna Hathaway, Natalie Portman, Pierce Brosnan, Tommy Lee Jones e Michael Fassbender. 

sábado, 16 de junho de 2012

Notas de Bresson #17

"Noventa por cento dos nossos movimentos obedecem ao hábito e ao automatismo. É anti-natura subordiná-los à vontade e ao pensamento."

Kurt Weill pela manhã

O que têm em comum nomes da música tão diferentes como The Young Gods, David Bowie, Teresa Stratas, Dalida, Ute Lemper, The Doors, Allison Moorer, Marilyn Manson e The Wandering Bards? O ponto em comum é o facto destes grupos/músicos terem feito versões da célebre canção "Alabama Song (Whiskey Bar)" de Kurt Weill (famoso compositor e colaborador de Bertolt Brecht em várias óperas e musicais).
Neste excerto de um concerto ao vivo de David Bowie, o autor de "Low" refere que, quando estava a viver em Berlim, cantava todos os dias ao pequeno almoço "Alabama Song" como forma de inspiração para o resto do dia.
Ora aqui está uma boa sugestão: cantar Kurt Weill todas as manhãs. 

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Marlon Brandon, 1947

Corria o ano de 1947 e um jovem actor de nome Marlon Brandon, tentava a sorte num casting para entrar num filme chamado "Rebel Without a Cause". O argumento estava escrito e Brando, então com apenas 23 anos de idade, tentou a sorte num "sreen test" de 5 minutos. Por qualquer razão, o projecto foi abandonado pelo estúdio e apenas 8 anos depois foi retomado com um novo argumento e... um novo actor: James Dean.
Marlon Brando não entraria no mítico filme de Nicholas Ray que iria imortalizar James Dean como ícone de uma geração. No entanto, logo em 1951, Brando interpretaria a não menos mítica personagem Stanley em "A Streetcar Named Desire" de Elia Kazan. E o resto é história...
Seja como for, é interessante ver este vídeo em que, Marlon Brando, revela e comprova (em apenas 5 minutos) todo o seu imenso talento como actor.
Provavelmente, o melhor actor da história do cinema.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Sobre "O Cavalo de Turim"

"Magnífico, e inesgotável: vê-lo duas vezes é querer vê-lo uma terceira."
Luís Miguel Oliveira, Público
Acerca de "O Cavalo de Turim".
Estreia hoje em sala.


Entrevista Póstuma (12) - Kurt Cobain




O Homem Que Sabia Demasiado - Será sempre recordado como o líder de uma geração inquieta, cujo lema musical está patente em "Smells Like Teen Spirit"?

Kurt Cobain - Bah! Nunca quis ser modelo de ninguém, muito menos de uma geração. E essa música, apesar de ter sido a que mais sucesso comercial teve com os Nirvana, é das que gosto menos.

O Homem Que Sabia Demasiado - Durante toda a sua vida lutou contra o vício da heroína, depressão, fama, imagem pública e pressões profissionais. Como lidou com tudo isto?

Kurt Cobain - Como acha que lidei? Sempre odiei a exposição pública e o mediatismo que, a dada altura, os Nirvana me trouxeram. As depressões eram decorrentes dessa sensação de permanente insegurança. A droga foi uma libertação e, ao mesmo tempo, uma maldição toda a vida.

O Homem Que Sabia Demasiado - E a sua vida familiar também não foi fácil...

Kurt Cobain - Pois não. Eu tinha vergonha dos meus pais. Eu não poderia enfrentar alguns dos meus amigos na escola porque eu, desesperadamente, queria ter a família típica. Mãe, pai. Eu queria a segurança, mas só senti ressentimentos para com os meus pais. E na escola passei por um inferno porque fui vítima de violência e bullying.

O Homem Que Sabia Demasiado - E que papel teve a sua educação religiosa?

Kurt Cobain - Bom, os meus pais educaram-me com os valores religiosos, mas à medida que crescia procurei outras soluções, como o Budismo, que tinha outra hierarquia de valores mais importantes para mim. Foi do Budismo que retirei o nome da banda - Nirvana.

O Homem Que Sabia Demasiado - Gostou do filme que o realizador Gus Van Sant fez vagamente inspirado na sua vida - "Last Days" de 2005?

Kurt Cobain - Detestei. Tudo: a realização lenta e monótona, a interpretação do tipo que, supostamente, fazia de mim, a forma como foi utilizada a música no filme... Tudo. Aquilo é tanto sobre a minha vida como "Psico" é sobre a Madre Teresa de Calcutá.

O Homem Que Sabia Demasiado - Casou com Courtney Love em 1992 já ela estava grávida da sua filha. Que papel teve Courtney na sua vida?

Kurt Cobain - Preferia não falar dela. Houve demasiados equívocos e problemas que acabaram por me destruir a vida, e Courtney contribuiu para isso. Sempre achei que as maiores loucuras são as mais sensatas alegrias, pois tudo que fiz ficou na memória daqueles que um dia sonharão ser como eu: louco, porém, feliz.     

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Cine-Concerto

Duas obras-primas do cinema mudo e um filme “mudo” por opção estética vão ser musicados ao vivo por três músicos: Micro Animal Voice, Élia Fernandes e Kubik.
Do fascinante cinema experimental de Man Ray (“Emak-Bakia”), passando pelo expressionismo plástico do russo Eisenstein (“Romance Sentimentale”), até à experiência fílmica de Samuel Beckett (“Film”, com Buster Keaton), estas são três propostas cinematográficass diferentes que resultarão em três experiências audiovisuais marcantes.
Estão todos convidados, sábado, no Teatro Municipal da Guarda.
Mais informação aqui

Quando fumar dava estilo

Houve um tempo em que fumar era um acto de puro glamour e estilo. No universo do cinema, os anos dourados para os actores fumadores foram as décadas de 40, 50 e 60. Grandes estrelas ostentavam o cigarro como algo de inseparável nas suas vidas, quer no cinema, quer na dita vida "real". Alguns morreram, precisamente, vítimas do vício, o qual era, no início, exclusivo dos homens, mas que timidamente foi adoptado pelas mulheres (Katherine Hepburn ou Marlene Dietrich são exemplos).
Eis apenas algumas figuras célebres de Hollywood na era em que fumar não prejudicava a fama e o estilo (apenas prejudicava a saúde): Bing Crosby, Burt Lancaster, Errol Flynn, Glenn Ford, Jack Lemmon, James Dean, Marlon Brando e Clark Gable.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A música de KITT

Das minhas memórias de infância e juventude no que concerne a séries televisivas, uma das mais fortes tem a ver com a mítica série "Knight Rider" (cuja primeira temporada foi em 1982). No total houve 4 temporadas e 90 episódios com histórias de um justiceiro solitário chamado Michael Knight e o seu sofisticado carro (um Pontiac Trans Am alterado chamado KITT), personagem interpretado por David Hasselhoff.
Evoco esta memória não tanto pela série em si - que até acabou por se tornar numa referência da cultura televisiva dos anos 80 - mas mais pela sua música de abertura. Na verdade, o tema do genérico era, para a altura, realmente original: batida electrónica, baixo marcante e teclados de sintetizadores. Em pouco mais de um minuto, a música correspondia àquilo que se queria essencial da série: sofisticação, ritmo e personalidade. 
Ainda hoje, 30 anos depois, a música composta por Stu Phillips (actualmente com 82 anos), apesar de já algo datada, mantém ainda alguma frescura e actualidade (até pelo facto de vivermos tempos de revivalismo na música):

domingo, 10 de junho de 2012

"Prometheus"

Vi "Prometheus" numa sessão da meia-noite (com umas dez pessoas na sala de cinema). 
Globalmente, gostei desta nova incursão de Ridley Scott na ficção científica. Não estará ao nível de "Blade Runner" ou até "Alien", mas "Prometheus" demonstra fortes atributos que o podem colocar num pedestal elevado na filmografia de Scott: um argumento ardiloso e bem construído, interpretações soberbas (magníficas Noomi Rapace e Charlize Theron, excelente Michael Fassbender), uma realização à altura, uma banda sonora extremamente eficaz (de Marc Streitenfeld) e efeitos visuais impressionantes que estão ao serviço da história e não apenas para enfeitar o ecrã. Falta referir o contributo essencial do famoso artista HR Giger, responsável por todo o fascinante "set design" e as características visuais do filme (monstros incluídos).
"Prometheus" é menos uma prequela óbvia de "Alien" e mais uma meditação - em forma de filme de acção - sobre a origem da Humanidade e o lugar do homem na Terra. E já não é dizer pouco.

sábado, 9 de junho de 2012

A música de Vig

No cinema do realizador Béla Tarr, a música desempenha um papel muito importante. Mihály Vig é o compositor que mais tem colaborado, ao longo dos anos, com o cineasta húngaro. Mihály Vig, também de origem húngara, tem sabido criar composições musicais apropriadas para o universo visual tão característico de Tarr. Oscilando entre uma doce melancolia e a contemplação de teor quase onírico, a música de Vig representa uma componente essencial do cinema de Béla Tarr. 
Como nesta música do filme "Damnation", a qual atribui uma beleza negra à sequência do bar Titanic:

Discos que mudam uma vida - 165


Television - "Marquee Moon" (1977)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O novo Tarantino

"Django Unchained", o próximo e aguardado novo filme de Quentin Tarantino, já tem um trailer oficial. Com Christoph Waltz e Jamie Foxx como protagonistas, esta nova obra de Tarantino tem como pano de fundo a escravatura na época antes da Guerra Civil no sul norte-americano.
Pelo que o (excelente) trailer de "Django Unchained" deixa antever, é de esperar uma película bem ao estilo inconfundível do cineasta de "Pulp Fiction", como a estética visual apurada, os diálogos acutilantes, as abundantes citações cinéfilas e a banda sonora poderosamente original.
O problema é que temos de esperar até ao Natal deste ano para apreciar o filme no seu todo...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

De Niro e o bebé

Robert De Niro teve em "Raging Bull" um dos seus mais memoráveis momentos de interpretação de toda a carreira. Nesta fotografia de produção do mesmo filme, vê-se o actor com um bebé ao colo (desconheço quem seja) pegando na claquete e com Joe Pesci a observar a cena em segundo plano. A fotografia foi tirada pelo próprio Martin Scorsese durante um intervalo nas filmagens..

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Godard, 1960

Jean-Luc Godard numa entrevista rara no início da sua carreira como realizador. Corria o longínquo ano de 1960 e Godard apresentava a sua obra revolucionária da "Nouvelle Vague" - "O Acossado" ("A Bout de Souffle") no festival de Cannes
Godard, então um jovem aparentemente impassível (sentado quase imóvel e de óculos escuros), responde às perguntas (algumas provocadoras) do jornalista, revelando uma grande dose de ironia e clareza de pensamento (mesmo quando responde "não sei").
Chamo a atenção para o último minuto da entrevista, na qual o realizador francês, muito ao seu estilo iconoclasta, diz: "Espero que consiga desiludir o público no meu segundo filme para que não possam confiar em mim nunca mais." 
Para além de admirar a obra cinematográfica do realizador húngaro Béla Tarr, admiro também a sua postura e as suas ideias. Enquanto não estreia em sala o seu último filme, "O Cavalo de Turim" (dia 14 de Junho), sugiro a leitura de uma entrevista que deu à Time Out de Londres, na qual Béla Tarr explica porque é que, aos 56 anos de idade, decidiu abandonar a carreira no cinema. O cineasta fundamenta a sua decisão dizendo que já conseguiu fazer o cinema que sempre quis fazer acerca das questões existências: "Um cinema muito simples, muito puro, acerca do peso das nossas vidas e de como acabamos por ficar cada vez mais fracos até desaparecer."
Acrescenta que já não quer, no futuro, arrastar-se por festivais e festivais a revelar um cinema cuja fórmula se repete. Em suma, Tarr está convencido que já mostrou tudo o que tinha a mostrar no cinema e, por isso, retira-se (no auge do reconhecimento artístico internacional) com a consciência de ter concebido uma obra única.
E à semelhança do que acontecia com Andrei Tarkovski, também Béla Tarr atribui uma importância fundamental à ideia de "tempo" no seu cinema, a propósito dos seus longos planos.
Entrevista aqui.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Notas de Bresson #16

"A beleza de um filme não está nas imagens (quais cartões postais) mas no inefável que delas se desprenda."

Tarantino style

O cinema de Quentin Tarantino está cheio de referências cinéfilas. O seu estilo visual é um "melting pot" de múltiplas influências vindas dos mais respeitados cineastas de culto dos anos 60 e 70. O próprio realizador afirma que a sua formação como realizador deveu-se à sua militante frequência de salas de cinema independente nos EUA, assim como quando era empregado de um videoclube, que lhe permitiu ver centenas de filmes de série B (ainda em formato VHS). 
No "Kill Bill Vol. 1" há uma sequência de 2 minutos deveras espantosa (ver abaixo) que revela o domínio perfeito de Tarantino na mise-es-scène e na realização: o grupo japonês feminino "The 5678's" começa a tocar um irresistível rock'n'roll enquanto Uma Thurman se prepara para o ataque final. Veja-se o extraordinário movimento de câmara durante todo este plano-sequência: a câmara desliza com extrema suavidade atrás das personagens e eleva-se no ar como se desafiasse as leis da gravidade. Nesta sequência magnificamente filmada, Quentin Tarantino presta clara homenagem (há quem diga antes plágio) ao célebre plano-sequência de abertura do filme "A Sede do Mal" de Orson Welles, que pode ser visto aqui.
Mesmo considerando esta referência directa ao filme de Welles, não é por isso que Tarantino deixa de ser um cineasta talentoso e de notável imaginação estética.