quarta-feira, 18 de março de 2015

A educação do meu gosto - 3

A educação do  meu gosto - Literatura

Somos o que somos e gostamos do que gostamos porque estivemos sob influências de determinadas condicionantes. Ou como diria Ortega y Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância”.




Comecei a ler relativamente tarde. Ao contrário do meu gosto pela música que começou bastante cedo (12 anos), a leitura foi um prazer tardio. Lembro-me de ler durante horas banda desenhada – Hugo Pratt, Michel Vaillant, Quino (Mafalda), Lucky Luke, Asterix e super-heróis da Marvel. A leitura de livros sem imagens foi iniciada volta dos meus 17 anos com policiais: Agatha Cristie, George Simenon e Raymond Chandler. O mesmo amigo que me despertou para Tarkovski era um fã de Franz Kafka e passou-me esse entusiasmo: “A Metamorphose” e “O Processo” foram um choque. 

De Kafka passei para os contos de Edgar Allan Poe e Lovecraft, os surrealistas (André Breton, Apollinaire…) e essas obras negras e fascinantes chamadas “Os Cantos de Maldoror” de Lautréamont e "Filosofia na Alcova" do Marquês de Sade. A leitura de "Siddharta" de Herman Hesse aos 19 anos foi toda uma epifania. O mesmo amigo que me gravava as cassetes “Heterodoxos” introduziu-me nas teorias sociais e culturais revolucionárias do Situacionismo com o livro “A Sociedade do Espectáculo” de Guy Debord e nos movimentos de ruptura artística do Dadaísmo, Futurismo, Beat e Fluxus. Desenvolvi um gosto pelos autores "malditos" e fora do mainstream literário. O meu gosto pela leitura foi-se acentuando até ler autores tão díspares quanto Holderlin, Artaud, Proust, Hemingway, Bukowski, Camus, Genet, Michaux, Burroughs, Schopenhauer, Kierkegaard, Stig Dagerman, James Joyce, Albert Cossery, Italo Calvino, Unamuno, Oscar Wilde, Henry Miller, Philip Roth, Conrad, Mishima, Bataille entre dezenas de outros. Não sei bem porquê mas nunca consegui adentrar-me nos russos (Dostoievski, Tolstoi, Tchekov, Gogol...).

Desenvolvi um fervor especial pela leitura de livros de ensaios de música, arte, cinema e livros históricos sobre a 2ª Guerra Mundial, tendo um fascínio especial pela história do Holocausto. Interessei-me pelas (auto)biografias de artistas e por vastos temas relacionados com a cultura digital/cibernética dos nossos dias.

Não sei exactamente em que medida, mas sei que a leitura (e aquilo que li ao longo da minha vida) foi essencial para definir o que (sei) sou hoje.

Imagem: pormenor da minha biblioteca.

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